por maneco nascimento
Os dias em que seguem esse novíssimo milênio, muito que a sociedade tem variado entre + avançada, ou atrasada com ranços de barbárie e intolerância resistente. Ainda convive-se em nossa banalidade com as redes de noticiários eletrônicas e páginas de jornal, hidratadas de sangue e violência naturalizada.
Ainda não se sabe como, eficazmente, se pode diminuir a violência contra a mulher, a criança, o idoso, o sexo dos anjos, como também a discriminação de etnias, orientação sexual e escolhas, que embasada nos direitos universais, seriam asseguradas como individuais e estritamente privadas.
Uma das perspectivas de recuperação de vida saudável e coletiva seria investimento efetivo à educação, seja ela ambiental, relacional, de respeito ao espaço do outro, de leitura e compreensão do mundo e também a sexual.
Um país que não valoriza sua educação social abre dois precedentes: ampliação do fosso social e confirmação de, talvez, uma política cínica e obscura da divisão de “espécies”, com mais direitos para uns e as sobras para os demais.
Só os cínicos e maquiavélicos combateriam educação ampla e irrestrita. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê aplicação de métodos e didática educacionais que ampliem conhecimento e transversalizem linguagens facilitadas pelos educadores e professores. Entre as novas possibilidades de novos conhecimentos, a educação sexual deve ter seu papel de urgência.
Recebi um depoimento de uma amiga, Sandra Farias, sobre uma reunião de pais e mestres, ocorrida na escola em que seus filhos estudam. O encontro deu-se na manhã do dia 19 de Fevereiro de 2011. Ela testemunhou que na hora de participação dos pais, um deles se levantou e muito indignado condenou o fato da escola ter recomendado um livro didático de educação sexual, com capítulo dedicado à homossexualidade.
A atriz disse que, o pai indignado, em alto e bom som de microfone, confirmou que sua filha não viria à escola no dia em que houvesse aula de educação sexual. Sandra ficou mais estarrecida porque não percebeu qualquer manifestação de 150 pais presentes na reunião, ou melhor, 149 pais, porque ela pediu a palavra.
A mediadora do microfone, da equipe da escola, fingiu não perceber que Sandra Farias pedia a palavra e acredita que foi pelo fato desta ser atriz. Assunto do conhecimento da escola, colhido na entrevista com pais no ato da matrícula. Ao se fazer notar, alegando ser baixinha, mas visível, acabou tendo o direito à palavra.
Colocou-se contra a postura do pai que indignara-se pelo fato do livro didático tratar de assunto que não pode + ser jogado embaixo do tapete, a livre orientação sexual. O que mais chocou a Sandra Farias foi o fato de um pai abrir a palavra numa reunião de pais e mestres para colocar-se contra a homossexualidade e ninguém da escola sequer justificar a necessidade de educação que abrace a diversidade.
Ao final, acrescentou que foi tirar dúvidas outras com a direção da escola e o pai se aproximou e com o dedo apontado fortemente em seu braço teria dito: “Cuidado com a educação que você está dando aos seus filhos”. Minha amiga ficou tão “passada” com a postura de pai que recorreu a mim, por ler meus textos e, delicadamente, sugeriu que eu comentasse o ocorrido.
Não me furtaria de tão pontual propósito. Até porque para mim esse tipo de discurso e, em público, além de discriminador e preconceituoso é também formador de opinião que considero negativa. A sociedade constituída tem obrigação de oferecer educação sobre qualquer assunto. O Colégio CEBRAPI, da região do Dirceu Arcoverde, acompanha as exigências da lei quando recomenda o livro didático de educação sexual.
(foto: Assai Campelo)
Educação sexual envolve também a parcela de orientação sexual de viés homossexual. Sandra Farias perguntou à direção da escola se a organização LGBT local já havia visitado a instituição de ensino. A diretora disse que não, mas que a escola estaria aberta a receber essa nova informação. A atriz se comprometeu em fazer a ponte entre a escola e a entidade representativa do grupo social em tema atravessado na reunião escolar.
As sociedades contemporâneas e melhor avançadas têm defendido um novo diálogo que pleiteie mais tolerância, encontro, comunhão e, especialmente, respeito pelas liberdades individuais. Não dá para fingir-se de mouco, nem acompanhar a espiral do silêncio para não ficar mal na fita.
A escola e a comunidade têm que afinar um discurso e, creio eu, não seria o de engrossar processos discriminatórios e preconceituosos. Sandra Farias fez sua parte, eu estou 101% com ela.