sábado, 10 de agosto de 2013

Lorca exasperado

Lorca exasperado
por maneco nascimento

Na última tarde às apresentações de espetáculos concorrentes ao 20º. FestMonólogos  “Ana Maria Rêgo” – Ano Lorena Campelo, a montagem vista às 16 horas, no palco do Teatro João Paulo II, veio de Fortaleza, no Ceará. Um drama plinsado de obra de Federico Garcia Lorca, com direção de Francinice Campos e a interpretação de Bruno Pessoa.

“Diwan de Lorca”, um exercício para ator que apreenda os cinco sentidos investidos e a sexta intuição para ciência e sensibilidade orientadas. Texto denso e densidade + derramada no cerco da bolha dramática. 

O intérprete Bruno Pessoa arrasta, na escolha de compor a personagem, um poeta aplicado nas inflexões e articulações, às vozes do Lorca experimentado, numa quase monocordia ampliada em sentimentos, ora vociferados, ora mal articulados em metralhar algumas palavras e intenções frasais. 

Um empastelar do texto e alguma poesia licenciada sem economia, nem os silêncios conspirados em dilatada angústia do poeta granadino.

Sem nuances, nem ouvidos experts de ouvir-se a si mesmos, a personagem apresentada por Bruno Pessoa oververbaliza todo um discurso político, mas de implosão de sentimentos, que banalizam um melhor entendimento da mensagem que se espera + próxima de comunicação sem ruídos. Uma ruidosa carga dramática se estabelece numa linearidade exasperada que fere os ouvintes e queda toda recepção concentrada em assimilar enredo do drama comovente que se perde no exagero.

Da direção e dramaturgia de cena, com assinatura de Francinice Campos, tem-se um desenho que se apresenta a partir de vozes sussurradas, ecoadas dos submundos e obscuridades do espírito conflituoso, até se estabelecer na confusa personagem que andeja a meia luz, (re)fazendo percursos da própria memória revelada entre claros e escuros. A cenografia se concentra no ator e elementos da contrarregra que desconstroem, ou ilustram as lembranças ruminadas.

O figurino, para característico da dramaturgia de sombras e luzes tênues, se emblematiza para incorporar o peso da alma, feito capas que convertem na cor o desconforto íntimo, como exemplificação do excedente no vestuário da personagem. 

O mapa de luz, sensível e direcional, está na medida certa do dramático orientado e apresenta pragmático feito de aproveitamento da ação da personagem para mostrá-la, ou semiescondê-la e manter a estética do mundo paralelo em que parece conflituar-se do fundo à margem da obscuridade sentenciada. Os recortes fotogramam imagens singelas do drama.

Do desenho cenográfico para delinear cartografia do drama, um círculo de luzes de vela ao esquerdo do palco e breu no direito da cena que esconde as vozes de sussurro e definem a personagem em um espaço de resistência de luz, ou black-out sensibilizado por fios de luminosidade. Da contrarregra, algum tecido vermelho e um baú de memórias que, ao definir a coda dramática, sugere o campo licenciado ao poético como o fuzilamento do artista/em personagem reanimada.

“Diwan de Lorca” perde pelo exagero interpretativo do ator, com deslizes do texto e deslumbre de atuação em vociferados sentimentos. Um círculo de desespero, na etapa final do enredo, parece uma virtuose em nova dança com suas livres partituras do intérprete criador que não precisam ser explicadas. Estão na cena para ilustrar alguma intenção, mas não conseguem convencer pois a personagem forjada é fugaz de convencimento, enquanto circula o que será transformado, ao final, em cemitério do poeta.


Francinice Campos, diretora do drama, em seus arroubos de sinceridade de coração quente, investiu calor dramático e reverberou pulsos sanguíneos, sem relaxamento para renovação do oxigênio e quase gera uma embolia à dramaturgia conquistada. Mas revela, no excesso, linguagem de paixão desmedida na experimentação da cena. Seu Lorca está presente, mesmo que em incontidas ações e expressionismo derramado pelas beiradas em já abundante dramático.

Nenhum comentário:

Postar um comentário