Duas Danças
por maneco nascimento
O SESC Amazônia das Artes 2011 trouxe ao palco do Teatro Municipal João Paulo II, na tarde do dia 20 de maio, para público estudantil da região do grande Dirceu, dois espetáculos das cênicas. Resultados de duas companhias distintas, em seus caminhos de nova dança.
O espetáculo do primeiro momento, das 15 horas e 30 minutos, “Palmares”, montagem da Organização Ponto de Equilíbrio – OPEQ aborda um viés histórico do Brasil afrodescendente, de forma didática e ilustrativa do samba, capoeira, ritos religiosos.
O elenco dançante cumpre bem o papel, tem uma sintonia que vai se fortalecendo com a dialética entre o velho e o novo experimentado. Coreografias horizontalizadas no sentimento do povo negro e sua identidade expandida têm função variável entre o social e o antropológico.
As músicas compostas por Saquá e Ricardo Totte garantem uma energia extra que vem tanto dos poetas escolhidos, entre eles Castro Alves, como das melodias de elaboração de raiz. Os dois músicos presentes desde a estréia da peça musical estão muito à vontade. Os novos integrantes ao grupo de “back vocal”, Jorjão e Cláudia Simone, ainda muito fora da água e terra prometidas.
Jorjão prefere tratar do menos para não comprometer, já a cantora Cláudia Simone, muito empolgada, desvia a atenção do foco principal, os solos e coletivo dos bailarinos. Faz um showzinho à parte, não houvesse limites da direção do conjunto, talvez invadisse a cena. Cria ruídos à comunicação que quer parecer limpa em toda a dramatização musical.
Coreografia e Direção de Valdemar Santos ficam dentro da proposta de release, embora a nova dança aplicada não consiga desviar-se do desenho introjectado do clássico. Mas não fere a arte.
O segundo tratado daquela tarde, “Problema de três corpos”, reúne duas intérpretes-criadoras da Cia. Luzia Amélia. Uma cadeirinha de plástico, cor-de-rosa, e fios de Ariadne costurando o chão de linóleo completam-se com as evoluções das duas bailarinas.
Segundo o release da Cia., “As ações se apresentam como reflexos de acumulações feitas durante a evolução temporal para dar novo significado”. Mover corpos, experimentar planos e penetrar invisíveis. Pulverizar o vazio de notas soltas de corpos em movimento é o que parece ao público comum.
A quem se detenha na cata de ligações direcionais, não as encontra fácil. É um estranhamento, um provocativo do discurso da dança contemporânea fora do círculo aristotélico. Aos de repertórios diversos, meio gesto basta para aproximar qualquer identificação.
Lembra muito projeto, desenvolvido durante algum tempo pelo Núcleo do Dirceu, alcunhado de “Instatâneo”. Dentro da linguagem distanciada de esvaziar + o já pouco preenchido, consegue deixar aberta a porteira da teoria da recepção que encaminha qualquer observador a tirar sua própria conclusão.
“Problema de três corpos” abre uma questão da nova ciência às cênicas para resoluções matemáticas de respostas diversas. E como diz o discurso setentão, de releitura nessa contemporaneidade, “quem não entendeu, que entendesse”.