segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Teatro do Divã


Teatro do Divã
por maneco nascimento

O dia 26 de agosto de 2011, às 21 horas, o Festival de Teatro Lusófono – FESTLUSO recebeu para o palco do Theatro 4 de Setembro, a montagemDesabafo”, aportada, em terras brasileiras, por força e voz do Grupo Teatral Craq’ Otochod & Atelier Teatrakácia, da Ilha de São Vicente – Cabo Verde.

A peça que começa com uma imagem de mulher em sono inquieto, tendo à cabeceira de sua cama e ao alto a presença de um homem que incrementa o drama enquanto toca ao violão e interfere no solilóquio da personagem feminina, traduz aos poucos uma dona de casa, mãe solteira, esgotada pela vida moderna.

Em choroso discurso e negação de conquistas femininas e de feministas a personagem tenta enveredar por momentos em que canta, desenvolve apologia de defesa da vida das mulheres de antigamente que viviam à proteção do homem e se esforça para transformar em engraçado o discurso “trágico” das falas que condenam determinados avanços da mulher.
 
A personagem muito cansada da sobrecarga de trabalho que tem que desembolsar pela sobrevivência, acaba transferindo para a atriz uma descarga de pequena compreensão sobre o que está discutindo e ou trazendo a uma sessão de divã.

Há uma fragilidade no mapeamento dramatúrgico. E pequena maturidade no tratamento dado ao texto panfletário e sem sustentação de carpintaria para cena proposta. A cenografia que se percebe, para o conjunto, aos poucos parece perder função direta de complementação do discurso literário.

Um grande sutiã vermelho, composto quase a limites do quarto da mulher, é um ícone talvez de representação física de por onde passa a pressão de sentimento fragmentado. Acima do sutiã, toca um menestrel, ou galanteador que, por vezes, quebra a barreira invisível e dialoga com a personagem de alma atordoada.

Abaixo da linha do peito cenográfico, sua alcova e limites em que desempenha marcas monocórdias e enfraquecidas pelo domínio restrito do corpo para a intérprete. Há ainda uma “arara” em que a mulher troca de roupa a cada possibilidade de ilustrar uma memória.

A iniciativa de cantar não ganha fôlego para o enredo desvendado. Também por não haver uma linha coreográfica de aproximação das partes musicais com todo o resto da cena dramatizada, há um deslocamento de intenção que não se aplica nem bem ao drama, nem ao ato musical.

A dramaturgia de Idalétson Delgado e Ivone Santos, a partir de e-mail recolhido da rede internacional de relacionamentos, é de efeito simples e quase ingênuo, mas reflete as experiências desempenhadas pelo Grupo em sua cidade das cenas. A característica de absorver informação globalizada e traduzi-la para ato de teatro é louvável.

A encenação de Idalétson Delgado não corrobora muito para resultado inteiro. A cena conspirada parece revelar + motivações da atriz que da personagem em construção. O elenco, Ivone Santos e Luís Baptista estão na vantagem do que lhes é solicitado.

Suas falas têm a força das emoções lineares e navegam dentro do previsível. Com + tempo de maturação poderão ganhar uma vida desligada do drama da caixinha mágica do mass média.

O Grupo Teatral Craq’ Otochod & Atelier Teatrakácia, da Ilha de São Vicente – Cabo Verde trazem sua maneira de interagir na lusofonia por aqui praticada e possibilitam que se veja cultura e identidade que por lá se exercita. 

O Festival de Teatro Lusófono abraça a cena de Ilha de São Vicente – Cabo Verde e felicita com os artistas daqueles sítios a boa presença por aqui festejada.

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