por maneco nascimento
"No ritmo há um 'ir em direção a', que só pode ser elucidado se, ao mesmo tempo, se elucida quem somos nós. O ritmo não é medida, nem algo que está fora de nós; somos nós mesmos que nos transformamos em ritmo e rumamos para 'algo'. O ritmo é sentido e diz 'algo' (...) O ritmo foi um processo mágico com uma finalidade imediata: encantar e aprisionar certas forças, exorcizar outras (...) A dança já continha em germe a representação; o bailado e a pantomima eram também um drama e uma cerimônia - um ritual. O ritmo era um ritual (...) A narrativa e sua representação são inseparáveis (...) O ritmo não é medida - é visão do mundo (...) Ele é a fonte de todas as nossas criações (...) o ritmo é inseparável de nossa condição (...) é a manifestação mais simples, permanente e antiga do fato decisivo que nos torna homens: seres temporais, seres mortais e lançados sempre para 'algo', para o 'outro' (...) cada ritmo é uma atitude, um sentido e uma imagem distinta e particular do mundo (...) Cada ritmo implica uma visão concreta do mundo (...) O ritmo, que é imagem e sentido, atitude espontânea do homem frente à vida, não está fora de nós: expressando-nos, ele é nós mesmos." (Paz, Octavio. O Arco e a Lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. [pags. 69 a 74])
A cidade aquece os movimentos da dança e seus desdobramentos a conceitos e quebra de paradigmas e mantém o ritmo da vida, tempo e hora de dançar o que quiser, enquanto dance.
O 3o. Fórum - 1 Minuto para a Dança - Experiências de Dança, iniciado em 14 de julho, segue até 02 de agosto de 2014, com sede de expressão na Casa da Cultura de Teresina, reúne parceiros, praticantes, expressões escolásticas e corpos no corpus de dança.
Numa realização da Cia. Luzia Amélia, através do SIEC - Lei Estadual de Incentivo da Cultura, com patrocínio de empresas que recebem do governo do estado a isenção fiscal de 100%, direcionados ao investimento de ações culturais, o evento marca força e energia focadas para Teresina que também sabe dançar.
De 14 a 25 de julho aconteceram as Residências Artísticas (Meredith Green [EUA] e José Soares da Silva Jr. [PI]), no Theatro 4 de Setembro e Galeria do Clube dos Diários. O Coquetel de Abertura deu-se, na Casa da Cultura, dia 28 de julho (Palco e Pátio aberto da CCT), a partir das 19 horas, com apresentações artísticas em corpos falantes, envolvendo aspirantes da Escola Técnica de Dança do Estado, e alhures.
A partir do dia 29 de julho começaram as Palestras, Debates, Bate-papo (manhã) e conversas sobre o corpo que dança e suas linguagens contemporâneas; Oficinas (tarde) percepções, composições coreográficas em ato intérprete criador e manifestações em dança do ritmo contemporâneo (noite).
Dia 29, à noite, 19 horas, o Ensaio Aberto, da Cia. Luzia Amélia, apresentou "Baixa da Égua", com Luzia Amélia e Drica Monteiro. Luzia dançou cobrindo a ausência de Andréia Barreto que, efetivamente, é intérprete criadora e divide o Solo "Baixa da Égua" com Drica Monteiro, para dramaturgia de L. Amélia.
Dia 30 de julho, o cotidiano pulsante em Debate Mostra Contemporânea (manhã), Oficina Composição Coreográfica em Dança Contemporânea (Camila Fersi - SP), à tarde, e, a partir das 19h, apresentações Mostra Contemporânea, com atuações do Núcleo do Dirceu; Coletivo e Academia La Danza, para manifesto de cênicos em corporalidades aos signos do oriente e médios, ocidentalizados, da dança do ventre, véus, histórias e oralidades do corpo.
Do Núcleo do Dirceu, projetos e registros de vídeo, vídeos-dança e intervenções do contemporâneo identitário do Coletivo, sediado em Galpão na região da grande Dirceu. César Costa e Jacob Alves representaram o Núcleo e demonstraram exercícios intérprete-criativos, impressos em Mostra de contextos específicos de trabalhos, do Coletivo dentro e fora do espaço do Galpão Núcleo do Dirceu.
Eixos determinantes de autonomias, obras coletivas e particulares. Vídeos "Pop Boh"; Projeto Curto Circuito (Bolha de Sabão, Loirinha Menina) e Mil Casas, Projeto bancado pela Petrobrás, envolvendo 18 artistas intervencionistas em residências do Dirceu Arcoverde. Entre os exemplos dese projeto, "Todo Casas - Gentileza gera Gentileza".
(a trama a belas e bestas em "Entre"/image face Datan Izaká)
O saltar dos olhos, na noite do dia 29 de julho, a trama contemporânea de "Entre", com dramaturgia de Datan Izaká. Plantado na Galeria Lucílio Albuquerque, o espetáculo aciona o passado sinalizado como futuro no presente em repetições rítmicas a arquétipos e mitos revisitados. A expansão de Ariadne se estabelece em labirintos e tramas alinhavadas do eu ao outro e interativo de enlear a plateia nos signos, costuras, pontos e nós que o novelo das linhas do tempo amarram no arquétipo da Mora.
(arquétipo em (in)conscientes coletivos e estéticas da desrazão/image face D. Izaká)
"Instalação/Performance/Dança ... Entre...", com Datan Izaká, Glenda Gabrielle, Hellen Mesquita e Janaína Lobo, arrouba pertencimentos, memórias primordiais reinventadas em novas leituras. Minos e touros, bestas e belas, corpos que paradigmam no silêncio e trincam esse mesmo paradigma nos ruídos econômicos e barulhos sígnicos, emblematizando certas forças, aprisionando algumas e exorcizando outras em ritmos visionários do mundo, cerimônias e rituais em concretos abstraídos às estéticas de narrativas e representações inseparáveis da condição humana.
(labirintos enovelam a condição humana/image face Datan Izaká)
"Entre", imagem e sentido que coletiviza sentimentos e sintonias do eixo particular de identidades comungadas. O público, convidado a entrar na cena tramada, intervenciona quando provocado a ser partícipe e concorre ao labirinto de escolhas, provocações, recepções proativas ou negações do sugestionado em cena.
Do mergulho ao inconsciente coletivo, ou esforço de recuperar repertórios de entendimentos, o espetáculo cumpre papel de instalar estranhamentos e abrir apreensões para significados e significantes da nova dança, esfinge do "decifra-me ou devoro-te" no universo conspirador da linguagem em corpos falantes de contemporâneo ato cênico.
Teresina, feita capital da dança, segue até dia 02 de agosto e grava na memória social novos afetivos, oralizações de atos críticos, reflexivos e extemporâneos da arte da dança e linguística do corpo que fala, de si mesmo em encontro com o outro.