segunda-feira, 30 de junho de 2014

Op!"ekê"

Sucesso invertido
por maneco nascimento

O mundo das histórias das civilizações está cheio de atos heroicos, heróis emblematizados como divinos por seus feitos de guerras, conquistas de territórios e povos, lobo alfa mijando no território do dominado. Assim ganharam a posteridade, como heroicos e divinos que foram, viram e venceram a quem não conseguiu se proteger da arte da guerra.

Ulisses (Odisseu), um dos divinos da tomada de Tróia, território não curvado, facilmente, pelo braço Espartano; Alexandre III da Macedônia, dito o Magno, ou o Grande da Macedônia, ao norte da Grécia, o Zeus Amon quando dominou o Egito; Júlio César e o império de Ave Césares; Genghis Khan e seu império mongol; Carlos Magno e o Império Franco, ou Carolíngio; Átila, o huno, do império bárbaro visigodo que mijou sobre a cabeça do império romano do Oriente e outros líderes invasores germânicos que enfraqueceram, o já decadente Império do Ocidente, com desordem, fome, pilhagens, saques, abrindo o precipício da sua desintegração no final do século V.

Também na construção sócio-cultural e política dos mundos ocidentais houve termo para Ricardos, Carlos e Luises divinos e mortais. Alguns deram nome a história das sociedades civilizadas e outros fizeram sua parte sobrecomum para guardarem-se aos compêndios históricos como reis dos reis, homens em mitos forjados, divinos, sol autoproclamado, poetas e mortais perenes como um dia atrás do outro.

Na atual Grã-Bretanha, Reino Unido, Ricardo I da Inglaterra, o Ricardo Coração de Leão, imortalizado pela literatura, cinema, quadrinhos e imaginário popular de grande herói das cruzadas inimigas contra os "pagãos", na Terceira Cruzada rumo à Terra Santa em objetivo de recuperar Jerusalém ao controle cristão. Sem conseguir tomar a Terra Santa, retorna e no caminho de volta para casa, "O Rei dos Reis da Terra" (alcunha do medievalista Régine Pernoud) - sem a proteção mítica do semideus Aquiles, herói de falha trágica no calcanhar - é ferido e morre em consequência de uma flecha que atingi-o no abdômen. Não usava armadura nesse dia. Sem descendentes, foi sucedido pelo irmão, rei João da Inglaterra, o João Sem Terra.

Ricardo III, o último rei de Inglaterra, que na peça "Ricardo III", de William Shakespeare, era coxo, de um braço + curto, descrito como “um sapo corcunda”, “deformado” e “incompleto”, tão feio que até os cães ladravam quando passava por eles. Dono da frase célebre quando derrotado: "RICARDO III (Rei) — Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!". 

Na França, os territórios de monarquia tiveram seu tempo de Luíses que compuseram histórias de popularidade festejada e tiranias freadas pela queda de Bastilha. No tempo de Luíses houve papel para os mortais Luís XIV, o Rei-Sol (o rei baixinho, criador do salto Luis XV, artifício que continua ditando moda e ostentação de elegância nos sapatos femininos de nossa contemporaneidade); Luís XV, o Bem Amado e Luís XVI, guilhotinado pela revolução francesa.

Na literatura mundial e imprescindível, o grande ícone da poesia que do além-mar nos toca até hoje e unifica cultura e língua da península ibérica portuguesa ao mundo colonizado da terra brasis, Luís Vaz de Camões e sua epopeica "Os Lusíadas"; Luís da Câmara Cascudo e o Dicionário do Folclore Brasileiro; Luiz Ayrão, um bamba do samba; Luiz Melodia, nosso Pérola Negra; Luiz Gonzaga, Rei do Baião; Luiz Gonzaga Jr., o príncipe herói da resistência que cantou "Não dá mais pra segurar (Explode Coração)", alguns exemplos da língua e obras que nos aproximam e nos orgulham como povos transversais.

Mas há, na natureza humana, também as falhas em nomes repetidos a Luiz, Luís, Carlos, Ricardo e que, nem sempre honram a identidade, deslizam sobre a própria história, deixando as marcas da própria petulância ignorante e, no afã de avançar territórios, acabam desempenhando a práxis da esperteza na "advocacia" em causa própria. Ofendem até os rábulas, que dirá a academia da profissão que envolve ética, respeito e exercício de proteção dos direitos alheios. Cometem inadequações, disfarçadas de bom mocismo em nome da arte e cultura de grupos, organizações e empresas sem fins lucrativos.

A atriz Célia Lopez foi convidada pela Organização Ponto de Equilíbrio - OPEQ, uma entidade sem fins lucrativos, para realizar produção executiva de um espetáculo de dança, intitulado "Musical Palmares". Na conversa de tratar de valores de pagamento ao serviço que prestaria, segundo a atriz, foi acordado com o representante da OPEQ, à época, o senhor Luis Carlos Vale, que o cachê pela ação de produção ficaria em torno de R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais). Célia comprova, em agenda de abril, durante a reunião, as anotações que definem seu cachê pelo trabalho.

Agora, na hora de receber seu pagamento, pelos serviços já realizados com eficácia, Célia Lopez que fez produção do Musical teve uma infeliz surpresa. Foi comunicada pelo senhor Ricardo e depois confirmada a informação pelo próprio senhor Luís Carlos Vale, que respondem pelo pagamento dos cachês, que a atriz e produtora deverá receber só R$ 1.000,00 (hum  mil reais). Os R$ 500,00 (quinhentos reais) restantes, como diria o ditado popular "são outros quinhentos!". Ficaram perdidos no encolhe cachês da OPEQ, desequilibrando o acordo, anteriormente fechado com Célia Lopez.

Segundo Célia Lopez, os administradores do caixa da OPEQ  (Ricardo e Luís Carlos Vale) alegaram que não estão pagando + que R$ 1.000,00 (hum mil reais) a quem trabalhou na realização dessa circulação, com recursos do MINC (Circuito Palmares "Prêmio Myriam Muniz 2014"). O Projeto Circulação do espetáculo de dança "Musical Palmares" viajou por palcos de Teresina e cidades do interior do estado do Piauí  e também chegou em municípios do Maranhão e em sua capital, São Luís.

Agora, que o trabalho da atriz e produtora já está concluído, seu cachê acordado com os donos do dinheiro da OPEQ parece fugir de suas mãos cheias de expectativas pelo lavor realizado. Ela tem tudo anotadinho em sua agenda, com dia, hora e local em que foi acertado o valor do cachê, que agora fica no discurso de quem detém a última palavra. Só é mil e não tem outra alternativa que fuja dessa imposição da OPEQ.

A atriz parece que vai ter mesmo que amargar o prejuízo. E, sem poder contar com nenhum ato heroico da OPEQ, fica a transigir sobre a perda de valor de trabalho: "Oh, quem poderá me defender?" (Chapolim Colorado/Chaves - série infanto juvenil mexicana).

Com tão considerável recurso público, recolhido pela OPEQ, do MINC - "Prêmio Myriam Muniz", por que não há como honrar o compromisso com a atriz e produtora Célia Lopez? Artista também tem compromissos planejados com resultado da força de trabalho dispendida e paga contas. Então, OPEQ, faz uma forcinha. Paga a profissional. Não suja a barra da cultura, de saída. A arte e as relações de trabalho e serviço, na cidade de Teresina, agradecem.

Atitude não precisa ser divina, nem heroica de mitos e batalhas. Em dias de liberdades e democracias plenas, avançar sobre territórios alheios é contraproducente e politicamente incorreto. Uma inversão de sucesso.

Não sejam anti-heróis das políticas públicas de cultura, régua tão bem estruturada por projetos de rede nacional. Antes de burocratas, artistas. Não? 

Não neguem princípios de arte e cultura estatutários da OPEQ. A vida de artista, da cidade, precisa de boas atitudes e política de transparência e eficiência cultural às respostas de sinceridade ao coletivo.

Histórico:


30 de janeiro de 2014


Circuito Palmares "PRÊMIO MYRIAM MUNIZ 2014"

CIRCUITO PALMARES PREMIO MYRIAM MUNIZ 2014:

·         TERESINA (PI): Dia 03 (quinta) e 04 (sexta) de ABRIL.
09h. Entrevistas e panfletagem.
15h: Montagem Técnica.
19h apresentações do MUSICAL PALMARES em Teresina quadra da Organização Ponto de Equilíbrio-OPEQ. Centro de Teresina.
21h desmontagem técnica e dispersão.

·         TIMON (MA): Dia 05 DE ABRIL (sábado).
15h. Montagem Técnica.
19h: Apresentação DO MUSICAL PALMARES na Praça da Igreja ou de frente ao Teatro Municipal.
21h. Desmontagem e dispersão.




·         BARÃO DE GRAJAÚ (MA): Dia 08 DE ABRIL (terça).
09h. Entrevistas em rádios e visitas em Escolas da Cidade. (Panfletagem)
15h. Montagem Técnica.
19h Apresentação do MUSICAL PALMARES na praça central de Barão de Grajaú.
21h Desmontagem Técnica e dispersão.

·         FLORIANO (PI): Dia 09 DE ABRIL (quarta)
09h. Entrevistas em rádios, tv e visita em Escolas da Cidade. (Panfletagem)
15h. Montagem Técnica.
19h. Apresentação do MUSICAL PALMARES em frente do Teatro Maria Bonita, cais da cidade.
21h. Desmontagem Técnica e dispersão.







·         SÃO FRANCISCO (MA): Dia 10 DE ABRIL (quinta)
09h. Entrevistas em rádios e visitas em Escolas (Panfletagem)
15h. Montagem Técnica.
19h. Apresentação do MUSICAL PALMARES em frente a Igreja Matriz.
21h Desmontagem e dispersão.

·         AMARANTE (PI): DIA 11 DE ABRIL (sexta).
09h. Oficina na Escola Pública, entrevistas e visitas a escolas.
15h. Montagem Técnica.
19h. Apresentação do MUSICAL PALMARES na Escadaria Da Costa e Silva.
21h. Desmontagem Técnica e dispersão.






·         ÁGUA BRANCA (PI): DIA 12 DE ABRIL (sábado).
15h. Montagem Técnica.
19h. Apresentação do Musical Palmares.
21h Desmontagem Técnica, dispersão e retorno da equipe.

·         SÃO LUIS (MA): DIA 24 E 25 DE ABRIL (quinta e sexta).
09h. Oficina de Dança Contemporânea e Dança Afro em Escolas Públicas.
15h Montagem Técnica.
19h. Apresentações do Musical Palmares no centro histórico da capital maranhense.

21h. Desmontagem Técnica e dispersão.

Fonte OPEQ: (Programação do Circuito Palmares e fotos - http://ongpontodeequilibrio.blogspot.com.br/2014/01/circuito-palmares-premio-mirian-muniz. data de acesso 30.06.2014, às 20h50)
Fonte de Pesquisa Histórica: (www.wikipedia.com.br)

Ela é Maria da Graça

Costa Penna Burgos - Gal Costa
por maneco nascimento



(capa LP Gal Profana/fotos cel. m. nascimento)

Uma das + importantes intérpretes da MPB deve vir ao Piauí, neste segundo semestre de 2014, para dar o ar de sua graça e da voz que marcou música em nossas vidas brasileiras e alhures. "Minha voz, minha vida, meu segredo e minha revelação (...) minha voz é precisa, vida que não é menos minha que da canção (...)" [Minha Voz, Minha Vida - Caetano Veloso]. 

Profetizada pelo papa da Bossa Nova, João Gilberto, de que seria a maior cantora do Brasil, Gal Costa e seus Doces e Bárbaros, contemporâneos baianos de todas as horas, + outros parceiros e compositores fiéis, deixaram a marca de épocas, estilos, modernidade revisitada e muita novidade que reverbera até hoje. Sem negar fogo confirmou que seu nome é Gal. 

[Meu nome é Gal/E desejo me corresponder/Com um rapaz que seja o tal/Meu nome é Gal/E não faz mal/Que ele não seja branco, não tenha cultura/De qualquer altura/Eu amo igual/Meu nome é Gal/E tanto faz que ele tenha defeito/Ou traga no peito/Crença ou tradição/Meu nome é Gal/Eu amo igual/Ah, meu nome é Gal

“Meu nome é Gal, tenho 24 anos
Nasci na Barra Avenida, Bahia
Todo dia eu sonho alguém pra mim
Acredito em Deus, gosto de baile, cinema
Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo,
Macalé, Paulinho da Viola, Lanny,
Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat,
Waly, Dircinho, Nando,
E o pessoal da pesada
E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar
Não precisa sobrenome
Pois é o amor que faz o homem.]
(Meu Nome é Gal  - Erasmo Carlos/Roberto Carlos)

"Engrupindo corações"  a bela baiana que também cantou Ary Barroso "No Tabuleiro da Baiana" e que entrou no samba da melhor maneira,  louvou que "(...) Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira (...) Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras/Deixando a moçada com água na boca (...) Mas a gente gosta quando uma baiana quebra direitinho/De cima embaixo revira os olhinhos/E diz eu sou filha de São Salvador!" (Falsa Baiana - Geraldo Pereira). 

Da revolução das guitarras às novas composições, também de fãs, namorou outros sons e cantou o que nunca poderia deixar de ouvir e transformar em repertório, uma boa e nova canção.

[Comecei namorando um som/E virei groupie/E virei fã/Grudada no braço de um violão/Como se fosse uma lã/Engrupindo corações/Como uma groupie/Como uma fã/Num grupo que toca/Que sai pela estrada/Buscando mais ilusões/Mal vi a música, me vi mal/Pois eu sou groupie/Pois eu sou fã/Não há quem não saiba/Que eu me entreguei/Sou prisioneira da canção
Comecei namorando um som/E virei groupie/E virei fã/Grudada no braço de um violão/Como se fosse uma lã/Engrupindo corações/Como uma groupie/Como uma fã/Num grupo que toca/Que sai pela estrada/Buscando mais ilusões/Mal vi a música, me vi mal/Pois eu sou groupie/Pois eu sou fã/Não há quem não saiba/Que eu me entreguei/Sou prisioneira da canção

Comecei namorando um som/E virei groupie/E virei fã/Grudada no braço de um violão/Como se fosse uma lã/Engrupindo corações/Como uma groupie/Como uma fã/Num grupo que toca/Que sai pela estrada/Buscando mais ilusões/Mal vi a música, me vi mal/Pois eu sou groupie/Pois eu sou fã/Não há quem não saiba/Que eu me entreguei/Sou prisioneira da canção(GROUPIE "MINHA VOZ" De Beti Niemeyer).

Essa voz para "Luz do Sol", curtindo folha, verde, Graça, vida, luz, céu, azul, pés , terra, rio, mar, correnteza,  beira, areia, marcha, homem, chão, coração, acesa, sim, não, visão, beleza, ferir, delicadeza, querida, glória, vida, sol que doura "Em vida, em força, em luz (...) da música popular brasileira, continua a bela e doce voz e é "Barato Total", Gal Plural, Gal Total, Fatal e para "Coração Vagabundo", "Folhetim", "Lígia", "Por Causa de Você", "Derradeira Primavera", "Vaca Profana", em "Fotografia" de memórias musicais do cancioneiro musical brasis, também "O Amor" de Maiakovski para Caetano e para o mundo das melodias na canção brasileira que chega em qualquer estação...


["(...)Ressuscita-me Para que a partir de hoje/ A partir de hoje/A família se transforme/E o pai/ Seja pelo menos o Universo/ E a mãe/ Seja no mínimo a Terra/  Terra/ A Terra"] (Sobre um poema de Vladimir Maiakovski - Caetano Veloso) 

Quando a Gal por aqui passar, eu quero estar, ir aonde o povo está e louvar o que bem merece.


(Gal Costa/imagem colhida wikipédia)

Histórico:
Em 2012, Gal Costa foi eleita a 7º maior voz da música brasileira de todos os tempos, pela revista Rolling Stone.2 (...) Gal Costa é filha de Mariah Costa Pena, sua grande incentivadora, falecida em 1993, e de Arnaldo Burgos.3 Sua mãe contava que durante a gravidez passava horas concentrada ouvindo música clássica, como num ritual, com a intenção de que esse procedimento influísse na gestação e fizesse que a criança que estava por nascer fosse, de alguma forma, uma pessoa musical. Gal jamais conheceu o seu pai, que faleceu quando ela tinha por volta de 15 anos. Por volta de 1955 se torna amiga das irmãs Sandra e Dedé (Andreia) Gadelha, futuras esposas dos compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente. Em 1959 ouve pela primeira vez o cantor João Gilberto cantando Chega de saudade (Tom Jobim/Vinícius de Morais) no rádio; João também exerceu uma influência muito grande na carreira da cantora, que também trabalhou como balconista da principal loja de discos de Salvador da época, a Roni Discos. Em 1963 é apresentada a Caetano Veloso por Dedé Gadelha, iniciando-se a partir uma grande amizade e profunda admiração mútua que perdura até hoje (...) Gal estreou ao lado de Caetano VelosoGilberto GilMaria BethâniaTom Zé e outros, o espetáculo Nós, Por Exemplo... (22 de agosto de 1964), que inaugurou o Teatro Vila Velha, em Salvador. Nesse mesmo ano participou de Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova, no mesmo local e com os mesmos parceiros. Deixa Salvador para viver na casa da prima Nívea, no Rio de Janeiro, seguindo os passos de Maria Bethânia, que havia estourado como cantora no espetáculo Opinião (...)" (www.wikipedia.com.br/ colhida às 23h36, 29.06.2014)

sábado, 28 de junho de 2014

Aspirantes ao Teatro

aprendizes do palco
por maneco nascimento


A Escola Técnica de Teatro Professor Gomes Campos cumpriu + um rito de passagem de aspirantes a artistas da cena. 

Na noite do dia 26 de junho de 2014, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro, foi finalizado o exercício de formação de técnicos em teatro, categoria ator.

A prática de final de curso, uma participação em montagem. Os estudantes exercitaram o aprendizado escolar na revisita de uma das obras + emblemáticas da dramaturgia nacional, de expressão política, “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. 

Ao pagarem a disciplina Prática de Montagem, ministrada por Marina Marques, os alunos montaram cena em releitura da obra. A direção de espetáculo também é  assinada por M. Marques.

A dramaturgia cenográfica do exercício de cena em "Um Grito Parado no Ar" é simplória, mas funcional. Um quase camarim, sala de reunião, palco do teatro, espaço de ensaios e improvisações à construção da ação dramática. Mesa de escritório, escada pirâmide, arara com figurinos expostos a serem usados, quando a personagem solicitar, e cadeira, bancos, tamboretes de tamanhos diferentes e objetos que tornam experimentação real a metalinguagem que a ideia original do autor sugere.
(Um Grito Pardo no Ar, da ETEAGomesCampos/foto Franklin Pires) 

Há uma dramaturgia de cena que não recebe correspondência à atitude dos intérpretes. Parece um descomprometimento dos atores e atrizes ao expressarem entendimento só das franjas de representação das personagens de Guarnieri. 

Um naturalismo que não representa nem a televisão de improviso, ou cinema doméstico, nem o teatro de primeira experiência, salvo quando aplicada a recepção acionada por imberbes aprendizes do palco. 

Há um entrecruzamento de falas que não conseguem coadunar comunicação eficaz. Uma talvez pouca compreensão do texto original, de caráter político reflexivo, breca a eficiência da comunicação e acentua uma inconsciente negação do que eficientizaria o discurso da obraGera, na resistência, uma fala inexpressiva, amadora e descontextualizada da história datada e da releitura que deveria ter melhor apreensão, enquanto mergulho de texto que aponta estratégias de sobrevivência em dias de chumbo.

Mergulhar nos contextos transversais de memórias e história do período da ditadura e em atos criativos de preservação da cultura e arte do Brasil de exceção, talvez tivesse dado algum cabedal para que os novos atores melhor entendessem do que estavam falando e dessem o salto do gato de pés descalços. 

Enredo assentado sobre o metateatro parece não ter sido entendido pelos intérpretes, já que nem na possibilidade da metalinguagem criou-se aproximação de sua geração à do teatro de Gianfracesco. A juventude e inteligência dos novos articuladores sociais em potencial, entranhados nas novas tecnologias, não deram suporte a um mertalinguismo de cena e de atitude repercutida das próprias experiências fora de cena para espelho no palco.

As inflexões e intenções das falas das personagens, nas vozes dos intérpretes, truncam melhor compreensão à audiência. A disciplina de Técnica Vocal, ou educação da voz, matéria obrigatória na grade de Escola de formação de atores e atrizes, parece não estar cumprindo metas. Os aprendizes de palco detêm problemas que dificultam a limpeza da cena falada e das oralidades naturais de qualquer enredo dramático. 

Vozes de língua presa, inflexões esganiçadas, ou que taquarizam as falas e racham o ar, na passagem pela ponte do palato e caixa sonora, pecam na sonoridade de alguns intérpretes. Um desmerecido distanciamento na cena, sem intenção técnica brechtiniana, enfraquece a construção da personagem e, no descuido de ator envaidecido metralha o texto e o encobre da liberdade de ser audível.

Os figurinos buscam entrosamento contextual e representam uma das margens de aproximação a dramaturgia de época. A atriz que alcunha o nome artístico a homônimo de Preta Gil, tem um "timming" declarável a caráter histriônico. O excesso de apelo ao riso fácil e direcional frágil à plateia do gargarejo, desgasta performance + centrada na ironia econômica e pragmática.

A pesquisa musical fica na média do contexto e perdeu melhor aproveitamento no enredo, já que a operação de áudio acabou atropelando a narrativa e emboscando uma limpeza da sonoplastia na trama que deveria encorpar a ação dramática.

A cena + plasticamente limpa é a do final do espetáculo. Os intérpretes sobre bancos, tamboretes e escada e, recortados por pinos de iluminação, figuram em planos de  luz e sombras. Expressionizam estética de claros e escuros e vozes presas no ar do ato panfletário de resistência.

"Um Grito Parado no Ar", da turma de conclusão do curso técnico de teatro da Escola Técnica de Teatro "Professor Gomes Campos" mereceria um detido mergulho na obra de Gianfrancesco Guarnieri, para que a dramaturgia de cena apresentada pelos alunos quebre a leitura linear e não se detenha só nas rubricas de "Um Grito Parado no Ar" guarnieriano.

 Histórico
"Um Grito Parado no Ar"
5/7/1973 - São Paulo/SP
Teatro Aliança Francesa

"Texto de Gianfrancesco Guarnieri, vinculado ao teatro de resistência, produzido por Martha Overbeck e Othon Bastos, em encenação de Fernando Peixoto. Um dos primeiros espetáculos que conseguem furar o cerco da Censura em plena ditadura, por meio de uma linguagem metafórica, que revela o inconformismo e a rebeldia característicos do período.

O espetáculo estreia quase simultaneamente a Botequim, outro texto de Guarnieri, configurando as primeiras incursões do autor por um estilo figurado no qual se fazem referências indiretas à situação social e política do Brasil. 

Um Grito Parado no Ar reflete o momento difícil que a dramaturgia atravessa, desejosa de discutir problemas sociais, mas obrigada a evitar alusões explícitas que pudessem levar ao veto da Censura (...) A peça gira em torno de um grupo de teatro em seu processo de trabalho e ressalta as dificuldades que enfrentam dentro e fora dos palcos. Enfocando três planos de realidade, o diretor Fernando Peixoto descreve a estrutura do espetáculo; as articulações existentes na encenação: 'Um diretor e cinco atores procuram realizar um trabalho, enfrentando toda sorte de pressões externas; o trabalho está sendo minado por uma infra-estrutura repressiva, que provoca uma crise de consequências insuspeitas; a peça que este grupo está procurando encenar é mostrada através de cenas isoladas, mas nunca totalmente definida. [...] noutro plano estão os poucos momentos em que o diretor e atores conseguem vencer; são mostrados exercícios de interpretação, laboratórios e improvisações, discussões sobre os personagens. O espectador assiste ao processo de criação do ator. A mística do teatro é desnudada. [...] No terceiro plano estão as entrevistas com o povo, todas autênticas, gravadas nas ruas de São Paulo. Na peça dentro da peça seriam entrevistas realizadas para servirem de material de estudo para a criação de suas persoangens', 2 A ação de Um Grito utiliza-se da alegoria, mostrar o teatro como um local onde se trabalha e se fabrica uma aparência da realidade. Quando despojado de tudo, resta ao grupo de artistas somente um uníssono grito final, símbolo da luta e também da sobrevivência em meio a opressão reinante. " (http://www.itaucultural.org.br/)

Reino de aprendizagem

aprendizes de feiticeiro
por maneco nascimento

2 horas de espetáculo marcaram o resultado da segunda turma de alunos, formados atores,/atrizes a nível técnico, na Escola Técnica de Teatro "Prof. Gomes Campos", nesta última sexta feira. A encenação demonstrada na noite do dia 27 de junho 2014, às 19 horas, no Theatro 4 de Setembro, assinala atuação para "O Rei da Vela", revisita à obra original de Oswald de Andrade, um dos pilares da Semana de 22.

A cenografia que incorpora dados da carpintaria dramática original se apresenta para escritório, porto aduaneiro de negócios e trocas financeiras, empréstimos e agiotagem. Na ambientação, mesas e cadeiras, armários, cadeia construída com varas de bambu verde e cama de descanso, caracterizando também área doméstica no espaço de negócios e futuros.

Elementos práticos de contrarregra (caixas de papelão, praticáveis/escadas com degraus variáveis, cadeira de roda transformam, de ato a ato da peça, a cenografia que muda de escritório para navio de passeio e, de volta à sala de mercados e comércio.

A pesquisa musical e o entrosamento do elenco que distraem a mudança de cena, enquanto as personagens/atores/contrarregras reorganizam o ambiente do próximo enredo, é de ligeiro e inteligente mote de ação para não cansar a assistência e manter a energia alegre em margens de aproximação do antropofagismo hilariante e devorador da atenção, no modernismo oswaldiano de fase heróica. 

Os sons que passeiam pela dramaturgia abrem característicos de identificação com o movimento manrinetti e futurismo, vanguardismos musicados e inquietações das luzes das escalas industriais  e urbanismo que vinham substituir, não sem resistências, os velhos vícios de tradição agrária e cultura colonial.

As batidas percussivas, em madeira e pandeiro discreto, produzidas por atores, que se instalam ao fundo do escritório, são afeitas à representação das máquinas que não param, trazem não só esse moto-contínuo da aceleração de produção industrial, como também de batuques tradicionais com referências de afrodescendência ritmadas.

Os figurinos compõem boa marca de contexto estético de tradição desdenhada e decadência disfarçada nas alegorias e carnavalizações modernistas. Têm força de emblemas e ilustrativo composicional que não comprometem a trama agilizada pela direção de Chiquinho Pereira e o drama ensaiado para risos e reflexão.

As falas sociais plantadas, nas vozes dos intérpretes, têm não só melhor compreensão dos atores como trazem maior comunicação com quase nenhum ruído à plateia integrada no resultado planejado às duas horas de mergulho em " O Rei da Vela". Há um equilíbrio de debutantes da cena, mais tranquilidade na realização do exercício do exercício e fortaleza sendo erigida com tempo de entender e regurgitar o enredo que ora se lhes é posto à prova.

Atores e atrizes empertigam alegria de boa atuação, na média da aprendizagem da arte de fingir, e criam interesse do público na conclusão dramática, mesmo que as duas horas pareçam + extensas, haja vista a pequena experiência dos intérpretes não destrinchar, ainda, a destreza natural de domínio da cena aberta e do deslizar da ação cênica maturada.

Mas a montagem estudantil de "O Rei da Vela" cumpre o teste escolástico e inicia estudantes à nova empreitada de correr palcos e repercutir o que tenham apreendido na sala de aula, em teorias dramáticas do ato de ser artista da cena.

Já aprenderam a lição de cor e foram facilitados aos dotes da magia do bom fingir, agora é só estreitarem o mergulho de ciência e do sensível e ganharem identidade de aprendizes de feiticeiros.


Resumo: O Rei da Vela
"No título da peça, a palavra vela significa agiotagem, isto é, empréstimo de dinheiro a juros extorsivos. O protagonista, Abelardo I, é proprietário de uma firma de agiotagem, a Abelardo & Abelardo, que serve de cenário para o primeiro ato da peça. Seu sócio, Abelardo II, vestido de domador, recebe clientes que saem de uma jaula. Os devedores são tratados com desprezo e violência. Aparece para uma visita Heloísa de Lesbos, noiva de Abelardo I, pertencente a uma família tradicional, salva da bancarrota pelo dinheiro do noivo.
O segundo ato tem como cenário uma ilha tropical, presente de Abelardo I à noiva. Instala-se ali um clima de grande liberdade sexual: Heloísa troca intimidades com Mr. Jones, americano com quem seu noivo mantém alguns negócios e que desperta interesse em Totó Fruta-do-Conde, irmão homossexual de Heloísa. Abelardo I vive uma noite de amor com a sogra, Dona Cesarina, e acerta outro encontro sexual com a tia da noiva, Dona Poloca, cuja virgindade sexagenária é proclamada a todo momento. Há ainda a presença de João dos Divãs, na verdade Joana, a irmã lésbica de Heloísa, e de seu primo Perdigoto, que arranca um empréstimo de Abelardo I, destinado a montar uma milícia fascista para combater os camponeses que insistem em invadir sua propriedade.
O terceiro ato retorna ao escritório de Abelardo & Abelardo. Vítima de um golpe, Abelardo I lastima sua falência, tendo a noiva aos seus pés. Com um revólver nas mãos, dirige-se aos espectadores e declara que eles assistirão a um final digno de dramalhão: suicídio no terceiro ato. Sem conseguir levar o gesto adiante, pede ajuda ao Ponto (auxiliar de cena que, escondido do público, lembra ao ator as suas falas quando necessário), mas este se recusa a auxiliá-lo. Fecha-se a cortina do palco. Ouvem-se salvas de canhão e um grito de mulher. Quando a cortina reabre, Abelardo I está agonizando sobre uma cadeira e a noiva deitada em uma maca. 
Entra em cena Abelardo II, com exageradas vestes de ladrão, que substituem as de domador usadas no primeiro ato. Ele assume sua condição de herdeiro dos negócios de agiotagem, ficando também com a noiva. Abelardo II tenta presenteá-lo com o socialismo, mas Abelardo I recusa, chutando um rádio que toca a canção da Internacional Comunista.
No delírio que antecede a morte, Abelardo I ouve sinos. Determina que a jaula seja aberta, e os devedores fogem, proclamando a vitória da revolução. O suicida pede uma vela. Seu desejo é atendido e ele morre. 
Heloísa chora a morte do ex-noivo. Mas a um gesto de Abelardo II, aproxima-se dele prontamente. Ouve-se a Marcha nupcial, convidados entram e, ignorando completamente a presença do defunto, celebram o casamento de Abelardo II e Heloísa de Lesbos."

CONTEXTO

Sobre o autor 
Oswald de Andrade formou com Mário de Andrade a dupla de liderança do movimento modernista de 1922. Algumas de suas experiências literárias, notadamente aquelas produzidas sob o efeito de compromissos ideológicos mais explícitos, apresentam formas mais tradicionais. No entanto, o melhor de sua arte é, sem dúvida, a renovação da ficção brasileira, tão intensa que o tornou incompreensível aos seus contemporâneos e, para muitos, ainda hoje. 
Importância do livro 
A importância e a força de O Rei da Vela pode ser medida pela dupla condição de marco cultural que a obra possui. Escrita em 1933, foi pioneira na aplicação ao teatro dos conceitos mais radicais do vanguardismo estético defendido por Oswald e seus colegas desde a Semana de Arte Moderna de 1922. Encenada apenas em 1967 pelo grupo teatral Oficina, sob a direção de José Celso Martinez Correa, também causou uma verdadeira revolução na arte dramática brasileira. 
Período HistóricoO teatro não ficou imune à renovação estética que teve em 1922 um marco importante. No entanto, a transformação se limitou ao texto, as montagens permaneceram presas às convenções até a década de 1950. Sob roupagem moderna, Oswald de Andrade trata de problemas velhos (domínio estrangeiro, cultura colonizada, dependência da monocultura) e novos (urbanização acelerada, refinamento de formas de exploração).

ANÁLISE

A montagem que o grupo Oficina realizou de O rei da vela, em 1967, exacerbava elementos sugeridos pelo texto, como o circo em que é transformado o escritório Abelardo & Abelardo, insinuado pelo autor pela inclusão de uma jaula como parte do cenário e na roupa de domador usada por Abelardo II. No segundo ato, a atmosfera de pansexualismo determinada pelo enredo deu oportunidade a José Celso para se utilizar de referências ao teatro de revistas do baixo mundo carioca. O fato de a atmosfera grotesca já estar presente no texto original de Oswald constata a radicalização do projeto modernista do escritor, manifesto tanto no plano político quanto no estético.
Politicamente, a peça é resultado dos contatos de Oswald com a ideologia marxista e com a sátira aos valores burgueses que sempre acompanharam sua obra, aspectos evidentes na postura conservadora assumida por Abelardo I. Em certa passagem, ele se manifesta a respeito do comportamento que os industriais deveriam ter diante do avanço da classe operária: “Manter vigilância rigorosa nas fábricas. Evitar a propaganda comunista. Denunciar e perseguir os agitadores. Prender. Esse negócio de escrever livros de sociologia com anjos é contraproducente. Ninguém mais crê. Fica ridículo para nós, industriais avançados. Diante dos americanos e dos ingleses.” 
Ainda em outro momento, dirigindo-se a um intelectual, declara: “A minha classe precisa de lacaios. A burguesia exige definições!” A sátira burguesa se mostra tanto nas personagens que aparecem na peça quanto naquelas que são apenas referidas, como certa Dona Etelvina, parenta que costuma viajar com a radiografia dos intestinos, consultando celebridades médicas que encontra pelo caminho. 
A peça dialoga com o momento histórico brasileiro, que vivia a transmissão de poder das mãos da burguesia rural para as da financeira. O fato de os dois grupos sociais se unirem pelo casamento sugere uma identidade profunda entre eles. Além disso, a onipresença de Mr. Jones pode ser associada ao imenso poder do capital estrangeiro, determinante na condução da vida econômica brasileira, daquela e de todas as épocas.
Do ponto de vista formal, a peça de Oswald também radicalizava com sua linguagem forte e mordaz e com a colagem realizada a partir da articulação de uma multiplicidade de referências culturais. A quebra da ilusão teatral na cena em que o Ponto dialoga com as personagens produz um efeito metalinguístico de grande ousadia.
Destaca-se a exploração da dimensão simbólica de personagens e objetos de cena. No que diz respeito aos segundos, temos, por exemplo, a jaula como prisão dos devedores,  associados, portanto, a animais servindo ao entretenimento público (tanto o burguês quando o próprio espectador da peça). Ou ainda a faca nas mãos do intelectual Pinote, que pretendia dar uma “facada” (gíria usada para referir um empréstimo) em Abelardo I. Quanto aos nomes, basta que lembremos a protagonista Heloísa de Lesbos, denominação sugestiva da pansexualidade familiar que se pode aplicar à sua família. Mas há também Mr. Jones, representação óbvia do capital estrangeiro, cujo interesse financeiro é explicitado na peça. É dele a última fala, ao celebrar o casamento de Heloísa com Abelardo II: “Oh! Good business!”

Fonte:(Fernando Marcílio/Mestre em Teoria Literária pela Unicamp/http://educacao.globo.com)