quinta-feira, 1 de agosto de 2013

"Post Card" 2013

“Post Card” 2013
por maneco nascimento

Teresina Post Card 57

“na praça marechal Deodoro
às nove horas falavam
da udn e do americam-can (...)”

“(...) nos canteiros da avenida frei serafim
os cupins construíram suas casas
fiando estranha quietude (...)”
(Machado, Paulo. Teresina. Post Card 1957/1977. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1980)

Post Card 77

“na praça marechal deodoro
às nove horas há velhos com suas memórias
recompondo o tempo (...)”

(..) nos canteiros da avenida frei serafim
putas acenam com gestos medidos
a fome é mais forte que o medo (...)”
(Idem)

 A cidade de Teresina, com data de nascimento oficial para o ano de 1852, vem construindo, ao longo de sua história de imposição como capital de estado, seu espelho de admiração, sentimentos e ressentimentos, olhar com perspectivas de futuro e identidades e pertencimentos de todos que grafam pés e obras socioeconômicas e culturais.

As cidades mudam, transmutam-se em novas verves e anseios e brincam de saltos planejados na amarelinha do tempo. A cidade planejada de Saraiva desloca-se do “improviso” e romantismo do final do século XIX e avança, impetuosamente, aos dias de verticalização e arranha-céus displicentes.

O trabalho de pesquisa “Memória e (Res)sentimentos em torno do processo de modernização de Teresina durante a década de 1970” In Nascimento, Francisco Alcides do. (Org.) Sentimentos e Ressentimentos em Cidades Brasileiras – Teresina: EDUFPI, Imperatriz, MA: Ética, 2010, de Regianny Lima do Monte, mestre em História do Brasil pela UFPI, nos apanha em sentimentos de aceitação e ou compreensão dos processos naturais de modificações e modernização que são impostas às cidades visíveis.

Para a articulista, em “Teresina Post Card 1957/1977”, o poeta Paulo Machado que registra Teresina, em dois momentos distintos, a primeira de ares de simplicidade, da rotina dos dias tranquilos, de ritmo monótono da observação do poeta para “os sapos que copulavam nos lajedos do tanque” da Praça Pedro II. O cotidiano descrito de forma leve, num percurso de ruas e calçadas, com seus personagens excêntricos, reconhecidos pelos populares.

Já na segunda parte da obra, “Post Card 77", acrescenta a autora, em vinte anos depois, a cidade da década de 1970 é apresentada pelo poeta com um certo ar de amargura e indiferença. Os lugares não são mais os mesmos, pois mudaram a sua essência, ou simplesmente desapareceram da paisagem urbana. Teresina com ares de cidade grande, modificada não só pelo tempo, mas pelas mudanças espaciais.

“Post Card” 2011
na nova cara da marechal deodoro/os antigos tanques com fontes jorrantes/
que, abandonados, foram substituídos por canteiros/que, já floridos, acenam com dias de primavera//às nove horas da noite/a praça da bandeira exibe-se em nova iluminação./quem avista-a, de fora, conta as árvores/as trilhas aos transeuntes,/à hora de gatos pardos,//bancos e ladrilhos/traços de ontem/mistiçados com o novo/circuito da vida para contemporâneos/e velhas memórias saudadas.
(nascimento, maneco.”Post Card” 2011. Teresina, agosto, 2011)

A velha nova Teresina que aplicada a muitas modificações, desde a saída de Oeiras, em que já se vão 161 anos, ou da refletida pelo poeta Paulo Machado, das primeiras impressões para a década de 1950, que tem-se a registros uns poucos 63 anos de mudanças. O registro do olhar “ligeiro”, corriqueiro da contemporaneidade, seria de “pueril” apreensão às ironias poéticas. Intangíveis memórias registradas. Na fotografia, registro palpável do tempo para enquadros e eternizados flagrantes, abre um canal de recorte da memória e histórias das civilidades.
(Exposição by Diego Iglesias/fots: http://portal.trt22.gov.br)

“Velha Nova Teresina”, ensaio fotográfico do jornalista Diego Iglesias, reinventa memórias, recupera imagens de pessoas, momentos históricos do cotidiano da cidade. Paisagens antigas da velha Teresina e também da atual se transfundem, como facilitação, ao observador, de um comparativo das nossas sempre memórias. O intertextual fotográfico resgata identidade cultural teresinense e valoriza a história do embora invisível, mas cidades recordadas para aquilo que já foram.
(Exposição by Diego Iglesias/ fotos: http://portal.trt22.gov.br)

 O que pensa quem vê e se pergunta o que estaria matutando as personagens flagradas no momento da fotografia de seu tempo. A linguística arquitetônica edificada e seus logradouros alterados, na “Cidade substituída”, visibilizam a invisibilidade contida no desvio do olhar à cidade e sua memória.em “Velha Nova Teresina”.

“Post” Card 2013

na Teresina do século vinte e um/em seus apegos de adolescente deste novíssimo século/a vovozinha tabulada em fins de século dezenove/já arranha muito + céus/também jaz em seus antigos casarios do velho centro/transformados em estacionamentos/ao conforto do selvagem motorista/variável entre o popular/e o + novo lançamento importado 2014//às oito da matina,/ nas onze perto do meio dia/ou nas seis da tarde em que o “rush” se repete/a hora dos carros tartaruga caos,/ fumaça,/buzinas,/ stress e vidinha apertada//entre o velho e o novo da romântica ilha/e sua mesopotâmia progressiva/nas paradas de ônibus/nos silêncios, apreensões e paciência testada/usuários somam esperas/ao descanso em suas periferias.../santas marias são desejadas/e outros mundos inchados de Teresina/que vai bem para quem consegue ficar bem.
(nascimento/maneco. “Post Card” 2013. Teresina, agosto, 2013) 

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