Ato de Natal
por maneco nascimento
(Natal nos jardins do Karnak/foto: Francisco Gilásio in www.piaui.pi.gov/notícias...)
(Natal nos jardins do Karnak/foto: Francisco Gilásio in www.piaui.pi.gov/notícias...)
Para manter-se no espírito que antecede os dias de natal, o Departamento de Ações Culturais da FUNDAC também buscou seu caminho de arte e cultura dentro da margem de acertos e propósitos artísticos.
Nesse ano de 2011 a novidade veio dar no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 22 de dezembro, às 19 horas e nos jardins do Palácio de Karnak, dia 23, às 18 horas. A peça em exposição pública, um musical adaptado por Franklin Pires a partir do conto original de Hans Christian Andersen, “A Pequena Vendedora de Fósforos”.
A “Opereta de Natal” retira uma menina pobre de um tempo e lugar da Rússia pré-revolucionária e recoloca-a em percursos que a levam à Teresina contemporânea e sua também pobreza de criança na rua, vendendo a sorte da sobrevivência familiar. Dos fósforos não vendidos à fabulosa fantasia de ver esperança e alegria na luz fugaz do tempo de uma cabeça de pólvora.
Em uma inteligente e crítica acomodação do discurso aos nossos dias, Franklin Pires facilita uma visão, através da arte, ao que o original do escritor europeu já denunciava acerca da indiferença que corrobora à pobreza, abandono, miséria, fome, exclusão e, de quebra, pecados capitais embutidos que, quando formalizados, podem ser vistos pela inveja.
E como as fábulas apresentam soluções satisfatórias após o descritivo crítico reflexivo, a magia do natal transforma em esperança o sonho infantil e desbanca a angústia da vendedora de fósforos que temia retornar à casa do padrasto sem o lucro da labuta imposta.
Enredo dinâmico, trouxe servidores públicos ao palco em atuação de primeira viagem. Tiveram passaporte aprovado. Adélia Araújo(sra. Rica I), Norma Passos(Mãe de Maria), Vania(a Velha) e Seu Chiquin(o Policial) têm destaque naturalmente interessante para primeiros contatos em tablado.
Bid Lima(sra. Rica II), Franklin Pires(Ator/corista), Gislene Danielle(Nossa Senhora/corista), Danilo França(sr. Rico II), Antoniel Ribeiro(sr. Rico I), Bruno Lima(Padrasto/ator), Edith Rosa(Parca), Gleyciane Pires(Professora/corista), Valdemar Santos(Vendedor de sonhos), Zé Carlos di Santis(Pato/ator) e Fernando Goldan(Ator/bailarino) estão na linha de montagem em série azeitada. Compõem um bom baião de dois com carne do sol na chapa, porque nem só de filé de ave eventual vive a criatividade culinária natalina.
A atriz mirim e protagonista, Nathalia Cavalcanti, quando aprender de vez o “metier”, há de “roubar” a cena sem comprometer o Teatro da Tribo, a dança teatro da OPEQ, ou os novos atores do quadro da FUNDAC. Seus colegas da mesma geração, Ana Paula(Bonequinha/vizinha) e Marcus Vitor(Vizinho), também do elenco de crianças da rede pública de ensino, são prosa e poesia exercitada.
Cantando e dançando, os atores enredam o público e deixam uma envolvente surpresa no resultado ensaiado. Adaptado à realidade piauiense, na margem de um humor contumaz franklinpireano do cutuca e alisa, a “Opereta de Natal” provoca o público ao riso, que se diverte com as tiradas e permanece linkado no drama da pequena Maria até o bom desfecho, com brilho de musical off off Broadway.
Tem carisma, determinação do planejado, costura eficaz para textos e músicas roteirizados. E uma acuidade sincera em trabalhar, mesmo, as deficiências de quem ainda não dominou a técnica de atuar.
“Opereta de Natal”, de Franklin Pires que atua, canta e dirige e tendo como produtor Luciano Brandão, uma ótima surpresa neste final de ano tão pobre de definições de políticas públicas estaduais à cultura, como também à deficiência social tão à mostra na releitura de “A Pequena Vendedora de Fósforos”.
Na alegoria teatral, a criança no sinal de trânsito, ou nas ruas contumazes dos centros urbanos, que comercializa a própria sorte, ganha valor estético. Mas na dura realidade das franjas esquecidas pelas políticas sociais, ou maqueadas para os holofotes, os pequenos vendedores, engraxates, guardadores de carro, etc, estão desenhando o futuro dos ainda e muitos miseráveis brasileiros.
Que a divertida opereta não tenha só servido ao orgulho vaidoso do recurso investido para bandeja dos convivas do poder executivo estadual. Qualquer espírito de natal alargue corações políticos e colabore para melhor olhar aos que nem sempre têm folga de vida, regada por vezes, pelo fabular investimento à prestação oficial de serviço para alcance coletivo.
Um ato de natal e política + humana ganhe realidade e desfibrile corações endurecidos.