Um outro Brasil
por maneco nascimento
Diz a lenda urbana que certa feita Os Beatles foram tocar em grande evento na Inglaterra, com a presença da rainha Elizabeth e, em determinado momento, um dos componentes da banda teria dito “os pobres batem palmas, os ricos sacodem as jóias”.
Recentemente, na coluna de Mônica Bergamo, ilustrada/Folha de São Paulo, de 25 de setembro de 2011, com tema “Escondendo O Ouro”, a jornalista recolhe depoimentos de empresários, empresárias e seus cônjuges, médico, entre outro (a)s pessoas que, ou já teriam sofrido um assalto a jóias particulares, ou tiveram patrimônio levado no assalto aos cofres do Itaú.
Entre depoimentos, há o de pessoas com estratégias de esconder jóias na boca até chegar ao local do evento para evitar assalto, ou manter jóias verdadeiras em algum banco e outras de menor valor em cofre doméstico para o ladrão. O uso de jóias(bijouterias), mesmo as mais elegantes e trazidas do exterior, parece ser a solução para se livrarem dos assaltos, haja vista os assaltantes não se interessarem pelas imitações.
(fotos e imagens de jóias: Gil Sousa/moments particulares)
Depois do assalto aos cofres recheados do Itaú, parece pairar um sentimento de que não há mais opção segura. Não seria mais possível ostentar riqueza no Brasil. As jóias deixaram de ser um investimento.
“As técnicas variam. Algumas guardam na boca. Outras aconchegam nos seios. Há quem até camufle no pote de açúcar. São anéis, gargantilhas, braceletes e brincos que elas não se arriscam mais a exibir. Entre sair de casa e chegar a um evento, inventam todo tipo de malabarismos para evitar assaltos”. (Bergamo, Mônica. Escondendo O Ouro. Folha de São Paulo/ilustrada. E2, 25 de setembro de 2011/bergamo@folhadsp.com.br)
(foto: 4freephotos)
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Dos depoimentos recolhidos, o mais comovente foi o de que “(...) outro cliente, um homem mais velho, está inconsolável porque perdeu cartas de amor da vida inteira (...)” (Idem). Outra informação preciosa é a de que as jóias arrastadas dos caixas-fortes do banco, havia peças, entre outras, avaliadas em R$ 70 mil reais. Ou que alguns clientes de joalheria famosa já haviam ido repor as perdas.
(foto: 4freephotos)
Sapatos caros, jóias milionárias ou cartas de amor, cada um dos objetos adquiridos e guardados tem seu valor e seu contexto de apego particularizado. Prefiro as cartas de amor, mesmo que ridículas, mas ai há um julgamento muito privado. De sorte é que aos “podres de ricos” com poder e ostentação ameaçados e também aos miseráveis brasileiros com sua jóia da esperança à força de fênix, não tem sido muito fácil resistir a dias melhores.
(foto: 4freephotos)
Sapatos caros, jóias milionárias ou cartas de amor, cada um dos objetos adquiridos e guardados tem seu valor e seu contexto de apego particularizado. Prefiro as cartas de amor, mesmo que ridículas, mas ai há um julgamento muito privado. De sorte é que aos “podres de ricos” com poder e ostentação ameaçados e também aos miseráveis brasileiros com sua jóia da esperança à força de fênix, não tem sido muito fácil resistir a dias melhores.
Desaparelhamento do serviço público de segurança, fortalecimento da ousadia e da técnica de sobrevivência da criminalidade, índices de corrupção e impunidade incorrigíveis dentro e fora dos aparelhos reprodutores da violência. Para outros contextos os compositores criaram “(...) O Brasil não merece o Brasil (...) Do Brasil SOS ao Brasil (...)” (Querelas do Brasil/João Boco e Maurício Tapajós). Há um outro Brasil que parece nos surpreender, ou talvez não. Só esteja mais revelado, mais sem qualquer escrúpulo.
Ficha suja, ficha limpa. Quem se importa? Creio que os que batem palmas quando não estão ralando a sobrevivência. Não que os ricos não tenham juntado seu dinheiro com trabalho, claro que sim. Também promovem seus resultados.
Para berços de ouro ou de palha, vive-se um cotidiano enquadrado na lei dos sem lei. As cercas, as câmeras, as casas fortes e as muralhas instransponíveis são superáveis. Na periferia e subúrbios das gentes simples as portas e janelas também estão protegidas por grades, mas ameaçadas.
Há um Brasil que precisa ser resgatado. Esse outro que se vislumbra parece insustentável aos de bem. Deve surgir uma nova geração de brasileiros que precisará ser a salvação da lavoura e o milagre deverá estar no homem (genérico) e na nova atitude.
A jóia a ser lapidada não precisa de caixa forte, mas precisa ser a fortaleza da sobrevivência do Brasil.
A jóia a ser lapidada não precisa de caixa forte, mas precisa ser a fortaleza da sobrevivência do Brasil.