domingo, 30 de janeiro de 2011

Sereno do Teatro

por maneco nascimento
“(...) Ficou famoso entre a população o sereno do Theatro 4 de Setembro, quando grupos de pessoas ficavam à porta da casa, depois dos espetáculos, jogando conversa fora ou esperando a hora dos bailes, outra coqueluche que dominava o centro da vida social, naquele período. (...)” (O Teatro Piauiense No Começo Do Século XX. Cap. VI, pg. 50/ CAMPELO, Aci. História do Teatro Piauiense.Teresina- PI. Halley, 2010, 276p.)

Uma interessante pesquisa histórica, especialmente a parte em que os dados são hemeroteicos, compõe a última edição de Aci Campelo em revisitação aos bastidores do princípio do teatro praticado em Teresina e Piauí.

História do Teatro Piauiense” descreve a vida de teatro dos primeiros amadores, em que o autor possibilita fatos e dados pitorescos e revela o esforço laborado de quem trazia à luz os passos iniciáticos às cenas locais. O livro ganhou vida de edição graças ao Incentivo Cultural da Lei A. Tito Filho/Prefeitura de Teresina e Faculdade Santo Agostinho.

O teatro do século XIX e as referências do nascedouro das primeiras Casas de espetáculos, o Teatro Nacional de Santa Teresa, o primeiro Teatro do Piauí, segundo as pesquisas levantadas pelo autor, construído em 1858; o Teatro 06 de Julho, plantado numa residência no ano de 1875.

Com o fechamento do Teatro Nacional de Santa Teresa, as representações teatrais em Teresina voltam às casas e quintais particulares (...)” (Idem). O Teatro Concórdia surge em 13 de junho de 1879 e com seu fechamento em 1890, teatro, palestras literárias e outros eventos oficiais ou particulares passam a ter sede no Palacete da Assembléia Provincial, levantou o autor.

E, por fim, a histórica ida da comissão de senhoras da sociedade de Teresina ao Palácio do Governo solicitar ao Presidente da Província, Teófilo Fernandes dos Santos, a construção de um novo e profissional Espaço para receber as companhias nacionais e estrangeiras , acolher também, os grupos e agremiações responsáveis pela vida útil e constante que o movimento cunhou como legado aos dias atuais.

A Casa, batizada com a data da visita cultural ao Presidente da Província, com pé direito definido também ao movimento cênico atual, o Theatro 4 de Setembro foi entregue ao governador Coriolano de Carvalho e Silva, em 21 de abril de 1894, pelo comerciante e responsável pela construção da obra arquitetônica, Manuel Raimundo da Paz, nomeado seu primeiro Diretor.

Aci Campelo após esse breve, mas rico percurso pela estrada de tijolos de matiz diverso da construção de Casas e movimento amador, evolui em suas investigações para o século 20 e todos os desdobramentos culturais que as décadas desse novo século possibilitaram a verve da Cidade Verde. Vai desvendando talentos e iniciativas que a força das artes cênicas local gerou à posteridade.

Os grupos teatrais piauienses de 1900 a 1930, o vazio dos anos 30 e 40, o recomeço da década de 50, o Grupo de Teatro Experimental – TEEX, o Teatro Estudantil Teresinense – TESTE, o Grupo de Espetáculos do CEPI, a criação da Federação de Teatro Amador do Piauí – FETAPI, o Grupo de Teatro Pesquisa – GRUTEPE, o Grupo Raizes de Teatro, os Festivais de Teatro, Síntese Histórica dos Grupos de Teatro de Teresina e o Teatro nos Municípios fecham a colcha de retalhos dessa dinâmica teatral de história experienciada.


Trabalho ardoroso e, peculiarmente amante das coisas de teatro, é o que se percebe, com interesse de leitor, na forja do instrumentado objeto de pesquisa e curiosidade da “História do Teatro Piauiense”.  

Salvo algumas inadequações ortográficas e descuido de revisão melhor concentrada, a nova obra do autor de textos dramáticos, A. Campelo é peça para não ser desprezada, especialmente por quem se volta à história, memória e registros variáveis entre serenos e tempestades de manifestação cênica investida.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Noite às estrelas

por maneco nascimento
foto: museudatv.com.br
foto: memorialgloriapires.com.br

Nesse mês de Janeiro de 2011, a plataforma para salto ao imponderável esteve aberta para receber duas estrelas das cenas nacionais. Artistas de cinema, teatro e teledramaturgia(as novelas da caixinha mágica), deixaram a vida pueril de estrelas do mapa mortal para compor a geografia do invisível, fora da arte de fingir.


John Herbert Buckup abriu margem à vida em São Paulo, dia 17 de maio de 1929 e despediu-se da matéria efêmera em 26 de Janeiro de 2011, aos 81 anos bem vividos, vítima de enfisema pulmonar, doença que o perseguia.


De troncos - materno e paterno - alemães, o ator, diretor e produtor John Herbert, desempenhou uma rica carreira teledramatúrgica, presente em 44 novelas, “Que Rei Sou Eu?”, de Cassiano Gabus Mendes, é a mais lembrada; 4 minisséries; 4 seriados; 1 direção de novela .


No cinema atuou em 60 filmes, dividindo cena com Oscarito, Paulo Autran, Grande Otelo, Jardel Filho e Cacilda Becker. Dirigiu 5 películas e como produtor da sétima arte foi responsável por 4 inspiradas vidas de cinema.

Com uma boa veia de humor, emprestou o talento a personagens de novelas como “O Machão”, “Plumas e Paetês”, “Vereda Tropical”, “Que Rei sou Eu?”, “Perigosas Peruas”, “O Quinto dos Infernos”, entre outras. À noite das estrelas levou seu carisma histriônico e dramático, fingindo-se de deslocado e, na sua passagem, abriu ponte a outra colega de profissão, Georgia Gomide.


Aos 73 anos, a linda Georgia Gomide, despediu-se dos palcos da vida na madrugada deste sábado, 29 de Janeiro de 2011, vencida por uma infecção generalizada. Internada no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, desde a última segunda feira, deixou saudade da voz rouca, beleza incomum e personagens marcantes na tevê e cinema.


Filha de uma tradicional família de artistas, intelectuais e diplomatas, Elfriede Helene Gomide Witecy nasceu em 1937. Desde cedo sua beleza despertou atenção. Como John Herbert também começou carreira na extinta TV Tupi.


Entre as dezenas de teleteatros, laboratório de criação teledramática tradicional dos primórdios da TV brasileira, foi a vilã Tereza e chegou a apanhar na rua por causa da boa desenvoltura dramática. Em "Calúnia", ela escandalizou a sociedade ao protagonizar uma professora lésbica.

Sua primeira vida de novela foi em “Moulin Rouge, a Vida de Toulouse-Lautrec”, em 1963. Também deixou força marcante como Ana Terra em “O Tempo e o Vento”, da obra de Érico Veríssimo, na TV Excelsior; Clara em “As Pupilas do Senhor Reitor”, na Record, da década de 60 e Clotilde em “Éramos Seis”, na Tupi.


Na Globo, “Vereda Tropical”, “Quatro por Quatro”, “Anos Rebeldes”, “Kubanacan” foram novelas em que dividia-se, generosamente, entre o drama e o pastelão da boa e velha teledramaturgia nacional. Seu maior sucesso foi como Dona Bina, em “Vereda Tropical”. Seu último trabalho na Vênus Platinada foi em 2006, na ópera soap Malhação” em que viveu a Mamma Francesca.


A atriz paulistana Georgia Gomide, em seu álbum à posteridade, produziu um , currículo de participação em 40 novelas, filmes de José Mojica Marins (Zé do Caixão), Glauber Rocha e Renato Aragão.


Geórgia e Herbert despedem-se de seu público e rumam aos camarins e bastidores da Noite das Estrelas levando consigo orgulho de papel cumprido e deixando às luzes da ribalta, sets e estúdios de tevê a carismática herança aos novos fingidores da cena.


Dados de pesquisa biográfica: 1.Wikipédia, a enciclopédia livre/pt.wikipédia.org/wiki/john-herbert/SP/26/janeiro/2011. 2. bing web/cinema é magia/cinemagia.wordpress.com/2011/01/29/georgia-gomide-1937-2011



 


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Conceito e Atitude

por maneco nascimento

O Shopping da Cidade recebeu nesta manhã de 28 de Janeiro de 2011, entre onze horas e meio dia e meia, o resultado de Oficina de Iniciação em Ato Cênico, ministrada por Moisés Chaves. A Oficina que teve base de laboratório à Casa da Cultura, mostrou sua língua e sua pátria em performance conceitual e pop “Sarau Urbano no Shopping da Cidade”.

Um grupo de 25 atores iniciados e iniciantes, na arte de entreter e convencer, distribuiu-se nos espaços do Shopping, percorrendo as escadas estábiles e rolantes, dividindo-se pelas sacadas dos pisos que absorvem e concentram lojas, fregueses e transeuntes de toda a vida comercial desse mercado de variedades.

A voz dos poetas interagiu e ressoou pelo público dinâmico e misturou-se ao burburinho do varejo da cidade conseqüente. Torquato Neto abriu a manifestação e expandiu-se rua acima, rua abaixo pelo coração do centro comercial repercutido de som e fúria poética. Para o ator e diretor Moisés Chaves, a dramaturgia foi construída numa interrelação entre a Cidade e o Shopping, "Sarau Urbano no Shopping da Cidade".

A intenção seria “mostrar a relação do Shopping com a Cidade e introduzir a poesia e a música produzida por artistas piauienses". Músicas como ‘Modinha para Teresina’ e ‘Rataplã, Rataplã’ compuseram o repertório de poesia musicada, entre outras que têm uma ligação muito próxima com a vida da cidade e seus lances de memória. “A música e a poesia, o poema e o poeta, matéria se autogestando”.(Moisés Chaves)

Atores vestindo preto, com nariz de palhaço reverberando vozes e línguas livres, recheadas de felicidade. Moisés justifica que o nariz de palhaço seria para criar uma relação com o clown, uma coisa de estar interpretando o outro.
Na peça encenada há muito vigor e juventude transviando o contumaz. Jovens falas concentradas na ordem e vez da poesia forjada nas tardes manhãs da composição, arte em letras alinhavadas às linhas e entrelinhas dos autores festejados.

Os proclamos poéticos fecham a cena da dramaturgia construída, com homenagem à Cidade Verde na melodia do ‘Hino de Teresina’, de Cineas Santos e Erisvaldo Borges, ilustrado com bandeiras do Piauí, que coroam os peitoris e as sacadas dos pisos comerciais do Shopping.

Ao final do espetáculo o diretor disse que “Uma cidade só existe quando as pessoas amam sua cidade”. (Chaves) Para entendimento de discurso, o ator, diretor e cantor nos parece querer dizer o que, em outras palavras, teria vaticinado Gaudí, que a verdadeira arte está na raiz.

Moisés Chaves e seus oficinados encheram, na manhã do dia 28 de Janeiro de 2011, o espaço do Shopping da Cidade, de alegria contagiante e poesia evidente, com sorrisos largos ardentes em que cogito e “ (...) eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora (...)” à feita de Torquato Neto et all.

A boa lição do resultado da Oficina de Iniciação Teatral, ministrada por Moisés Chaves, é a de que a arte não está separada das linguagens, nem dos gêneros textuais saltados da mente e boca do homem(genérico). Ela está nas manhãs de toda criação feita presença da alma, tida como criador e criatura.

Serviço em poesia: Poetas contempladosMário Faustino, Torquato Neto, H. Dobal, Cineas Santos, Da Costa e Silva, Renata Gonçalves, Pedro Costa, Mariana Gonçalves e Moisés Chaves.
                                Músicas envolvidas: de Vavá Ribeiro, Durvalino Couto Filho, Aurélio Melo, Validuaté, Patrícia Mellodi, Glauco Luz, Geraldo Brito e Machado Junior.
Nova apresentação: Dia 31 de Janeiro de 2011, às 11h, no Shopping da Cidade.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ENTRE IGUAIS

por maneco nascimento
Se nos quiséssemos fechar em um grande exemplo da literatura dramática brasileiro, o pai do modernismo teatral das cenas renovadas, Nelson Rodrigues, diríamos, fazendo nossas as suas palavras que, toda unanimidade é burra.



Toda civilização e sociedade que se formou e firmou à posteridade fez-se entre o sim e o não. O aceitar e o discordar, porque os resultados podem ser confirmados nas igualdades e, também, nas diferenças.

Costumamos acreditar que o que tem refrescado a humanidade ao longo das representações sociais é a arte a e a cultura manifestadas. Os números, a matemática, a física e a quântica, a biologia, a química, mas também a alquimia, o lúdico, a fantasia...

e todo o direito do homem(genérico) de recriar seu próprio espírito são sujeito e objeto das melhores liberdades de questionar, especular e descobrir os feitos e efeitos de confirmação do conhecimento.

Entre o real e a realidade, o sonho e a descoberta do gelo na lua, há a civilidade que salta do primitivo ao super novo, representante das novas sociedades e sua ciência reinventada.

A arte e a cultura estão no seio da sociedade porque a sociedade não se construiu sem o eu e o outro, sem a minha e a sua história. Sem que se ouça o outro, sem que minha fala exista, porque a fala do outro também encontrou seu turno de se representar.

Não devemos estar, em quaisquer circunstâncias, para nos impormos sobre os preceitos, conceitos e razões, pois que tudo deve ser contemporizado.

Dividimos vivência social por, em tese, acreditarmos que podemos na inteligência, na humildade, na ética das relações saudáveis e no compromisso humano somarmos interesses.

Interesses esses que paginam a arte e a cultura da vida da cidade de Teresina e do Estado, mas também de qualquer cidade, estado ou nação e, através desses, representamos também o fator cultural. Mesmo que não possamos ser consenso, que sejamos bom senso e apostemos mais no coletivo.

Exercitemos perspectivas que preservem os espaços e projetos comuns conquistados e somem novos propósitos que conservem a Cidade e o Estado que queremos.

Em nosso solo identitário se fazem presentes e se confirmam as fronteiras abertas e representativas do diverso, matizes culturais produzidos. Nomes, rostos e sujeitos construídos aos feitos sociais.

Confirmar que acreditamos no novo é, não só, porque nos renovamos em cada piscar de olhos, mas porque é da natureza humana ser curioso, mas no curioso, diverso e aberto ao que em princípio possamos negar, pela resistência natural de recusar o que nos pareça diferente do habitual e contumaz.

Nos devemos ser mais humanos, colaboradores e, especialmente, responsáveis pelo que possamos produzir, investir e representar em nossa própria história, memória e identidade que reafirmem  uma melhor sociedade, para estarmos entre iguais.

Mas, sem desprezarmos nossas memórias socioculturais, vivemos o momento de confirmar que nada existe sem que haja a participação do outro, mesmo e, especialmente, os que discordem do que quer que seja.