quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vinte anos dancing

Vinte anos dancing
por maneco nascimento


Ninguém chega aos vinte anos impunemente, nem mesmo os que acreditam na eternidade física. Da efeméride da matéria humana à consciência do espírito integrativo, “tudo na vida vale a pena, se a alma não é pequena”, teria dito o poeta lusitano moderno.

De sorte é que todos buscam a maioridade para depois, em nostalgia de decaído, regurgitar os tempos de menos gorduras localizadas, nenhuma herança da gravidade e articulações livres das rigidezes e dominadoras das aberturas anatômicas, porque quem não dança, dança. Sempre há um palco da vida a ser experienciado.

Mas nem tudo são ironias ou excesso de inversão da felicidade quente. As memórias são vínculos intrínsecos das histórias que legam à posteridade os heróis e suas batalhas, os mitos e suas lendárias construções sociais, o artista e seu carroção de festa, alegria, arte e fingimento de reinventar-se a cada tijolinho amarelo na estrada do país das maravilhas do fazer artístico.


Com ousadia apregoada e exemplos de iconografia registrados o Balé da Cidade de Teresina – BCT completa 20 anos, ousando na dança, com exposição fotográfica na Galeria de Arte Lucílio Albuquerque – Casa da Cultura de Teresina – CCT. O encontro de abertura dos trabalhos festivos, com fatos e fotos, deu-se às 19h, do dia 17 de maio  e segue até 20 de junho de 2013.


(20 Anos BCT/foto: diariodopovo.pi.gov.br)


Por lá, nesse refluxo de memórias, se reencontraram velhos amigos, antigos conhecidos, outros desafetos e vida que segue, pois assim caminha a humanidade nesse caldeirão de ritos e vaidades desenhadas e, por vezes, reveladas por quem semeou terras desejosas e nem sempre aprendeu a separar o trigo do joio nesse universo das verves antropológicas da obra cunhada.
Dos vinte anos dancing, já laureados do BCT, lembro de palcos em que vi expressões e corpos ardentes contando as pérolas colhidas do pântano. Sidh Ribeiro, Ivoneide Ribeiro, Máurea Oliveira, Nazilene Barbosa, Luzia Amélia, Weyla Carvalho, Ana Melo, Adriana Araújo, Kelly Lustosa, Janaína Lobo, Janayra Oliveira, Leonardo Barbosa, Jandira Leite, Fernando Freitas, Roberto Freitas, Eugênio Rêgo, Willa Machado, Lívio César, João Brito, Zé Filho, Sheila Ribeiro, Kleyton Silva (in memoriam), Márcio Gomes, Marcelinho Lopes , Temístocles Reis, Adriano Abreu, Samuel Alves, José Nascimento, Kleomarny di Santis, entre outros, e a novíssima geração que arma trincheira aos próximos 20 séculos de história a serem dançados.


A Exposição "20 Anos do Balé da Cidade de Teresina - Ousando na Dança" é de registro fotográfico, mas o mote é de flagrante coreográfico, logo não custa lembrar e citar o exposto. De 1993 a 2013, a curadoria do artista plástico Tupy apresentou um gostinho de “quem não viu aquela obra?”. Quem viu imerge no calor da música, da dramaturgia, da linguística de corpos eficientizada ao dance quem puder, é imperativo dançar. 
(20 Anos BCT/foto: fcmc.pi.gov.br)

Da coreografia à fotografia pode-se passear pelas peças memoráveis: “Crispim, a Lenda” (1993), de Sidh Ribeiro e foto sem registro de autor; “Fuga” (1995), belo trabalho de Dongo Monteiro e foto de Edson Clóvis; “Há Casos”, “Malandragem” e “De repente um tango”, todas de 1995, coreografadas por Sidh Ribeiro e fotografadas por  Reginaldo Azevedo; “Quase Deus” (1996), um ótimo Marcelo Evelin e seu método, com fotografia de Margareth Leite.
Ainda de 1996, “Duelo” e “Missa de Cura”, de Sidh Ribeiro, com registro de Reginaldo Azevedo. A obra + expressiva de Sidh Ribeiro marca os passos de 1997. A coreografia “E por Nós o Silêncio”, expressionismo alemão de pureza sidhribeiriana. A foto de Reginaldo Azevedo.

1999 trouxe “Vida”, de Sidh Ribeiro, registrada por Edson Clóvis. Sidh Ribeiro revisita o nordeste brasileiro e suas singularidades do memorial popular como só nordestino sabe interpretar, na obra “Fantasia Nordestina” (2000), foto de João Rufino. O bailarino coreógrafo Roberto Freitas apresentou duas criações em 2007, “Celebração”, foto de João Rufino e “Entre Tantos”, para registro de Neto Vasconcelos.

Ainda de 2007, a nova geração de coreógrafos da BCT propôs seu rito de passagem e José Nascimento assinou “Nar Brenha”, clicada por João Rufino. Se não falamos a mesma língua, ao menos buscamos embrenhar no diverso da linguística apropriada da dança e, sim, os corpos falam por si mesmos. “Só não falamos a mesma língua” (2010), de Nazilene Barbosa, compôs a boa cena àquele ano. A foto, de Victor Gabriel.

Para o ano de 2012, dois registros da memória da dança do BCT. “Enamorados”, com coreografia atribuída a Ricardo Scheir e “Carmem – o Ciúme”, de Nazilene Barbosa, numa releitura aplicada de Carmem, de Bizet. O registro fotográfico é de Victor Gabriel.

Para quem precisa de memória e não nega a própria história, a Exposição "20 Anos, do Balé da Cidade de Teresina - Ousando na Dança", é um bom refresco. Tá lá a obra exprimida em telões, em vezes de fatos, fotos de amor. Registros à dança por aqui celebrada e resvalada ao nosso livro de atenções. E, se o BCT não existisse, seria inventado porque a cidade não pode prescindir dessa companhia de dança.

Vinte anos dancing toda a cidade que fala pelas articulações de corpos presentes. Visite, compareça e não reforce o senso comum de que Teresina não tem cultura. A Exposição "20 Anos do BCT - Ousando na Dança", na Casa da Cultura de Teresina, até 20 de junho de 2013, é bola dentro!  
 



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ópera pedra

Ópera pedra
por maneco nascimento
Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja” (Mt 16, 18)
O Theatro 4 de Setembro recebeu estreia, dia 22 de maio de 2013, às 20h, do que talvez seja o + profissional musical já empreitado em Teresina. “Jesus Cristo Superstar (uma produção amadora autorizada por The Really Useful Group LTD)”, com letra original de Tim Rice e música de Andrew Lloyd Webber. Segundo material de divulgação “O maior ídolo que já existiu como você nunca viu.” O musical segue carreira nos dias 23 e 24 de maio, sempre às 20h.
De “Jesus Cristo Superstar”, com Dramaturgia de Cena, de Adalmir Miranda e Direção Musical, de Edivan Alves, ainda reúne Coreografias de Sidh Ribeiro, com assistência de Elem Brito e Produção Executiva de Júlia d’Almeida. Um arrojado espetáculo para os tablados de casa, sem dúvida. Força teatral e energia concentrada para um foco comum, criar pioneirismo estrutural para musical local, prática já experimentada por outros projetos de similar linguagem.
Com atuação de quarenta atores, cumpre o papel da cena e encanta a olhos vistos, a partir das Estruturas de metais a planos dramáticos (João Pinho) e Assistência Cenográfica (Isabela Nascimento) que se somam ao Design da Iluminação (José Gerardo Soares) e Design de Áudio (Mike Soares).
As canções originais, traduzidas a solo português do Brasil, mantêm os signos sonoros da Broadway e preenchem os ouvidos até mesmo de quem nunca tenha ouvido falar desse fenômeno teatral, que revisita outro grande fenômeno da história da humanidade testemunhada, o Cristo proclamado, também, através do rock e sua época de ouro cantada.
Ópera pedra parece negar o Cristo pop rock, por três vezes. Judas Scariotes, de Andrré Nogueira, o contador do enredo em dramaturgia de ótica vilã, abre licença a primeiro sinal bíblico. O intérprete articula a ação referenciada pelo diretor de cena, mas concorre, em discurso de abertura da tragédia, com deslizes para cantor/ator que representa peça chave do drama. Pareceu perder-se em desequilibrio de ritmo, arte cantada presa na garganta e quando evoluiu foi para semitons e agudos, raspando a partitura da garganta, com exagero de técnica truncada. Um esforço ingênuo para quem parece não ter aprendido “de cor” a lição de cantar.
A beleza física do ator empresta fulgor frizado à personagem do traidor que, bem vestida (Design de figurino – Teresinha Gomes, Levy Eliezer, Ivoneide Ribeiro e Leonardo Barbosa) e investida para André Nogueira, desliza à cena com pequena segurança, parece + se esquivar para a sombra do coro e ou à da presença solar do Cristo (Alysson “Chucky” Sampaio) que se impor em tônus corporal, inflexões e impressões vocacionais, próprias da arte do ator, que pleiteiem + verdade ao Judas planejado à pele de músico/cantor.
(Cristo, de Alysson, em foto de ensaio/divulgação)

Por outro lado, a generosidade, do intérprete/ator, doada por Alysson Sampaio ao Cristo rockizado, parece apresentar os dois lados da moeda, para Césares e para deuses do Olimpo. Movimenta-se bem, economiza no discurso corporal e carrega consigo dramaticidade que evolue em expansão e recuo para preservar a personagem e deixá-la + incorporada no ostensório aos rocks, pedras, arte e epifania declarada. Suaviza canções a afinados tons e sons equalizados na cifra original musicada.
Apoia-se tranquilamente na música defendida pelos Arranjos de metais (Fábio Juliano); Baixo (Athos Rodolfo Soares); Bateria, de Isaac Ribeiro; Teclados, de Laércio Barros e Leone Vinícius e pela Guitarra quente de Mário Araújo. Na mesma clave de entendimento vocal está Gislene Danielle de Carvalho, com sua Madalena afinada e contida em contexto expressionista de apreensão do mapa musical. A Maria, de Ateneia Rodrigues, visualiza o drama no enredo vocal premeditado e dá sua participação comovente à cena.
Edivan Alves, talvez tenha ficado muito preso às obrigações da Direção musical do espetáculo, não parece ter conseguido fugir da burocracia da montagem para ficar + representativo como a iconográfica personagem de Pilatos. A “lavagem das mãos”, de Edivan Alves, perde força na geografia cênica. Está lento, quase hesitoso e a canção fica presa na garganta e no corpo intimidado pelo arroubo da montagem a ser expiada. Parece espiar-se em pouca coragem de se lançar na cova dos leões. Inspira homem de pouca fé traduzida à cena. Nega a Cristo pela segunda vez.
O sinédrio composto por Caifás (Sérgio Barroso) e Anás (Lucas Coimbra) cumpre o recurso da voz e marcas estabelecidas. Caifás mantém registro vocal, dentro da narrativa melódica, bem aplicado. Anás, por vezes, exaspera agudos e fibriliza o coração da partitura desenhada. Com pouca vivência, propriamente de cena, Sérgio e Lucas andejam com cuidado para não comprometerem a linha divisória entre o cantor aplicado e o ator iniciático. Repercutem sonoridades aos efeitos de plano ao show biz.

(Ato da traição: Sinédrio e Judas/divulgação)
Simão, de Cayo Castro, também se representa no coletivo musical alinhado. Esaú de Barros, no Pedro que nega o Senhor, desempenha voz e emoção em técnica de cantor para roqueiros e ou solistas pop. Não compromete o conjunto, equilibra na sua canção a virtuose que percorre o terreno de coristas, dançarino (a)s, eleito (a)s, vilões e do Divino.
Ópera pedra, para que não se esqueça, nega “Jesus Cristo…” pela terceira vez, quando se detém na operação de som ineficaz. Muito ruído na comunicação e respirações sôfregas, colhidas (naturalmente) pelos microfones auriculares. As iniciativas de afinação, ou reparação do equipamento, na cena, uma sobrecarga de preocupação dos intérpretes enquanto atuam. A falha técnica, do som, diminui a estratégia de ação ensaiada pelos artistas. Mas o que sobra, para além da desconstrução operada pelo som, deixa uma alegria orgulhosa em ato mantido vivo pelo corpo narrativo da história.
As falas, do corpo coletivo, coreografadas preenchem de sabor hipnotizador a recepção. O coro afinado avança, furiosamente, pela engenharia cênica e ocupa os espaços em exercício bem aplicado.
Assim como o bíblico confirmado em trina negação a Cristo, há também o que se confirma como proposta de quebra de paradigmas e manutenção da tradição em ruptura. Franklin Pires, um Herodes em mix de Andy Warhol (pop art) e Clodovil (cult over) ao midiático contextual, nas atualidades prementes. Ganha a plateia pelo apelo da identidade e identificação da cultura cor-de-rosa, na defesa da origem celebrada do show business.  Ritualiza o discurso a novo momento dessa aldeia de híbridos fluxos de valores. Transforma a performance de Herodes em recorte significativo, na ópera aquecida, entre pedras da idade dos metais. Ganha sua coroa de louro e brinquedo em felicidade reinventada.
Da dramaturgia adalmirmirandiana há emblemas irrefutáveis. Os lampiões a gás transformados em céu de Getsemani é imagem de lúdico e ciência fluindo. Da atualização contextual, implementa policiais truculentos que, em prólogo, prendem os músicos na gaiola musical e os transforma em sabiás aprisionados.
 O sinédrio, com suas maletas de dinheiro, também aponta para a banalidade dos prevaricadores de plantão. A dramaturgia apresentada costura as pedras selecionadas, algumas para melhor brilho no palco, outras ainda opacizam o céu das estrelas musicais. Nivelar o brilho, no drama, talvez exija lapidar maior esforço que o de um ano de laboratório, especialmente porque os diretores da cidade não assentam, ainda, domínio sobre os signos e siglas musicais.
O ícone da cruz de ferro, brilhante e vazado, pendido no ar, é também imagem eficaz e gera beleza outra, quando se reúne a tapete de sangue que margeia a pietá da última cena. A. Miranda montou seu sonho musical e surfa em mesma onda dos cantores/músicos, projetistas originais da montagem, genuinamente piauiense, deJesus Cristo Superstar”.

(o milagre do artista: Jesus Cristo Superstar piauiense/divulgação)
Não fuja do registro, o elencão de apoio luxuoso à montagem: Adalmir Miranda, Aline Rocha, Anne Beatrice Sousa Lima, Beatriz Magalhães, Dário Costa, David Ribeiro, Denise Alaggio, Elem Brito, Felipe Mendes, Glaycy Carvalho (Elfa Anwar), Gabriela Barreto, Giordano Bruno Leal Moreira, Isabela Nascimento, João Vieira Junior, José Carlos Di Santis, Laura Marques, Leandro Harias, Levy Eliezerde Sousa, Lucas Belchior, Nadedja Leal, Patrícia Ferreira, Raylane Leal, Rodolfo Soeiro, Teresinha Gomes.

 
(Jesus e o milagre musical rock local/divulgação) 
Dançam em casa, Eline Costa, Francinete Soares Monteiro, Juliana Ribeiro, Marina Araújo, Márcio Gomes, Miguel Eugênio Sousa e Natália Bacelar. “Jesus Cristo Superstar”, para rock, metais e pedras amparadas, não perde a prosa, nem a poesia musical. É show!

Drag sim!

Drag sim!
por maneco nascimento
O mundo, em nosso derredor, ganha força e fama de novíssima contemporaneidade e a aldeia global – interrede – dá seu pulo do gato do silício a código(s) binário(s) ampliados, genes do coração jurássico da matéria mole e dura (solftwere e hardwere), “certo”?
Certo. Tão certo como a fórmula da vida em busca da felicidade, invenção do homem atribuída a Deus, segundo um grande cineasta contemporâneo. Mas, puxando intertexto para a aldeia local, o mundo brasis segue a vidinha contumaz para ninguém encontrar (de)feitos consideráveis à condenação. O leite industrializado brasileiro, por exemplo, continua prometendo longa vida e está em “bom uso” de formol para preservar, o “já morto”, consumidor desavisado. É nosso ouro branco oferecido, enquanto não condenado ao consumo, nas prateleiras dos grandes supermercados. Sem licença poética e na perspectiva de só lucros com o efeito placebo aos já em morte sempre vivos.
O histórico nacional não desmerece o mérito registrado. Já se conviveu com notícias bombásticas do anticoncepcional defarinha (gravidez em série para o milagre da criação); a reincidência do leite ampliado às custas das “misturas” rentáveis. No passado, soda cáustica, a cal, já branquinha, mimetizada ao leite original, é claro; bicarbonato de sódio fervendo os lucros desmedidos lácteos e muitas outras produções em escala industrial à mesa nacional. Silêncio! O empreendedor pode não gostar dessas notícias sobre seus negócios rentosos.
Mas há também outras novidades povoando a mídia. A Venezuela, a exemplo, importa papel higiênico, sabonete, creme dental, fraldas descartáveis, absorventes, etc., do mercado brasileiro. Bingo! Se a crise no país vizinho permitir, a nação companheira do cone sul poderá honrar o débito com a indústria nacional e ninguém sairá perdendo. Também se mata + nas ruas, nas vilas, nas favelas, às vezes, com mérito oficial dos “poliças” nossos de cada sorte. Mensaleiros condenados mantêm-se congressistas em mundo não hegemonicamente petista, graças a Deus e à democracia conquistada. E a urbe segue rumo, porque este é ano de Copa das Confederações que antecipa a Copa do Mundo Brasil 2014 e Olimpíadas 2016 e, eu digo “sim, é permitido, é permitido…”, parafraseando o poeta.
Mas nem tudo são flores de plástico, há ainda as que murcham e deixam um naco de perfume às “mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas.” A data da lembrança generosa foi 17 de maio de 2013. O evento secundário, o aniversário de Stella Simpson. O principal, “Divas of the World”, organizado pela performer oficialmente indispensável Stella, com patrocínio de Elias, da Sex Shop Anjo Sado e dispensa de pauta do Theatro 4 de Setembro, através do diretor da Casa de espetáculos, Antoniel Ribeiro.
Na noite, a homenagem ganhou peso dedicado à Graça Cordeiro, leia-se Lar da Esperança há + de 20 anos. O ingresso, 1 kg de alimento não perecível. Plateia significativa e a “renda” muito útil a quem convive com HIV/AIDS. Generosidade desinteressada, doada a quem precisa, seja através do primeiro exemplo (Casa de Apoio), ou do desdobramento da iniciativa humanística (aniversário homenagem).
Agora o que poderia atrair a curiosidade generosa do público? Ora, Elas por Elas mesmas, através das Outras representadas, “Divas of the World”, com atenção desdobrada, a partir das 20h, na ribalta iluminada do 4 de Setembro. Glamour, luxo, brilho e idiossincrasias de estéticas aplicadas a bens culturais intangíveis, de arte para dons de drags, travestis, transformistas, performers de boites, cabarés e tablados profissas de todas as eras, sejam de Aquarius ou de terras de dragões.
Da festa solidária, propriamente, “Divas…” manteve a receita do sucesso à recepção. Uma indispensável apresentação, cunhada por Stella Simpson, que sempre bem recheada de bom humor, picardia venal e tiradas de morde e assopra para manter rindo público e convidadas ilustres. Pela esteira do sucesso passaram todos os motes e toda felicidade caracterísiticos, pensados ao prazer e entretenimento ofertados pelas intérpretes ao público.
Na abertura, um apêndice à dança do ventre com a Academia Isabel Lins. Depois, vieram as miss Universo gay; miss Piauí; 1ª. miss Piauí (na época da ditadura militar, com certame realizado em um sítio, fora da cidade) e rainhas do Carnaval. Assim, Andréa Carão; Delly Cavalcante; o furacão Lilika Network que trouxe dois números, show de salto a La Madonna e outras fantasias Diva drags; Michele França; Luisa Calmon, com seu bom número de carimbó; a 1ª.miss Gay piauiense, Janelle D’gonzales; Laura Scaranzi; Amanda Muller; Selda Torres; Roberta Gasparelly (a eterna dublê de Billie Holiday), um cabide maravilhoso em performance de transformismo e dublagem; e, no desfecho da noite, Isabelita Kennedy com suas variações de coquetes e rainhas de Teatro de chanchadas brasileiro. Mantém o “feeling” daquela menininha que desfilava as longas pernas e perfil de Twig no calçadão da PII.
(Billie Holiday, a grande Diva/divulgação)

Tudo é festa quando a vida empresta alegria e felicidade certa, dividida com quem espera, às vezes, só um sorriso e uma palavra amiga, de esperança larga. Registro: faltaram à noite e perderam o nome no cartaz do evento, Ludmila Petrovisk e Scarllet O’hara, mas poderão converter agenda, quem sabe, em 2014.
Graça Cordeiro agradeceu tamanho carinho e desejou ver o espetáculo + vezes repetido. Um coração para amar cumpriu praça e São Jorge lançou proteção sobre as Drags, sim.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pocket sou


Pocket sou
por maneco nascimento

A Cia. Five Queens (Adriano Abreu, Dackson Mikael, José Nascimento, Samuel Alves e Temístocles Reis) & Danilo França abriram reinado de brilho musical à rainha do mix romântico-fossa-brega-nossa-show: Diana.

Em grande noite e estilo ao musical “Dianas dos seus”, com direção geral de Samuel Alves, viu-se uma elegia requintada a grande diva popular que iniciou carreira em fins da década de 60 (1969) e somou sucessos de 1973, 1975 até os anos 80, sem nunca ter sido esquecida por seus fãs.

O musical que reúne uma trupe de bailarinos, coreógrafos, atores, diretores de cena e drags queens, por decisão de estética e plástica cultural cênicas, montou praça dia 15 de maio, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro. Um artigo luxuoso dos artistas à artista das paradas musicais brasileiras.

[Ana Maria Siqueira Iório (Rio de Janeiro, RJ), conhecida com o nome artístico de Diana, é uma cantora e compositora brasileira, do estilo Popular/Romântico. Ganhou de seu público e da mídia os apelidos carinhosos de "A Cantora Apaixonada do Brasil", “A Voz Que Emociona”, entre outros, devido ao conteúdo apaixonado e melancólico de suas canções (...)] (www.letras.com.br/acesso 17.05.2013 às 11h59)

 (diva Diana/imagem: www.letras.com.br)

É essa força da cantora/compositora Diana, que ganha forma e cena no palco e tem como tecido rico, de ilustração, os intérpretes (dos seus)) em homenagem artística e despojada de sentimentalismo, em respeito liberado pela artista e sua obra que encantou muito ao povo brasileiro ao longo de sua carreira.

[(...) Diana nasceu no bairro do Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 2 de Junho, filha de D. Regina Siqueira e Sr. Osvaldo Iório. Foi no bairro do Leblon, também no Rio, que Diana cresceu (...) Com a produção de Raul Seixas, Diana alcançou as paradas de sucesso emplacando sucessos como “Ainda Queima A Esperança”, "Uma Vez Mais", "Fatalidade", "Um Mundo Só Pra Nós", "Porque Brigamos", "Estou Completamente Apaixonada" e "Hoje Sonhei Com Você". Raul Seixas compôs várias das baladas de Diana, a maioria em parceria com Mauro Motta. Rossini Pinto, talentoso produtor e compositor capixaba, ficou por conta de versionar os sucessos internacionais da época para Diana. De sua autoria são as letras de “Fatalidade”, “Porque Brigamos”, “Tudo Que Eu Tenho”, “Canção dos Namorados”, entre outros (...)] (Idem)

Traduzir música para corpos e intenções coreográficas parece tarefa fácil, mas que o digam os criadores de cena à dança. Os meninos da Cia. Five Queens sabem do “metier” e têm muito charme quando o assunto é da arte do ator. Então quando optam em projetos à dança ganham a concorrência.

Segundo Samuel Alves, não montaram o espetáculo para público específico, nem GLS, mas para o da cantora. Acertaram na moça. Agora só falta vender melhor, do ponto de mídia, a peça já quase toda pronta.

Pequenas, em vestidos glamourosos, adentram a cena e interpretam os tradicionais e emblemáticos sucessos da artista. Cada entrada, um impacto e uma energia quente que pega o público, não só pela canção, mas especialmente pelas performances apresentadas. O que poderia parecer puro transformismo vai se transformando em 5º. elemento de arte e cultura revisitadas a la “Dzi” Diana.

Os figurinos, de idéias coletivas da companhia, ganham o ponto final das mãos de Adriano Abreu, Danilo França e Samuel Alves. Diana não perdeu por esperar a homenagem, ganhou em memória reinventada. A cantora/compositora está na dramaturgia de mesas vazias, roupas íntimas espiadas, noites de “cabarés”, paixões e amores remoídos e musicalidade inconfundível dela e parceiros para sua poesia romântica e popular dos hits de sua época.

[(...) Na Polydor, grava três discos, entre 1974 e 1976. Desta áurea e produtiva fase, resultam os sucessos "Foi Tudo Culpa do Amor", "Lero-Lero", “Sem Barulho” e "Uma Nova Vida", sendo esta última uma composição que Odair José fez para Rosemary. Curiosamente, na voz de Rosemary a música não teve êxito algum, porém em 1975, gravada por Diana, foi sucesso absoluto no Brasil (...)] (www.letras.com.br/acesso 17.05.2013 às 11h59)

Adriano Abreu, Dackson Mikael, José Nascimento, Samuel Alves, Temístocles Reis & Danilo França, cada um traz sua Diana, com expressividade, domínio de dublagem e certo humor de reinvenção, da leitura vista, que permeia os versos tristes do olhar da autora intérprete ao dos intérpretes revisitadores da sempre Diana. “Dianas dos seus” é pocket show e suas pequenas e deslumbrantes cantoras “pocket sou” para fossas, bossas transversais e outras maneiras musicais que a canção brasileira gerou.

Destacável os figurinos que despem e vestem as ninons, dão-lhes atenção diferenciada de refinado cuidado com o que vestem para contar um enredo dramático de viés apropriado. Da dramaturgia de dinâmica de cena, pareceu ainda haver uma gordurinha acentuada na mudança de foco, de uma contadora da história para a outra. A agilidade do musical precisa ganhar energia continuada para que não pareça ao público que as marcas seriam de improviso mal elaborado.

Fora os silêncios que pareceram de espera de algo não programado, o musical é charmoso, elegante, rico de cultura e memória recuperadas e reveladas a público outro que não o da geração que ouviu-a nas ondas do rádio e em disco de vinil. O uso do som original dos long plays, com seus chiados característicos, mas de limpeza sonora que foge do híbrido digital, tornam o espetáculo muito + agradável de ver e de ouvir.

“Dianas dos seus” tem uma sintonia em finalizar-se bem. Cada intérprete desenvolve “sua parte” sem comprometer o coletivo.

Adriano, Dackson, José, Samuel, Temístocles & Danilo recuperam a verve elegante e quente de Dzi Croquettes, sem parecer querer ser ninguém que não sejam eles mesmos, em reunião de prazer, alegria, arte, cultura, “fingimento” à reprodução da mímesis artística. Não afetam o que melhor sabem fazer, serem artistas em domínio da própria arte.

A luz de Renato Caldas está no movimento das ondas que ganham a cor de paixão e amor revelados a mitos e metas conquistados e, se mulheres são de Vênus e os homens são de Marte, A Cia. Five Queens & Danilo França vão à luta, não perdem o dragão, douram a lua para deusas, mulheres e homens da cena teatral que a cidade desperta nesse recanto da América brasis.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Diz-se coquetes


Diz-se coquetes
por maneco nascimento

[Nasceu no bar o nome de um dos grupos teatrais mais revolucionários que já tivemos. A paródia ao norte-americano The Coquette teve inspiração no petisco sobre a mesa. “Como croquete, todo mundo é feito de carne”,
pensaram. A música Tá Boa, Santa? define: Não sou dama nem valete / Eu sou um Dzi Croquette.

Os 13 homens peludos no palco, ora trajando vestidos, ora apenas enormes asas de borboletas, sempre com muita maquiagem e brilho, tinham algo de andrógino. Uniam textos cômicos a incríveis números de dança, combinando linguagem de cabaré com samba e bossa nova. O dançarino norte-americano Lennie Dale, saído da Broadway, encontrou no grupo seu paraíso e acrescentou profissionalismo aos corpos talentosos.]
(Dzi Croquettes colocaram purpurina nos palcos e na vida: Natália Pesciotta/www.almanaquebrasil.com.br/acesso 14.05.2013 às 19h48)

 (Dzi Croquettes/ foto original colhida de www.almanaquebrasil.com.br)

Muitos exemplos de expressão, arte e cultura deliberada e rica de alegria contagiante vieram depois desse furacão de teatro e música que ganhou os palcos e cabarés cariocas e somaram exemplos de tietes brasileiras que, futuramente, domaram os anos 80 com muita irreverência e talentos confirmados.

 [Os Dzi Croquettes lotaram cabarés e teatros cariocas em uma época de repressão. Tiveram até as primeiras tietes brasileiras. Pudera: foram eles que criaram o termo para as garotas que não perdiam uma apresentação. As mais fiéis chegaram a formar um grupo secundário – quem não lembra ou nunca ouviu falar de As Frenéticas? “Eu, hein?”, “Meu amor, te contei...” “Já foi!”. A turma que participava da cena usava as gírias próprias do vocabulário “dzi”.

Em documentário sobre a trupe, Gilberto Gil defende que talvez tenha sido “a primeira manifestação do movimento gay brasileiro, ao mesmo tempo com discurso político”. As bandeiras ali eram da inovação, revolução de comportamento, libertação sexual.]
(Idem)

Por aqui, na terra filha do sol do equador, também há os sinais de que memórias se repetem ou se reproduzem, mesmo que pouco se conheça da história brasileira dos musicais nacionais e das heróicas manifestações crítico reflexivas, que sejam de protestos, que sejam de anarquias artísticas que representassem o diverso brasis e seu olhar de revisita.

 (Elenco do Pink - o musical/foto colhida de registro de estúdio Revista Meio Norte)

 Nos dias 11 e 12 de maio de 2013, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro,  a Cia. de negócios cênicos e outros movimentos musicais, a Tribo de Teatro, estreou sua + nova ação de dramaturgias deliberadas na cidade.”Pink – o musical” apontou sua performance como “um grande elenco numa comédia colorida”, alardeia o marketing de “business show”.

Baseado em livro escrito por Franklin Pires, “As memórias Cor de rosa”, o espetáculo, segundo material de divulgação, é uma tragicomédia muito envolvente. O enredo tem como mote a personagem Alex. Que seria um super estilo e que adora acompanhar o lance da moda e se envolver em aventuras românticas.

A adaptação dramatúrgica, direção e interpretação da personagem chave, ao musical, estão à assinatura de Franklin Pires. Ele divide cena com Danilo França, José Carlos, Márcio Brytho, Bruno Lima, Gleyciane Pires, Alinie Moura, Edivan Alves, Samuel Alves (movimentos coreográficos) et all.

A montagem carrega humor, picardia cáustica e texto que incorre ao riso e ao entretenimento da platéia que acorre ao gargarejo. Com geografia de marcas e estilo próprio da partitura de musicais, o espetáculo “Pink – o musical” está no borderô histórico de F. Pires que já mantém uma memória de insistência nessa linguagem.

Para essa nova insurreição parece ter concorrido contra o tempo e não atingiu ainda o seu melhor desse teatro que já prospectou certa maturação, noutros espetáculos vistos. Talvez a apresentação do dia 12 de maio, noite em que prestigiei a iniciativa, não tenha sido a melhor da pauta, havia um quê de exaspero em manter a cena viva, mesmo quando o som não ajudou em 80% da apresentação. Ruídos na comunicação transformaram a performance em ruidosa falha de equipamento em som da Casa e, naturalmente, de comprometimento do esforço do elenco.

Mas, ainda assim, havia uma virtuose da força do ator que insistia em cantar, dançar e representar em momento que beirou a amadora função do ato premeditado. Danilo França consegue, caracteristicamente, apresentar inflexões e intenções que cumpriram melhor seu papel, seja de “dragqueen”, seja do tipo bem à vontade no tipo de tradição. 
 
 (Elenco do Pink - o musical/foto colhida de registro de estúdio Revista Meio Norte)

Gleyciane Pires tentou criar uma mãe entre “lunática” e desesperada sem conseqüência de causa e obstruiu a comunicação na voz de taquara rachada em dia de tempestade sinuosa. Talvez limpar a voz, esclareça o texto e dê tranqüilidade de compor melhor a personagem mãe. Franklin Pires está à vontade no tipo que o satisfaz e domina à cena e corrobora com a performance centrada no complexo dos espelhos. Não ofende, também não surpreende.

Márcio Brytho não fugiu do seu comum e José Carlos afeta, com qualidade projetada, a dramaturgia solicitada. Bruno Lima, o “pião” do brinquedo aplicado compõe os “boys” que ficam no gracejo e histrionismo das marcas de humor franklinpireano. Alinie Moura despeja seu potencial de boa atriz e joga sinais de brincadeiras e exercícios ao fingimento da mímesis do escatológico humorado. Edivan Alves, muito neutro. Quase um improviso, sem o tranqüilo acento no ponto enredado.

Como definiu Franklin Pires, ao final do espetáculo, seria uma peça em que se discute o amor e o amor não tem sexo, nem está limitado a determinados padrões sexuais. E, acrescentou que, no momento em que parece haver “uma inquisição”, no Brasil, acerca das determinações naturais de orientações sexuais, a montagem de “Pink...” vem discutir liberdades, arbítrio e domínio das próprias escolhas.
 
 (arte cartaz Pink - o musical)

“Pink – o musical” diz-se coquetes, porque na fantasia do brilho e purpurina ao palco e à livre iniciativa de discutir o próprio sexo das personagens vividas, reitera a mímesis do cotidiano de qualquer cidadão que, em mundo de minorias, se autoafirma através da arte e cultura, sem panfletarismo, ou discurso empastelado de falsas promessas. Coquetes quando necessário e políticos por necessidade de existir e montar a própria história. Pink, sim!