segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ato de Natal

Ato de Natal
por maneco nascimento

(Natal nos jardins do Karnak/foto: Francisco Gilásio in www.piaui.pi.gov/notícias...)
Para manter-se no espírito que antecede os dias de natal, o Departamento de Ações Culturais da FUNDAC também buscou seu caminho de arte e cultura dentro da margem de acertos e propósitos artísticos.
Nesse ano de 2011 a novidade veio dar no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 22 de dezembro, às 19 horas e nos jardins do Palácio de Karnak, dia 23, às 18 horas. A peça em exposição pública, um musical adaptado por Franklin Pires a partir do conto original de Hans Christian Andersen, “A Pequena Vendedora de Fósforos”.

A “Opereta de Natal” retira uma menina pobre de um tempo e lugar da Rússia pré-revolucionária e recoloca-a em percursos que a levam à Teresina contemporânea e sua também pobreza de criança na rua, vendendo a sorte da sobrevivência familiar. Dos fósforos não vendidos à fabulosa fantasia de ver esperança e alegria na luz fugaz do tempo de uma cabeça de pólvora.
Em uma inteligente e crítica acomodação do discurso aos nossos dias, Franklin Pires facilita uma visão, através da arte, ao que o original do escritor europeu já denunciava acerca da indiferença que corrobora à pobreza, abandono, miséria, fome, exclusão e, de quebra, pecados capitais embutidos que, quando formalizados, podem ser vistos pela inveja.
E como as fábulas apresentam soluções satisfatórias após o descritivo crítico reflexivo, a magia do natal transforma em esperança o sonho infantil e desbanca a angústia da vendedora de fósforos que temia retornar à casa do padrasto sem o lucro da labuta imposta.
Enredo dinâmico, trouxe servidores públicos ao palco em atuação de primeira viagem. Tiveram passaporte aprovado. Adélia Araújo(sra. Rica I), Norma Passos(Mãe de Maria), Vania(a Velha) e Seu Chiquin(o Policial) têm destaque naturalmente interessante para primeiros contatos em tablado.
Bid Lima(sra. Rica II), Franklin Pires(Ator/corista), Gislene Danielle(Nossa Senhora/corista), Danilo França(sr. Rico II), Antoniel Ribeiro(sr. Rico I), Bruno Lima(Padrasto/ator), Edith Rosa(Parca), Gleyciane Pires(Professora/corista), Valdemar Santos(Vendedor de sonhos), Zé Carlos di Santis(Pato/ator) e Fernando Goldan(Ator/bailarino) estão na linha de montagem em série azeitada. Compõem um bom baião de dois com carne do sol na chapa, porque nem só de filé de ave eventual vive a criatividade culinária natalina.
A atriz mirim e protagonista, Nathalia Cavalcanti, quando aprender de vez o “metier”, há de “roubar” a cena sem comprometer o Teatro da Tribo, a dança teatro da OPEQ, ou os novos atores do quadro da FUNDAC. Seus colegas da mesma geração, Ana Paula(Bonequinha/vizinha) e Marcus Vitor(Vizinho), também do elenco de crianças da rede pública de ensino, são prosa e poesia exercitada.
 Cantando e dançando, os atores enredam o público e deixam uma envolvente surpresa no resultado ensaiado. Adaptado à realidade piauiense, na margem de um humor contumaz franklinpireano do cutuca e alisa, a “Opereta de Natal” provoca o público ao riso, que se diverte com as tiradas e permanece linkado no drama da pequena Maria até o bom desfecho, com brilho de musical off off Broadway.
 Tem carisma, determinação do planejado, costura eficaz para textos e músicas roteirizados. E uma acuidade sincera em trabalhar, mesmo, as deficiências de quem ainda não dominou a técnica de atuar.
“Opereta de Natal”, de Franklin Pires que atua, canta e dirige e tendo como produtor Luciano Brandão, uma ótima surpresa neste final de ano tão pobre de definições de políticas públicas estaduais à cultura, como também à deficiência social tão à mostra na releitura de “A Pequena Vendedora de Fósforos”.
Na alegoria teatral, a criança no sinal de trânsito, ou nas ruas contumazes dos centros urbanos, que comercializa a própria sorte, ganha valor estético. Mas na dura realidade das franjas esquecidas pelas políticas sociais, ou maqueadas para os holofotes, os pequenos vendedores, engraxates, guardadores de carro, etc, estão desenhando o futuro dos ainda e muitos miseráveis brasileiros.
Que a divertida opereta não tenha só servido ao orgulho vaidoso do recurso investido para bandeja dos convivas do poder executivo estadual. Qualquer espírito de natal alargue corações políticos e colabore para melhor olhar aos que nem sempre têm folga de vida, regada por vezes, pelo fabular investimento à prestação oficial de serviço para alcance coletivo.
Um ato de natal e política + humana ganhe realidade e desfibrile corações endurecidos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Luminares

Luminares
por maneco nascimento
Aprendemos com a vida e, naturalmente, com a morte, princípio da transmutação para o sempre desconhecido, embora muito especulado. Mas, enquanto vida dispõe-se, nos deparamos com a observação, as escolhas, os prazeres, as liberdades e as profissões escolhidas que se leva até os últimos instantes de vida festejada para a escolha acertada.
Nesses últimos dias vimos evoluir ao imponderável grandes artistas do nosso mundo de arte praticada. De volta ao caminho das nebulosas em busca dos mapas primordiais, nas zonas de retorno à expansão das supernovas, foram-se os grandes intérpretes receber novos aplausos e ver como é que é o lado de lá.
Sérgio, João, Cesária. O que esses três nomes têm a ver com arte e cultura. Tudo. Cada um na sua melhor escolha, o teatro, o carnaval e a música. Todos eles nos deixaram + órfãos nesse último final de semana.


(Sérgio Brito/acervo: http://www.cineclick.com.br/)

Aos 88 anos, Sérgio Pedro Corrêa de Brito, nascido no Rio de Janeiro, em 29 de junho de 1923, morreu na manhã do dia 17 de dezembro de 2011, na cidade que o viu brilhar. Ator, apresentador, roteirista de cinema e televisão e diretor de grande monta teatral, estava internado há um mês no Hospital Copa D’Or e encantou-se por causa de problemas cardiorrespiratórios.
Da Agência Brasil, o repórter Lúcio Haeser ainda nos informa sobre a rica vida de Brito. Uma das personalidades mais importantes do teatro brasileiro, desempenhou papel de criador, diretor e ator doGrande Teatro Tupi” (teleteatro) que permaneceu no ar por dez anos na extinta TV Tupi. Também responsável pela direção deIlusões Perdidas”, primeira telenovela produzida e exibida pela TV Globo. (Morre no Rio, aos 88 anos, o ator Sérgio Brito/Por Agência Brasil, Agência Brasil, Atualizado: 17/12/2011 11:08)
(Sérgio e Ítalo Rossi/acervo: fotos.estadão.com.br)
Sua grande arte foi o teatro que o consagrou e conferiu-lhe diversos prêmios. Em 2010 lançou a autobiografiaO Teatro e Eu”. Na TV Brasil mantinha um excelente programa, de contumaz feição da tranqüilidade, despojamento e clareza da arte escolhida. O Programa “Arte com Sérgio Brito”. Tive oportunidade de ver reprise em que o tema era Constantin Stanislavsky. O artista comentava as pesquisas e métodos de teatro de Stanislavsky e interpretava o grande diretor russo. Não sei quem poderia ser menor entre o autor-diretor e o intérprete. Um luxo de talento e virtuose limpa à cena.

+ uma vez o querido Joãosinho Trinta torna-se notícia, sempre para nunca esquecer. O lide de matéria de Eveline Cunha, direto do Maranhão, publicado no Terra: “Morre aos 78 anos o carnavalesco Joãosinho Trinta”.


(Joãosinho Trinta/foto de 2007/acervo: wikipédia/acesso 19 dez. 2011, 15h)

Morreu às 9h55 deste sábado (17) o carnavalesco Joãosinho Trinta. Ele estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo do hospital UDI, em São Luis, Maranhão. A morte se deu em conseqüência de um choque séptico secundário à pneumonia e infecção urinária.” (Terra/17 de dezembro de 2011 . 11h21 . atualizado às 14h57)

 

João Clemente Jorge Trinta é considerado um dos maiores nomes do carnaval carioca, pela ousadia e genialidade. Nasceu em São Luis, no Maranhão, em 23 de novembro de 1933. Aos 17 anos mudou-se para o Rio de Janeiro para ingressar nos estudos da dança clássica no Teatro Municipal. (Idem)

 

Começou a carreira de carnavalesco na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, como assistente. Foi campeão, como assistente, em 1965, 1969 e 1971. Como carnavalesco solo foi responsável pelo bi-campeonato, em 1974, com “O Rei de França na Ilha da Assombração” e em 1975 com “O Segredo das minas do Rei Salomão”.

Na Beija-Flor, com ousadia e luxo, possibilitou os títulos em 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983 e, entre outros vice campeonatos, o de 1989, “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”. O Cristo Redentor, caracterizado de mendigo, gerou controvérsias com a Igreja Católica. (pt.wikipedia.org/wiki/Joãosinho_Trinta /acesso: 19 de dezembro de 2011, às 15h)

Morte de Cesária deixa vazio ao povo e ao mundo artísticoé a cabeça da matéria da ANGOP Agência Angola Press África, em 19 de dezembro de 2011, às 16:43, para noticiar o desparecimento da grande Cesária Évora. A cantora cabo-verdiana morreu aos 70 anos, no último sábado, (17), no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, onde estava internada.
(Grande Cesária Évora/foto: divulgação)

O embaixador da República de Cabo-Verde em Angola, Domingos Mascarenhas, enalteceu a artista cabo-verdiana, também conhecida como adiva de pés descalços”, ao relatar queFicamos pobres em termos de projecção musical, estamos de luto, o nosso país é tão conhecido graças aos feitos que Cesária deu, através de sua voz, e das suas mensagens musicais, não acredito que vai aparecer alguém tão cedo para fazer o mesmo, para o povo cabo-verdiano ela sempre será a nossa embaixadora”, sublinhou. (ANGOP/Luanda – Segunda Feira , 19 de dezembro de 2011, 19:55)

(Cesária Évora/acervo: harmusica angola press)
As horas luminares estarão + cheias de graça, arte e encontro de velhos amigos para cenas, risos e palcos. Sérgio Brito, um lord da cena brasileira, Joãosinho Trinta, sem trava na língua, e Cesária Évora, a grande dama da música afro cabo-verdiana, descansem em paz. A nossa saudade não tem preço, mas mantém o aplauso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Teatro para os seus

Teatro para os seus
por maneco nascimento
Os alunos e alunas das Oficinas de Arte do Teatro Municipal João Paulo II encerraram curta temporada do espetáculo “Baile do Menino Deus”, nos dias 13, 14 e 15 de dezembro de 2011, às 19 horas, na Praça Aberta do TMJPII, como montagem à Mostra de Resultados – 2º. Semestre.
O trabalho coletivo envolveu oficinas de balé clássico; dança contemporânea, com variações para pesquisa popular, jazz e dança de salão; teatro e literatura dramática; alfabetização do corpo – grupo da 3ª. Idade e percussão. Obteve uma resposta positiva da comunidade que assistiu ao ato manifestado a desenho para linguagem de teatro de arena.
(elenco do Baile do Menino Deus/ foto: Roger Ribeiro)
As oficinas de Balé Clássico, que abrigam crianças de sete a doze anos e a partir de coreografias de Graciane Sousa, “Estrelinhas – Céu do Sertão”, “Anjo Bom”, “Coco embolada”, e “Boi”, apresentaram nuances de disciplina, equilíbrio da técnica já apreendida e graciosidade do empenho desenhado à cena vista.
(turma de clássico/foto: Roger Ribeiro)
As oficinas de Dança Contemporânea trouxeram resultados a partir de coreografias de Beth Bátalli, duas para a turma infantil, “Boca de Forno” e “Burrinha” e duas para a turma adulta “Entrada dos Reis do Oriente” e “Beija Flor e Borboleta”. Fernando Freitas, Oficina de Dança Contemporânea, preparou uma coreografia para a música “Jaraguá” e uma para a Oficina de Dança de Salão Feira de Mangaio”.

(turma contemporâneo infantil/foto: Roger Ribeiro)
Kelly Lustosa, instrutora da Oficina de Jazz, criou a coreografia para “Ciganinha” e Valdemar Santos, com a Oficina de Dança Contemporânea e Pesquisa Popular, desenvolveu a coreografia “Caboclinhos”. Roger Ribeiro, da Oficina de Teatro e Literatura Dramática, ficou responsável pela facilitação dos atores mirins e jovens que contaram o enredo do “Baile do Menino Deus”. O resultado se inscreve em cena.

(turma de teatro e literatura dramática/foto: Roger Ribeiro)
Bid Lima e Vanice Ribeiro, com a turma da 3ª. Idade – Alfabetização do Corpo, orientaram a performance a um coro grego, composto de 23 vozes de senhoras com idade de 50 a 85 anos. Aptas a encenarem a partir de exercícios lúdicos de dança e teatro, as atrizes da Oficina Alfabetização do Corpo foram show de concentração e coletivo dramático bem afinado.
(turma alfabetização do corpo - 3a. idade/foto: Roger Ribeiro)
Para o “gran finale” de o “Baile do Menino Deus” a Oficina de Percussão, facilitada pelo instrutor Luis Monteiro, foi quem preencheu o salão à festa do Baile proclamado durante todo o enredo.

Quem viu o espetáculo, bastante concorrido pelo público da comunidade, afirmou ter gostado do teatro para os seus. Crianças, adolescentes, jovens e adultos do bairro Dirceu e entorno representaram e se representaram bem, enquanto artistas das cênicas, com brilho particular às danças provocadas e às cenas dirigidas.
(elenco do Baile do Menino Deus/foto: Roger Ribeiro)

Na platéia, família, amigos, vizinhos, curiosos e todo o público que acorreu às festas doBaile do Menino Deus”. A dramaturgia adaptada sedimentou-se em texto e desenho original da dramaturgia de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima. Autores cearenses, criaram um rico e renovado mundo lúdico apropriado de cantigas de roda, manifestações populares de reisados, feiras, maracatus e coco embolada, entre outras interfaces da cultura nordestina e ampliaram o leque ao culto popular da história e memória orais do Brasil nordeste.
(artistas e público do Baile do Menino Deus/foto: Roger Ribeiro)
O “Baile do Menino Deus”, adaptado para a realidade dos alunos e alunas das oficinas de Arte do Teatro Municipal João Paulo II, ganhou a cor da identidade local, sem perder a referência natural da vida cultural do universo nordestino. Revelou a prática que melhor aproxima a arte do artista que se reconhece na descoberta da própria identidade.
(baile final/foto Roger Ribeiro)
Foram três dias de alegria, orgulho e cena viva recheada de esforço, em grupos, para uma releitura do nascimento do menino Deus. As oficinas de arte do TMJPII cumprem o papel a que se propõem, estão praticando cultura e renovando espíritos cidadãos e cooperativos da arte de se integrar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tolerância não é crime.

Tolerância não é crime.
por maneco nascimento
Das notícias, marcadas nas páginas da história do mundo, uma das que + se caracterizam como graves falhas da humanidade é a da falta de tolerância para com o próximo. Tem sido por intolerância que o homem, algoz da própria espécie, mija no limite alheio, transformando este em seu próprio quintal.
Por pequenez de solidariedade, desrespeito, desamor ao outro, contrariando princípio cristão, e uma série de defesas das próprias atitudes idiossincráticas é que crimes dolosos, às vezes, recebem abrandamento da lei de prática violenta, seja física ou moral, contra negros, gays, prostitutas, índios, idosos e uma infinidade de vítimas mundo a fora.
No mundinho nacional, a discriminação e o preconceito chegam, por vezes, a ganhar “status” de corriqueiro e contumaz ação sobre os “inferiores”. As novas tecnologias e as redes sociais, facas de dois gumes finamente afiadas, são a mão na roda para notícias instantâneas, registros de flagrantes, liberdade de expressão e, por vezes, desvio da tolerância.
Recebi, via e-mail, de um amigo, uma notícia que deve estar ganhando corpo nas redes sociais. Julguei ser assunto não de reforço da intolerância, mas de reflexão acerca do preconceito dedicado ao nordeste e seu povo. Segundo o post, o lide da matéria anuncia que “OAB pede que Sophia Fernandes responda pelo crime”
(foto: reprodução)

[Segundo a OAB, as declarações violam o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Entre as mensagens postadas pela estudante estão: “o twitter ta virando vaso sanitário... muita merda twittando. (Oimacacos) - nordestinos-piauienses-cearenses...”; “Sai do Twitter e vai cortar tua cana pra comprar teu arroz NORDESTINO”; “Tem que usar câmara de gás pra matar teu povo”; “O Nordestino é a própria sujeira”.
 
O presidente da OAB-PE, Henrique Mariano, destacou que o crime de racismo é inafiançável e prevê pena de dois a cinco anos de reclusão, além de multa. “Sophia que não conte com a impunidade para esse ato de desatino, próprio de pessoas ignorantes.” ] (postado em www.taregistrado.com/14 de dezembro de 2011, às 08h34)

Até para ser tolerante existem exercícios de aceitação e, especialmente, de princípios de educação que passam pelo esteio familiar para complementarem-se nas sociabilidades futuras de vida escolar e relações outras.
O Presidente da OAB – PE, reforça em texto da matéria: [- Mariano lembrou que, em novembro de 2010, a estudante de Direito Mayara Petruso, de São Paulo - uma das responsáveis pela onda de manifestações preconceituosas contra nordestinos surgida na internet após o anúncio da vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais -, responde hoje a uma ação penal pública na Justiça Federal de São Paulo, que está em fase de instrução.
 
“Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”, dizia a mensagem postada por Mayara Petruso no Twitter. A OAB-PE ofereceu notícia-crime contra Mayara ao Ministério Público Federal de São Paulo, que a denunciou pelo crime de racismo.] (Idem)
Visitar ou interagir nos canais de rede sociais, de twitter a facebook e alhures, não é só saudável, mas prática de interação e convivências naturais no “overmundo” de tecnologias e novas e ágeis informações em rede. É só compartilhar e, livremente, ser ou não ser um melhor cidadão.
Vive-se uma nova leitura da premissa de Palo Alto que dizia queé impossível não comunicar”. Hoje, talvez em novo redirecionamento, já se queira acreditar que seja impossível comunicar. Talvez sim, talvez não. A comunicação transversal detém ou desdobra os discursos para direitos humanos ou enviesados.
De sorte é que a evasão de privacidade e o simulacro das vidinhas comezinhas ou não, ganham força. E o “mal rapaz” ou a “bad girl” também tomam a forma que melhor lhes aprouver. O compartilhamento de opiniões e nova arma de aproximar intenções e interesses antissociais podem alimentar velhos monstros que achávamos não ser possível haver em terra de Deus brasileiro.
País continental, o Brasil tem sangue para todas as cepas, graças a Deus. Há também espaço para nordestinos, japoneses, ucranianos, alemães, italianos e um saudável encontro de etnias e raças. Gaúcho(a)s e paulistas também têm seu mercado e suas falas e oralidades respeitáveis.
Salvo o desvio que possa haver em qualquer representação de cepa social, tolerância não é crime, é princípio de vida em coletivo e sempre será saudável ser + humano.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cena na Praça

Cena na Praça
por maneco nascimento

(Baile do Menino Deus/foto: acervo do TMJPII)
O Teatro Municipal João Paulo II, a partir das oficinas de arte oferecidas à comunidade do grande Dirceu, estreou dia 13 de dezembro sua Mostra de Resultados - 2o. Semestre. E segue em temporada nos dias 14 e 15, às 19 horas, na Praça Aberta, com o espetáculo “Baile do Menino Deus”, adaptado do original homônimo, criado pelos dramaturgos cearenses Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima.
(Baile do Menino Deus/foto: acervo do TMJPII)
Na estreia, que contou com um público expressivo, o “Baile do Menino Deusfez seu melhor papel que seria agregar resultado coletivo para as oficinas de arte do TMJPII. Para a montagem, a dramaturgia geral ficou com Maneco Nascimento e teve como assistência de dramaturgia e direção Roger Ribeiro. Na assistência de encenação Fernando Freitas e Valdemar Santos.
O “Baile do Menino Deus”, de Ronaldo de Brito e Assis Lima, apreende as cantigas de roda, as memórias afetivas da história oral rural e urbana da cultura popular e redimensiona à universal manifestação do nascimento de Cristo. No enredo original, um grupo de crianças sai à procura do baile ao menino Jesus e vai deparando-se com as manifestações populares do reisado, feira, ciganas, jaraguá,  burrinha, caboclinhos, anjos, santos Reis e, por fim, a família sagrada.


(Baile do Menino Deus/foto: acervo TMJPII)
Um musical todo arcabouçado na manifestação popular nordestina das músicas originais e repassadas ao longo das gerações do nordeste rico de festas e folguedos, ganha força na dramaturgia adaptada para a realidade do (a)s oficinado (a)s do Teatro Municipal João Paulo II, reunidos em torno de cem bailarinos intérpretes e atores juvenis e adultos.
(Baile do Menino Deus/foto: acervo TMJPII)
Nos trabalhos específicos para a Mostra de Resultados do Teatro Municipal João Paulo II, os instrutores responderam pelas práticas de dança – clássica, contemporânea e popular; teatro – literatura dramática; dança/teatro da 3ª. Idade e percussão. Roger Ribeiro, instrutor de Teatro e Literatura Dramática facilitou a encenação dos atores que contam a história do Baile.
Graciane Sousa criou, com suas turmas de balé clássico, as coreografiasEstrelinhas do Sertão”, “Anjo Bom”, “Coco Embolada”, “Boi”. Para o Contemporâneo infanto juvenil, Beth Bátalli trabalhou “Boca de Forno”, “Burrinha”, “Beija-Flor e Borboleta” e redimensionou a “Entrada dos Reis do Oriente”. Valdemar Santos preparou a coreografia, ao Contemporâneo e Pesquisa Popular, “Caboclinhos”.
(Baile do Menino Deus/foto: acervo TMJPII)
Fernando Freitas, instrutor de Dança Contemporânea adulta e Dança de Salão, coreografou “Feira de Mangaio” e “Jaraguá”. Kelly Lustosa preparou a performance para a música “Ciganinha”, com sua turma de Jazz. As instrutoras Bid Lima e Vanice Oliveira foram responsáveis pela mis-en-scène da oficina Alfabetização do Corpo – 3ª. Idade. O grupo de 23 senhoras, entre 50 e 80 anos, representou o coro grego da montagem.
O instrutor de Percussão, Luis Monteiro, fez as vezes do auxílio musical com os aluno(a)s da sonorização percussiva no ato final, quando se dá o Baile popular. Criação de Figurinos e Consultoria de adaptação de vestuário, de Bid Lima.
(Baile do Menino Deus/foto: acervo TMJPII)

Espetáculo que estimulou, através da Mostra de Resultados, em seis meses de aula, o esforço coletivo de empreender cultura e arte facilitadas, traz como mérito a interação Casa de espetáculos e comunidade, enquanto integra a prática do fazer artístico. Facilitada a desenvoltura particular de cada ator ou bailarino iniciado, o “Baile do Menino Deus” compõe estímulos-respostas implementados pela Prefeitura de Teresina, por meio da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, e repete a lição que amplia o universo de experiências de cada novo artista envolvido.
(Baile do Menino Deus/foto: acervo TMJPII)
O Baile do Menino Deus”, em cartaz ainda nos dias 14 e 15 de dezembro, sempre às 19 horas, na Praça Aberta do Teatro Municipal João Paulo II, um presente à comunidade do Dirceu Arcoverde e entorno que se vê representada na identidade cultural praticada por seus filhos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fantasmas do natal

Fantasmas do natal
por maneco nascimento

(árvores de natal de Teresina/foto: acervo do blog do chris/meionorte.com)

Não é uma canção, nem conto à guisa de “Canção de Natal” ou “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens (1812-1870). São “fantasmas” fáceis de serem vistos e espalhados em pontos da cidade de Teresina para fazerem as vezes de árvores de natal. Como árvores parecem  não cumprir, aos olhos populares, muito bem o papel do discurso oficial, nem muito menos da acanhada idéia do arquiteto contemporâneo do vazio.

(Charles Dickens/imagem coptada da wikipédia, a enciclopédia livre)
Como pilhérias de natal, às fuças enviesadas de fantasminha ou outra variação da espécie, correm às redes sociais e web gracejada e crítica. A Prefeitura de Teresina, na tradição natalina, sempre propõe a pontos estratégicos da cidade a introdução de grandes árvores que representem a cultura de dezembro. Com suas luzes e suas cores têm a cada ano uma virtuose de artistas visuais ou arquiteto.

Nesse 2011, mais um artista das artes visuais e ou ciência da arquitetura local deu seu sinal de criativo para espírito natalino. E, como a aceitação ou negação popular tem força natural e sinceridade imediata, começaram a surgir as manifestações para um “grande coador de café”, “fanstasmas de quadrinhos”, "não-se-pode", etc. O twitter, facebooke e blogs com seus formadores de opinião despenderam sua indignação acerca das árvores.
Lucas Lins Viveiros, assim se pronunciou “ÁRVORES FANTASMAS NÃO!!!! TERESINA NÃO MORREU!!!! ÁRVORES FANTASMAS NÃO!!!! TERESINA NÃO MORREU!!!! (http://t.co/A437WnrG 1 day ago). *
(árvores de natal de Teresina/foto: acervo do blog do chris/meionorte.com)
Já, no blog do chris/meionorte.com, o formador de opinião foi mais incisivo: “(...) um verdadeiro fantasma gigante que batizaram de “Árvore de Natal”. Essa sem dúvida foi a última piada do ano para não dizer a melhor. Aliás, foram dez árvores assim espalhadas pela cidade. Um show de humor a céu aberto que foi pago pela iniciativa privada (será?) e custou R$ 15 mil (...)” **
Liberdade de expressão nunca fez mal a ninguém, aliás, compete direito comum à critica e ou oposição ao que não concorde qualquer cidadão, especialmente se julgar que recurso público não esteja no emprego + próximo das expectativas coletivas. Então, se a cidade se pronuncia, está também no seu dever fiscalizador, caso haja dúvida.

Não parece que a manifestação popular ofenda o poder público que investiu nesse + novo e polêmico modelo de ornamentação para o natal de 2011. O prefeito Elmano Ferrer também apresentou sua justificativa ao projeto, através de matéria no portalODia.com. Segundo o portal, “(...) Elmano disse que a Prefeitura de Teresina ´vai calar a boca´ de quem está despejando opiniões negativas sobre as árvores natalinas instaladas no último fim de semana em pontos estratégicos da cidade (...)”

E continua a matéria, “(...) Apelidadas de `Gasparzinho´ e ´Fantasminhas de Natal´, as árvores são gigantescos lençóis brancos colocados por cima de uma estrutura de metal com cerca de 15 metros (...) Elmano explicou que, mesmo modesta, a decoração é bem-vinda porque foi totalmente financiada pela iniciativa privada (...) ´Foi tudo doação feita pelos empresários. A prefeitura não gastou um centavo com essas árvores´, ponderou” (Idem)***

Charles Dickens, o mais popular dos romancistas ingleses da era vitoriana escreveu, entre outras belas histórias, a fábula sobre a personagem de Ebenezer Scrooge, um homem avarento que não gosta de natal e recebe a visita do fantasma do ex-sócio, morto há sete anos, que anuncia que o velho receberá a visita de três espiritos. Através de viagens às memórias de Scrooge, orientadas pelos fantamas do natal, o avarento amolece o coração. ****
(almas penadas de "Conto de Natal", de Charles Dickens/imagem coptada da wikipédia, aenciclopédia livre)
O que Dickens teria a ver com as árvores de natal de Teresina, que a população vislumbrou como “fantasmas”? Talvez nada. Ou talvez, só a aproximação com a literatura crítico renovadora do romance oitocentista do autor que lida com espíritos e fantasmas do natal.

Nesse período do ano, o espírito natalino e de sempre humor que a todos contagia e também ao fabuloso mundo da fantasia individual, é que possibilita que cada um faça a leitura que quiser acerca do que seus olhos recepcionem enquanto cidadão crítico e desafiador.

Então, o teresinense vê fantasmas do natal e ponto final.

Acessos:
* (http://t.co/A437WnrG 1 day ago/pesquisa: às 18h10m, 08/12/2011)
** (blog do Chris/meionorte.com/pesquisa: às 18h20m, 08/12/2011)
***(portalODia.com, atualizado em 06/12/2011, 15h08m/pesquisa: às 19h25m, 08/12/2011)
      ****(wikipédia, a enciclopédia livre/acesso 08/12/11, 18h)














terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Magnificae!

Magnificae!
por maneco nascimento
Magnificat”, de Johann Sebastian Bach, fez vida de apresentação na noite do dia 05 de dezembro de 2011, às 19h30m, no palco do Palácio da Música de Teresina. Para uma pequena Casa, com vezes de suporte para resultados artísticos do Conservatório de Música que ali ganha vida e sopro virtuoso, recebeu público em disputada vaga na plateia.
(arte do espetáculo "Magnificat"/acervo: DMA/UFPI)
A apresentação, que se estabeleceu nesse dezembro, adequou-se à programação natalina realizada pela Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves.
Para esse dia 05 de dezembro, o Projeto musical natalino sai dos laboratórios do Departamento de Música e Artes da Universidade Federal do Piauí, pelas mãos ampliadas da professora mestra Doborah Moraes e do professor mestre Cássio Martins, coordenador do curso de música do DMA/UFPI e regente da Orquestra de Câmara daquela universidade.
Os resultados de propósitos do DMA/UFPI se maturam em trabalho conjunto que envolve cantores e instrumentistas na produção de operetas, musicais, missas e outros exercícios ao exercício erudito. De repertório já experimentado, a comédia musical “Véspera de Reis”; a destacável montagem de “The Phantom of the Opera” e, como finalização do segundo período de estudantes da área de música, para 2011, o “Magnificat”.
Obra originalmente natalina, de J. S. Bach, em ré maior, caracteriza-se como uma das principais obras vocais do músico e foi composta para orquestra, um coro de cinco partes e quatro ou cinco solistas.
Segundo o release, Bach compôs a peça durante seis semanas, numa versão inicial em mi bemol maior, no ano de 1723 (BWV 243), às vésperas do Natal de Leipzig. Continha diversos textos natalinos e, ao longo dos anos, o autor removeu-os para tornar a obra mais apropriada a performances o ano todo. Transpôs ao tom de ré maior, dando especialmente aos trompetes uma maior sonoridade.
A nova versão, à época, estreou na Igreja de São Tomás de Leipizg, em 2 de julho de 1733. Na nossa contemporaneidade recebeu novo olhar, em releitura com estudantes da Federal, seis solistas e um coro formado por aluno(a)s da disciplina de Canto Coral, ministrada pela professora Mauricélia Carvalho.
Em trinta minutos de peça coroada, o público pode ouvir as vozes da soprano 2, Luana Campos, em refinada virtuose vocal e da soprano Glaycijane Carvalho, voz tensa, mas em afinação quedada no equilíbrio, suavemente desesperado. Em seguida, as vozes masculinas deram seu tom, no peso do baixo Gildomar Oliveira e do tenor Lucas Coimbra, de sonoridade a registro quase tenorino. A contralto Joquebede Lima impôs-se com gravidade limpa.
O tenor, de traço vocal forte, Ailton Carneiro, preencheu a sala com polifonias vocais para exemplo de naipe regido por cifras ricas de efeitos ao canto em solo. Ainda como corpo de desenho da pauta musical, ouviu-se o coletivo das três solistas, Luana Campos, Joquebede Lima e Glaycijane Carvalho.
A Orquestra de Câmara da UPFI, que harmonizou as virtuoses vocais de toda a peça, finalizou com a apresentação do Coro que interpretou Sicut Locutus Est. A obra lida, um resultado técnico eficaz, mas acanhado quando comparado com o exemplarThe Phantom of the Opera”, realizado no primeiro semestre.
 A releitura deMagnificat”, com Deborah Moraes, na preparação vocal de solistas; Mauricélia Carvalho, na preparação do Coro e Cássio Martins, na regência da Orquestra de Câmara da UFPI, cumpre seu papel de protocolo acadêmico e, para o viés artístico musical, fica dentro do coro afinado.
Quanto ao potencial de coletivo artístico reunido, deixou na sensação do público um gostinho de quero +.música, segredos e revelações de Johann Sebastian Bach inconfundíveis e vocais e vozes permitidos para prazer de livre audição.
Magnificae!


domingo, 4 de dezembro de 2011

Cultura dos cercados

Cultura dos cercados
por maneco nascimento
Não é de hoje, nem será tema do passado, as divisões sociais, as separações de classes, as pirâmides (assunto histório-geográfico, repassado nos bancos escolares da educação básica brasileira) que ilustravam perfis sociais. Essas pirâmides parecem ter desaparecido do ensino formal, mas na cultura “subjetiva” de separação e linha divisória de valoração e status sócio-econômico, elas são dinastia imposta.
(imagem castelo medieval/acervo: colunistas.ig.com.br)

Em épocas remotas de conquistas e invasões, os mais espertos aprenderam logo a construir suas cercas, muros, muralhas, castelos e fossos, burgos e proteções pagas ao generoso protetor. Os exemplos, herdados à posteridade, advindos da idade pré-medieva, medieva ou posterior, são os castelos nos + diversos sítios geográficos do mundo civilizado.
(imagem o Castelo/acervo: castelosmedievais.blogspot.com)
A função das fortalezas era, naturalmente, de proteção e separação do trigo e joio insignificantes daquilo que, àquela época, havia como referência de estilo de melhor resultado da colheita social. O mundo civilizado tratou, com muita inteligência, de aplicar seus tratados de boa convivência e divisão de dotes, bens e limites geográficos. Defender seus tesouros tangíveis e intangíveis.

(imagem castelo medieval/acervo: badajozcapitalenlafrontera.110mb.com)

O mundo evoluiu a galope e com ele novos desafios e novos perfis sócio-econômicos. Os burgos transmutaram-se para grandes centros urbanos e seus escritórios comerciais e suas máquinas de produzir lucros. A burguesia revolucionária oitocentona, em renovada capa, foi alcunhada de fedorenta pelo poeta contemporâneo Cazuza.
(imagem casa protegida/acervo: cercaeletricaresidencial.com)

Em qualquer momento da evolução da raça, tanto em países civilizados como nos + arcaicos, sempre houve dicotomias quer para castas, ou para eufemismo + limpo de sofrer ataques diretos. Quem tem pode, quem não tem que pudesse. O Brasil, em estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, repete dados para os + pobres e os + ricos.
O Portal Educacional – 1999/2011 – Central de Atualidades, em artigo, de 24/10/2007, sobre educação e concentração de riqueza, “Brasil: mais rico, mais pobre.”, aponta, ao tratar de duas estudantes da oitava série do ensino fundamental, uma da grande São Paulo e outra de Curitiba, que as diferenças entre as garotas vai muito além dos + de 400kms que as separam. A curitibana está entre os 10% da população + rica do país. A parcela brasileira que gasta dez vezes mais que 40% dos que possuem menores rendimentos.
A constatação, constante no artigo, resultou do estudo divulgado pelo IBGE, a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002 – 2003, sobre perfil de despesas e rendimentos de famílias brasileiras. A Pesquisa demonstra que, em 2003, 40% das famílias que apresentavam baixos rendimentos (até R$ 758,25) tinham uma despesa per capta de R$ 180,00, enquanto 10% das famílias brasileiras mais ricas (renda a partir de 3.875,78) demonstraram ter uma despesa per capta de R$ 1.800,00. Concluindo-se que o grau de desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres é de dez vezes. (Idem)
A perpetuada concentração de renda, dos + ricos brasileiros e suas vidas de posses, também é constatado em Estudo sobre desigualdade e justiça tributária ao sinalizar queO décimo mais pobre sofre uma carga total equivalente a 32,8% da sua renda, enquanto o décimo mais rico, apenas 22,7%. Isso provoca a perpetuação do efeito ‘concentrador de renda’, inaceitável num país com acentuada desigualdade de renda como o Brasil.”( POCHMAN, Márcio.Desigualdade e Justiça Tributária. Brasília: IPEA, 15 de maio de 2008, p.3.)*
O que concentração de renda e pobreza teriam a ver com cercas, muralhas, fortalezas e proteção individual. Talvez o fato de os + pobres, constituídos nas franjas sociais brasileiras do mundo rico, tornarem-se uma qualquer ameaça ao concentrado patrimônio da parcela + rica.
(imagem muro eletrificado/acervo: portofeliz.olx.com.br)
 As cercas eletrônicas, as câmeras públicas e indiscretas, os circuitos fechados das fachadas e interior de mansões, bancos, financeiras e vidas privilegiadas respondem sobre a síndrome do cotidiano enjaulado.

 No dia 19 de outubro, em comemoração ao Dia do Piauí, o governo do Estado construiu cercado privilegiado na calçada/passeio do Theatro 4 de Setembro. O chiqueirinho reservado serviu para proteger os convidados e agraciados com a Medalha do Mérito Renascença, de distribuição generosa governamental.
No último dia 01 de dezembro, o Theatro 4 de Setembro recebeu o mesmo “mètier” para evento da empresa Clube de Televisão. Seria o resultado do "Prêmio Walter Alencar de Propaganda". A calçada/passeio de paralelepípedos, interditada para festa, recebeu tapume de proteção aos que precisavam estar guardados dos olhos dos comuns.


(arte "Prêmio Walter Alencar de Propaganda"/acervo: TV Rádio Clube de Comunicação)

Bom, se esse novo modelo de cerca, ou muralha forjada às portas da Casa de espetáculos não for para proteção dos + ricos dessa gleba local, então o patrimônio estaria sofrendo agressão de decisão governamental. Esdrúxula, mas nova rica de intenções privadas. Talvez as “cerquinhas” guarneçam quem + precise desse direito reclamado e pago.
(imagem casa eletrificada/imóveisculturamix.com)
Havia um tapume no meio do passeio público. Quem mandou, parafraseando o poeta, o indivíduo ousar passar em área de proteção da parcela de poder de riqueza. Na nova cultura dos cercados, a vida é contumaz como o mito do eterno retorno. Rituais reatualizam-se sempre.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Leitura recomendada: Edmar Oliveira

Leitura recomendada:

ESTAMOS USANDO O CRACK

                             Edmar Oliveira*

                                                     (Edmar Oliveira/foto: divulgação)

Estamos assistindo ao desmonte de um conjunto de políticas modernas e revolucionárias na área da Saúde Mental e a reimplantação de um modelo cruel e historicamente falido.
Vamos olhar a questão por uma lente grande angular: setores hipócritas da sociedade, uma mídia alarmista e políticas públicas equivocadas (quando não intencionais) estão usando o crack para criminalizar a pobreza e atacar os bolsões de populações em situação de vulnerabilidade com o eufemismo do “acolhimento involuntário”.
Construção inconciliável, que nós, os que trabalhamos no campo da Saúde Mental, sabemos ser falsa: ou bem o acolhimento é voluntário ou, se involuntário, aí não é mais acolhimento, e sim recolhimento. Primeiro veio o ataque às “cracolândias” de São Paulo, depois adotado na Cidade Maravilhosa que precisa ser “higienizada” para os eventos do calendário esportivo mundial. E por imitação, começa a acontecer em outras metrópoles.
A situação complexa dos bolsões de pobreza, com pessoas em situação de vulnerabilidade, não pode ser entendida de forma simplificada e menos ainda ser resolvida por atitudes apressadas.
Para enfrentar a disseminação do uso de crack e outras drogas (o álcool, droga lícita permitida, e os solventes, vendidos para outros fins, estão associados ao crack, que quase nunca é consumido isoladamente), o Ministério da Saúde, através da sua Área Técnica em Saúde Mental, vinha adotando uma Política Nacional de Enfrentamento ao Álcool e outras drogas (PEAD) que previa uma complexidade de equipamentos comunitários, móveis e hospitalares.
São os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e outras drogas (CAPS ad como centro de acolhimento diurno ou com leitos funcionando 24 horas); aproximação aos Programas de Saúde da Família através dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (os NASFs); Casas de Acolhimento Transitório (as CATs) para pessoas em situação de vulnerabilidade territorial; Consultórios de Rua, móveis, para o acolhimento e atenção dessas pessoas; Leitos Hospitalares de Referência nos Hospitais Gerais (sim, porque só neles podem ser tratados os agravos clínicos consequentes ao uso de drogas lícitas e ilícitas); além dos hospitais especializados.
Ou seja: a situação complexa do usuário deve ser atendida de forma também complexa, com um conjunto de dispositivos adequados a cada momento às necessidades do usuário. O leito comunitário do CAPS ad e o da Casa de Acolhimento Transitório não é o mesmo do Hospital Geral ou o do Hospital Especializado. Eles não competem entre si, mas são complementares, segundo a necessidade real psicológica e física do usuário a cada momento.
A política do recolhimento involuntário oferece apenas um dispositivo, a antiga e inadequada internação psiquiátrica, que a mesma política de Saúde Mental vinha combatendo por seu caráter repressivo e violador dos direitos humanos.
Esta forma não pode ser encarada como um tratamento adequado e resolutivo na nossa modernidade, mas apenas um retorno ao “tratamento moral” do começo da psiquiatria no século XVIII.
Assistir ao desmantelamento das políticas complexas, que ainda estavam em ritmo de implantação, para a recuperação de um modelo já condenado no século passado é um martírio que os militantes da construção da Reforma Psiquiátrica estão vivendo.
A Reforma Psiquiátrica é um movimento que implantou dispositivos comunitários de Saúde Mental, reduzindo consideravelmente o uso do hospital psiquiátrico especializado. E pior é saber que o modelo da internação (na contramão da Reforma), proposto atualmente, condena à exclusão intencional, em nome do tratamento, populações vulneráveis que sofrem da epidemia de abandono social.
E para as quais haveriam de ser implantadas políticas públicas sociais, educacionais, habitacionais e de emprego propondo a inclusão dessas pessoas que ficaram para trás no apressamento competitivo dessa sociedade.
Pois não é o crack a epidemia a ser enfrentada, mas o abandono de populações marginalizadas que não encontram lugar nessa sociedade do individualismo. Talvez por isso eles se juntam nos guetos, onde ainda encontram a solidariedade dos iguais, já que a sociedade não tem lugar para esta gente que não soube encontrar seu lugar.
 É a partir dos guetos, lugares que geralmente são depósitos de lixo, que os abandonados gritam à sociedade que são o lixo humano sobrante dessa sociedade egoísta. Um observador estrangeiro chamou esses lugares de “manicômios a céu aberto”. Correta observação. Eles estão presos à impossibilidade de pertencimento à sociedade moderna.
Voltando a olhar pela lente grande angular: não é pelo uso do crack que eles se encontram nestes lugares marginalizados a que chamam de “cracolândia”, mas por estarem nestes lugares em situação de vulnerabilidade e abandono é que – também - fazem uso do crack. Todos nós estamos “usando” o crack para esconder nossa sujeira debaixo do tapete.    
*O psiquiatra Edmar Oliveira foi diretor do Instituto Nise da Silveira (RJ). É autor dos livros “Ouvindo Vozes” Vieira & Lent, 2009, RJ; e “von Meduna”, Oficina da Palavra, 2011, Pi, ambos sobre práticas em Saúde Mental.