quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dance o que quiser

Dance
por maneco nascimento


"No ritmo há um 'ir em direção a', que só pode ser elucidado se, ao mesmo tempo, se elucida quem somos nós. O ritmo não é medida, nem algo que está fora de nós; somos nós mesmos que nos transformamos em ritmo e rumamos para 'algo'. O ritmo é sentido e diz 'algo' (...) O ritmo foi um processo mágico com uma finalidade imediata: encantar e aprisionar certas forças, exorcizar outras (...) A dança já continha em germe a representação; o bailado e a pantomima eram também um drama e uma cerimônia - um ritual. O ritmo era um ritual (...) A narrativa e sua representação são inseparáveis (...) O ritmo não é medida - é visão do mundo (...) Ele é a fonte de todas as nossas criações (...) o ritmo é inseparável de nossa condição (...) é a manifestação mais simples, permanente e antiga do fato decisivo que nos torna homens: seres temporais, seres mortais e lançados sempre para 'algo', para o 'outro' (...) cada ritmo é uma atitude, um sentido e uma imagem distinta e particular do mundo (...) Cada ritmo implica uma visão concreta do mundo (...) O ritmo, que é imagem e sentido, atitude espontânea do homem  frente à vida, não está fora de nós: expressando-nos, ele é nós mesmos." (Paz, Octavio. O Arco e a Lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. [pags. 69 a 74])

A cidade aquece os movimentos da dança e seus desdobramentos a conceitos e quebra de paradigmas e mantém o ritmo da vida, tempo e hora de dançar o que quiser, enquanto dance. 

O 3o. Fórum - 1 Minuto para a Dança - Experiências de Dança, iniciado em 14 de julho, segue até 02 de agosto de 2014, com sede de expressão na Casa da Cultura de Teresina, reúne parceiros, praticantes, expressões escolásticas e corpos no corpus de dança.

Numa realização da Cia. Luzia Amélia, através do SIEC - Lei Estadual de Incentivo da Cultura, com patrocínio de empresas que recebem do governo do estado a isenção fiscal de 100%, direcionados ao investimento de ações culturais, o evento marca força e energia focadas para Teresina que também sabe dançar.

De 14 a 25 de julho aconteceram as Residências Artísticas (Meredith Green [EUA] e José Soares da Silva Jr. [PI]), no Theatro 4 de Setembro e Galeria do Clube dos Diários. O Coquetel de Abertura deu-se, na Casa da Cultura, dia 28 de julho (Palco e Pátio aberto da CCT), a partir das 19 horas, com apresentações artísticas em corpos falantes, envolvendo aspirantes da Escola Técnica de Dança do Estado, e alhures.

A partir do dia 29 de julho começaram as Palestras, Debates, Bate-papo (manhã) e conversas sobre o corpo que dança e suas linguagens contemporâneas; Oficinas (tarde) percepções, composições coreográficas em ato intérprete criador e manifestações em dança do ritmo contemporâneo (noite).

Dia 29, à noite, 19 horas, o Ensaio Aberto, da Cia. Luzia Amélia, apresentou "Baixa da Égua", com Luzia Amélia e Drica Monteiro. Luzia dançou cobrindo a ausência de Andréia Barreto que, efetivamente, é intérprete criadora e divide o Solo "Baixa da Égua" com Drica Monteiro, para dramaturgia de L. Amélia.

Dia 30 de julho, o cotidiano pulsante em Debate Mostra Contemporânea (manhã), Oficina Composição Coreográfica em Dança Contemporânea (Camila Fersi - SP), à tarde, e, a partir das 19h, apresentações Mostra Contemporânea, com atuações do Núcleo do Dirceu; Coletivo e Academia La Danza, para manifesto de cênicos em corporalidades aos signos do oriente e médios, ocidentalizados, da dança do ventre, véus, histórias e oralidades do corpo.

Do Núcleo do Dirceu, projetos e registros de vídeo, vídeos-dança e intervenções do contemporâneo identitário do Coletivo, sediado em Galpão na região da grande Dirceu. César Costa e Jacob Alves representaram o Núcleo e demonstraram exercícios intérprete-criativos, impressos em Mostra de contextos específicos de trabalhos, do Coletivo dentro e fora do espaço do Galpão Núcleo do Dirceu.

Eixos determinantes de autonomias, obras coletivas e particulares. Vídeos "Pop Boh"; Projeto Curto Circuito (Bolha de Sabão, Loirinha Menina) e Mil Casas, Projeto bancado pela Petrobrás, envolvendo 18 artistas intervencionistas em residências do Dirceu Arcoverde. Entre os exemplos dese projeto, "Todo Casas - Gentileza gera Gentileza".
(a trama a belas e bestas em "Entre"/image face Datan Izaká)

O saltar dos olhos, na noite do dia 29 de julho, a trama contemporânea de "Entre", com dramaturgia de Datan Izaká. Plantado na Galeria Lucílio Albuquerque, o espetáculo aciona o passado sinalizado como futuro no presente em repetições rítmicas a arquétipos e mitos revisitados. A expansão de Ariadne se estabelece em labirintos e tramas alinhavadas do eu ao outro e interativo de enlear a plateia nos signos, costuras, pontos e nós que o novelo das linhas do tempo amarram no arquétipo da Mora.

(arquétipo em (in)conscientes coletivos e estéticas da desrazão/image face D. Izaká)

"Instalação/Performance/Dança ... Entre...", com Datan Izaká, Glenda Gabrielle, Hellen Mesquita e Janaína Lobo, arrouba pertencimentos, memórias primordiais reinventadas em novas leituras. Minos e touros, bestas e belas, corpos que paradigmam no silêncio e trincam esse mesmo paradigma nos ruídos econômicos e barulhos sígnicos, emblematizando certas forças, aprisionando algumas e exorcizando outras em ritmos visionários do mundo, cerimônias e rituais em concretos abstraídos às estéticas de narrativas e representações inseparáveis da condição humana.

(labirintos enovelam a condição humana/image face Datan Izaká)

"Entre", imagem e sentido que coletiviza sentimentos e sintonias do eixo particular de identidades comungadas. O público, convidado a entrar na cena tramada, intervenciona quando provocado a ser partícipe e concorre ao labirinto de escolhas, provocações, recepções proativas ou negações do sugestionado em cena. 

Do mergulho ao inconsciente coletivo, ou esforço de recuperar repertórios de entendimentos, o espetáculo cumpre papel de instalar estranhamentos e abrir apreensões para significados e significantes da nova dança, esfinge do "decifra-me ou devoro-te" no universo conspirador da linguagem em corpos falantes de contemporâneo ato cênico. 

Teresina, feita capital da dança, segue até dia 02 de agosto e grava na memória social novos afetivos, oralizações de atos críticos, reflexivos e extemporâneos da arte da dança e linguística do corpo que fala, de si mesmo em encontro com o outro.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Joanna, a cantora

Solta a voz no Seis & Meia

 (a cantora Joanna será voz no Seis & Meia/fotos divulgação)

Nesta quinta feira, 31 de julho, o palco do Theatro  4 de Setembro recebe uma das vozes que marcaram os anos 80, no diverso afinado da MPB, ao universo feminino brasileiro. O Projeto Seis & Meia abre alas a Joanna. 

Nome registrado no cancioneiro nacional, a cantora estará em Teresina a show Eletro-Acústico, revivendo grandes e velhos sucessos consagrados.
 
Entre os sucessos de Joanna, a música Recado,  de Renato Teixeira será revisitada. Grandes clássicos do seu repertório, como o autobiográfico Nos Bailes da Vida, de Milton Nascimento e também Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga e tantas outras canções como Espelho, Momentos, Mensagem pra Você. Zeca Pagodinho e Martinho da Vila recebem homenagem da cantora.
 
Os 100 anos de nascimento de Lupicínio Rodrigues terão outra homenagem. Canções lupicinianas selecionadas, ao show, fazem parte de projeto artístico que Joanna realizou com obras muito populares do grande compositor. 
 
Neste show a cantora, também, apresenta músicas do projeto Intimidad, dirigido por Armando Manzanero, em que canta em espanhol. 

O show, Joanna Eletro-Acústico, entrecruza textos ao desenho de percurso conceitual e confirma performance, da intérprete, que se faz acompanhada do violão.

Na abertura local, uma entrada de voz ao swing, blues e jazz transversais, com a requintada presença de Rubens Lima. 
Rubens desenvolveu, em paralelo a sua carreira de médico, a arte de cantar a música nacional e grandes clássicos do show biz "american music pop". Hits dos irmãos Gershwin e Cole Porter apontam no repertório de Lima. 
(doutor Rubens Lima, swings, jazz e blues transversais/divulgação)
Os afinados tons e sons da liberdade vocal encontram, no doutor Rubens Lima, a força da música que abre veredas ao Seis & Meia e à cantora Joanna para seu tempo da canção.
Serviço:
Projeto Seis & Meia
Show Joanna Eletro-Acústico 
Quinta Feira, 31 de julho
Às 18h30
No Theatro 4 de Setembro
Informações: (86) 3222 7100

terça-feira, 29 de julho de 2014

Vidas e escolhas

para amar Assim e não Assado
por maneco nascimento

"Quando o Amor é Assim e Não Assado", baseado em livro de Júnior Marks, é tema da trama dramática que estreia dia 5 de agosto, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro. 

O espetáculo "Quando o Amor é Assim e Não Assado" enreda o amor de retorno à adolescência, o primeiro amor, com todas as suas inquietudes, inseguranças, desafios e mistérios. A Dramaturgia de cena e interpretação é de Júnior Marks e Direção de Luciano Brandão. 
(o ator J. Marks e o diretor Luc Brandão/divulgação)

O Grupo Humanitas de Teatro apresenta seu + novo espetáculo, com Produção da Cajú Comunicação e, com a estreia da peça, será comemorado o aniversário de 15 anos de carreira de Júnior Marks, diretor da companhia desde 2000.
(Júnior Marks [Neto]) em dia de ensaio/divulgação)

O ator Júnior Marks é timonense radicado e honorário e milita na Cultura dos estados do Maranhão e Piauí.. Com engrenagem afiada pelos palcos maranhenses e piauienses, Marks já defendeu personagens marcantes no cenário cultural da região ligada pelo rio Parnaíba e afinou o exercício do exercício em seus 15 anos de afinidade com os tablados. 
(personagens Antonio Maria, de "17 Minutos Antes de Você" e Seu Chaguinha, de "Um Brasileiro no Céu"[Junior Marks/divulgação)

A montagem dá o pontapé inicial a que todos possamos pensar sobre o que é ser amado e o que é amar. 

No enredo, um homem maduro, 30 anos, realiza uma viagem de volta na própria linha do tempo e mergulha fundo, noite adentro, no lago das inquietações, angústias, expectativas vividas, aos 15 anos de idade, quando estivera às voltas com a descoberta do amor, o deslumbre do primeiro amor.

Tempo de memórias e imagens se justapõem e o que seria ilógico, aleatório, de repente, nas vezes de um jogo de dados, pode se configurar como peças de um quebra cabeças. A sorte é lançada, os dados estão postos, mas o público é quem vai juntar as peças e remontar o jogo. 

Dica dramatúrgica, a personagem Neto (Júnior Marks) conta suas aventuras, como se trancado dentro do quarto, com o melhor amigo, em um domingo pela manhã. 

Neto ouve música enquanto aguarda o almoço ficar pronto. Qualquer pessoa da plateia pode ser o melhor amigo e confidente coptado. Neto compartilha sua coragem e sua busca, pelo verdadeiro amor, com alguém da recepção.

Ele lança o convite a esse fim. Você vai ficar de fora ou aceita o convite?

(Luciano Brandão, diretor do espetáculo/divulgação)

Serviço:
"Quando o Amor é Assim e não Assado"
Estreia - 05 de agosto de 2014
No Theatro 4 de Setembro
Às 20 horas
Informações -
Vitorino Rodrigues
(86) 8822-6146/9402-5949 /9917-3647
Júnior Marks
(86) 8808 0115
Jjunior Vasconcelos
(86) 8856 2515

O exercício da Cigarra

O canto a Baco
por maneco nascimento

"(...) realizamos opções claras, excluímos aquilo que não nos servia como referencial, fortalecemos intencionalidades, evidenciadas nos nossos projetos 'FOGO', 'Exercício Sobre Medeia', 'Ciclo de Leituras Dramáticas' e nessa iniciativa mais recente o 'Suplemento Cultural Cigarra' (...)" (CIGARRA. Ano I/Número Zero/Julho de 2014/Edição Especial)

A Casa da Cultura de Teresina recebeu, na noite do dia 26 de julho de 2014, a partir das 19 horas, as comemorações de um Ano do Projeto Ciclo de Leituras Dramáticas. O Projeto, idealizado e posto em prática pelo Piauhy Estúdio das Artes, realizou o que, nas palavras do coordenador do Coletivo, Adriano Abreu, seria um evento para reunir artistas, especialmente das cenas, amigos e aqueles atraídos pela arte do palco.

Na programação, a Exposição Fotográfica "Piauhy Estúdio das Artes: Teatro, Literatura e Educação a Serviço da Vida"; Lançamento da Edição No. Zero do Suplemento Cultural CIGARRA em comemoração ao 1o. Ano do Ciclo de Leituras Dramáticas; 10a. Edição do Ciclo de Leituras Dramáticas em Homenagem aos 450 Anos de Nascimento do Dramaturgo William Shakespeare (4 cenas de 4 comédias); Show Lítero Musical com Rubinho Figueiredo e Coquetel aos Convidados.

(Débora Radassi apresentou o evento/image face Well BM)

O Varandão da Casa da Cultura de Teresina abrigou a Exposição que reuniu registros fotográficos de Vagner Santos, Vítor Sampaio, Zé Orlando Júnior, Adriano Abreu, Ana Cândida Carvalho, Moaaby Macedo e Silmara Silva.

(público atento ao exercício de Leituras e Exposição ao fundo/image face Well BM)

Os registros, "Projeto FOGO", Direção e Dramaturgia de Adriano Abreu; Leituras Dramáticas: 1a. Edição, "O Casamento Suspeitoso" (Ariano Suassuna), fotos de Vítor Sampaio; 2a. Edição, "A Cantora Careca" (Eugene Ionesco), fotos V. Sampaio; 3a. Edição, "Nas Pegadas do Meu Bumba" (Aci Campelo), fotos V. Sampaio; 4a. Edição, (Especial para Crianças) "A Incrível Viagem da Família Aço" (Lú Gatelli), fotos V. Sampaio; 5a. Edição, "Abajú Lilás" (Plínio Marcos), fotos Adriano Abreu; 6a. Edição, "Woyzeck" (George Buchner), fotos Moaaby Macedo; 7a. Edição, "O Pescador e o Rio" (Gomes Campos), fotos Wagner Santos; 8a. Edição, "Agridoce" (Zen Sales), fotos V. Sampaio e Projeto "Exercício Sobre Medeia", Direção e Dramaturgia de Adriano Abreu.
(Adriano Abreu, idealizador do Projeto/image face Well BM)

Adriano Abreu ao agradecer a presença do público, que acorreu ao evento, lembrou que a 9a. Edição do Ciclo de Leituras ocorreu durante o 12o. Salão do Livro do Piauí - SALIPI, em que o autor homenageado foi Augusto dos Anjos, com texto apresentado (especial poesia) em Récita Augusto dos Anjos.

 (contraplano do elenco do Ciclo de Leituras Dramáticas/image face Well BM)

Para a 10a. Edição do Ciclo de  Leituras, que compôs assento físico e acento de licença dramática no Varandão da CCT e aceno da plateia organizada àquele espaço, a homenagem a um dos, senão o maior dramaturgo da literatura universal, W. Shakespeare. 4 Cenas de 4 Comédias fizeram-se voz e inflexões das personagens shakespeareanas. "Muito Barulho por Nada", "A Comédia dos Erros", "A Megera Domada" e "Sonho de Uma Noite de Verão".

(plateia concentrada nas Leituras/image face Well BM)

Os 450 anos de nascimento do dramaturgo inglês receberam concentrada homenagem e fervor estético artístico no peso cênico e arte do ator e amor declarado por Carlos Aguiar, Luã Jansen, Silmara Silva, Eristóteles Pegado (convidado), Érica Smith, Well BM, David Santos e Adriano Abreu. Um louvor à obra festejada mundo afora e leituras dramáticas pontuais do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense.

(Eristóteles, Luã, Adriano, Érica e Silmara)

Noite altamente cultural. O primeiro aniversário do Projeto Ciclo de Leituras Dramáticas repercutiu arte elementada no exercício do exercício e na boa prática da cena insistida. Como diz Adriano, o Coletivo é de "(...) uma arte geradora de paz, crítica e transformadora. Quem seremos amanhã? Viajantes na eterna Carruagem de Fogo que é o teatro (...)".

(noite concorrida à arte e cultura teatral/image face Well BM)

O Piauhy Estúdio das Artes revigora seu próprio teatro e doa sua experiência a quem interessar. E há quem se interesse, visto que o Coletivo realiza uma ótima ação teatral. Aquece a cena local e é fogo que, também em Fogo e outras variações a temas pesquisados, amplia saber artístico e registra memória e história no teatro local.
(Parabéns a você, Ciclo de Leituras Dramáticas!/image face Well BM)

Parabéns Ciclo de Leituras Dramáticas, filho do sol e equador que lampeja no lado de cá, por quem dobram sinos à canção da cigarra em loas a Baco!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Fogo fátuo

Teatro de pura expressão
por maneco nascimento


Na luz em resistência, abre-se a cena à atriz que brinca de acender palitos de fósforo, com intenção de gerar o fogo, aquecer a sopa e, em dialética de aproximação da linguagem dentro da linguagem, dividir a sopa das palavras e memórias da velha senhora que regurgita seu próprio tempo de resistir ao tempo.

A descrição do autor para o fogo efêmero, que é chama produzida na cabeça de pólvora e sua fugaz luz entre o amarelo atômico de diminuta partícula e o azul que flama em fins de fogo infátuo.

Dali parte enredo inteligente, texto rico de humanidade expiada e o diverso da natureza humana que desfila na trama dramática, com requintes de ironia ácida e, economicamente, histriônica no tempo e inflexão da diva pensada pelo peruano Eduardo Adrianzén e apropriada ao teatro nacional, à Eva Wilma, pelos diretores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas.

Diva esta, que destrincha falas sociais mastigadas ao sabor delicado e tempo de bem viver a profissão na polifonia traquejada de Eva Wilma. Esta entre uma das + queridas do palco brasileiro e dona da personagem do próprio labor construído, no exercício do exercício. Charme e tranquilidade de vinho maturado, uma  dama no panteão de mulheres que defendem  o velho teatro, de tradição e modernidade. Que não perde sua hora e seu tempo de convencer. A Vivinha de sempre, assinatura vívida no teatro brasileiro.

Refletir idade de existir no caldeirão das novidades e novas incursões de modismos e linguagens instransferíveis de contemporâneos criadores, movidos por vaidades, media agressiva e mídias alimentadoras ao efeito cascata do próprio ego "criativo", de diretor do momento, confrontado com a experiência e velhice negadas.

Reunir velhas personagens em busca de um diretor. Um autor em busca do passado não vivido que possibilita, como moeda de troca, a solidariedade amorosa à uma grande atriz, há trinta anos recolhida ao anonimato, é mote ao sonho de retorno à cena em tempos que o pragmatismo transtorna o discurso e transforma o novo teatro em espetacularização de efeitos intransitivos, alardeados pela nova partitura à nova dança e teatro.
(arte divulgação Azul Resplendor)

Adrianzén recorta, significativamente, o tema cáustico proposto e comove e choca ao apresentar seis personagens em busca de sua própria forma de ver o teatro. Azul Resplendor contém a velha atriz; o autor desconhecido; o diretor de sucesso; a assistente de direção obscurecida pelo ego do diretor e amante; a atriz para toda obra do teatro ligeiro e o galã da tevê, com seus músculos, apelo sexual como carta de entrada e cérebro na média de sobrevivência da própria espécie.

Entre humor destilado no ácido digerível e regurgitações consentidas, amargas apresentações de acertos e erros e pavonices com plumagem estéreis, é que Borghi e Elcio vão costurando deliciosas inafeições e morte súbita inconsciente das personagens, do teatro vivo, compostas por Eva Wilma, Genézio de Barros, Guilherme Weber, Luciana Borghi, Débora Veneziani e Felipe Guerra.
(Eva Wilma é Blanca Estela/foto João Caldas)

Blanca Estela, a atriz convencida a retornar aos palcos (Eva Wilma); Tito Tápia, o autor de primeira viagem (Genézio de Barros); Antônio Balaguer, "o Diretor" (Guilherme Weber); Glória, a assistente de direção e diretora eclipsada pelo grande diretor (Luciana Borghi); a atriz do teatro tira-teima e alfaz-drama (Débora Veneziani) e o ator de novela de tevê e monstro alimentado pelas indústrias culturais (Felipe Guerra), confirmam um elenco afinado ao riso e ao entretenimento reflexivo.
(drama em metalinguagem/foto João Caldas)

O metateatro em que estão imergidos os atores e atrizes dá-lhes tempo para solos de apresentação das personalidades das personagens assumidas no mundo do show biz. Fracassos e ímpetos de sucesso se confrontam e contaminam a recepção do público, com uma lição de cor, que talvez permeie boa parte das relações dos bastidores do teatro de qualquer lugar em que hajam humanos e teatro da vida humana a representações e fingimento.

A Cenografia, de André Cortez, muito eficaz. Uma caixa redomada por luzes da ribalta e ambientações que se modificam com o serviço de contrarregra visível e dirigido à medida que a emergência de alteração da cena se impõe. Tudo pragmático, cama ou banco suscitado por praticável no nível do entendimento poético, sala de ensaio ou de imprensa, palco, cadeiras de palhinha (cor branca) que geram ambientes, torres (parede) de luzes que aquecem, ou esfriam o impacto da surpresa e efeitos e novas tecnologias em que as personagens abrem dialogismos com sua própria imagem reproduzidas em vídeo, ou simultaneamente refletida, ao vivo, para espetáculo da informação e notícia em série. Cenografia que atualiza a dinâmica da direção dramatúrgica conspirada.

A Luz, de Lúcia Chedieck, reluz Azul Resplendor. Calor e sobriedade mapeiam o desenredo das personagens, com significados e significantes na medida da sorte conjurada. Norteia os sentimentos espiados e redoma os fluxos de drama (in)contidos.

O Figurino, assinado por Simone  Mina, também compete em equilíbrio entre o óbvio incomum e segunda pele que deixa muito à vontade as personagens, sejam no drama, no metadrama de conluio, sejam nos estilos ao moderno e contemporâneo didático. Afina desenho em croquis convergidos à simplificação e ao rito de respostas à persona + determinante que a vestuária.

Trilha Sonora (Aline Meyer) insurgente e de ritmos incidentais fortes e de densidade convergentes ao todo, para azuis, resplendores e fluidos da fugacidade ecoada na trama reflexionada. A Tradução, do texto de Adrianzén, e Direção Geral, do espetáculo, conspiradas por Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas se completam.

A dramaturgia de cena, dos diretores brasileiros, é perspicaz, inteligente sem ser redundante, moto contínuo do fogo fátuo que é revirado no monturo de Azul Resplendor. Re-criam um mundinho particular, nas performances das personagens, que atomizam completude a ato, cena, arte do diretor e de intérpretes se metamorfoseando nas falas sociais do texto, sem nacionalidade, por estar inserido em natureza escorpiã de qualquer território livre do teatro da vida humana.

Eva Wilma, um esplendor para Azul resplandecido, na verve da própria história emprestada à livre construção da personagem de Blanca Estela. Não contradiz seu histórico, confirma que "tudo acaba bem, quando tudo fica bem". Delicadezas inflexionadas com verdades e convencimento no ato do fingimento.

Genézio de Barros conduz, com carisma, concentração e respeito à profissão, uma dobradinha tênue e ardente com Vivinha, enquanto compõe o Tito Tápia. Revela contenções e rompimento das comportas da emoção suscitada.

Guilherme Weber, uma graça e tônus refinado ao dar vida a Antônio Balaguer, o diretor das novas intervenções da cena contemporânea. Faz-se lembrar de fichinhas carimbadas da novidade em linguagem cênica apregoada como messiânica, amada ou negada pelo distinto da recepção. Tem um "timming" vigorosamente atraente e divertido. Sabe onde pisa, enquanto discursa o teatro para títeres  humanos e sugestionáveis ao teatro indutivo e espetacularizante vendido por Balaguer. Mantém a pira acesa.

Luciana Borghi defende sua vez e fica entre o apelo ao riso programado e texto detalhado no emocional racionalizado e no "metier" de assistente de direção eficaz transversal na metalinguagem de dramas e comédia. Débora Veneziani não foge à regra ao provocar, na sua construção da personagem, o perfil óbvio da atriz multimídia gracejado e mantém uma desenvoltura regular e reta ao propósito da facilitação da cena em resposta ao seu tempo de atriz que compreende sua arte de intérprete.

Felipe Guerra, domina a cena fácil do queridinho da mídia, garanhão da vez e voz que apregoa a efeméride do galã do momento, forjado no teledrama e sem traquejo ao mundo do teatro, mas chamariz de público aos novos tempos do mundo vaticinado por Adorno. Muito convincente, como personagem de si mesmo, caso seja prova de fogo imposta pela direção do espetáculo. Há uma centelha de ironia em que, talvez, personagens possam refletir perfis que encaixem na trama do teatro dessas gerações atuais.

Azul Resplendor é um tapa com luva de pelica. Um fogo fátuo queimando as vaidades apresentadas e, por vezes, refletidas nos bastidores de qualquer representante da plateia. O teatro da cena, fora da cena e emprenhado nas linhas, nas entrelinhas e para além das linhas da natureza humana verticalizada.
(elenco de Azul Resplendor/registro Antoniel Ribeiro)

O azul do palito de fósforo é fugaz, mas emblemático. Traz imagens e margens para licenças poéticas e proféticas fissuras na vida perfeita, jogada para debaixo do tapete, do mundo do show biz. Teatro à toda prova de fogo e lição de amor ao teatro da sobrevivência no universo do teatro da superfície resplandecente.
(Azul Resplendor, em Teresina/registro Antoniel Ribeiro)

Fogo fátuo e teatro de pureza de expressão revelado na metalinguagem de expiação da natureza humana.

(público fiel até o fim/registro Antoniel Ribeiro)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Óia nós aqui travez..."

Somos a Cidade
por maneco nascimento

Teresina é alardeada como a cidade musical, e não está forjando uma imagem. A cidade tem mesmo uma característica da práxis cultural da música, com suas escolas, oficinas, aulas particulares, formação técnica e acadêmica, conservatórios e alhures. 

Também apresenta, nos alicerces desse movimento quem constrói essa música, os professores, mestres, doutores, os profissionais, músicos, compositores, arranjadores, pais de famílias, sonhadores e criadores naturais da pauta musical local, com sua nuances, variações e música também tipo exportação.

Sentimos orgulho de nossa agenda musical criativa e criadora. Mas essa profissão e sua sobrevivência, às vezes sofre reveses e há quem abra reflexão sobre o contexto e quem reforce a reflexão. Frederico Marroquim, alagoano de nascença e teresinense de escolha e radicalização, reflete o momento de sobrevivência do músico local e, eu, não me furtaria de comentar sua provocação. Da sua linha do tempo de Fred, e pauta compartilhada por Dino Alves, colhi essa pérola.

(Marroquim, na linha do tempo/image face F. Marroquim)

A MÚSICA ESTÁ MORRENDO...
Sondo, observo, ouço, e assisto ao assassinato da Música no Piauí. Bandas tradicionais quase dissolvidas, com músicos e regentes sumariamente demitidos. Músicos humilhados, de pires na mão, mendigando aqui e acolá uma noitada em bares e restaurantes (que, aliás, pagam miseravelmente!), sem condições de levar o pão às famílias e na rua da amargura! Músicos do calibre de Rocha Sousa, Beetholven Cunha, Luizão Paiva, entre outros, tendo seus projetos musicais, incluindo escolas, dissolvidos na capital e interior, em nome da “contenção de despesas”, esta sempre usada desculpa para se cometerem os mais sórdidos atos administrativos. Tudo conversa fiada ! Dizem que o Prefeito não suporta Música. Não é obrigado a gostar, claro, mas, em sua função de gestor, tem a obrigação de manter e desenvolver o que já existe. Não existe Cultura sem Cultura Musical, gente! O mais estarrecedor nisso tudo é a passividade dos músicos daqui que, com raras e honrosas exceções, não denunciam a real situação. Acuados, amedrontados, mal ousam falar sobre o assunto. Estarrecedor, também, é o silêncio do Estado, da Prefeitura, dos órgãos encarregados de alavancar a arte musical (e as outras, também) em nossa terra. Com a palavra, portanto, o Prefeito, a FCMC. Exigimos explicações. Vamos acabar com o estigma, a ferida, que se traduz numa frase sórdida que ouço desde que aqui cheguei, em 1980: “O Piauí é a terra do já teve...” Basta, não é?" (da linha do tempo de Frederico Marroquim)
(o pianista, arranjador, compositor, músico, artista, mestre musical/image face F. Marroquim)

E, assim, respondo o querido amigo músico, com quem convivi enquanto foi formador musical da antiga ETFPI, hoje IFPI. Os contextos se modificaram, mas as questões parecem que se repetem, melhor se estigmatizam... Então compartilho, com Fred Marroquim, a recepção de sua reflexão.

(Fred Marroquim e seu piano falador/image face F. Marroquim)

Fred, somos povo do rincão do sertão nordestino. Está no cerne da história da criação do Brasil, de gerações hereditárias ibéricas, que a música nos apraz e nos dá prazer de prática e audição. Somos do sol do equador, da terra rachadas, da política dos carros pipas imposta, dos maiores lençóis freáticos do mundo, e também, nesse contexto atual, de última fronteira da indústria agrícola.

Mas também somos musicais, gostamos de música e sabemos produzi-la, criá-la. Não somos afeitos a neve, caso seja a referência do prefeito "menino" com seus arroubos de idiossincrasias festejadas. Gostamos de farinha, de rapadura, de pequi, de música e de nossos músicos, cidadãos brasileiros também os musicais.

Não é da pecha de administrador deixar que suas preferenciazinhas privadinhas e particulares existam em detrimento da manutenção e fomentação da arte e cultura municipais. O recurso é público, ações culturais de políticas públicas de cultura são obrigações oficiais do cargo executivo para a comunidade.

A prefeitura de Teresina e sua equipe de gestão tangida, nos princípios do princípio do prefeito, sabem do Plano Nacional de Cultura, do Sistema Nacional de Cultura e Cadastro Nacional de Cultura, que abrem margem para fundos federais, a serem aportados em regências apresentadas pelo Plano Municipal de Cultura, Conselho Municipal de Cultura e atos de políticas público coletivas de cultura local?

E, saberia ele, da administração de pavões com penas de plástico que toca a atual fundação municipal de cultura monsenhor chaves? Perdendo processos de pagamentos de artistas, escondendo-se para não atender cidadãos, ou fazendo investimento de maquiagem na sede da gestão cultural municipal, enquanto os aparelhos culturais (casas de cultura) de Teresina estão caindo aos pedaços e na invisibilidade proporcionada pela gestão municipal de cultura?

Senhor prefeito "menino", complexo de peter pan é coisa de boa literatura universal. Melquior é ciência que não cabe a collor, por exemplo. Então goste de sua neve, mas respeite a rapadura, a farinha, de mandioca, e o pequi do sertão e faça as veze s de prefeito de toda a cidade e cidadãos com suas diversidades culturais e musicais.


A Música, o Teatro, a Dança, as Artes Visuais,  e demais linguagens culturais, os cidadãos artistas e seus receptores, agradeceríamos o investimento do recurso público municipal a ações culturais de sobrevivência natural da própria arte e cultura!

Como diria a frase emblemática, atribuída a Mário Faustino,"se cai o nível da linguagem, cai o nível da sociedade". Ponto.
(meu querido amigo Fred/image face F. Marroquim)

Obrigado, Fred, por estar do lado dos não acuados, que não calam. Que lebra da premissa imperial romana "Lembra-te, que não és Deus"

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Da cor brasileira e alhures

O Dia Internacional da Mulher Negra em pauta na cidade 

O Instituto da Mulher Negra do Piauí-AYABÁS oferece um café da manhã, nesta sexta feira, dia 25 de julho de 2014, no Memorial Zumbi dos Palmares, a partir das 8 horas, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Mulheres negras, grupos afros formados de mulheres e o público em geral reúnem-se nesta confraternização. 

Na programação, planejada pelo Instituto da Mulher Negra do Piauí (AYABÁS), que inicia com um “Café da Manhã”, segue com:
- Roda de conversa sobre o “Retrato da Mulher Negra no Brasil/Piauí”
- Lançamento da Marcha das Mulheres Negras/2015, em Brasília/DF e composição da comissão organizadora estadual da marcha.
- Lançamento da Cartilha “Mulheres Negras Piauienses”, produzida pelo IMNP/AYABÁS e que homenageia 20 mulheres que se destacaram, ou se destacam em nosso estado, como Esperança Garcia (in memoriam), Francisca Trindade (in memoriam), Ver. Rosário Bezerra, dentre outras.
- Apresentações culturais nos festejos de Confraternização.

(Esperança Garcia e Trindade/reprodução)

Em continuidade das comemorações, no horário da noite, ainda no Memorial Zumbi, acontece a “SEXTA NAGÔ", com apresentação percussiva de mulheres negras, organizada pelo movimento negro (Grupos Afoxá, Coisa de Nêgo, Ijexá, Condart e Ayabás). Um show, com a cantora Jô Ribeiro, também preenche a programação cultural noturna, a partir das 20h.

As comemorações ao Dia da Mulher Negra têm o apoio da Coordenadoria Municipal de Políticas para as Mulheres de Teresina (CMPM) e do Memorial Zumbi dos Palmares.

Histórico:
O dia 25 de julho foi instituído pela ONU como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, em 1992.

A data foi escolhida como marco internacional da luta e resistência da mulher negra. Desde então, vários setores da sociedade atuam para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero, raça e etnia vivida pelas mulheres negras.

No Brasil, a Presidente Dilma sancionou a Lei nº 12.987, de 2 de junho de 2014, instituindo o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, a ser comemorado, anualmente, em 25 de julho.

O objetivo da comemoração de 25 de julho é ampliar e fortalecer as organizações de mulheres negras, construir estratégias para a inserção de temáticas voltadas para o enfrentamento ao racismo, sexismo, discriminação, preconceito e demais desigualdades de gênero e raça.


O AYABÁS é um coletivo que tem como objetivo a busca da valorização e fortalecimento das discussões acerca da situação da mulher negra piauiense e sua capacidade de resiliência frente às discriminações de gênero e raça na sociedade contemporânea.

Serviço:
Café da Manhã
Comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
As 8 horas
No Zumbi dos Palmares
À noite continuam as ações culturais, com percussivos e show.
O Memorial Zumbi dos Palmares fica na Av. Miguel Rosa, centro sul - em frente a Pax União.
Informações - Sônia Terra
(86) 8867-5493

Teatro em metalinguagem

 Ironias, humor ácido e talento para Azuis e Resplendores

Azul Resplendor é um dos exemplos de espetáculos em que o universo conspirou a favor. Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas, diretores brasileiros, cruzaram com o texto Azul Resplendor, de Eduardo Adrianzén, em 2008, durante um intercâmbio entre países íbero-americanos. 

Adrianzén está entre um dos melhores expoentes da dramaturgia peruana. Paixão, à primeira vista, pela comédia de humor de ironia ácida e evasão da privacidade dos bastidores do teatro, de qualquer teatro do mundo, é o que levou Borghi, Elcio e Eva a empreitarem essa montagem.
(o ator, autor e diretor de teatro, Renato Borghi/reprodução)

O texto que homenageia o mundo do teatro, exibe relações complexas estabelecidas entre os artistas durante a construção de um espetáculo, em que os jogos de poder, os afetos, as ambições, frustrações, entre outras variações do grande teatro humano, polarizam o mundo fora da cena(dentro da cena). 

(o ator/autor[Borghi], o diretor pavão [Werber] e a diva [Vivinha]/fts. J. Caldas)

Azul Resplendor realiza a expiação das entranhas do teatro, a vida comezinha no mundo dos bastidores. Os assuntos fora dos holofotes, mote de curiosidade das pessoas sobre o mundo dos artistas e celebridades, se espalham no texto de Adrianzén, revelam essa intimidade do camarim. Em tempos de culto às celebridades, a peça revela,  crítica e bem humoradamente, o ávido interesse que o público tem dedicado à vida privada dos artistas.
Metalinguagem inteligente e criativa reúne, na montagem do Teatro Promíscuo, realizada pela Renato Borghi Produções Artísticas, a paixão de primeiro encontro da atriz Eva Wilma e dos colegas diretores com o texto escolhido. 

Vivinha comemora 60 anos de carreira e 80 anos de idade e, em Azul Resplendor, realiza quase um revive da profissão, em que a personagem interpretada tem vivências que correm na mesma correnteza das memórias e experiências do teatro.
(Vivinha e Borghi, amigos da cena nacional/fotos João Caldas)

Com traquejo no teatro brasileiro, de imersão pela rádio novela, cinema e mais de oitenta trabalhos computados na teledramaturgia nacional, Vivinha está + que preparada para viver, com muito humor e talento, a personagem da grande diva, de Adrianzén.


(elenco de Azul Resplendor/fotos João Caldas)

Metateatro inspirador, de Azul Respledor, em que Eva Wilma é Blanca Estela, a atriz persuadida a voltar aos palcos, depois de um afastamento de 30 anos. Tito Tápia, vivido por Renato Borghi, é um ator de pequenos papéis, que cuida da mãe enferma. Com a morte da mãe, ele resolve homenageá-la e cria um texto para ser representado por Blanca. Tito, ao  tempo em que convence-a a voltar, também confessa o amor dedicado a ela e mantido em segredo durante anos. 

Alçada do "Crepúsculo dos Deuses", para nova expectativa de grandes personagens, a grande dama do enredo de Azul Resplendor, não se omite da oportunidade de apontar as próprias lições de vida em bastidores e desdobramentos da cena e abre reflexões sobre as experiências observadas  das  novas gerações do teatro.
”Então, os meninos aí - os atores jovens - fazem umas acrobacias bizarras que simbolizam não sei quê do desdobramento do eu... e dizem um monte de absurdos, frases ocas, sem sentido, que ninguém entende. Mas claro, se uma peça é entendida, é muito vulgar, muito careta... Eles justificam qualquer bobagem que sai da cabeça do Sr. Diretor dizendo que o Teatro também pode ser sugestivo, poético... Eles chamam isso de linguagem poética e serve para os pedantes fingirem que gostam. Aí, os artistas, os jornalistas, os críticos, os pseudo-intelectuais, todos podem se passar por pessoas de vanguarda, profundas. Como vão tirar o prazer dessa gente?!” (Blanca Estela, personagem de Eva Wilma, em Azul Resplendor, de Eduardo Adrianzén)

Blanca Estela  aceita o convite do autor, Tito Tápia, de voltar à cena, mas condiciona que um encenador de renome assine sua volta aos palcos. Blanca terá que conviver com os paparicados deuses da nova dramaturgia de espetáculos conceitual, arvorados nas fogueiras das vaidades. 
"...Um crítico do New York Times disse que 'eu devolvi ao teatro os rituais primitivos'. Eu sou primitivo. Não dou às pessoas o que elas querem ver, mas o que elas nunca imaginaram que poderiam ver. Eu sou Antônio Balaguer. O maior diretor deste país. O que marca a pauta. O que sabe. O que pode. O que surpreende. O que assusta. O que faz os demais olharem com inveja para os seus espetáculos e para as filas de seus espetáculos, sempre lotados. O diretor das polêmicas, dos ingressos esgotados. O que ocupa as primeiras páginas e ainda consegue dizer alguma coisa capaz de provocar. O que sempre arruma briga com os anões da arte. E quanto mais eu maltrato os Q.Is atrofiados, mais eles correm atrás de mim. Eu mostro a bunda pra plateia e eles me aplaudem. Sinto vontade de cuspir na cara imbecil de quem diz que me adora..." (Antônio Balanguer, personagem de Guilherme Weber, em Azul Resplendor de Eduardo Adrianzén).

Choques de vaidades e disputado espaço ao clube dos divinizados da espetacularização, os egos estão concentrados no esforço para alimentar a própria carreira, forjada na realeza do sucesso e paparicações.
"...Se você emplaca três sucessos, um atrás do outro, pronto, você está dentro. Já faz parte da realeza. Da casta dos privilegiados. E todos começam a repetir como papagaios que você é a melhor. Mas - sem falsa modéstia – a verdade é que eu sou mesmo..." (Luciana Castro, personagem de Luciana Borghi, em Azul Resplendor, de Eduardo Adrianzén).

Azul Respledor é um bom convite à espiação da intimidade de artistas, enquanto são estes bodes expiatórios da própria condução de vivências e relações intrigantes e defeituosas no grande teatro da vida de natureza escorpiã.

O metateatro, tramado na dramaturgia de Eduardo Adrianzén, conta com Eva Wilma, Renato Borghi, Guilherme Weber, Luciana Borghi, Débora Veneziani e Felipe Guerra, cada um com suas experiências e vida de teatro, na cena nacional. As personagens conflituosas se enfrentam nas peles de artistas brasileiros à dramaturgia peruana.
(arte divulgação Azul Resplendor)

Com Direção e Dramaturgia de cena assinadas por Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas, Azul Resplendor é sucesso de crítica e público e territorializa o conquistado. O jornalista Mauro Ferreira, colunista e crítico musical do jornal carioca O Dia, assim se manifestou sobre o espetáculo:

"O humor ácido do texto corrói os egos de todos os envolvidos com a ação teatral. O texto descortina bastidores nos quais são reconhecíveis diretores egoicos dispostos a demolir tudo e todos em nome de sua 'genialidade', jornalistas/críticos que fingem gostar de montagens herméticas para aparentar intelectualidade, galãs sarados de novelas que fazem teatro somente para conquistar o prestígio até então lhe negado, jovens atrizes tão talentosas quanto calculistas na condução de suas carreiras, enfim, tipos que quem milita no teatro vai saber bem identificar. Além do humor, o texto é costurado pelo afeto dirigido por um ator medíocre (Renato Borghi, diretor da peça que substitui Pedro Paulo Rangel na temporada carioca) a uma grande atriz veterana que já se retirara de cena, Blanca Estela Remíres, papel perfeito para Eva Wilma, precisa em cada fala e gesto. Enfim, "Azul resplendor" brilha. (...) Nem o dispensável colorido melodramático do fim do texto atenua o brilho de "Azul resplendor", peça que já merece uma ida ao teatro somente pelo fato de pôr Eva Wilma em cena, aos 80 anos de vida e 61 de luminosa carreira. Bravo!!!" (Mauro Ferreira, jornal O Dia(Mauro Ferreira, jornal O Dia/Da série "Boca de cena" - Azul Resplendor 16 de janeiro)

 Serviço:
"Azul Resplendor - A Comédia do Teatro" 
Dias 25, 26 e 27 de Julho, às 20h
No  Teatro 4 de Setembro
Informações: 86 3222 7100/9413 8444