quarta-feira, 27 de março de 2013

Teatro que se tem e o que se quer


Teatro que se tem e o que se quer
por maneco nascimento

Proveitosa a tarde do dia 26 de março de 2013, a partir das 14h30, quando proposições e discussões sobre os rumos do teatro no município de Teresina, o que temos e o que queremos ganhou forma de pensar resultados + práticos.

O encontro, no Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, reuniu artistas, diretores, promotores culturais, estudantes, representantes de entidades ligadas ao teatro e à cultura das cenas na capital e representantes da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, promotora do evento.

Jesus Viana, coordenador da pasta de teatro da FMC mediou os serviços. Na mesa comunicante, Daniel de Aracacy, gerente de promoções culturais da Monsenhor Chaves,  Aci Campelo , autor e diretor de teatro e Adriano Abreu, representante do SATED – PI. Ainda concorreram ao evento Carlos Rocha e Lázaro do Piauí, superintendente e presidente da Fundação, respectivamente.

Tratou-se sobre lançamento de editais públicos para a área de teatro, incluindo o de ocupação de casas de cultura do município; editoração, de autores premiados, em atraso; leis de incentivo à cultura; formação de platéia e divulgação dos Teatros municipais para maior visibilidade dessas Casas na comunidade; isenção de pautas; circulação de espetáculos nos bairros e nos equipamentos de cultura. Bons temas em conversas franqueadas.

 Também se tratou da revitalização do Festival de Monólogos "Ana Maria Rêgo" e do Festival de Teatro de Bairros e de Bonecos, assim como da fomentação de projetos que não só valorizem a linguagem do teatro e circo, como recuperem o período, constatado, de afastamento concreto entre a Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e a classe teatral de Teresina.

O representante do SATED – PI, Adriano Abreu, destacou o teatro de Teresina como o de vir a ser, em relação a outros estados em que há a demonstração de força da cena consolidada na prática cênica. Acredita o estudioso de teatro que em Teresina ainda se está nas exterioridades e que não há dedicação, pesquisa e estudo para produzir teatro de melhor qualidade, embora haja grupos com resultados satisfatórios. 

Que, em 2012, só houve uma estreia de espetáculo, a do Harém. Outras manifestações foram de montagens já estreadas. Quanto ao produto local, acredita, grosso modo, haver uma incipiência de resultados por falta de aprofundamento, estudo e dedicação que tornem nosso teatro + profissional.

Aci Campelo falou de necessária qualificação técnica do profissional da área, dos novos artistas surgidos à cena, da falta de apoio a pequenas iniciativas surgidas nos bairros, homenageadoras de artistas do histórico teatral local, e que estas não encontram qualquer apoio das secretarias de cultura do município ou estado. Falou também dos festivais de bairros surgidos no Teatro do Boi, com público extraordinário e espetáculos de boa qualidade que perderam essa prática de realização.

 No meio de falas sempre preocupadas com o fazer teatral local, acrescentou sobre a necessidade da formação do ator da cidade e também da proposta surgida, de uma comissão de artistas que estaria indicando colegas, + experientes e com tempo de estrada, à qualificação específica de teatro que os tornem replicadores do aprendizado na composição do curso superior de artes cênicas, pensado para Teresina.

 Daniel de Aracacy disse estar satisfeito não só pela oportunidade surgida ao dialogismo entre artistas e a FMC, de poder estar participando de assunto que merece receber melhor suporte de apoio oficial, mas também falou da necessidade da tomada de consciência da classe artística de teatro. 

Que a classe se imponha e ocupe lugar de concorrência efetiva da linguagem e produto que realiza, na cidade, e cobre junto aos órgãos públicos o investimento devido. Só dessa forma o teatro da cidade se fortaleceria e estabeleceria local de destaque e penetração nos bairros, nas casas públicas de cultura, nos projetos e fomento ao movimento teatral de Teresina.

O Presidente da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, Lázaro do Piauí, acrescentou que, à frente de pasta de cultura do município, detém o papel de convencer o prefeito a investir em projetos, mas que essa provocação tem que partir dos artistas que é quem sabem das necessidades e por onde devem caminhar as melhores formas de viabilizar ações que integrem interesses dos profissionais de teatro. Que está de portas abertas para ouvir e encontrar, a partir do diálogo, soluções que deem condições de também o teatro estar + presente em programas culturais.

Falas significativas também vieram de Roger Ribeiro, ator e diretora de teatro que, como representante de grupos em Teresina e Timon, cobrou + divulgação das Casas de espetáculos, mantê-las de portas abertas, durante o dia e não só em horários de apresentação de eventos, para que as pessoas entrem e até descubram que há um teatro na comunidade.

 Francisco Pellé acrescentou da dificuldade dos grupos de circularem seus espetáculos, até pelos bairros. E que embora se tenha preocupação com as Casas e sua manutenção física, há também que se ter um olhar voltado a investimento aos projetos e grupos, propriamente. Que o artista pode se apresentar em espaços alternativos.

Que há dificuldades de se conseguir pautas, porque onde há editais de ocupação, a divulgação é pouco eficiente e quando se sabe as pautas já estão todas ocupadas. Hoje se está trabalhando em montagens alternativas, para espaços alternativos de ocupação, mas é necessário fomento público, porque o artista precisa de apoio financeiro do estado para poder realizar seus projetos.

Jesus Viana lembrou que a tarde, estendida até às 18 horas, foi bastante produtiva e estaria dentro das comemorações do Dia Mundial do Teatro e, na programação realizada pela Prefeitura, através da FMC, ainda haveria a apresentação dos espetáculos no dia 27 de março. O infantil “Senhor Rei, Senhora Rainha”, do Grupo Raizes de Teatro, às 15 horas e, à noite, 19 horas, seria a vez do espetáculo adulto “O Estudante”, do Núcleo de Teatro do Bairro São João.

As apresentações, no palco do Teatro do Boi, com entrada franca. Encerrou-se o encontro com as falas do coordenador de teatro da FMC, Jesus Viana.

terça-feira, 26 de março de 2013

De Karla a Kátia - o filme


De Karla a Kátia - o filme
por maneco nascimento

Era noite do esperado dia 25 de março de 2013. Durante todo esse dia, as informações solicitadas ao Teatro do Boi eram sobre como chegar ao local, se a entrada era franca ou se tinha que reservar lugar. O público começou a se juntar às 17h30m, numa expectativa de ocupar vaga e assistir ao lançamento de “Kátia – o filme”, dirigido pela piauiense, de Parnaíba, Karla Holanda.

Quando o Teatro do Boi abriu as portas, um burburinho saudável de quem queria pegar um lugar na plateia. O filme documentário, um depoimento sincero, bem humorado e carregado de emoção, vida recheada de experiências e coragem de defender a própria sorte e dar exemplo de Brasil, com sua diversidade e matizes de natureza humana, em convivência plural. As falas sociais, um bem conquistado de nome, traço familiar e comum aos seus, de cidadania apropriada. A personagem real e carismática, Kátia Tapety.

A diretora do filme, Karla Holanda, abriu o lançamento da fita falando de seu contato com Kátia, da paixão pelo ser humano com quem conviveu durante as filmagens e da recepção por onde passou “Kátia – o filme”. Lembrou da exibição no Festival de Brasília, com a presença de Kátia, de prêmios recebidos e que, para Teresina, infelizmente, não poderia contar com a atriz. 

Por motivos de saúde, Kátia não poderia deslocar-se de ônibus, de Colônia do Piauí até Teresina. Não se contaria com a audiência da pessoa + importante, no lançamento realizado àquela noite. Mas que, em seguida, seria exibido o filme em Oeiras e Colônia do Piauí e que, então, estariam diretora e personagem reunidas.

Também destacou a ótima aceitação do filme em Festivais e exibições em grandes centros. Já há planejamento para que seja rodado nos centros-capitais brasileiros e que o sonho da cineasta é que também entrasse no circuito de salas de cinema em Teresina, como ocorrerá em outras salas nacionais. Não iria desistir, Teresina também deveria receber o filme, para o circuito de salas oficiais e, segundo a diretora da fita, haver o computo de público. Feitas as apresentações, veio “Kátia...”. 

A história se abre para take de personagem subjetiva (a câmera) que registra uma estrada de asfalto esburacada. Até que surge Ela naquela estrada, puxando seu burrico em diálogo franco, humorado e cheio de ternura despojada da atriz que se representa em enredo de cinebiografada. 

Na estrada, de registros, transeuntes, ônibus, carros, ciclistas e amigos eleitores, em potencial, que a abordam em seu percurso de trabalho. Sua labuta, buscar alimentos aos animais, guardados no pequeno rancho de sertão nordestino. Assim começa a humanidade de Kátia revelada.

A fotografia do filme, ótima. Montagem e captação de som também com resultados muito eficazes. Os sons naturais, ruídos do campo e dos afazeres diários, falas, burburinhos de ajuntamento de gentes, tudo é uma surpresa e encantamento de (in)formalizar a história contada. A pesquisa musical, no tempo.

O inteligente roteiro foge do lugar comum dos documentários e vai construindo enredo de José Nogueira Tapety Sobrinho, de Karla para Kátia. O cuidado do roteiro que se desvincula do piegas e de discursos de senso comum. 
(KátiaTapety - esquerda e Karla Holanda - direita/foto Junior Aragão)

Há toda uma argamassa, nos fotogramas, que vicejam maturidade criativa e técnica de cinema, não perdem a mágica da fotografia em movimento e humanizam, com sincera delicadeza, um recorte, talvez o + expressivo, da história de Kátia. Fotografia enxuta. Não há espaço para criar espécie, só mantém fidelidade à boa história da personagem da vida real.


De Kátia para Kátia, uma mulher determinada, sem frescuras, que franqueia sua vida simples e convivências sociais muito saudáveis, em meio ao trânsito da política, agente de saúde, entre outras interrelações com a comunidade natural. Seu dia a dia na roça, na labuta do pasto e nos cercados de seu cotidiano, surge com a mesma clareza fotográfica, como nos depoimentos colhidos. 

O sertão de meu Deus e de Kátia está muito bem representado na fita e incrustado na alma sertaneja e delicada dessa mulher macho, sim senhor! As veredas de salvação falam por si mesmas, através de Kátia para Karla e de Karla para o mundo.

O Teatro do Boi ficou pequeno para tamanha concorrência. Os 170 lugares foram logo assumidos e vieram as cadeiras extras e + outras e o público atrasado chegando. Sentados, em pé, espremidos e atentos estiveram cada uma das pessoas que conseguiram chegar ao Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi e conferir a estreia charmosa de “Kátia – o filme”. Karla Holanda esteve visivelmente emocionada e felicidade colhida está no acertar do olho mágico das lentes do cinema. A cineasta acertou e acertou bonito.

De Karla para Kátia, “Kátia – o filme” é um exemplo, versejado, de arte e cultura em ótimo desempenho, porque o universo conspirou a favor. Favorecidos, os atores envolvidos no filme, o público cativo e a história do cinema brasileiro. Bravos!

O nosso Zé


O Nosso Zé
por maneco nascimento 

“Trago n’alma o sol de minha terra/a luz maior, claridade em mim/no som do Parnaíba que se encerra/o trilhar de um caminhar sem fim//carrego, imune, a força mais pura/a saudade do amor eternal/traçada nas glórias da loucura/do meu sonho alegre e jovial//trago, enfim, a lembrança das ruas/os quintais da infância e as luas/que no Poti vivem em transe//e sufoco as torneiras cruas/que fizeram as dores nuas/da dor de ti que me confrange.” (Sol da minha terra/José Afonso de Araújo Lima/ Palmas – TO, julho.2009)

Na noite do 25 de março de 2013, a partir das 19 horas, no Theatro  4 de Setembro, artistas, empresários, autoridades e público afim reuniu-se para participar da reabertura daquela Casa de espetáculos e sua programação artística; da programação cultural do Bar do Clube dos Diários/Espaço Cultural “Osório Jr.”; o lançamento da Lei do SIEC modificada e atos artísticos que sinalizaram uma homenagem ao Dia Internacional do Teatro (comemorado antecipadamente dia 25 para a data de 27).

Os festejos demonstraram trecho do espetáculo coletivo “A Batalha do Jenipapo - o musical”, dirigida por Franklin Pires. Mas o quente da noite foi a homenagem ao artista Afonso Lima, vindas dos colegas (Vera Leite e Lari Sales, Maneco Nascimento, Luiza Miranda e Josué Costa).
(foto de Afonso Lima colhida de seu facebook)

José Afonso de Araújo Lima, se não fosse esse de nome forte e sonoro José, poderia ser Francisco, Carlos, Domingos, Augusto, César, Hércules, Apolo, Dionízio, Téspis, Sófocles, Eurípedes, João, Vicente, Machado, Arthur, Nelson, Oduvaldo, Gianfrancesco, Chico, Gomes, mas nasceu José e olha que foi se apaixonar pela poesia e pelo teatro que estão intrinsecamente ligados pela história e memória da práxis cênica ocidental.

Filho dos campos de viver e ruminar as tardes entre lagos e carnaubais de Campo Maior, ao norte do Piauí, rebentou ao oxigênio de existir para além do útero da mãe em dias do ano de 1954. É advogado por vocação do ato de comunicar e desdobrar os ofícios da lei e licenciado em História, porque o homem sem memória e história perdeu algum sentimento do mundo que o manterá menos dono de si próprio. As formações acadêmicas, para línguas afinadas, foram realizadas pelas Universidades Estadual e Federal do Piauí, respectivamente. 

Ao ofício da arte, de reinventar a história do homem brasileiro para a cena, nasceu em 1977, quando então já poeta, ator e dramaturgo, escreveu a comédia musical “A Guerra dos Cupins”, com festejada trajetória de abrir porteiras do teatro local a outras frentes e palcos. A temática política dava conta, com humor peculiar da dramaturgia, acerca de cupins que “devoravam” papéis públicos da corrupção viseira. O Grupo de Teatro Pesquisa – Grutepe ganhava corpo de cena em Teresina e a peça, já de sucesso, fora dirigida por José da Providência. Para poesia e crônicas escreveu “Opressão” e à cena infantil “Xanduca”.

No ofício de políticas públicas de cultura acumulou experiência como Presidente da Federação de Teatro Amador do Piauí; Vice-Presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador; Diretor do antigo Sistema Estadual de Teatro do Piauí; Presidente do Conselho Municipal de Cultura – Lei A. Tito Filho e Superintendente da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves. Por nunca perder a verve de poeta, dramaturgo, compositor e escritor, é também representante e representado na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

Como diretor e autor de textos para dramas e comédias também consta, em seu borderô de sucesso, a obra “Itararé a República dos Desvalidos”, grande sucesso da década de 1980, que lotava a plateia do  4 de Setembro. A direção da montagem era de José da Providência.

 Essa peça teve uma remontagem, nos anos 2000, dessa feita José Afonso dirigiu. A nova leitura reativou toda a energia criativa, crítico-política à reflexão dos costumes, perseguida na dramaturgia zeafonsiana que chamou de “mistura de estilos”, iniciada com “A Guerra dos Cupins” que reunia gêneros dramáticos como a farsa, comédia, drama e tragédia. Bingo! O teatro do nosso Zé vinga horrores!

Itararé, quero te amar/fazendo bicos, roubando lá/sobrevivendo a qualquer jeito/sem mais lamúrias, sem dor no peito/e resistir até estourar/dar todo o corpo pra te pagar (...)” (“Itararé quero te amar”: Itararé a República dos Desvalidos)

“Mulher prezada e descabida/sem rumo e além do viver/corre as torrentes, perdida/sem ilusão, desvalida/na ânsia de te querer (...)” (“Mulher prezada e descabida”: Itararé a República dos Desvalidos)

 “Vamos ser inaugurais errantes/feito loucos, bravos, delirantes/neste dia de prazer/carregando o furto imenso/dando vida aos pretensos/donos do nosso viver (...)” (“Ser Inaugural”: Itararé a República dos Desvalidos)

 “Carregar a vida se arrastando/lamentar por tudo que corrói/e o desespero massacrando
a triste vida que só dói (...)” (“Tango da Prosperidade”: Itararé a República dos Desvalidos)
“Sacrifício/estrupício/acabou-se de verdade/e o que nos resta é a felicidade (...)” (“Libertação”: Itararé a República dos Desvalidos)

Um sonho de liberdade e de construção da memória teatral local dá-se por empenho desse grande artista, poeta de mancheia que nos brinda com sua presença cênica para dramas e comédias e, na trupe dos válidos e validos até que se reencontrem, novamente em palco, estão na esteira do deus Ex-machine, os colegas Lari Sales, Fábio Costa, Eleonora Paiva, Eliomar Vaz, Vera leite, Wilson Costa, Nádia e Teresinha, Aurélio Melo, Bid Lima, Marcel Julian entre outros que compartilharam prazer e palco com Afonso Lima.

Deus guarde o poeta de “Aviso Prévio”, obra coletiva e de “A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime impune”. Salve o Teatro Brasileiro e também nos mantenha colegas, amigos, companheiros de cena e amantes do exercício do exercício que abriga a carinho, respeito e orgulho quando falamos do nosso Zé.

domingo, 24 de março de 2013

De Karla para Kátia


 De Karla para Kátia
por maneco nascimento

Nenhum estranhamento quando se fala o nome de Kátia, que já exerceu o cargo de vereadora e de vice-prefeita da cidade Colônia do Piauí. Pelo contrário, um orgulho se assemelha a qualquer bom piauiense, especialmente, o de sua cidade natal. Kátia Tapety, com sobrenome de família tradicional daquela região ao sul do estado, é também uma grande mulher que conseguiu com esforço e muita determinação se impor e adquirir o respeito, seja de sua comunidade, seja do país que detém o primeiro exemplo de transexual a assumir cargo eletivo no Brasil. 

Nascida José Nogueira Tapety Sobrinho é filha de uma família de políticos e mantém firme o projeto de se tornar a primeira prefeita transexual do Brasil. Até os 16 anos viveu praticamente escondida dentro de casa. Foi para a escola só até a terceira série do ensino fundamental. Depois disso, seus pais a mantiveram reclusa. Residente no município de Colônia do Piauí (PI), distante 388 quilômetros ao sul de Teresina, a capital piauiense, ingressou no PFL pelo qual foi eleita vereadora em 1992, 1996 e 2000 (sempre em primeiro lugar[1]) filiando-se a seguir ao PPS, então partido de Ciro Gomes, seu ídolo político. Foi também presidente da Câmara Municipal no biênio 2001-2002.[1][2] Em 2004 foi eleita vice-prefeita na chapa de Lúcia de Moura Sá. A candidatura de ambas contou com 62,13% dos votos dos 5.417 eleitores da pequena cidade.” (www.wikipedia.com.br/acesso: 24.03.2013 às 17h27)

Em Colônia do Piauí, Kátia é oficialmente funcionária pública da área de saúde. Na cidade de 7 mil habitantes, plantada no sertão do Piauí, a cidadã Kátia Tapety desempenha de tudo um pouco, uma “al faz tudo”. Política, parteira, líder comunitária e agente de saúde. E dentro de suas prerrogativas de apoiar pessoas que exigem assistência real, ainda mantém resistência para desempenhar as vezes de assistente social, psicóloga, advogada, motorista e até vaqueira quando necessário.

Sua passagem pela política oficial é considerada extraordinária porque abriu precedente “(...) para novas e futuras conquistas sociais e de cidadania dos transgêneros. Mostra que é possível para um transgênero exercer seu direito de cidadania e ter uma vida digna, afastada dos estereótipos (...) As quatro eleições municipais já ocorridas em Colônia do Piauí foram disputadas por Kátia, que conseguiu vencer todas. Além de vice-prefeita, já foi vereadora por três mandatos, e num deles assumiu a presidência da Câmara Municipal. Seu grupo político tem apoio de diversos grupos da cidade, inclusive de membros de igrejas evangélicas (...) Na eleição de 2008, candidatou-se a vereador, obtendo apenas a suplência.” (Idem)

E é sobre a vida dessa cidadã que o filme documentário “Kátia”, de Karla Holanda, será exibido como lançamento em Teresina, nesta segunda feira, dia 25 de março de 2013, às 19 horas, no Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi. 

(Kátia à esquerda e Karla à direita/foto: Junior Aragão)

A idealizadora do filme, Karla Holanda, é natural de Parnaíba, nasceu a 23 de maio de 1965 e desenvolve cinema e vídeo desde 1992. Fonoaudióloga em Fortaleza, no Ceará, deixou essa carreira e seguiu para o Rio de Janeiro onde começou nova empreitada, no audiovisual.

(...) Ainda em 1992, realizou seu primeiro curta, uma ficção sobre vampiros. A partir daí, iniciou uma série de seis documentários sobre escritores brasileiros: Lúcio Cardoso, Pedro Nava, Antônio Carlos Villaça, Aníbal Machado, Rachel de Queiroz e Antônio Salles, exibidos em canais de TV e em instituições, como universidade, escolas e centros culturais e alguns premiados em festivais (...)” (www.wikipedia.com.br/acesso: 24.03.2013 às 18h26)

E é para obra desta cineasta brasileira que todos os olhares estarão voltados ao vídeo-depoimento da personagem que virou notícia nacional, quando venceu preconceitos e barreiras e tornou-se a Kátia Tapety que conhecemos. 

Kátia nasceu em 24 de abril de 1949, na cidade de Oeiras, a primeira capital do Piauí e, como a primeira transexual brasileira a deter cargo político, causou frisson aos + tradicionais, mas muito orgulho a quem vê a inclusão e a diversidade como princípio de interrelações humanas e integração do discurso de liberdades e arbítrio que alcancem novos padrões de convivência social na diversidade.

“Kátia”, o filme, em exibição dia 25 de março de 2013, às 19 horas, no Teatro do Boi. É a melhor agenda, nesse início de semana, na noite de Teresina. A cultura, entretenimento, educação e sociabilidades se estabelecem na Teresina que reconhece os seus e amplia as redes de reiteração da história brasileira.
  

sábado, 23 de março de 2013

Rosas para Rosita


Rosas para Rosita
por maneco nascimento

Para quem cresceu vendo televisão, um dos canais de entretenimento que, nos idos das décadas de 1970 e 1980, mantinha muito + força criativa e de persuasão estética ao telespectador e sua época, sente alguma nostalgia das produções dos folhetins e dos elencos que povoavam a telinha brasileira, àquele período. 

De autores, entre tantos de sucesso, Janete Clair, Dias Gomes, Cassiano Gabus Mendes, Ivani Ribeiro, Lauro César Muniz, Mário Prata, et all. Dos novos que ganharam fama de excelentes magos dos folhetins, Gilberto Braga, Sílvio de Abreu, Maria Adelaide Amaral, Glória Perez, Manoel Carlos, João Emanuel Carneiro, Elizabeth Jin, Aguinaldo Silva e todo um grande “cast” de produtores de sonhos à caixinha mágica.

Nesse universo de “Espelho Mágico” desfilaram, desde o surgimento da televisão brasileira, muitos artistas que marcaram história na teledramaturgia nacional. 

Da era do rádio onde alguns começaram, houve uma migração natural para a televisão que começava a fazer espécie e empregar rádio-atores e rádio-atrizes e catapultar, de vez, a carreira de toda uma geração que construía junto com os empresários da televisão a referência de melhor perfil, de novelas, no mundo.

Da nossa memória da teledramaturgia, algumas peças raras do drama televisivo que já deixaram esse set em busca da aposentadoria nos estúdios do céu. 

Já no céu das estrelas Elza Gomes, Paulo Gracindo, Ida Gomes, Mário Lago, Zilka Salaberry, José Legoy, Léa Garcia, Armando Bogus, Dina Sfat, Milton Moraes, Miriam Pires, Walmor Chagas, Geórgia Gomide, Yara Amaral, John Herberth, Yolanda Cardoso, Yara Lins, Luis Carlos Arutim, Chico Anysio, Henriqueta Brieba, Luiz Armando Queiroz, Eduardo Dolabella, Carlos Zara, Carlos Augusto Strazzer, Jofre Soares, entre tantas célebres personalidades da televisão nacional.

A vida de artista passa, ficam os palcos, as luzes da ribalta, os camarins, os bastidores e as boas memórias da arte de fingir. O tempo conseqüente inspira tempo de dar sobrevivência a arte e seu operário e contar a história de quem vive seu próprio tempo. Depois o mundo segue passagem e outros contarão novos borderôs e vida de artista.

Nesse março, o obituário registrou passagens de também artistas, já que mortais. Chorão, Emílio Santiago e, no sábado, dia 9 de março, uma das estrelas da telinha e teatro nacional. A encantadora e classuda Rosita Thomaz Lopez. Os idos de março também nos deram notícias da esfinge de tradução que alça vidas mortais ao imponderável.

(Rosita T. Lopez/imagem: elencobrasileiro.blogspot.co.br)

SÃO PAULO – Na noite do último sábado (9), por volta das 20h45, a atriz Rosita Thomaz Lopes morreu de falência múltipla dos órgãos. Rosita se encontrava em seu apartamento, em Ipanema, Rio de Janeiro, na companhia de dois de seus três filhos. O velório e o enterro acontecem no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Carioca, a atriz completaria 93 anos em junho. Apesar de ter começado a carreira aos 40 anos, seu currículo como atriz é bem extenso, tendo passagens pelo teatro, cinema e televisão.” (entretenimento.br.msn.com)

(saudosa Rosita/imagem: www.wikipédia.com.br)

Sempre apresentou personagens variantes entre o chique e o “classé”. Interpretou personagens destacáveis. No teatro dividiu cena com Fernanda Montenegro e Renata Sorrah, de que muito se orgulhava. Os palcos, seu maior prazer, embora tenha passagem também pelo cinema.

Conhecida do grande público por interpretar nas novelas personagens ricas e elegantes como a Letícia de Brilhante, a Nanda de Louco Amor e a Úrsula Pelegrini em Pátria Minha. Também esteve em outros bons momentos na TV nas primeiras versões de Uma Rosa com Amor e Anjo Mau e nas novelas Marron Glacê, Guerra dos Sexos e na minissérie Avenida Paulista. Em 2005, a atriz, com 85 anos, colocou prótese na perna esquerda, depois de uma queda com fratura no fêmur e outra no punho. Seu último trabalho na TV foi a novela Força de um Desejo, em 1999.” (Idem)

(Rosita T. Lopez/imagem: elencobrasileiro.blogspot.co.br)

Rosas para Rosita. A roda da fortuna espiritual gira, Ela se desliga desse tempo material e guardamos boas lembranças. Dos fãs se lança “Uma rosa com Amor”.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Agenda qualificada


Agenda qualificada
por maneco nascimento

“Nar Brenha”, coreografado por José Nascimento, profissional da dança que compõe o Balé da Cidade de Teresina, abriu temporada dia 21 de março de 2013, às 19 horas, no palco do Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, e fica em cartaz até esse dia 22. 

Antes da apresentação do BCT, um convidado especial fez suas vezes de ascendência profissional na cena. O Cordão Grupo de Dança, coordenado e coreografado por Roberto Freitas, demonstrou um "pool" de suas coreografias premiadas. O Cordão é o + novo lampejo da dança na capital.

Na hora da "prime star", em afinado traço dramatúrgico para dança moderna e pesquisa no terreiro da cultura popular, o Balé da Cidade de Teresina, através de “Nar Brenha”, possibilitou ao público de Teresina uma bela representação da cultura de memória afetiva e história sócio-artística, reproduzida do comportamento rural e brejeiro com muita graciosidade e engenho projetado em corpos do corpus da companhia de dança, mantida pela Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves.

Nesse 2013 em que o Balé da Cidade de Teresina completa 20 anos de palcos, a circulação dos espetáculos de repertório antecipa o aniversário comemorado em junho próximo. Nesses fins de março, “Nar Brenha” é a montagem da vez, mas outras cartas, da manga, serão lançadas até o festejado dia de nascimento às ribaltas.
(arte Nar Brenha/acervo: BCT)

“Nar Brenha” reverbera através da linguística dos corpos, em signos e movimentos acionados, toda uma acuidade do fazer estético que finaliza humor da natureza nordestina que, segundo pesquisa do IPEA, é de onde vem um dos povos + felizes do Brasil. Esse gracejo, na forma artística, ganha + carisma e identificação imediata com o público que acompanha o desenho visto em cena. Os intérpretes-bailarinos estão muito à vontade e detêm energia limpa e tônus equilibrado, seja em atos + individuais, seja em coletivo que dança alegria, prazer e técnica reunidas para deleite do espectador.

As coreografias que compõem o espetáculo interagem sociabilidades e marcas culturais bem na agulha de qualquer cotidiano de festejos, terreiros e outros ambientes de identidade à arte da mímesis da nação nordeste e suas reinvenções antropológicas. É também “Nar Brenha” que culturas se espelham e se transformam para arte bem aplicada, através do BCT.

Ainda nesse 21 de março, o Grupo Harém de Teatro estreou, em Teresina, “Abrigo São Loucas ou Três Personagens à procura de um Aqüé”. Com finalização dramatúrgica textual a cargo de Arimatan Martins, o desenho dramático de cena é também de sua assinatura. A montagem, de marca autoral, vem reiterar o teatro do humor, entretenimento e riso praticados com muita eficácia pelo coletivo de teatro, há + de 25 anos, no mercado cultural da cidade.
(arte do cartaz/acervo: Harém de Teatro)

“Abrigo São Loucas...” fez seu rito de estreia, às 20 horas, do dia 21, no palco do Theatro 4 de Setembro, para seleta plateia e público contumaz e seguidor do Harém. Com enredo afiado e afinador de discurso que pincela os últimos 50 anos da política local, de forma gracejada às memórias de gabinetes e vidinhas apascentadas na sombra das administrações públicas, as benesses possibilitadas, às esposas de políticos, em gerações nepóticas antes da era da Lei de responsabilidades fiscais, são alimentos regurgitados à quase exaustiva repetição.

O mapa dramatúrgico retém mote para desempenho simétrico de Fernando Freitas, Francisco de Castro e Francisco Pellé (as ex-primeiras damas forjadas) e do partner das personagens masculinas provocadas, que recebem identidade física de Emanuel de Andrade, mascote das fantasias e amores compartilhados para egos, alter egos e superegos das mulheres dos ex-prefeitos de cidades interioranas, no rincão do Brasil de jeitinho nacional.

As memórias dedilhadas, das mulheres, variam entre a apoteose dos dias de fartura; a cerca imposta da Lei de proteção aos recursos públicos; a nostalgia do poder e a amargura que se abateu sobre as lembranças dos “bons tempos” em que as primeiras damas eram rainhas de inglaterras, custeadas pela força tributada dos “vassalos” em reinos de prevaricação e pomposas farras públicas.

O desempenho do elenco está na média da proposta criada e os efeitos estéticos e práticos de encenação percorrem linguagem apropriada do Grupo à linguística já perseguida, por excelência, pelo Harém. O drama reúne picardia, humor crítico-reflexivo e ironias refinadas e cáusticas alfinetadas, metalinguadas no inteligente aparelho de conspirações artísticas que a excelência hareniana já mantém bem viva.

Luz (Assaí Campelo) e pesquisa musical (Márcio Brito) também são fichas complementares da dramaturgia aplicada. A confirmação de figurinos, que volta à origem do “metier” de montagem da “Raimunda Pinto, Sim Senhor!”, é de perspectiva criativa do próprio Grupo e adapta-se à realidade e lúdico prático a que o Harém tem domínio.

É uma pérola lançada aos outros. Procede “Macacos me mordam – A Comédia” e antecede “A Revolta das Barbies” e,juntas, formatizam projeto da trilogia de textos autorais à construção do homem no centro da cena brasileira, diretriz prospectada pelo Harém de Teatro.

“Abrigo São Loucas...” é a bala da vez. Esse projétil cultural percorre a câmara para explosões de qualidade artística, feito cena, em busca expressiva do melhor sinal ao riso e entretenimento pelas artes cênicas locais.

 “Nar Brenha” e  “Abrigo São Loucas...” em melhor agenda qualificada aos palcos da cidade. Quem ainda não viu, terá todo o tempo de espera e, queira Godot, não perca essa ótima agenda permitida.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Veludo azul


Veludo azul
por maneco nascimento

Nesse último dia 20 de março, enquanto o Rio chorava seus mortos soterrados pelas chuvas de verão, nas encostas cariocas e fluminenses, a cidade maravilhosa também foi pega de surpresa pela morte imberbe de Emílio Vitalino Santiago, uma das + prazerosas vozes brasileiras. 

O veludo azul nasceu, como qualquer cidadão desta terra chamada Brasil, em solo que “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome” (Gente/Caetano Veloso). Salvo, os rumos que a sorte estabelece ao cidadão brasileiro, Emílio Santiago, nome de guerra, tem seu histórico de nascimento em 6 de dezembro de 1946, no Rio de Janeiro.

De voz inconfundível, esse artista, antes de escolher ser cantor, formou-se em Direito, para atender desejo dos pais, mas sua verve estava mesmo era na boa e velha MPB. Começou nos Festivais universitários, naqueles efervescentes anos da década de 1970, também período de formação acadêmica. 

Das primeiras “brincadeiras de cantar”, amadoramente, partiu para novas iniciativas. Cantou no programa de calouros de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi e, em franco processo de amadurecimento artístico, desempenhou sua voz como crooner na orquestra de Ed Lincoln, além de afinação de talento em boates e casas de espetáculos noturnas.

A partir de 1973 grava o primeiro compacto pela Polydor, com abertura para divulgação do trabalho em rádios e televisão. O primeiro Long Play (LP) foi lançado pela CID, em 1975, com

(...) canções esquecidas de Ivan Lins, João Donato, Jorge Benjor, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Marcos e Paulo Sérgio Valle, dentre outros. Transferiu-se no ano seguinte para a Philips/Polygram, permanecendo neste selo até 1984, pelo qual lançou dez álbuns – todos com pouca repercussão. Foi escolhido com melhor intérprete no Festival dos Festivais, da Rede Globo em 1985, com a canção Elis Elis (...)” (www.wikipedia.com.br/acesso: 21.03.2013 às 16h10)

Para quem acompanhou aquele vozeirão, defendendo uma canção num dos festivais emblemáticos, em novo momento, na televisão brasileira, sabe de que memória musical se está falando. Sua voz e sua performance já definiam o nosso pássaro azulão, com seus trinados e variações melódicas à música que chegava pelo canal de comunicação de massa aonde o povo estava, como espectador. 

(Emílio Santiago/imagem: colhida da wikipédia)

O sucesso veio na verdade em 1988, quando lançou o LP Aquarela Brasileira, pela Som Livre, um projeto especial de sete volumes dedicado exclusivamente ao repertório da música brasileira; o projeto ultrapassou a marca de quatro milhões de cópias vendidas. Nesta época, lançou também outros projetos especiais, como um tributo ao cantor Dick Farney (Perdido de amor, 1995) ou regravando clássicos do bolero hispânico (Dias de luna, 1996).” (Idem)

Aos 66 anos de idade, Emílio Santiago deixou os palcos da vida para brilhar nas estrelas. Acometido de AVC (Acidente Vascular Cerebral), o artista foi internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, dia 7 de março.

(...) ficou internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do mesmo hospital, desde então. De acordo com o hospital, no dia 20 de março, Emílio morreu às 6h30 da manhã, aos 66 anos. Ele teve complicação no quadro clínico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico – quando falta circulação de sangue no cérebro.” (Idem)

Emílio cantou a nação brasileira e representou voz de ouro nessa contemporaneidade que já prenunciava novíssimas mídias, novos estilos e manifestações do diverso criativo das novas ondas e penetrações de sons e batidas bem para outros mundos e periferias com sua sonoridade própria, de identidades e pertencimento, que o defendido ao tempo de consagração do Veludo azul. Parte em momento que, dizem os propagadores de notícias, estaria decretada a morte da MPB.

Para artista de afinação e gogó único, estará entre os seus, no céu das celebridades, e poderá dividir palhinhas com os grandes compositores do nosso melhor esteio musical. Cante Emílio lá, porque memória e história haveremos de cantar cá, em repercussão de sua voz viajando no espaço em anos luz de emoção festejada.

Mediatantos

Mediatantos
por maneco nascimento

O Núcleo do Dirceu, em um dos seus melhores exemplos de nova dança construídos, apresentou dia 19 de março de 2013, às 19 horas, no palco do Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, o espetáculo “Mediatriz”. 

A pérola reúne os intérpretes criadores Elielson Pacheco, Janaína Lobo e Weyla Carvalho numa virtuose de magia, em ciência da dança, para graça premeditada ao simples, humor concentrado na razão e falas do corpo que apresentam performances dos membros inferiores, recortados por cortinas e iluminação direcionais.

A música, de Sérgio Matos, um percurso de sons e musicogramas virtual-concretos que mapeia uma indispensabilidade, no desenho dramatúrgico construído pelos artistas, em cena.

(Cena de Mediatriz/foto acervo do Núcleo do Dirceu)

A luz, de Erickson Pablo, um refinado recorte que varia entre economia densa e expansão da linguagem em signos distanciados do paradigma de iluminação dramática tradicional. Retém foco criativo, redoma, em cerco determinado, o efeito de pinos e filamentos delicados e afinados para brincadeira séria em seu lúdico de representação da transitiva ação de intransitivos jogos cênicos de “Mediatriz”.

Tudo conspira para uma caixa mágica intertextualizada na caixa cênica tradicional do Teatro. O metalinguismo se estabelece no mapa de claros/escuros econômicos de luz, de sincrônicos e assincrônicos sonoros e de simetrias e assimetrias de corpos; nos silêncios e ruídos provocados ao enredo finalizado em obra aberta e numa prática de maquinaria (Leonardo Sousa) que faz e desfaz “marcas” que praticadas numa quase invisibilidade de alterações.

Os truques do some e do reaparecimento de corpos, ou parte deles, vão escrevendo a história que graceja propósitos de entreter, manter atenta a plateia na ação desenvolta e, despretenciosamente, aplicar pedagogia de atos do corpo em energia que concentra e distende anatomias funcionais e lúdicas.

Em exercício de precisão e rigor metódico de didática livre, fora do esquadro da dança coloquial, ou de tradição, se vê aplicados equilíbrio estético e físico e arte criativa e recriadora do paradigma do qual se desgarra para reinventar nova perspectiva e olhar a mesmo espelho refletido. 

As falas de membros inferiores do nível da planta dos corpos, variando pelas pernas, quadris e troncos, em seus discursos identitários das anatomias próprias, revelam músculos, ossos e articulações distintivas na linguagem corporal expressiva, doada ao público que expia e integra recepção do objeto dissecado.

Na licença poética pode-se abstrair trânsito de corpos que envergaria percurso de rastejante em processo de acertar casulo e, no salto do tempo, equilibrar quadris em ilustrativo de gêneros possíveis e, talvez, no processo evolutivo cultural e “panfletário” pincelar a queda do sutiã, ou simplesmente abrir margem ao desnudamento, sem qualquer apelo, ao corpo da intérprete criadora em ação de desvelo cênico.

“Mediatriz”, através de seus criadores, media talentosa experiência franqueada em palco, aponta pesquisa mergulhada ao reconhecimento do próprio corpo, reitera projeto de repaginar “velhas” naturezas da dança, ou pelo menos quebrar um dado comum de varejo, ao passo em que demonstra empenho do ato de cena que atrai a atenção, aproxima curiosidade à novidade apresentada e reúne Elielson, Janaína e Weyla num inegável prazer de ser a cena e ter em cena domínio do exercício proposto em projeto.


(Idem)

Ao tempo em que concluem o exercício, os intérpretes criadores são revelados de corpo inteiro, num desnudar de marcas que, durante enredo de uns cinquenta minutos, só pés, pernas, braços e quadris eram jogo de aproximação e distância de recortes anatômicos apresentados.

Media, o espetáculo, tantos efeitos, virtuose conceitual e arbitrado fazer cênico para razões e sensíveis respostas projetadas. 

Mediatantos, cabeça, ombros, pernas e pés, bocas, olhos, ouvidos e nariz, semântica e sintaxe para efeitos placebos de cura artística. Media matizes a tantos e todos que interajam “Mediatriz”. Parabéns, Núcleo do Dirceu!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Diversidade +


Diversidade +
por maneco nascimento

(...) seria o sexo em suas várias manifestações sentenciado às trevas?
(Chico Xavier/ making of do filme “Chico Xavier”, dirigido por Daniel Filho, em que recorta trechos da entrevista do espírita kardecista ao Programa de Televisão “Pinga Fogo”)

A história da democracia brasileira se sustenta pelo livre arbítrio, com variações por períodos difíceis alguns e de conquistas sociais outros que contrabalançaram o pêndulo da justiça social e reclames de direitos humanos. 

País que sofreu período de exceção e brutalidade praticada pela(s) ditadura(s) em dois momentos distintos brasileiros. Numa, o excesso de governo populista e seus reveses (Getúlio Vargas), noutra, a coerção e cerceio de liberdade, praticadas pela ditadura militar, que concorreu no prazo de 1964 até o relaxamento em fins da década de 1970 (1979 – 1985/Gal. João Batista Figueiredo). 

Nesta última fase da ditadura, a conclusão para campanha das "Diretas Já" e eleição indireta do presidente Tancredo Neves, via Congresso Nacional, ainda, mas com a perspectiva que se concretizou, posteriormente, de eleições livres e nunca + imposição de gestores públicos biônicos.

O Brasil é o país de liberdades consentidas e conquistadas à força de também manifestações populares, em abrigo de anseios coletivos. Assim a mulher passou a votar, durante a era Vargas, também aderiu + tarde à minissaia e + adiante ao “topless”, com toda a segurança de livre escolha. Mesmo com a tríplice jornada de trabalho, galgou espaço de status social às próprias custas e esforços desdobrados. 

As marchas populares de resistência às intolerâncias, as greves gerais e o fortalecimento dos sindicatos de categorias deram sua contribuição sócio-educativa e solidificação democrática e, nos anos 2000, essa força de discurso popular de esquerda, na hora e no lugar certo, catapultaram um presidente semi-alfabetizado, forjado nas legiões humildes do nicho das classes sociais e do movimento classista das massas trabalhadoras à margem das elites brasileiras.

O país é nação de maior concentração católica, na América latina, mas é também terra de conceituação evolutiva e aceitação do perfil étnico afrodescendente, visto que povo e raça “puros” nem seriam anseio, ou privilégio brasileiro. A mística de raça é mesmo dessa miscigenação que possibilita o diverso de cores, matizes e cultura e traço antropológico, não visto, com esse viés, em nenhum outro lugar do mundo. 

E as conquistas coletivas vão se direcionando a interesses político-sociais urgentes a cotas de negros nas universidades públicas; amparo inclusivo de especiais nos espaços públicos e privados; lei de proteção à vida e dignidade de escolha à mulher; lei e delegacia ao combate da intolerância contra negros, homossexuais e o diverso homoafetivo; proteção ao índio e ao matiz manifestado de novas exigências sociais nas terras continentais brasileiras.

Nos últimos anos, as discussões e práticas combativas da intolerância sexual, ou sexista, e de vigilância da violência praticada contra orientação arbitrada ao sexo, em fórum íntimo, vêm ganhando + espaço público, na defesa da proteção e vigência de leis sócio-educativas. 

As conquistas aos direitos dos LGBTTs e gênero livre, na diversidade, ampliaram papéis práticos nas relações coletivas de trabalho e vida público-privada, que transformam o país em modelo de absorção de comportamentos, já bastante difundidos em algumas nações do mundo.

Um novo embate estabelecido, atualmente, com alguns avanços às minorias brasileiras, especialmente à recorte social homoafetivo, se estabelece nas questões de direitos civis e união de casais do mesmo sexo, bem como a adoção de crianças por casais homoafetivos.

Aberta a jurisprudência nacional e algumas discussões e avanços legais que caminham pelas cercanias legislativas, pode-se dizer que o Brasil vive entre a natural emergência de garantir direitos a qualquer seguimento da sociedade brasileira e a resistência, por vezes, de determinadas igrejas, seitas e discursos praticados no púlpito, do hegemonismo interpretativo, de paladinos do reino dos céus.

Recentemente, um pastor deputado evangélico (Marcos Feliciano), notório por declarações racistas e homofóbicas, foi engenhosamente imposto, por vias de acordos de coligações políticas, ao cargo de Presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal do Brasil.

Numa eleição polêmica, com adiamento de primeira tentativa, e finalizada dia 07/03/2013 com o sufrágio do pastor político Marcos Feliciano, não só deputados envolvidos com a pasta, como outros parlamentares defensores incondicionais dos direitos das minorias e humanos se manifestaram contra a mesa posta e abandonaram a sessão.

Para religioso que transforma homoafetivos e África, em nossa gente, como desvio social e lepra ameaçadora às sociedades “normais” do seu círculo de observação e compreensão, parece que as minorias brasileiras terão que engolir o “sapo” (desculpem a citação de animal inofensivo). 

De boca costurada ficarão os direitos humanos que, ao ver, sofrerão combate pelo discurso religioso de redenção moral, entendimento de via única ao interpretado bíblico.
Há, no país, um movimento conclamando pela reversão dessa eleição que premia “persona” vista, aos olhos dos defensores dos direitos humanos e proteção às minorias, como quem trabalharia na contramão da história. 

Partidos discursos, de determinada personagem (de)formadora de opinião e alçada da legenda social cristã, estão dentro dos direitos à liberdade de expressão e manifestação política, em que toda democracia se estabelece. Mas, seguramente, não estariam em direito, nem em oficialização discursiva, de combate às minorias, comportamento, escolha ou orientação de natureza religiosa outra, sexual ou de gênero.

Logo, boa parte da sociedade brasileira parece perceber um enviesado, ao cargo armado, que discutirá direitos sociais da nação. Ter sido entregue função pontual, de grande responsabilidade, a alguém que poderia comprometer avanços coletivos já em processo de afinação sócio-educativa, seria uma temeridade.

Papel de representante religioso está para a igreja, como papel de representante político da sociedade estaria para aglutinar interesses universais, sem encolher direitos que ampliam o papel social que toda coletividade merece alcançar.

Esperar por ver o chão rachar, talvez cause a surpresa das fissuras engolirem anseios de minorias que mereçam estar plantados, de igual para iguais, na convivência e aceitação das diversidades humanas.

Como diria Chico Xavier, por que o sexo deveria, em suas + diversas manifestações, ser condenado às trevas. A Deus, o papel de Deus. Ao homem (genérico) o papel de humano em convivência harmoniosa com as diferenças. E às interpretações equivocadas das relações humanas, o combate saudável e coletivo para a manutenção da vida em seu diverso.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Papa Chico


Papa Chico
por maneco nascimento

Primeiro Papa latino-americano, resultado perseguido pelos países “baixos”, meta insistida durante algumas incursões de fumaças vaticanas; primeiro jesuíta a ocupar o cargo + estelar da política da Igreja católica apostólica romana e o primeiro Francisco, na história papal.

Com a outra qualidade histórica, substitui um Papa (Joseph Ratzinger - Bento XVI) que renunciou ao cargo, só desprendido com a morte, este último o segundo na história da Casa de Pedro e Paulo (os pioneiros como base da igreja e expandidor do cristianismo no mundo pagão, respectivamente) a cometer a renúncia papal. Também será o primeiro Papa a ter um encontro, em vida, com outro herdeiro de Pedro, o agora Emérito Bento XVI.

O cardeal latino, Jorge Mário Bergoglio, vem da terra de outro Jorge, o Luis Borges, e desempenhou sua caridade e solidariedade cristã, segundo consta, nas franjas portenhas. Seu discurso papal defende a humildade e a oração como fundamentos católicos. Seu currículo aponta para vida simples, convivência entre os humildes e, enquanto Bispo de Buenos Aires, de ter mantido a preferência de andar em transportes públicos urbanos, como o metrô.

No Vaticano, cidade- estado na geografia da Roma, terá que enfrentar as conspirações (de teorias ou reais) e conviver com narizes disfarçadamente virados, resistências azeitadas por + de dois milanos, tradição confrontada com sua postura + livre e baseada na simplicidade, respeito declarado ao próximo, e humildade divulgada em práxis de formação de opinião cristã.
 
Tem demonstrado abrir mão das pompas e circunstâncias do cargo top da Igreja Católica, preservado hábitos de morar onde escolher, pagar as contas e, se possível, carregar a própria bagagem e cozinhar o próprio alimento, se a convenção vaticana permitir. Em pouco + de uma semana já alvoroçou o mundo cristão de tradição e ruptura e proferiu falas emblemáticas e “chocantes”.

Para o arcebispo metropolitano de Teresina, Dom Jacinto de Brito Sobrinho, em entrevista coletiva concedida à imprensa local “(...) a escolha de um cardeal latino americano para o papado deve aumentar os olhares do mundo sobre o continente, que agora se torna um ‘continente da esperança (...)” (matéria de Cícero Portela/O Dia, 14 de março de 2013/pag. 5 [Últimas]/portalODia.com)

Lutar contra a objeção à fé e contra o ateísmo será uma contemporânea cruzada que fortaleça o Cristianismo no mundo, não será tarefa fácil e não se tem qualquer dúvida disso. Mas estará, também, no confronto com a ala vaticana progressista, que quer discutir o fim do celibato, + transparência nas questões que envolvam corrupção (prevaricação) e a de menores, talvez uma das maiores chagas “pintura moderna”, da Igreja, a serem enfrentadas.

Papa tido como surpresa a todo o mundo de olhar e fé vaticanos, reunido em conclave, é também tido como o “azarão” no jogo das cartas papais, sendo alçado do “fim do mundo”, segundo o já então Francisco, detentor das chaves da cristandade mundial. Mas, é no fim do mundo que os percursos da vida fazem a curva. E, se não foi ainda um Papa africano, nem um brasileiro com ascendência alemã, que fosse um latino América, da Argentina, com traços étnicos italianos.

“D. Cláudio Hummes: ‘Não lembro o que aconteceu no conclave’”, lide de matéria publicada pelo estadão. E, no sub-lide, “Cardeal brasileiro visto como principal articulador da vitória de Bergoglio não desmente sua atuação como ‘cabo eleitoral’”. O escolhido tem anuência de grandes nomes do cardinalício mundial.


(fotos do encontro de Francisco com 5.000 integrantes da imprensa no Vaticano 16.03.2013 AFP/reprodução)

“Foi uma grande surpresa, que abre portas novas. Acredito que teremos um novo tempo para a Igreja. São temos difíceis, mas ele tem a força. Deus lhe dá essa força e iluminação. Deus dá o carisma para quem foi eleito (...)  A reforma da Cúria, que vai levar tempo e exigir esforço. Mas o papa é um homem muito misericordioso, além de ser um homem determinado e independente, que não se deixa levar por pressões internas.(trecho de entrevista, de D. C. Hummes, colhido de estadao.com.br/Atualizado: 16/03/2013 00:01). 

De sorte é que, de latino para latino américa, ficou-se com uma novidade que só tempo trará claras luzes no céu do Vaticano.Teremos que aprender a conviver com essa boa nova que promete novos ventos, ou não, nos embolorados corredores do Vaticano de que se houve falar.

"Nunca queríamos um jesuíta como papa." A confissão é do vaticanista e jesuíta americano Thomas Reese. Em entrevista ao Estado, o religioso admitiu que ninguém dentro da ordem sabe hoje exatamente o que significa para a Igreja ter um papa jesuíta e já prevê que o estilo de pompa e luxo predominante dentro do Palácio Apostólico vai se chocar com seu voto de pobreza - o novo papa não abre mão de usar transporte público, por exemplo.” (trecho de entrevista de Thomas Reese, colhida do estadão.com.br/Atualizado: 15/03/2013)

Vamos descobrir como é ter um Papa jesuíta que veio de resultado que causou surpresa a todos. “Acho que sabemos que ele, em termos de teologia, segue as mesmas linhas de João Paulo II e de Bento XVI. Outro aspecto é que ele é extremamente progressista em temas sociais e de justiça. Ele lutou pelos trabalhadores, foi crítico da globalização e o que causou para os povos dos países em desenvolvimento. Além disso, ele assume seu voto de pobreza de uma forma muito séria. Ele se recusa a morar no palácio dos bispos, aluga seu próprio apartamento, cozinha sua comida e pega o ônibus.” (Idem)
(Idem)

Nosso Papa Chico (que intimidade), ou Francisco (oficialmente) está ai é pra se molhar mesmo e, se não descobrir o caminho das pedras, terá ao menos aberto novo sinal, que seja de conflito crítico reflexivo, ao envelhecido modelo vaticano de líderes cristãos que não aprenderam o milagre de “andar sobre as águas”, nem efetivamente praticar o discurso dos peixes, de que nos falava padre Antonio Vieira.