Medéia aberta
por maneco nascimento
O Rio de Janeiro se representou, dia 08 de agosto de 2011, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro, com o espetáculo “Medéia”, interpretado por Claudiana Cotrim e direção de Urias de Oliveira, abrindo o concurso competitivo do 18º. Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Prêmio Zezé Lopes.
50 minutos de intertextualidade entre a “Medéia”, de Eurípedes, e outras do cotidiano de pesquisa e ou apresentada em vídeo.
(Claudiana Cotrim: "Medéia"/acervo)
Parece haver, no primeiro momento de observação do espectador diferenciado, + que uma Medéia: a do vídeo que entrevista outras do contemporâneo, a que interage com a platéia (+ neutra) e as da cena, a protagonista e a criada.
Há, também + que um espetáculo. O + próximo da tragédia original, o do palco. Uma bricolagem de informações com interacionismo de linguagens que não fogem da linha divisória da cena de identidades.
A do palco traz uma Claudiana Cotrim concentrada na técnica. Fala bem, texto límpido e debulhado com todas as marcas frasais que a dramaturgia literária apresenta. Talvez, por questão de escolha, as inflexões percorrem uma linearidade que, por vezes, hibridiza a força da mulher em sua falha trágica.
( "Medéia" de Claudiana Cotrim e Urias de Oliveira/acervo)
A cenografia tem ilustração de amparo à dramaturgia corporal desenvolta da atriz para a personagem trágica. Elementos concretamente úteis são o tapete evoluindo para o manto da rainha, o tecido vermelho que linha divisória de ambientes transforma-se, noutro momento, em evoluções de roupas envenenadas e ou em filhos assassinados.
Um risco de simbologias que se apropriam de adereços e cenários abre margem direta para o público de leitura e repertório acurado, mas não causa estranheza no público comum.
A luz, mais a suporte do diverso de matizes que mapeamento específico de emoções do trágico. A música, outro extremo de informação, assoberba um teatro que poderia estar preenchido de natureza sonora da personagem. Esta rica de melodias e anseios que poderiam reverberar o próprio som.
A dramaturgia do diretor ampliou o leque de dados das diversas Medéias, invocadas no rito de iniciação ao trágico proclamado. Mais enxuta a ideia, melhor espaço para o impressionismo da protagonista à força da expressão.
Talvez envaidecida pela técnica depurada, a intérprete se tenha redomado numa oralidade sempre horizontal, sem pulsações que quebrassem o paradigma do racional e linear.
Embora pareça que a energia da personagem se tenha composto na margem, há na atriz Claudiana Cotrim um quinto elemento querendo saltar fora. Uma máscara de estética, que fria e concentrada corrobora a uma Medéia expressionista para modelo clássico. Melhor apresentada que as de pintura moderna, nas vezes de entrevistadora, ou provocadora da platéia.
Medéia aberta, um exercício de novas iniciativas que, alçada à explosão da força que a atriz ainda não usou de toda, transfiguraria uma plástica de cena pensada, mas ainda não dominada ao ato do fingimento proposto pela intérprete e direção.
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