quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Amanhã...

Será + um dia da completa alegria que se possa aproveitar do Seis & Meia

Recordar da força pra cima e que nunca cessa e há de vingar em Guilherme Arantes e sua música que encantou gerações.
 (o Guilherme de "Amanhã"/divulgação)

Nesse 28 de agosto, quinta feira, será + um dia de se curtir a canção brasileira em + uma edição do Projeto Seis & Meia, no palco do Theatro 4 de Setembro. 

A partir das 18h30 a cidade de Teresina reúne energia para ouvir um dos nomes que fizeram e fazem parte da melhor memória nacional. Cantor, compositor e pianista com suas belas melodias dedilhadas no piano luxuoso que a MPB gerou.

Guilherme Arantes volta à cidade para cumprir agenda nesse projeto que recupera a memória do cancioneiro nacional e traz de volta "velhos" hits, temas e intérpretes da música popular brasileira.

Na abertura local, o cantor Max Veiga também diz com que roupa vai ao sombossa nossa que a Geleia gerada motivou.

(Max Veiga abre o show de Guilherme Arantes/divulgação

Não perca sua cadeira. Corra ao Theatro 4 de Setembro e não fique fora do limite de ingressos.

Serviço:
Guilherme Arantes 
- Projeto Seis & Meia -
Abertura local - Max Veiga
às 18h30
Theatro 4 de Setembro
Ingressos limitados 
Informações - 3222 7100

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Hoje tem espetáculo...

Entre pra ver

Dias 25 e 26 de agosto
Casa da Cultura de Teresina
Às 19 horas
Entrada Franca
Vagas Limitadas

Essas, as informações de ordem para quem ainda não viu e detém a curiosidade no convite que estimula que "Entre" e envolva-se no emaranhado de sugestões e imagens entre fios e teias, macramês de nova dança e expressionismos de corpos falantes.

Criação de Datan Izaká, com a participação de Glenda Fontineli, Hellen Mesquita e Janaína Lobo, Música de Jacob Alves e César Costa e Luz ambiente de Datan Izaká, "Entre" não deixa que você saia sem que tenha interagido, direta ou indiretamente no labirinto de estética e plástica da cena exposta.

O Coletivo, que dança "Entre", assim define o espetáculo.

[... EnTrE... É estar no meio. No limiar. Estar dentro. Nos entrecruzamentos. Entrelaçamentos. São Corpos minados. Transversalizados. Rizomático. Num estado de mitose e meiose. Estar ENTRE é estar em constante estado de mutação, em metamorfose.


Daí surge a questão: Como é fazer algo ou alguma coisa pra dança? E como é fazer algo ou alguma coisa pra se dançar?


... O EnTrE... se dá como um processo de simbiose, por uma relação mútua, na qual, corpos diferentes são beneficiados por esta associação. Para estar dentro é preciso uma interrelação íntima obrigatória entre os envolvidos. 

Entre e deixe os seus sentidos se despertarem, se manifestarem, se moverem, se expressarem como um corpo que dança o movimento que já é por si só a própria tradução de si mesmo, que expeli significados variáveis e sentidos transversais. 

E nesse processo uma das primeiras coisa que surgiu foi o objeto/conceito (as linhas) que por si só já nos davam um significado real, o de viver emaranhado, uma vida cheia de nós e nós e em seguida criou duas condições, uma para o corpo e a outra para o espaço/lugar, gerando assim um novo contexto para ambos. 

No "ESPAÇO" ele gerou um contexto/condição e no "CORPO" gerou “ANTICORPOS” e outro contexto/condição e tudo foi se dando como se dá em nosso corpo, com nossas células.

O ... EnTre... é um "Convite” a uma experiência de dança e esse trabalho requer um "Permanecer Dentro" sem oscilações.

... EnTre... Espaço/Lugar/Contexto que gera uma condição de "Campo Minado" onde tudo é "Campo" e tudo é "Mina" que explode e modifica e transforma espaço/lugar, contexto, corpos e linhas cheias de nós e nós, linhas tangíveis e invisíveis, porém transversais. 

Vejo os "Corpos Minados" não como dinamites que destroem, mas muito mais como algo que modifica, que tira do lugar, que borra, mancha e dá outro sentido, que re-significa inclusive o modo de pensar a dança e o lugar em que se dança.

Nesse ... EnTre... Estão pedaços de corpos que se multiplicam e se subdividem como num processo de mitose e meiose, tentando formar um outro corpo, um corpo disforme, as avessas, estropiado, um “Corpo Tripa”.  

Esse corpo é um tipo de mina que mais tem haver com lava de vulcão que entra em erupção e estoura, pipoca e chega por baixo devorando tudo, um corpo em erupção que derrete e depois se solidifica.


... Entre 1, 2, 3, 4... Entre quantos mesmo? e entre o quê? ou o que estar entre? Dias entres? Pessoas entre?

O ...EnTre... é uma Instalação Performativa de Dança, toda via não se resume a essa abstração de poucas palavras, busca discutir um emaranhado de questões que estão no corpo que dança e se move como ferramenta artística, que vai em busca do outro, da unidade de corpos em uma atmosfera e para isso usa a metáfora do “campo minado” pra afirmar que além de ser “Campo” somos “Minas” também.

O... EnTre... estar exatamente aí, na condição que é estabelecida por uma série de ocorrências que estão ao nosso derredor, seja em Teresina ou em Gaza, ou em qualquer outro lugar. Liga-se totalmente com a máxima dita por Espinosa de que somos seres afetáveis e se te afeta te modifica.]

Recomendável para todas as idades. Há sempre um novo destino tecido pela Mora. Vale a pena entrar e sentir como é estar do lado de dentro do labirinto de "Entre".

Do francês Entrez, convite de sedução anfitriã. Então, resta desejar à temporada de dois dias, em comemoração aos 20 anos da Casa da Cultura, e aos filhos da Mora, Merde!

Serviço:
Espetáculo "Entre"
dias 25 e 26 de agosto de 2014
às 19 horas
Casa da Cultura de Teresina
Entrada Franca[Vagas Limitadas]
Fotos by Robinson Levy e Datan Izaká.

"Vigiar e Punir"

Genet, Bahia, Foucault e de quebra Brecht
por maneco nascimento



Teresina recebeu um exercício de ator e método à ciência envolta na sensibilidade cênica e uma boa dose de ousadia e transgressão genetiana revisitada, com olhar à política e discurso de ver o outro que ninguém quer enxergar.

O Diário de Genet, montagem do ATeliê voadOR Companhia de Teatro, baiano, de Salvador, com texto e direção de Djalma Thürler e construção dramatúrgica laborada com toda presença de Duda Woyda e Rafael Medrado, se apresenta com acuidade de ver o que está dentro e fora das convenções das sociedades "perfeitas", assépticas e as sujeiras simultâneas e humanas, sejam as das memórias e dramaturgia real licenciada de Genet, sejam as de qualquer sociedade e os renovados modelos de vigiar e punir de que tratou Michel Foucault.

A peça foi vista por um sucesso de público e uma boa disputa pelas últimas entradas, na noite do dia 23 de agosto, a partir das 19 horas, na Galeria do Clube dos Diários. Espetáculo montado em espaço alternativo, uma Galeria de Artes, talvez não tenha possibilitado o melhor ponto de visão para quem acorreu curioso ao evento, por conta do espaço não ser apropriado para receber espetáculos na estrutura palco italiano, mas no que diz respeito ao tratado de arte e tratamento cênico, nada que desabone a performance da Cia. baiana.

Quando público adentrou a Sala já havia a cena montada. Em despretensão pretensiosa e  de caso pensado, os atores recebem a plateia enquanto "varrem o palco" e, entre intervenções indiretas ao público, diretas à produção e troca de diálogos entre eles, vão costurando uma dramaturgia distanciada, aparentemente de improviso, que funciona como prólogo no aguardo de acomodação do público.

Da cenografia, duas vassouras escovões, folhas de papéis ao fundo da cena que tomam função a partir de determinados narrativos, as garrafas térmicas, com água, personalizadas, cor preta, que os atores utilizam durante a empreitada para hidratarem-se e, bem ao fundo da cena, folhas de papel presas a cordões, por pregadores de roupa que, nalgum momento, são alçadas pelos atores e licenciam talvez literatura de cordel, o sorriso do gato de Alice, a meia lua de bandeirinhas ou trapos nos morros mal vestidos de que falam Orestes Barbosa e Silvio Caldas (Chão de Estrelas), ou ainda o sorriso de Genet espalhado no varal da licença dramática. Cada um com sua recepção.

(tensão, tesão, sexualidade e uso dos prazeres/fotos Maira Lins)

Ainda da marca cenográfica, luminárias suspensas que são (des)afinadas e definem-se na ação de Iluminação (Pedro Dutra Benevides) e outros pontos que são montados pelos atores na cena. Da cena livre, despojada, à densidade dramática para levezas, economias e sentimentos aflorados dentro e fora do universo de Genet, sempre com muita técnica de bem encenar e preparando a plateia, quando se incia o jogo da narrativa, às vezes do autor, e quando distanciam-se para aproximar o dramaturgo francês da realidade nossa de cada dia, nas exceções e nas regras sociais de paradigmas que definem o que se pode ser aqui ou alhures.

Apresentam a personagem Genet e brincam de fingir ser, ou não ser nas identidades de si em ser Genet e suas personagens do mundo, submundo, (in)delicados perfis das memórias revitalizadas, regurgitadas e frescas nas vozes sociais e anti heroicas que povoam a literatura dramática genetiana. 

(Rafael e Duda apresentam a representação de Genet/fotos Maira Lins)

As "fugas" das memórias retratadas do dramaturgo selecionado trazem comunicações com montagem brasileira de uma de suas obras encenadas no país, década de setenta, e a vinda deste ao Brasil; idiossincrasias reveladas e histórias de impedimentos sociais e explicações sobre o processo de montagem de O Diário de Genet e, de volta a Genet, Duda Woyda e Rafael Medrado representam a representação do autor em seus vieses de vê-lo, compreendê-lo e mantê-lo livre das amarras sociais que o artista sempre combateu para viver a liberdade que lhe sobrou no mundo que lhe negou amor e família. 

As citações de Balcão, Querrelle, As Criadas, entre outras criações, o jogo de representação das criadas bancando a patroa e os sempre comentários distanciados sobre obras e autor transformam a montagem em metalinguagem redimensionada e teatro vivo dentro da tradição e modernidade confrontadas. Estão lá com a agressiva e (in)sutil nudez manifestada do marginal, do poeta ladrão, do grande artista, do homem e sua hora em mundo que viveu  e negou-lhe outra escolha. 

A puta, o marinheiro, os homens desejáveis, o assassino, o amante, o passivo dominante, o ativo entregue, o violento, a polícia suja com seu sexo atraente, a negação e aceitação da condição (im)posta, domínio e dominadores, sexo, prazer, segurança de sentir prazer e defender a vida e obra confundidas e expiadas na subalternidades dos mundos dentro do mundo nosso de cada dano. Todo Genet experimentado e feito obra de revivificação realizada pelo ATeliê voadOR Companhia de Teatro, com segurança e domínio do teatro e processos propostos.

(confronto de forças/fotos Maira Lins)

A Direção Musical e Trilha Sonora (Roberta Dantas) também abre + "solidões povoadas de presenças" e emblematiza o universo conspirado à cena de estético efeito e reforço das memórias visitadas. Os áudios reproduzidos com a voz de Genet traduzem não só a presença viva do artista em seu discurso transgressor e humano, sem  nunca negar a si mesmo, nem as suas escolhas, mas um mergulho na alma inquieta e sincera revelada.

A Direção de Arte (José Dias) repercute o simples, sígnico e presente dialética de transversalização de linguagens que refletem o eixo do furacão em (des)ordem da humanidade refletida na estética concentrada e sem gorduras. 

O Design Visual (Clarissa Ribeiro, Talis Castro) também afeta no simples, com recursos de cores em preto e branco  que sensualizam e gestam curiosidade da recepção, seguidora da sugestão de envolvimento na narrativa também a desenhos que desnudam e guardam segredos soçobrados e sinalizados em corpos que falam por si mesmos e por estratégias da linguística da imagem exposta.

A Direção do espetáculo (Djalma Thürler), que assina a dramaturgia textual de dois mundos aproximados, se em mundo de culpas e pecados, peca pelo zelo conseguido em prospecção no objeto de pesquisa e desdobramentos da razão e sensibilidade reunidas na liberdade e licença poética praticadas. Realiza novidade e teatro que se sustenta por reinventar o foco de atuação e parecer não fugir do lugar comum, mesmo quando, despretensiosamente, o faz com arte livre de velhos conceitos.

O Diário de Genet consegue uma cumplicidade muito eficaz dos atores Duda Woyda, ator 1, segurança e sofisticação em representar um narrador em personagens que, como propõe a dramaturgia, são apresentadas de fora vida adentro. Rafael Medrado, ator 2, não fica por menos e se propõe dramático e distanciado e numa verve quente de inflexionar falas e vozes sociais que orbitam em Genet e em tantas outras interfaces familiares da arte de construção da personagem que vigiam do autor ao intérprete e do intérprete à arte do fingimento.

Espetáculo que varia entre o perturbador reflexional,  encantador por natureza reveladora das mortes sociais de fala Genet e provocativo de impor que enxerguemos mundos que negamos por estarem fora de paradigmas da convenção socialmente conveniada e à luz do vigiar e punir.

O Diário de Genet, espetáculo da ATeliê VoadOR Companhia de Teatro, é 10+.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sábado com Genet

"O Diário de Genet", da Bahia, para gregos e outros mediterrâneos

"O Diário de Genet", espetáculo da ATeliê VoadOR Companhia de Teatro, de Salvador (Ba) acontece nesse sábado, 23 de agosto, às 20 horas, na Galeria do Clube dos Diários, com Entrada Franca. Os ingressos limitados devem ser retirados uma hora antes. 
(Um Genet baiano/fotos Maira Lins)

Espetáculo, com classificação para 16 anos, realiza Circulação Nordeste 2014 para o FUNARTE Prêmio Myriam Muniz de Teatro, conquistado pelo ATeliê voadOR, e repercute uma imersão no universo do poeta ladrão e reverbera dramaturgia de identidade do pensamento político do autor francês Jean Genet.
(estética e dialéticas baianas imergidas em Genet/fotos Maira Lins)

A encenação performativa, nesse diário, escrito a partir de um texto não linear, construído por Djalma Thürler, apresenta o mundo marginal, inconstante, perigoso, vagabundo e sedutor do filho de uma prostituta, que viveu a juventude em reformatórios e prisões. 
Para o dramaturgo e diretor do espetáculo, Thürler, a montagem realiza um mergulho na obra de Genet em avanço da compreensão da ideia do cárcere “nessa peça abandonamos as grades e focamos nos aprisionamentos culturais, demos as mãos às teorias de Foucault e fizemos a mais política das três peças”diz o diretor, que tem mantido uma dedicação em discutir temas ligados a subalternidade. 
(fotos Maira Lins)

O elenco de "O Diário de Genet" é composto por Duda Woyda (Ator 1) e Rafael Medrado (Ator 2). Texto e Direção, Djalma Thürler; Direção de Arte, José Dias; Iluminação, Pedro Dutra Benevides; Direção Musical e Trilha Sonora, Roberta Dantas; Operação de Som/Luz, Marcus Lobo; Contrarregra/Sonoplasta, Talis Castro e Design Visual,Clarissa Ribeiro.
Sobre o autor objeto da dramaturgia baiana apresentada, Jean Genet nasceu em paris, a 19 de dezembro de 1910 e morreu em 15 de abril de 1986. Genet caracterizou-se como proeminente e controverso escritor, poeta e dramaturgo. 

Filho de uma prostituta, de pai desconhecido, foi adotado por um casal de Morvan, na Borgonha. Naquele tempo era comum enviar, às regiões rurais, as crianças abandonadas da capital. Abandonou a família adotiva, quando julgou-se dono do próprio nariz e passou a juventude em reformatórios e prisões onde afirmou sua homossexualidade. Aos dezoito anos ingressou na Legião Estrangeira Francesa e foi oficialmente afastado, com desonra, por ter sido flagrado praticando sexo com outro homem. Criou uma mitologia marcada por escândalos, roubos e rixas, enquanto construía romances e peças consagradas com O Balcão, Os Negros e Os Biombos. Conquistou a nata da intelectualidade europeia e colecionou uma sucessão de amantes que lhe fizeram companhia pelo baixo mundo da Paris. Tentou se matar, depois do suicídio de um de seus amantes e do amigo e tradutor Bernard Frechtman. Os anos de 1960 foram de colher os louros do sucessos de romances, peças e roteiros de cinema. Quando chegaram os anos de 1970, dedicou-se à causa dos palestinos e envolveu-se com líderes de movimentos culturais norte americanos, Panteras Negras e Beatniks. As suas memórias publicou no ótimo livro "Diário de um Ladrão". Nessa obra, narra as aventuras e andanças pela Europa em que suas paixões e sentimentos vividos de forma muito intensa definem uma radiografia do homem Genet, seu mundo, submundo e uma riqueza de realidade de chocar a puristas e encantar a todo o resto do mundo que reconhece o gênio que sempre foi Jean Genet. Entre seus amigos estão os filósofos Jacques Derrida e Michel Foucault, os escritores Juan Goytisolo e Alberto Moravia, os compositores Igor Stravinski e Pierre Boulez, o diretor de teatro Roger Blin, os pintores Leonor Fini e Christian Bérad e também os líderes políticos Georges Pompidou e Francois Miterrand. 

["Quanto à pederastia, não sei coisa alguma a respeito dela. O que as pessoas sabem? As pessoas sabem por que um homem escolhe tal e tal posição para fazer amor? A pederastia foi imposta a mim como a cor de meus olhos, o número de meus pés. Mesmo quando ainda era um garoto eu tinha a consciência de sentir atração por outros garotos, famais conheci uma atração por mulheres. Somente depois de me tornar consciente dessa atração eu 'decidi', 'escolhi' livremente minha pederastia, no sentido sartriano da palavra. Em outras palavras, e mais simplesmente, eu tinha de me acomodar a ela, mesmo sabendo que era condenada pela sociedade."] (Página 441 a 444. Nota: entrevista com Madeleine Gobeil em 1964, publicada em O inimigo declarado: textos e entrevistas.)


[Meu caro Sartre,
Nós não tivemos tempo de falar. Quanto à pederastia, eis uma teoria que lhe proponho. Ainda é precária. Diga o que acha.
Devemos falar a princípio não sobre o instinto sexual, e sim sobre uma lei que está ligada à continuação da vida.
Começando com esta lei, um instinto nos dirige obscuramente, a partir da infância, em direção à mulher. O erotismo é difuso, dirigido para nós mesmos, depois para qualquer criatura viva (ou quase) e depois, lentamente, torna-se diferenciado e nos dirige para as mulheres.
Perto da puberdade, o desejo sexual, contido pelo instinto, fixa-se difinitivamente na mulher. Liga-se a características femininas. Abandona, rejeita características masculinas. Percebe-as como sinais de esterilidade. Assim que esse momento chega ou está para chegar, a psique propõe uma série de temas simbólicos. Essas teorias serão temas de vida, isto é, de ações .E apenas ações sociais. A escolha definitiva da mulher implica não apenas uma concordância social, mas também é a partir desta lei que se estabelece uma ordem social. A psique propõe ao homem os atos que ele deve desempenhar e... o homem é ativo.

Mas a partir da infância um trauma lança a alma em confusão. Acho que isso acontece assim: depois de um determinado choque, eu me recuso a viver. Mas, incapaz de pensar sobre minha morte em termos claros, racionais, olho para ela simbolicamente, recusando-me a dar continuidade ao mundo. Então o instinto me leva em direção ao meu próprio sexo. Meu prazer será interminável. Eu não incorporarei o princípio de continuidade (...) Esses temas funerais também precisam ser ativos, realizados, caso contrário haverá uma explosão de loucura! Assim os temas simbólicos da morte propostos serão muito estreitos (a limitação extraordinária do universo da pederastia) (suicídio, assassinato, roubo, todos atos anti-sociais, capazes de me dar uma morte que, se não é real, é ao menos simbólica ou social - a prisão) {...}] (Nota: Carta não datada de Jean Genet a Jean-Paul Sartre, provavelmente escrita por volta de 1952, arquivos do IMEC)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Molière acreano

Visse e Versa teatro popular
por maneco nascimento

A Cia. Visse Versa de Ação Cênica, de Rio Branco (AC), deu seu ar da graça, na tarde do dia 19 de agosto,  a partir das 16 horas, no Largo da Praça do Liceu Piauiense, a Landri Sales, centro da cidade de Teresina, advinda do circulação AmazôniadasArtes.

(comédia satírica acreana, na Pça do Liceu/fotos m. nascimento)

Cumpriu rito de passagem pela cidade verde, em exercício do exercício do fingimento e práxis de convencer pela arte da construção da personagem. Seu teatro popular revisitando velhas marcas e signos de tradição reinventada tomou, de assalto, corpo e atenção de estudantes, transeuntes, artistas e toda sorte de quem manteve curiosidade concentrada no gracejo molieriano, sob viés de artistas da cena do Acre.
 
A peça se impõe a partir da "ruidosa" atração de sons vocais, pregoeiros, e instrumentos extensores à busca da atenção dos audientes (megafone, tarol, bumbo, pandeiro, escaleta, matracas, entre outros facilitadores de sons e impactos de atração cênico-sonoros). Toda composição musicalizada se instaura para que a peça peça passagem com alegria, riso e diversão garantidas.

"As Mulheres de Molière", a pecha do riso e entretenimento, em palco a céu aberto e, às vezes do teatro de rua e na praça, ganhou toda a assistência. Teatro de classificação livre, com 50 minutos de ação caliente e revelada para aproximar dramaturgia de avançados medievos ao estilo comédia satírica do século 17 francês, mergulhada em dias de contemporaneidade convulsiva dos novos tempos, de fluxos e refluxos de informações substituídas na efeméride das novas tecnologias. Tradição de cultura universal apropriada ao eixo local de arte regurgitada à manutenção de memórias consignadas.

A cenografia, um baú de figurinos e novidades ( contrarregra) que vão compondo atos e tratos e desatos da narrativa. O baú também faz as vezes de andor à aristocracia forjada, ou à mocinha empertigada. 

Os figurinos repaginam design de agora em mergulho a estilo e risco de contexto da "época" original, de vestimentas das personagens em franca atualização. Estão lá, representados na Corte da farsa em comèdie satirique e no corte das roupas simplificadas e identitárias, os nobres e os pobres, empregados e patrões, mocinhos e mocinhas, a bela e a feia e a dramaturgia histriônica dos erros e brinquedos do destino na comédia e crítica dos costumes.

A música, recolhe pérolas populares de dúbio sentido e aplicação de apelo risível, no uso de sucessos brasis, não ofensivo. Intertextualiza o discurso musical ao contexto da narrativa.

Também costura determinados momentos com afrancesamentos dos cancioneiros e links com a linguística ibérica à origem do autor, que se posterizou como o melhor representante da dramaturgia farsesca do mundo da França, em seu tempo de atrair a atenção à corte e à recepção popular como mote de crítica social sob a boa égide da comédia da arte dramática. Sambinhas nacionais também reúnem pontos e alinhavos gracejados das vidas das personagens narradoras da própria sorte contada.

O elenco de "As Mulheres de Molière" super entrosado, inflexiona vozes e falas sociais com a a garantia de manter a atenção do público, comunicar ação cênica e rigor flexionados pelo riso, em vezes da prática teatral, e um natural dialogismo com a plateia que atesta a prova dos nove, na interação direta entre artistas e a recepção voltada ao ato de relação técnica, estética, plástica e dona da própria cena proposta. 

Cada artista, a seu tempo e solo da personagem apresentada na partitura do roteiro da comédia de tradição, esteve muito bem e afinou interesse de quem parou para ver o Molière, da Cia. Visse Versa de Ação Cênica, em confirmação do seu bom teatro em expansão do norte a outros territórios curiosos.

A peça dá ao público incidental uma ótima oportunidade de rir a riso largo e fazer bem à pele de quem se torna cúmplice da dramaticidade e se integra ao mundo molieriano, revisitado pelo circo popular enfronhado nas memórias do carroções itinerantes do teatro de amealho de fronteiras (des)conhecidas e incorporadas ao histórico do cerco dramático e casa de criação apaixonada da Visse Versa de Ação Cênica. 

Sobre a Cia. acreana, foi fundada em 2008. A Cia. Visse Versa de Ação Cênica vem ganhando destaque no cenário cultural acreano, através da montagem de diversos espetáculos como Comédia Del'Acre, As Mulheres de Molière, Piquenique no Front e Desencaixotando Nós.

A Cia. agrega atores interessados no trabalho de pesquisa e preparação corporal para exercer sua prática teatral. Com a colaboração de fazedores de teatro local e de outros estados, a Cia. se prepara contínua e intensivamente para este desafio, pois acredita que a arte, em especial o teatro, é bem mais precioso, capaz de conscientizar, transformar, encantar e traduzir o imaginário através de sensações e emoções." (fonte: cia.visseeversa@gmail.com/facebook) 


Serviço:
Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (Paris15 de janeiro de 1622 — Paris17 de Fevereiro de 1673), foi um dramaturgo francês, além de actor e encenador, considerado um dos mestres da comédia satírica. Teve um papel de destaque na dramaturgia francesa, até então muito dependente da temática da mitologia grega. Molière usou as suas obras para criticar os costumes da época. É considerado o fundador indirecto da Comédie-Française. Como encenador, ficou também conhecido pelo seu rigor e meticulosidade.
Moliére 1.jpg
Filho de um artesão parisiense (Jean-Baptiste Poquelin), Poquelin ficou órfão da mãe (Marie Cressé) quando ainda era criança.Em 1633 entrou na prestigiada escola de Jesuítas do Collège de Clermont, onde completou a sua formação acadêmica em 1639. 
É certo, contudo, que foi amigo íntimo do abade La Mothe Le Vayer, filho de François de La Mothe-Le-Vayer, na altura em que este publicava as obras de seu pai. Poquelin poderá ter sido influenciado pelos dois. Entre as suas primeiras obras encontrava-se uma tradução, hoje perdida, do De Rerum Natura do filósofo romano Lucrécio.
Quando chegou aos 18 anos, o seu pai passou-lhe o título de Tapissier du Roi (Tapeceiro ordinário do rei), e o cargo associado devalet de chambre (criado de quarto), pelo que teve desde cedo contacto com o rei. Há quem afirme que terá tido formação em direito em Orleães em 1642, mas subsistem algumas dúvidas quanto a isso.

Molière numa gravura do frontispício das suas "Obras"
Desde cedo se interessou pelo teatro que estava muito na moda na altura, principalmente depois de Luís XIII, a pedido de Richelieu (que também era apreciador desta arte), ter honrado a profissão de comediante com um código de moralidade.
Em Junho de 1643, juntamente com a sua amante Madeleine Béjart e um irmão e uma irmã dela, fundou a companhia (troupe) de teatro L'Illustre Théâtre. Fazem algumas actuações na província e, em 1644, apresentam-se em Paris, no Jogo da Péla dos Métayers. Nesta altura passa a dirigir a companhia, que, entretanto, entra na bancarrota em 1645
A partir dessa altura assumiu o pseudónimo de Molière, inspirado no nome de uma pequena aldeia do sul de França. A falência da companhia valeu-lhe algumas semanas de prisão por causa das dívidas. Foi libertado graças à ajuda do pai. 
Partiu, então, numa turné pelas aldeias como comediante itinerante. Esta vida errante durou cerca de 14 anos, durante os quais actuou com a companhia de Charles Dufresne. Mais tarde, voltaria a criar uma companhia própria. Durante estas viagens conheceu o Príncipe de Conti, governador do Languedoc, que se tornou seu mecenas de 1653 a 1657, pelo que deu o seu nome à companhia. Esta amizade terminaria mais tarde, quando Conti se uniu aos inimigos de Molière no Parti des Dévots (a "Cabala dos Devotos"). 
Em Lyon, Mme Duparc, conhecida como la Marquise, juntou-se à companhia. A marquesa tinha sido cortejada, em vão, por Pierre Corneille, tendo-se tornado, mais tarde, amante de Jean Racine, que ofereceu a Molière a sua tragédia Théagène et Chariclée (uma das suas primeiras obras depois de ter terminado os seus estudos de teologia), mas Molière não a encenou, ainda que tivesse encorajado Racine a seguir a carreira de escritor. Diz-se que pouco depois Molière teve uma zanga com Racine que terá também apresentado, secretamente, a sua obra à companhia do Hôtel de Bourgogne.

Frontispício de uma edição das obras de Molière, de 1734
Molière chegou a Paris em 1658 onde apresenta no Louvre a tragédia Nicomède de Corneille e a sua pequena farsa Le docteur amoureux (O Médico Apaixonado), com algum sucesso. Data desta altura o témino da relação de mecenato que mantinha com o príncipe de Conti, já que a companhia passa a ser a Troupe de Monsieur (o Monsieur era o irmão do rei) e com a ajuda do novo mecenas, junta-se a uma famosa companhia local italiana dedicada à commedia dell'arte.
Estabelece-se definitivamente no teatro do Petit-Bourbon, onde, a 18 de Novembro de 1659, faz a estreia da sua peça Les Précieuses ridicules ("As Preciosas Ridículas") - uma das suas obras primas que não era mais que a primeira incursão do autor na crítica dos maneirismos e modos afectados que então eram comuns em França e considerados "distintos".
Apesar da sua preferência pelo género trágico, Molière tornou-se famoso pelas suas farsas, geralmente de um só acto e apresentadas depois de uma tragédia. Algumas destas farsas eram apenas parcialmente escritas, sendo encenadas ao estilo da commedia dell'arte' com improvisação a partir de um canovaccio (esboço muito geral da peça). 
"Les Précieuses" suscitou interesse e críticas em relação a Molière, mas não foi, contudo, um sucesso popular. Pediu, então, a ajuda do seu sócio italiano, Tiberio Fiorelli, famoso pela sua peça Scaramouche, para se inteirar da técnica própria da Commedia dell'arte.

A sua peça de 1660Sganarelle, ou le Cocu imaginaire ("O cornudo imaginário") parece um tributo à Commedia dell'arte e ao seu mestre. O tema das relações matrimoniais era aqui enriquecido pela perspectiva de Molière em relação à falsidade das relações humanas, descrita com um certo grau de pessimismo. Isso tornar-se-ia evidente nas suas obras seguintes e tornar-se-ia a fonte de inspiração de futuros dramaturgos como, por exemplo (e ainda que noutro campo e a outro nível), Luigi Pirandello.
Em 1661, com a intenção de agradar ao seu mecenas (Monsieur), escreveu e encenou Dom García de Navarre, ou le Prince jaloux ("O Príncipe ciumento"), uma comédia heróica derivada de uma obra de Cicognini. Monsieur, que era Philippe, Duque de Orleães, estava de tal forma seduzido pela arte e pelo entretenimento que rapidamente foi excluído das suas responsabilidades de estado.
1661 foi ainda o ano da bem sucedida L'École des maris ("Escola de Maridos") e de Les Fâcheux ("Os Importunos"), com o subtítulo Comédie faite pour les divertissements du Roi (Comédia para divertimento do Rei), já que foi encenada por ocasião de uma série de festas dadas por Nicolas Fouquet em honra do soberano. Estes divertimentos deram azo a que Jean-Baptiste Colbert ordenasse a prisão de Fouquet por gasto desnecessário do erário, e que terminaria com uma sentença de prisão perpétua.

A guerra cómica

Em 1662, Molière mudou-se para o Théâtre du Palais-Royal, ainda com os seus colegas italianos, e casou-se com Armande, acreditando ser irmã de Madeleine Béjart - na verdade, seria sua filha ilegítima, nascida de um caso passageiro com o Duque de Modena, em 1643, quando Molière e Madeleine iniciaram a sua relação amorosa. No mesmo ano, encenou L'École des femmes ("Escola de Mulheres"), que é, sem dúvida, uma das suas obras-primas.

Tanto a peça quanto o casamento foram razão para críticas. Molière respondeu às críticas que se relacionavam com a peça, escrevendo duas obras menores mas, ainda assim, de interesse reconhecido: La Critique de "l'École des femmes" (na qual imaginava a reacção dos espectadores vendo a peça referida) e L'Impromptu de Versailles ("O Improviso de Versalhes") (sobre um improviso feito pela sua companhia teatral). Estava aberta a la guerre comique (Guerra cómica), onde Molière tinha como rivais Donneau de ViséBoursault e Montfleury.
Um chamado parti des Dévots começou a emergir de entre a alta sociedade francesa, protestando contra o excessivo realismo e irreverência de Molière, "defeitos" que já estariam a causar embaraços. Outros acusavam-no de se ter casado com a própria filha.

O Príncipe de Conti, que o apoiara no seu início de carreira teatral, voltou-se também contra ele. Entre outros inimigos, podiam-se ainda contar os jansenistas e alguns dramaturgos da escola tradicional. Os "devotos" insurgiam-se contra a "impiedade" do autor que, aliás, pertencia a um círculo de amigos que defendia ideias epicuristas, de acordo com as teorias de Gassendi.

O rei, Luís XIV que lhe tinha ainda há pouco concedido uma pensão (privilégio pela primeira vez efectuado por um rei a um comediante), não deixou, contudo, de tomar o partido de Molière. Mesmo com a inclusão de Molière no Índex da Universidade de Paris, Luís XIV decide mostrar o seu apoio ao tornar-se padrinho do primogénito do dramaturgo. Boileau também o apoiou, como se pode verificar em várias passagens da sua Art poétique.
Le Tartuffe ("Tartufo"), foi também encenado em Versalhes, em 1664, tornando-se no maior escândalo da carreira artística de Molière. A descrição da hipocrisia geral das classes dominantes e, principalmente, do clero, foi considerada ofensiva e imediatamente contestada. Por influência da rainha-mãe e do Partido dos Devotos, o rei vê-se obrigado a suspender as actuações desta peça.

Molière escreve, logo de seguida, em 1665Dom Juan (traduzido também por "Dom João"), ou Le Festin de Pierre ("O Festim de Pedro") para substituir "Tartufo". Esta obra, considerada uma das mais intemporais de Molière, baseava-se numa peça de Tirso de Molina, passada para prosa, inspirada na vida de Giovanni Tenorio. Descreve a história de um ateu que ao assumir hipocritamente o papel de religioso, é punido por Deus. A obra é interdita logo depois. O Rei, ainda assim, mantendo o seu apoio a Molière, torna-se o patrocinador oficial da companhia, concedendo-lhe £6000,00 de pensão.

Pintado por Pierre Mignard(1658)
A amizade que estabelecera com Jean Baptiste Lully levou-o a escrever Le Mariage forcé ("O Casamento Forçado", de 1664) e La Princesse d'Élide ("A Princesa Élida", com o subtítulo "Comédie galante mêlée de musique et d'entrées de ballet" - "Comédia galante com música e números de dança"), apresentadas nos "divertissements" de Versalhes.
Também com música de Lully, Molière apresenta, depois, L'Amour médecin ("O Amor Médico"). Cartazes da época indicam que a obra tinha sido pedida "par ordre du Roi", por ordem do Rei, o que poderá explicar, também, o acolhimento mais favorável do público.
Em 1666, apresenta Le Misanthrope ("O Misantropo"). Considerada, hoje em dia, uma das obras mais refinadas e com um conteúdo moral mais elevado das peças de Molière, foi, contudo, pouco apreciada no seu tempo, tendo sido um fracasso comercial.

Retrata uma personagem que se recusa a integrar-se no mundo devido à sua exigência de sinceridade e aversão à hipocrisia. Donneau de Vasé, que fazia parte dos seus opositores rende-se, devido a esta peça, ao génio de Molière e torna-se um dos espectadores mais assíduos do seu teatro.

Molière no mesmo ano escreve Le Médecin malgré lui ("Médico à Força") para fazer face ao insucesso da obra precedente. O Príncipe de Conti escreve nessa altura um tratado de moral onde critica o teatro em geral e Molière em particular. "Médico à força" é, no entanto, um sucesso.
Depois de Mélicerte e da Pastorale comique, tenta pôr em cena, mais uma vez o seu "Tartufo", agora designado de Panulpheou L'imposteur

Doença e morte


Tumba de Molière no Cemitério do Père-Lachaise
Tendo adoecido, a produção teatral de Molière teve uma quebra na quantidade. Le Sicilien ou L'Amour peintre ("O Siciliano" ou "O Amor Pintor") foi escrito para as festividades do castelo de Saint-Germain, tendo sido seguido, em 1668, por Amphitryon ("O Anfitrião"), peça inspirada na peça homónima de Plauto e com alusões mais ou menos óbvias aos casos amorosos do rei.

George Dandin ou Le Mari confondu ("O Marido Confundido") foi pouco apreciado na altura, mas voltou a ter sucesso com L'Avare ("O Avarento"), comédia (mais na forma que no conteúdo) ainda hoje muito representada, inspirada na peça Aulularia, de Plauto.
(fonte: wikipedia - a enciclopédia livre. acesso 20.08.2014, às 13h02)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Memórias de

um adolescente de 30 anos
por maneco nascimento

O ator, diretor de teatro e um dos fundadores do Grupo Humanitas  de Teatro (Timon - Ma) fez, recentemente, sua inscrição na galeria de aspirantes a escritores. 

No último dia 5 de agosto, também em noite de estreia de espetáculo de teatro, o artista lançou o livro "Quando o amor é assim e não assado". Obras homônimas tiveram sua hora de acontecer. Primeiro a cena de palco, depois a de lançamento e autógrafos.

"Quando o amor é assim e não assado", o livro, apresenta um Júnior Marks na experiência de reunir coesão e coerência no tratado literário e despender persuasão entre o criativo, o comum e o zelo em assertivar ação que atraia a atenção de leitores.

Uma peça para leitores curiosos e afins de reconhecer, ou até reconhecer-se, nas memórias afetivas e diário adolescente do + novo autor lançado à cova dos anciões das letras competitivas.

Algumas escolhas de arte visual e diagramação recolhem caráter de acuidade com o trabalho final do livro. Lançado pela Editora Lego, a Capa, criada por Luciana Dantas, traduz um muro em "preto" que reúne matizes de cinza, amarelos, azuis, verdes, vermelhos, róseos pinks, lilás et all. Um arco íris dialetiza um rosto que parece nadar do muro para a liberdade, emergindo de um lago de cores a quase expressionismos de pintura abstrata.

Ainda na composição da Capa, os baldes de tintas abertos e usados, um andaime de madeira, pincel e rolo pincel largados ao chão tablado. Uma analogia, possível, de um fundo para palco em estreia da cor que salta do muro da cena à vida. 

"Palco" e muro em tom cinza, parede de fundo às cores evidenciadas. No centro da Capa (muro) uma tarja em gradação do roxo ao rosa pink em que surge o título da obra, em letras no branco: Quando o amor é assim e não assado, na escritura de letra cursiva.

Na Contracapa, quatro variações de mesma foto do autor, em semi perfil, com gradações de cor do verde, amarelo, azul e lilás. De óculos rayban escuros, numa performance idealizada de galã para a tela de cinema, ou + atualizado, o "selfie" nosso de cada insigth.
(foto da capa/image face Junior Marks)

No miolo que sanduícha a arte visual de apresentação do livro, papel couchê, letras graúdas em vermelho ocre e ilustrações, capítulo a capítulo, que referenciem algum destaque do texto a cada conciso capítulo.

O formato do livro, a quase um paradidático de aproximação a universo infantil, autoriza uma ilustração simples, mas representativa, de Marcelly Oliveira. As personagens ilustradas, a partir da página 9, não têm rosto e vão ganhá-lo a partir da página 26, para perdê-lo novamente lá pela página 50, quando a personagem narradora vai afunilando a consumação da relação homoafetiva, com o melhor amigo, por quem sempre nutriu uma paixão.

Talvez, no inconsciente criativo da ilustradora, as personagens vão numa crescente de identidades em formação e, no ápice do assunto + alvejado pela personagem central da trama, o rosto volta a desparecer para "sublimar" a realidade distante do mundo real, das expectativas contextuais do tempo e hora de felicidade, da personagem narradora.

A personagem de 30 anos revira seu passado e abre seu diário de afeições e amizades escolares da infância/adolescência e o cunho de comportar a maturidade, experimentada pelo sexo e confirmação da paixão que deixa de ser platônica, para caracterizar-se correspondida pela confissão do amigo Hiago, que também sempre se sentiu atraído por Neto, que negava e denunciava a primeira paixão incondicional.

Marks tem um humor peculiar de suas próprias falas contumazes, do dia a dia e encontros com colegas de profissão, e apreende essa característica de oralidade à sua escritura literária. Os capítulos não têm ordem cronológico-temporal regular e se  estabelecem em idas e voltas, numa montagem do quebra cabeça e desvendar dos meandros e trilhas do território do minotauro.

Na busca da saída  a sua própria Ariadne, o labirinto se apresenta de forma inteligente, na conquista da liberdade do novo autor, em concatenação da vida da personagem construída para revelar sua própria saga de ver O Pássaro Azul.

Bom humor, sem apelo fácil. As "Onomatopeias sempre são providenciais..." que retornam em algumas situações, realizam boas rotas de fuga, da personagem, no adiamento de decisões e fechamento de entendimento de dramas transformados em tempo de riso.

As falas repetidas, ecos da informação redundada, também ganham sabor diferencial do estilo do autor. Sejam para designar o silêncio "dos grilos", exaspero da paixão ou as + diversas circunstâncias de reforço da história contada, as repetições gracejam a narrativa e definem marcação conversacional que elaboram humor e leveza ao narrado.

As descrições das personagens e pragmatismo do assunto também tornam a leitura fácil, de atraente interesse e, mesmo no misto de pequenas vaidades e ingenuidade (in)conscientes, sejam da personagem/autor ou do autor/personagem, o livro cumpre seu papel de aproximar identidade e identificação com o exposto e expia tema não + de tabu ofensivo, nem de qualquer estranhamento maior.

Para quem não absorva muito bem a adversidade e novos discursos em tempos de novas sociedades, talvez "Quando o amor é assim e não assado" seja um viés de ver o mundo fora dos paradigmas e eixos de velhas certezas, verdades absolutas e descuido do espaço do outro. 

Reflete o homem em seu tempo de escolhas e confirmação de orientação de sexo, profissão, discurso social e reforço das falas coletivas de inclusão e determinantes do próprio nome.

"Quando o amor é assim e não assado", que traz no corpo de contributo literário o editor Roger Ribeiro; Revisão de, Vitorino Rodrigues e Projeto Gráfico, de Luciano Brandão, está entre as leituras locais recomendáveis.
(o mundo de Marks/image face J. Marks)

É pegar pra ler. Ver pra crer  e tirar a melhor da recepção, a própria.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Teatro em Genet

na cena baiana



O poeta ladrão e dono de uma literatura sem vergonha, de ser a própria identidade, visitará Teresina, através  do teatro da Bahia de São Salvador. 

Em Circulação, versão Nordeste 2014, cumprindo pauta da FUNARTE Prêmio Myriam Muniz de Teatro, o ATeliê voadOR Companhia de Teatro tem agenda confirmada na cidade verde.

Com imersão na obra de Jean Genet e estratégias de dramaturgia em deslocamento do centro, como lugar privilegiado e desejado, para acentuar sujeitos e práticas abjetas ao tempo de identidade e política, a Companhia de Teatro apresenta o espetáculo "O Diário de Genet", dia 23 de agosto, às 20 horas, na Galeria do Clube dos Diários, com Entrada Franqueada.
(A crueza e realidade em O Diário de Genet/foto Maira Lins)

O Ateliê voadOR Cia de Teatro desenvolve dois momentos de ação teatral em Teresina. Ministra uma oficina, durante o dia 22 de agosto e realiza uma apresentação do espetáculo, propriamente, no dia seguinte, 23, à noite.

A peça "O Diário de Genet", com classificação para 16 anos, reverbera o universo jeangenetiano. 

Autor de obras como "Pompas Fúnebres", seu primeiro livro e lançado clandestinamente, Genet, o poeta ladrão, explica seus crimes pela poesia e outras licenças muito criativas. Em "O Diário de um Ladrão", elementa memórias particulares e ficção em um excelente romance. Essa obra  teve a introdução do intelectual Jean-Paul Sartre, amigo pessoal de Genet que o livrou algumas vezes de dificuldades e prisões contumazes. O escritor francês também teve uma novela sua, "Querelle de Brest", de 1947, adaptada ao cinema como o famoso filme Querrelle, dirigido por Rainer Werner Fassbinder, de 1982.
(licenças em estratégias de identidade e política/foto Maira Lins)

O ATeliê voadOR Companhia de Teatro, em "O Diário de Genet" defende dramaturgia de um mergulho no pensamento político do escritor francês Jean Genet. 

Encenação performativa, esse diário, escrito a partir de um texto não linear. Apresenta o mundo marginal, inconstante, perigoso, vagabundo e sedutor do filho de uma prostituta, que viveu a juventude em reformatórios e prisões. 

Tudo em cena é experienciado com o vigor de dois corpos em intenso pas de deux. Durante o tempo todo são positivados os sujeitos e as práticas abjetas, em que é deslocado o centro como o lugar privilegiado e desejado e destaca-se a marginalidade como estratégia de identidade e política.

"O Diário de Genet", se instala para texto e direção de Djalma Thürler mergulhados na obra de Genet em avanço da compreensão da ideia de cárcere, “nessa peça abandonamos as grades e focamos nos aprisionamentos culturais, demos as mãos às teorias de Foucault e fizemos a mais política das três peças”diz Thürler, que tem se dedicado a discutir temas ligados a subalternidade. 
(foto Maira Lins)

O espetáculo que aponta ao sujeito e às práticas abjetas, deslocando o centro da cena do lugar privilegiado e desejado e destacando a marginalidade como definição de estratégias identitárias e políticas, "O Diário de Genet" conspira, definitivamente, o universo realista e venal de Genet. “Nosso sentido é redescobrir determinada função da Arte um pouco abandonada, e refletir sobre aquilo que acostumamos a aceitar como normal”, completa Thürler.

O ATeliê voadOR Cia de Teatro surgiu em 2002, no Rio de Janeiro e está radicada, desde 2009, em Salvador. A primeira peça foi o desdobramento da Tese de Doutorado de Djalma Thürler sobre a “desauratização do ator contemporâneo”. Nasceu "O Lustre", marcado sob o signo da reauratização e criou uma encenação que afastava o “homem comum” do espaço sagrado do palco. 

O nascimento da ATeliê voadOR, afirma a Companhia, foi uma reivindicação do ator de teatro, em contraponto ao ator “fetiche”. Desde 2009 tem se dedicado à pesquisas sobre a subalternidade e pensado numa “cena anfíbia”, onde técnica e política são ferramentas de construção de uma cena contemporânea de forte posicionamento estético e político.

Com o Prêmio Myriam Muniz, em 2010, estreia o projeto, da peça, "O melhor do homem". Manteve três temporadas em Salvador e uma em São Paulo, no Teatro VIVO. A peça passou também pelos estados do Paraná e Santa Catarina. 

Na concorrência ao edital Demanda Espontânea da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, no ano de 2011, surgiu a montagem de "Salmo 91". Espetáculo com texto do autor paulista Dib Carneiro Neto, a estreia aconteceu em 08 de março de 2012 e teve 03 temporadas na cidade. 

"Salmo 91" percorreu as cidades do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Souza (PB), Juazeiro do Norte (CE), Alagoinhas (BA), Feira de Santana (BA) e Miami (EUA) no 28º Festival Internacional de Teatro Hispano de Miami. 

Em  "Como desaparecer completamente", espetáculo em processo, de 2012, uma das cenas foi apresentada no 8º Festival de Cenas Curtas da cidade de Curitiba (PR). Uma segunda cena foi apresentada, em Belo Horizonte, na 14ª Edição do Festival de Cenas Curtas / Galpão Cine Horto (MG).

O autor do texto e dramaturgo de cena de "O Diário de Genet", Djalma Thürler, é Diretor de Teatro e artista interdisciplinar. PhD em Literatura Brasileira e Crítica Literária, Doutor em Teatro e Pesquisador Pleno do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT/UFBA). 

Djalama Thürler já dirigiu "Solo Almodóvar" (2013), "O Diário de Genet" (2013), "Salmo 91" (2012-2013), "Como desaparecer completamente" (2012), "Falsos Pudores" (2012), "O melhor do homem" (2010-2013), "Raid das moças e a Cultura da Depressão" (2011-2012), "O lustre" (2002-2006), "Esse mundo é um pandeiro – uma crônica musical" (2000-2001), "A história do amor de Romeu y Julieta" (1999) e "Eu sempre tive a ilusão que um dia você ia me abraçar". 

O diretor acumula função de membro do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC/2013-2015) e Professor Permanente do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA.
(foto Maira Lins)

"O Diário de Genet" já fez carreira na estreia do Espetáculo durante a Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba – Curitiba – PR (06 e 07 de abril de 2013); estreia e Temporada na Sala do Coro / Teatro Castro Alves – Salvador – BA (04 a 26 de maio de 2013); participação na VIII Mostra Latinoamericano de Teatro de Grupos de São Paulo – São Paulo – SP (21 de abril de 2013); no VI Festival de Teatro Independente de Santa Maria –Santa Maria – RS (14 de junho de 2013); na 2ª Temporada no Teatro Vila Velha – BA (05 a 14 de julho de 2013); na 3ª Temporada no Teatro Gamboa Nova – BA (05 a 07 de setembro).

Também participou do XX Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga – Guaramiranga – CE (07 a 14 de setembro de 2013); na IV Mostra de Teatro Despudorado – Fortaleza – CE ( 13 de setembro de 2013); na 11ª Edição de Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro / Mostra Especial – Rio de Janeiro – RJ (24 de outubro de 2013); na 7º Festival Nacional Ipitanga de Teatro – Lauro de Freitas – Bahia – BA (11 a 16 de novembro) de 2013.

"O Diário de Genet" reúne na Ficha Técnica, os atores/personagens Duda Woyda (Ator 1),  Rafael Medrado (Ator 2); Texto e Direção, Djalma Thürler; Direção de Arte, José Dias; Iluminação, Pedro Dultra Benevides; Direção Musical e Trilha Sonora, Roberta Dantas; Operação de Luz/Som, Marcus Lobo; Contrarregra/Sonoplasta, Talis Castro; Design Visual, Clarissa Ribeiro. Contatos - Produção ATeliê voadOR Companhia de Teatro - www.atelievoadorteatro.com.br/(71) 3012 1188 / 9619 3247 / 9170 2769
/atelievoador10@gmail.com

Serviço:
"O Diário de Genet"
ATeliê voadOR Cia de Teatro, de Salvador (BA)
Oficina - 22 de agosto
Apresentação - 23 de agosto, às 20 horas
Local - Galeria do Clube dos Diários
Entrada Franca
Informações - Antoniel Ribeiro 9413 8444