Tigres , onças e gatos maracajás
por maneco nascimento
Maputo – Moçambique - brindou a Semana da Lusofonia com seu
teatro humorado, de dramaturgia prática e de uma simplicidade de apresentação
que inteligencia, sem esforço, uma cena de concretude de domínio ao palco.
“Há Tigres no Congo?” se ambienta em cenografia comum, de
escritório, como ilustrativo útil para o que realmente importa na dramaturgia
de cena e nas falas sociais contidas ao diálogo travado entre as duas personagens
que constroem um texto de comédia para futura montagem.
Com Produção de Manuela Soeiro, Direcção e Adaptação de Graça
Silva, a peça moçambicana, do Grupo de Teatro Mutumbela Gogo, de Maputo,
desempenha um enredo de 50 minutos, com uma leveza de comunicação e naturalidade
de encenar seu teatro de forma carismática que não há como não se envolver com
o enredo.
A encenação numa busca de encontrar o texto ideal, a uma nova
encenação , colhe um metateatro que se desenrola com humor perspicaz e centrado
em escolhas, aparentemente fáceis, mas definidas por estratégias inteligentes
de coesão e coerência dramáticas à construção do teatro que idealizam
transformar em história.
Diálogos indiretos para comunicação direta da carpintaria do
texto, que finge não ser ideia construtivista da cena, enquanto constroem no
paralelo a discussão séria acerca da AIDS, confundindo-se ficção e realidade,
de maneira risível, para não criar drama sobre assunto já bastante sério na
vida real.
(Há Tigres no Congo?, pensa ele./divulgação)
De forma dinâmica, os actores Adelino Branquinho e Jorge Vaz desenrolam,
com competência de atuação, a história real da cena enquanto maquinam na construção
da história de ficção. Uma sacada esperta da dramaturgia textual, falar de
riscos e contágio pelo HIV sem criar ação pedagógica de saúde, nem didática de teatro institucional.
(Não há tigres no Congo. Na cena rugem o actores/divulgação)
Só teatro como qualquer um que sabemos fazer, mas com um adicional de tratar da SIDA, numa brincadeira séria e teatral, habituada num encontro cotidiano de trabalho entre dois amigos.
O traquejo dos actores e a liberdade em que foram inseridos,
da trama inteligente que mapeia o exercício do fingimento, os faz dominadores
da savana para tigres, onças e gatos pintados maracajás.
Há tigres no Congo, sim. Têm listras largas e de cor ouro
criativo. Há também artistas perspicazes e concentrados na cena elaborada de
assinatura maputiana.
Eles demarcam o território de lusofonia ampliada e deixam seu
rastro de confortável entendimento e amor incondicional ao fazer teatral. Rugem
Moçambique para além dos rudimentos da cena vaidosa e devoram a assistência com
esforço felino de lamber a cria para efeito de reflexão social e arte que
discuta o coletivo à cena e além da cena.
“Há Tigres no Congo?”. Com certeza há e trazem no peso das
pegadas, que marcam terra dramática, o nome de Grupo de Teatro Mutumbela Gogo,
de Maputo no Moçambique. Rugem teatro qualificado.
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