sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Tem Baile?

Tem sim, senhor!
por maneco nascimento

"Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Eis ai por que vim assistir a este baile
de terça-feira gorda.
Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?...
Que me importa?
Não há malária nem moléstia-de-chagas nem
ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!" (Manuel Bandeira, Petrópolis, 1925 IN Braga, Rubem. Recado de primavera. São Paulo, Círculo do Livro, 1984. 176p. [Grandes cronistas brasileiros])

O Baile dos Artistas acontece neste dia 31 de janeiro e será para aqueles que declaram,
"Acontece que eu não tenho compromissos/Que me façam despertar pela manhã/Meu horário só começa quando o sol/Faz meio dia e antes disso não me acorde (...) (Estrela da Canção/Ricardo Villas)
(arte divulgação Baile dos Artistas)

Transferido de suas tradicionais edições anteriores, que ocorriam na Galeria do Clube dos Diários - Complexo Cultural Clube dos Diários/Theatro 4 de Setembro, a festa que sempre reúne artistas, intelectuais, jornalistas e foliões inveterados, dessa feita será em Bar da zona leste da cidade.

A alcunha do espaço que receberá a prévia dos dias momescos, Boteco dos Poetas. Parece que nada + apropriado e poético que festa carnavalesca de artistas em Bar que sinaliza para poetas.

+ conhecido como Bar da Iracema, o Boteco dos Poetas é local que tem se manifestado para encontros e investidas. E a Iracema, seria a de Alencar, ou a de Adoniran Barbosa?. Crê-se que, seguramente, não seria nenhuma das duas personagens, personalizadas na memória popular do romance e música popular brasileiros.

A alencarina é romântica e ganhou vida em fins do século 19 brasileiro (1865). Posterizada na obra Iracema. A com "lábios de mel", nas letras de romance da literatura nacional, licenciado por José de Alencar à lenda cearense mergulhada no romantismo.

Também não seria o grande amor perdido de Adoniran, na canção Iracema, "Iracema, eu nunca mais te vi/Iracema meu grande amor foi embora/Chorei, eu chorei de dor porque/Iracema meu grande amor foi você (...)" (Iracema, sucesso de Demônios da Garoa, composto por Adoniran Barbosa)

A promotora/receptora do Baile em sua Casa de shows é Iracema Teles, cantora, justa e afinada em performances de palco e empresária da noite, com histórico de espaços, na cidade, que aglutinam cantores, compositores, músicos e música e mercado livre de trabalho a boteco de artistas. Pois é esta Iracema que recebe o Baile dos Artistas, deste 2015, dia 31 de janeiro, a partir das 21 horas em seu Bat local de eventos.

Como a cultura nacional e dinâmica constante da língua e suas variações de nomes e neologismos, sempre se dão à liberdade criativa e renovada de serem inventivas, o Baile dos Artistas já ganhou, na cidade, nova alcunha. A pecha de Baile da Iracema. 

Junto com o diretor do Theatro 4 de Setembro e o Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão - SATED PI, a artista da noite abraça essa causa, de deslocar o evento da Galeria do Clube dos Diários ao seu Bar, e terá que conviver com o gracejo de promover o Baile da Iracema, pois não!

Baile da Iracema, ou Baile dos Artistas, a verdade é que a agenda está confirmada para esse 31 de janeiro, no Boteco dos Poetas. E, parafraseando frevo quente da música popular brasileira, diz-se que, os foliões da terra que não perdem um pé a bailes e outras manifestações que vingam na cidade e antecedem os quatro dias de folia terçã, atrás do Baile da Iracema/dos Artistas só não vai quem já mordeu outra onda de velhos carnavais. 

Aos aficionados ao prazer da felicidade, devem mergulhar na festa que se principia a partir das 21 horas, deste sábado, 31, e seja o que o deus Momo quiser e até que o dia mostre seu novo dia, "(...) O sol é seu/O som é meu/Quero morrer
Quero morrer já/O som é seu/O sol é meu/Quero viver/Quero viver lá/Nem quero saber se o diabo/

Nasceu, foi na bahi .../Foi na bahia (...)" (Atrás do Trio Elétrico, de Caetano Veloso)
O riso elétrico, a boa alegria só deve se acabar quando, quem sabe, tiver aberto sinais de que o sol vai romper e a aurora vier anunciar que, em seguida, será tempo do meio dia.
Serviço:
Baile dos Artistas
no Boteco dos Poetas
dia 31 de janeiro
a partir das 21 horas

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Ela chega já já

faltam três dias
por maneco nascimento

Depois de quase trinta anos, desde a primeira investida a palcos teresinenses e nacionais, Ela está de volta, chega já já.

Itararé, a República dos Desvalidos ganhou, desde a primeira montagem, em 1986, duas outras novas roupagens.

Uma em 2006 e a que sai, quentinha, do prelo, com laboratórios realizados em fins de 2014 e estreia marcada, incondicionalmente, para dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2015, a partir das 20 horas, no 4 de Setembro, como A República dos Desvalidos. 

Não se surpreenda, o público, se + novidades estiverem inseridas nessa releitura que chega à cena daqui a três dias corridos.

Itararé, a República dos Desvalidos já foi juventude transversada, pop quente decantada, na década de 1980 [ano 1986]; músicos ao vivo acompanhando o elenco a rocks visitados e clássico dramático reservado, à cena de tragicômicofarsesco intertextual de Crispim e sua mãe vingativa, em composições de Aurélio Melo para poemas do autor da peça. Direção de Zé Afonso Lima/José da Providência.

Em meados da primeira década do  século 21 [ano 2006], o espetáculo ganha erudição de arranjos orquestrados e a companhia luxuosa da Orquestra Sinfônica de Teresina, com a batuta de seu diretor, compositor, arranjador, Aurélio Melo, e um mar de músicos e instrumentos preenchendo, com sinfonias pop, os vácuos da Casa de espetáculos e a expectativa do público que acorreu a ver Itararé, a República dos Desvalidos, dirigido por Zé Afonso Lima.
(Zé Afonso A. Lima, ator, diretor e autor desse grande sucesso/imagem reprodução)

Para essa novíssima estreia, em fins de janeiro e primeiro de fevereiro, o texto original de Zé Afonso recebe intervenção de Arimatan Martins e novo batismo. A República dos Desvalidos, alcunhado por Ari, mantém a origem do texto, parte do elenco original de 86 (Lari Sales, Vera Leite, Eliomar Vaz Filho, Fábio Costa) somada aos que ingressaram em 2006 (Bid Lima e Marcel Julian). A boa novidade é a entrada de Edithe Rosa, no papel da Beata Marta Carvalho.
(Arimatan Martins dirige a nova montagem/imagem reprodução)

A leitura arimataneana recupera, também, o circo popular das picardias e histrionismo dosado por José da Providência, quando este convidado por Zé Afonso assumiu o desafio de dirigir e valorizar o teatro de identidade e pertencimento do povo, suas gentes e simplicidade de expressão, através da alegria do picadeiro.
(José da Providência, homenageado n'A República dos Desvalidos/imagem reprodução)

Diga-se, de passagem alegre, que  Provi receberá homenagem nesta montagem, concluída em fins de 2014 e que se lança à cena nesse 2015.

Sucesso de público nos idos de 1986 e histórico de viagens por festivais nacionais e temporada no Rio de Janeiro, o espetáculo voltou uma outra vez +, à cena, em 2006, quando completava vinte anos da primeira investida.

Agora, beirando os quase trinta anos, desde que Zé Afonso reuniu colegas de cena e deu vida a Itararé, a República dos Desvalidos, um novo furacão ameaça pairar sobre a plateia do 4 de Setembro.

Deve abrir sinais de história e memória às novas gerações de público que não conhecem a vida em obra deste espetáculo e também saudar a plateia que acompanha esse fenômeno teatral, insistente em ensaiar retornos. Os que viram o tempo de alegria, em 1986 e 2006, poderão conferir novos tempos de felicidade em palco.

A República dos Desvalidos está plantada. Agora é só colher os frutos que hão de variar do "devez" à degustação madura da arte de fingir, sem desmerecer as já experimentadas versões da dramaturgia zeafonsianas do teatro piauiense.

Quem tem medo de A República dos Desvalidos? Quem não guardar qualquer resistência, há de comparecer, rente como boca de bode. Será tempo só de alegria.

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
às 20 horas
no Theatro 4 de Setembro
Informações: 086 3222 7100

O tempo, o amor, as cartas

de amor, humanas, ridículas, de amor
por maneco nascimento

Quisera nunca ter sido ridículo, nem ser amado, não ter amado, dedicado afeição conturbada, apreensiva, inquieta, sôfrega, feita de amor versejado, dedilhado em orações de esperas, de desejos, de permanência de ser com o amor e estar com o amor revelado a quem almeja o amor do outro. 

O tempo, amor, as cartas de amor, bilhetes, telefonemas, emails, mensagens, signos e siglas, linguagem pragmática de efeitos de atenção e comunicação, ridículas, humanas, de amor as cartas de amor.
(Fernando Álvaro de Campos Pessoa/imagem reprodução)

"Todas as Cartas de Amor são Ridículas                

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
                         
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
                     
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"
(Álvaro de Campos, in “Poemas” [Heterônimo de Fernando Pessoa], Portugal. n. 15 Out 1890/ http://www.citador.pt/poemas/todas-as-cartas-de-amor-sao-ridiculas-alvaro-de-camposbrbheteronimo-de-fernando-pessoa.../acesso 27 de janeiro de 2015 às 10h03)

Só quem assume ser ridículo, não ter medo do ridículo, pode ser um bom ator, ou um bom amante de amor desejado. Todas palavras, os sentimentos esdrúxulos, como diz o poeta lusitano, são naturalmente ridículas. Mas são da verdade do amor, ame-as ou deixe-as livres para encontrar quem as pronuncie à forma do amor a que são ridículas.

"Escrevo cartas.

Escrevo cartas.
Cartas para Romeu.
Missivas que nunca chegarão a lugar nenhum.
Cartas que, como tantas outras, virarão fogueirinhas de papel.
Labaredas a queimar sonhos, desejos, visões: boca com boca, pernas enroscadas, mãos entrelaçadas, corpos compactados e uma só visão.
Meu regresso se aproxima.
No refúgio lamentarei, inevitavelmente, anos não vividos... dias não sentidos... horas não passadas...
Tento afogar este amor no mar de minhas lágrimas.
E como louca em desvario grito baixinho:
'Eu quero amar
Eu quero amar
Eu sei amar!'
Fale. Uma vez só. Fale.
Convença-me, eu peço, de que assim como está é melhor pra nós dois.
Diga. Diga que tudo não passou de uma mera ilusão.
Ou que, (como Julieta), só ficaremos juntos numa outra estação." (Escrevo Cartas. Cartas de amor para Romeu, escrita por uma poeta que prefere o anonimato. Tempo, em qualquer lugar de amar e do amor, 04 . 12 . 14)

Aceito ser dono de cartas de amor ridículas, de sentimentos e palavras esdrúxulas a cartas de amor, de amar, de saber amar e de escrever as falas de cartas e memórias de que todas as cartas de amor são ridículas.

De sentir, de pesar, de sonhar, de amar e renunciar e de ser amor despejado na esperança de sempre amar, de ser amado, porque "Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas."

Logo, escrevo essa carta por te amar, mesmo que sejam ridículas todas as cartas de amor.

[Escrevo-te
Estas mal traçadas linhas
Meu amor!
Porque veio a saudade
Visitar meu coração
Espero que desculpes
Os meus errinhos por favor
Nas frases desta carta
Que é uma prova de afeição...
Talvez tu não a leias
Mas quem sabe até darás
Resposta imediata
Me chamando de "Meu Bem"
Porém o que me importa
É confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida
Mais ninguém...
Tanto tempo faz
Que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa
Que eu sonhava
E guardo a impressão
De que já vi passar
Um ano sem te ver
Um ano sem te amar...
Ao me apaixonar
Por ti não reparei
Que tu tivestes
Só entusiasmo
E para terminar
Amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Tanto tempo faz
Que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa
Que eu sonhava
E guardo a impressão
De que já vi passar
Um ano sem te ver
Um ano sem te amar...
Ao me apaixonar
Por ti não reparei
Que tu tivestes
Só entusiasmo
E para terminar
Amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Escrevo-te           
Estas mal traçadas linhas
Porque veio saudade
Visitar meu coração
Escrevo-te
Estas mal traçadas linhas
Espero que desculpe
Os meu erros, por favor
Oh! Oh!
Meu amor, meu amor!
Oh! Oh! Oh! Oh!] (A Carta/Erasmo Carlos)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dias da República

dos Desvalidos: Itararé
por maneco nascimento

Muito se diz da República velha e nova, quando o assunto é história das repúblicas brasileiras. Do cafezinho ao leite servidos nas decisões dos gabinetes políticos e, depois, a quebra desse padrão que laureava governantes sudestinos (política do Café, São Paulo, com Leite, Minas Gerais).

A partir de 1930 instaurou-se uma nova maneira de administrar a nação (Revolução de 1930, com a ascensão do Presidente Getúlio Vargas ao poder). A "República de Getúlio", ou o primeiro ensaio à perversa ditadura que se instalaria no país, + tarde, (golpe político de Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser conhecido como Estado Novo).

A Era Vargas que só teve corte quando em 1954, o então Presidente e populista Getúlio Vargas capitulou e, saiu da vida e entrou para a história (no segundo período em que governou o país, foi eleito por voto direto. Getúlio governou o Brasil como presidente da República, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando cometeu suicídio).

Mas esta é outra história e aqui não é tempo de discuti-la. No muito citá-la para entrar no assunto + direcionado e que dominará as notícias e louvores de chegada e se instalará no próximo final de semana, de fins de janeiro e início de fevereiro: A República dos Desvalidos.




(é d'A República dos Desvalidos/arte Paulo Moura)

Nos próximos dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro, o espetáculo A República dos Desvalidos ganha o palco e o público da cidade de Teresina. A estreia dessa nova montagem marcará cena no palco do Theatro 4 de Setembro, a partir das 20 horas.

Numa montagem do Grupo de Teatro Pesquisa - Grutepe, com aporte financeiro mediado pelo Sistema Estadual de Incentivo a Cultura - SIEC, através do governo do estado, e renúncia fiscal que beneficia empresas e empresários sensíveis à arte e cultura, a peça vem na esteira de representar-se como a terceira versão do original texto Itararé, a República dos Desvalidos, escrito por José Afonso de Araújo Lima e que teve a primeira estreia em 1986.

A segunda montagem conta de 2006, com direção de Zé Afonso Lima e, essa última montagem, 2014, leva a assinatura, de dramaturgia de cena, sinalizada por Arimatan Martins, que a renomeou como A República dos Desvalidos.

Segundo Bid Lima, envolta nas últimas duas montagens, 2006 e 2014, dessa vez o olhar de dramaturgia desloca-se do bairro Itararé e se espelha nos vários Itararés do Brasil. O lúdico tratando de temas sérios, mas de forma divertida e prazerosa de fazer.

O elenco original de Itararé, a República dos Desvalidos, da segunda metade da década de 80, contava com Lari Sales, Vera Leite, Eleonora Paiva, Cândida Angélica, Zé Afonso, Eliomar Vaz Filho e Fábio Costa e, posteriormente, foi inserida a atriz Izinha Ferreira, como a segunda Beata Marta Carvalho, daquela edição.

Primeiramente, dirigido por Zé Afonso, recebeu em seguida a intervenção de José da Providência que a deixou com um circo montado e reforçou a alegria original da dramaturgia textual zeafonsiana. Este grande diretor, o nosso Provi, desaparecido recentemente, será o grande homenageado nesta nova versão que pre-estreou em dezembro de 2014.

Em 2006, a segunda montagem, quando contavam vinte anos corridos, desde que a peça arroubou público e crítica em palcos, festivais nacionais e teatros diversos, Itararé, a República dos Desvalidos, dirigido novamente por Zé Afonso, deu uma nova guinada e recebeu novos atores, arranjos de Aurélio Melo para orquestra e eruditismos pop experimentados e fez nova história na memória do teatro local. Bid Lima, Marcel Julian e Claudinha Amorim chegaram na renovação do elenco.
(mandala d'A República dos Desvalidos/acervo Grutepe)

Para a estreia local, nestes dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2015, mantêm-se parte do elenco original, Lari Sales, Vera Leite, Eliomar Vaz Filho, Fábio Costa e, Bid Lima e Marcel Julian que chegaram na montagem de 2006.

A grande novidade é a atriz Edithe Rosa, como a + nova Marta Carvalho, uma Beata espevitada, língua solta, de trapo, e fidelizada ao histórico das Martas Carvalho anteriores que muito valorizavam o texto histriônico e venal de Zé Afonso.
(Edithe Rosa, bendita entre estelares/acervo Grutepe)

Para Edithe Rosa, está sendo uma experiência muito boa, muito gratificante. Há pessoas com quem nunca havia contracenado. Gosta "do trabalho + elaborado do Ari. A forma do Ari dirigir com o Zé. Vem a turma toda, foi muito bom", confessa a atriz ao lembrar do processo de trabalhar com Arimatan Martins e Zé Afonso, com quem não tinha tido oportunidade de convivência estreita à cena.

Edithe Rosa está entre "assustada", feliz e empolgada em estar trabalhando com os grandes nomes do teatro da cidade. "Estou muito feliz. Itararé é peça bastante conhecida. A terceira montagem, muita gente quer fazer Itararé, mas me convidaram e fiquei muito feliz em ter sido convidada a fazer a peça", diz muito contente com essa oportunidade.

Sobre as dificuldades que teve, para se adaptar aos novos olhares de diretores e autor, processo de dramaturgia bastante diferente dos que já havia experimentado, conviver com atores tarimbados e com vasta experiência, foi desafiador e obteve muita compensação. "As dificuldades que tive foi só por conta do ter que cantar. Cantar não é fácil. Mas como eles querem uma atriz cantora e não uma cantora atriz, fui me adaptando e acho que consegui me adequar ao todo", fala.

Também declara a atriz, quando refere-se aos laboratórios de preparação à Comédia Musical, que foi muito proveitoso. "O corpo com Fefê", diz ao lembrar da preparação corporal facilitada por Fernando Freitas. "Acompanhou a gente, não exagerou para os 'velhinhos'", graceja, "todos acompanharam bastante. Foi um desafio. Está sendo um desafio. Eu espero que me encaixe. Mas dá pra acompanhar, vai-se acompanhando os músicos. O Ari, Zé, são pessoas legais para trabalhar", reitera ao falar do processo de ouvido musical que tentou encontrar ao Musical e da dramaturgia de Arimatan e Zé Afonso.

A atriz ainda confessa que recebeu muito apoio dos colegas de cena, indistintamente. "O elenco todo é bom de trabalhar. Não senti dificuldades de trabalhar com o elenco de Itararé. Uma coisa muito legal do Ari", diz ao falar do processo específico da direção, "o tempo das conversas com o diretor, quando a gente saía dali, já entendia tudo do texto para encenar. O diálogo já era um ensaio. O ator tem que tá atento, porque ali, nas conversas, já é uma cena que foi construída" finaliza a atriz muito contente de estar envolvida na montagem de A República dos Desvalidos.

O texto de Zé Afonso discute os problemas, dificuldades e a convivência comezinha da vizinhança de "desvalidos" em implantação de políticas habitacionais do governo. A vida como ela é, sem cuspe e assopro, com todas as características simples de pessoas reunidas, nas franjas sociais, e o processo de sobrevivência quando a hora do pega pra capar envolve regras de obrigações mutuárias, futricas e intrigas de vizinhos, amores e brigas familiares, entrecruzadas com amigos do lado e políticas comunitárias de implantação do futuro das gentes em casas populares.

A República da peça não detém o caráter dos negócios e interesses federativos, diretamente, mas está contida no bolo social fatiado a assuntos sócio habitacionais das políticas inclusivas. A República dos Desvalidos não gera mortes, nem grandes mudanças no topo da pirâmide social.

Mas gera mudanças e ou perspectivas de discussão e reflexão dos cotidianos simples das gentes com cadeiras na calçada e, na fachada da casinha, da sobrevivência, inscrito encima que é um lar a ser conquistado a cada dia no selvagem mundo das periferias sociais.

A República dos Desvalidos já gerou boa expectativa e deve gerar muito buchicho e toda sorte de impressões e interpretações que devem somar-se ao histórico das montagens anteriores do espetáculo e deixar um gostinho de surpresa, ou outras recepções livres e necessárias ao moto contínuo do movimento de teatro amador da cidade de Teresina.

O texto original é de Zé Afonso, responsável pela produção executiva e coordenação geral da montagem que se alia à dramaturgia de cena de Arimatan Martins; iluminação de Assaí Campelo e Pablo Erickson; cenografia de Emanuel de Andrade; preparação do corpo, Fernando Freitas; adereços, Wilson Costa; som direto, Zé Dantas; assistente de som, Jocione Borges e programação visual Paulo Moura

Aurélio Melo assina a direção musical, arranjos e composições musicais a partir dos poemas de Zé Afonso. Participam, especialmente, do espetáculo, os músicos Aurélio Melo, Paulo Aquino, Gustavo Baião, Wilker Marques e Gilson Fernandes. Bid Lima cria os figurinos, para esta versão e também assinou os da edição de 2006 e Gislene Danielle, realizou a preparação vocal do elenco.

A peça A República dos Desvalidos tem tudo para repetir o sucesso das versões anteriores. Comédia Musical rasgada e cheia de meandros de dramas, comédias, incursões de veios melodramáticos e farsescos transversados com a cidade, seus mitos e ritos religiosos urbanos da construção social de Teresina e povoada do riso e entretenimento.

Serão dias da República dos Desvalidos: Itararé ! Ninguém perde por esperar, ganha só riso na praça do teatro piauiense. Quem quer vir, vê rá rárárá, porque repetindo velhas fórmulas revisitadas trará, com certeza, nova forma de ver, sentir, refletir e se envolver no teatro vivo que o Piauí tão bem aprendeu a construir.

É palmas pra que te quero. Evoé, Itararé brasis!

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
às 20 horas
no Theatro 4 de Setembro
Informações: 086 3222 7100

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Secretaria da Cultura já...

mesmo que tardia
por maneco nascimento

Já que queremos, também entendemos que para a criação da nova pasta, Secretaria da Cultura do Estado, seria necessário a abertura do ano legislativo, exercício 2015, suas excelências de nobreza deputadas deveriam voltar a Casa de trabalho e prestação de serviços públicos coletivos, como representantes do povo e, o governador do estado, na urgência de confirmar discurso de campanha, encaminhar projeto de criação da Secretaria.

Em estado de+ discursos de quebradeira e contas em vermelho, a criação prometida da Secretaria da Cultura do Estado do Piauí, deve seguir ritos de estudos, planejamentos, viabilidades orçamentárias, leis de observação de finanças e obrigações fiscais, confecção textual de clareza e eficiência efetivas e pronúncia pública do governo, em Casa legislativa, creio eu, na minha humilde curiosidade especulativa.

(governador W. Dias/imagem: portalzapnotícias.com.br)

Que o governo vá encontrar dificuldades de implantação da Secretaria, ou tenha que magicalizar fusões e ou xipofagar ações aproximadas de cultura, com outra(s) pasta(s), não parece ser segredo a ninguém, haja vista um aparente inchaço de pastas a secretariáveis coalizados e uma dor de cabeça que não parece ser resolvível com analgésico. Terá o governador que ser pragmático, político e responsável sem parecer  imaturo, nem desviar-se do comprometimento político e administrativo.

Sabe-se que poderia, o governo, ser pedra de se toque para existir, bem na fita, em cumprimento de prometido em plataforma eleitoreira, quando o assunto é o eleitor e sua procuração de confiança no político que demonstrou, em detrimento de posturas eleitorais outras,  abrir possibilidades e preocupação também com arte e cultura e políticas público coletivas voltadas a assunto que não tem fim e tem mercado, profissionais envolvidos e interesses de produto de absorção comercial e economia longe da cultura popular brasileira de que cultura é a prima pobre de qualquer governo.

Então, com a palavra, o governador do estado do Piauí, Wellington Dias. Algum sinal de fumaça que declare realidade, já que a metáfora não romantiza comunicação gentia, deverá se concretizar à existência formal e oficial da Secretaria da Cultura do Estado, ou não me chamo alfredo, francisco, joão, raimundo, josé, antonio, frank, sônia, jorge, maria, socorro, fátima, fábio, wellington, ou divindade promissora de anseios sociais e de políticas públicas de cultura.

Há alguns artistas que têm, isoladamente, se pronunciado nas redes sociais, a respeito da criação da Secretaria da Cultura do Estado. Em seus perfis e outros suportes tecnológicos do fluxo informacional de notícias ligeiras e repercutidas, em cadeia de amizades transversalizadas, fazem algum barulho. Parece, ainda, que a manifestação desses artistas seja pregar no deserto. Ledo engano. As redes sociais têm também seu papel de provocação, informação, notícia e abertura de porteiras de discussões coletivas a assuntos em pauta.

Para os artistas da cidade de Teresina e do Piauí, em geral, é venal a criação dessa pasta específica dentro do hall de secretarias e orçamentos próprios, no estado, que viabilize, realmente, ações e projetos culturais a quem precisa ver-se representado, como incluído, nesse bolo de recursos e finanças públicas direcionadas a bens imateriais e intangíveis, dentro dessa matéria de execuções financeiras do dinheiro contributado por todos os cidadãos que esperam o retorno de benefícios, também à cultura.

Provocar, insistir, manter a cobrança pela criação da pasta específica de cultura deverá ser a prova dos nove de artistas e envolvidos direta, ou indiretamente, com assuntos artísticos e culturais. Esses mesmos artistas têm tido a experiência desastrosa, de pouca eficiência da Fundação Estadual da Cultura - Fundac, no que diga respeito a mediar ações reais de políticas públicas de cultura.

Local de assentamento de coalizão de interesses e acomodação política de resultados de eleições, parece que a Fundação vem, celeremente, despencando ladeira abaixo. Sem orçamento próprio e dívidas, feito bola de neve, que parecem nunca ter fim, aFundac não consegue nem manter a livre iniciativa de Fundação, ou autarquia, a que estaria talvez denominada.

Dependente, exclusivamente, das migalhas caídas das folhas e canetadas governamentais, ao longo do histórico de sua existência. Com um desfile de presidentes, sem escolho ou independência financeira para gerenciar, não se tem notícia de que tenha tido, realmente, algum momento que a fizesse dona de sua cabeça e de suas decisões, sem ter que pedir a bênção subserviente ao detentor do momento financeiro governamental.

Pecamos nós, eleitores e artistas, especialmente, aqui no uso da culpas de introjecção religiosa cristã, por não sermos organizados na eficientização de cobranças e postura de diálogo com os governos, quando tomam estes decisões que arbitram só o interesse político, em detrimento da arte e cultura do estado. Que artistas continuem se posicionando, este pode ser o momento. Sempre é o momento para ser político e cidadão cônscio de suas responsabilidades em favor de bens coletivos.

O ator Francisco Pellé acredita que se precisa forçar a participação de entidades públicas ligadas à cultura. Que tomem uma posição, ou não (grifo meu). Mas precisam ser + político(a)s e saírem das sua zonas de conforto. Se pronunciem pra gente ver.

Então tomo a iniciativa de perguntar, onde estão o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Piauí - Sated-PI e agremiações afins, Conselho Estadual da Cultura - CEC, Academia Piauiense de Letras  - APL, Ordem dos Músicos do Piauí, Associação dos Músicos do Estado, Associação dos Artistas Plásticos do Piauí, Música para Todos, Associação dos Violeiros do Piauí, Representantes da Cultura Popular, intelectuais da cidade, Ongs de viés artístico cultural e associações que lidam diretamente com cultura e arte?

Não seria a hora e a vez dessas empresas civis, sem fins lucrativos e culturais, dizerem a quem servem, ou capitularem de vez? Como diz Maiakovski, se silenciam não precisam de língua. Disse o outro poeta, o brasileiro, que a língua é nossa pátria. Mas é preciso defendê-la, ser parte dela e lavourar para que ela exista e seja real, como devem ser arte e cultura e bens coletivos intangíveis.

Há uma promessa de campanha do governador atual à criação da Secretaria da Cultura do Estado. É preciso que haja forças e cobranças para que essa promessa se efetive. Ou a governabilidade generosa achará que tudo está bem, quando tudo fica bem, acomodado. Sem postura de solicitação veemente dos serviços públicos coletivos, necessários à sobrevivência da sociedade, mesmo em momentos de adversidades, o mundo governamental viverá só refrescos.

A outro poeta é atribuído a alcunha de que "se cai o nível da linguagem, cai o nível da sociedade". Só o cidadão e forças coletivas poderiam reclamar suas próprias necessidades e sobrevivência saudável. A sorte da provocação está lançada.

Agora é esperar, em movimento e nunca manso, que se veja viabilizada a criação da Secretaria da Cultura do Estado. Mas o cidadão deve interagir e forçar que o governo se mexa, senão estaremos sempre fadados ao descaso e sujeitos propícios à queda do nível da linguagem.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Elas e Eles

Eles e Elas são Desvalidos
por maneco nascimento

"Querido Maneco. Quero dizer sobre A república dos desv. É a maturidade e competencia do seu elenco, sobre Tudo o diretor Arimatham Martins. Ele tà demais. Sem contar com a bela musica do nosso autor e nosso ESPETACULAR maestro,..Aurelio. Bj. Bom domingo. To indo daqui a pouco p. ensaio.lari" (mensagem enviada, via celular, pela atriz Lari Sales às 9h03 do dia 14/12/2014)

A colega de cena, Lari Sales, enviou esta mensagem após tê-la entrevistado para matéria produzida e publicada no Leia-se, de 16 de dezembro de 2014, intitulada República dos Desvalidos - Itararé eternamente. 

Havíamos conversado sobre sua experiência em três montagens, três diretores, um a cada versão trazida ao palco, mudanças de colegas de cena e o ponto vista particular da atriz ao resultado de cada encenação.

Conversamos sobre o espetáculo na sexta feira, 12, mas só publiquei a matéria na terça, 16, data de pré-estreia do espetáculo que ocorreu no CEU, equipamento cultural instalado no bairro Santa Maria da Codipi, zona rural norte de Teresina. Quando a mensagem foi lida, já havia publicado o texto e guardei a informação a novo cartucho.
(Lari, Bid e Vera em cena da macumba[2006]/acervo Grutepe)

Lari Sales começou a fazer teatro, em Teresina, nos meados da década de 1970. Uma geração vívida que forçava revirar a cena local e interagir com os decanos dos anos 50 e 60, como Santana e Silva, Ana Maria Rêgo, Tarciso Prado, Gomes Campos, entre outros.

O Cepi - Centro Integrado de Artes, criado pelo visionário Alberto Silva, também na segunda metade dos 70, foi canal de aproximação dos novos artistas ao canto, teatro, música, artes visuais. Este laboratório da invenção artístico cultural, que reunia o diretor de teatro Murilo Eckhardt, o músico e regente Reginaldo Carvalho, et al, teve papel fundamental nessa retomada do fazer artístico em Teresina.

Nessa efervescência, provocada pelo Cepi, surgem ótimos atores e atrizes, diretores e uma infindável atração de pessoas que geraram a fruta madura que hoje é referência cultural. Lari Sales surge, também, com aproximação e afinidade a pessoas ligadas a esse movimento cultural e faz, na sequência, sua estreia no teatro.

De lá pra cá são muito + de três décadas de amor à cena. Entre seus sucessos, "Quinze Anos Depois", de Bráulio Tavares, em que dividiu o palco com Fábio Costa; "Raimunda Jovita na roleta da Vida" e "Os Dois Amores de Lampião antes de Maria Bonita e só agora revelados", de Chico Pereira da Silva; "A Farsa do Advogado Patelin", autor desconhecido; "Le Defunt", de René de Obaldia, em que dividiu cena com Carmem Carvalho; "Os Satimbancos", de Chico Buarque de Holanda; "Apareceu a Margarida", de Roberto de Athayde; "A Rainha do Rádio", de José Safiotti Filho e "A Casa de Bernarda Alba", de Garcia Lorca, em que desempenhou uma Bernarda surpreendente.

Um repertório vasto e inquestionável dessa amante do palco que recebeu o título de nova Dama do Teatro Piauiense, já que vinha na esteira da querida e velha Dama dos Palcos Piauienses, Ana Maria Rêgo, pioneira na coragem e força de cunhar palcos e dramas. Esta, homenageada com o próprio nome ao Festival Nacional de Monólogos "Ana Maria Rêgo", concurso que. depois de vinte anos ininterruptos, foi deixado de lado pela política lazarina da pasta municipal de cultura. O nome e a memória se fincaram na história, apesar das adversidades.

Da força de Lari Sales, é estrela fixa no elenco de duas montagens anteriores para "Itararé, a República dos Desvalidos" (1986 e 2006) e, na novíssima leitura que estreia dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro. Atriz intensa e dramática de preencher  os ambientes com inflexões de arroubo denso, Lari dividirá, em A República dos Desvalidos, dirigida por Arimatan Martins, seu tempo de atuar com as não menos talentosas e brilhantes estrelas consteladas e gerações integradas.

(esses doces e bárbaros d'A República dos Desvalidos/acervo Grutepe)

As colegas Vera Leite, voz e dramas bem articulados e maturada experiência em palcos piauienses, cariocas e ludovicenses, estando presente em grandes montagens da cena no Rio (Cia Carioca de Teatro Soninha de Paula), São Luis (Marcelo Flexa, Urias de Oliveira, César Boaes e alhures) e Teresina (Grutepe, Zé Afonso e José da Providência; Cia de Dramas e Comédias, Lari Sales e Fábio Costa; Harém de Teatro, Arimatan Martins).

Bid Lima, que já provou sua marca, desde a Oficina Procópio Ferreira, Grupo  Asmodeus, e com passagem garantida e comprovada, de resultados eficazes, pelo Núcleo do Dirceu, Tribo Teatro e Grupo Harém de Teatro. Artista visual, também assina os Figurinos das montagens de 2006 e 2014.

Edithe Rosa, com identidade de atriz profissionalizada na disciplina de vencer os lobos e não ser carne fácil à matilha, detém ação pelo Tribo Teatro (cinema e palco); Mosay de Teatro, de onde rendeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival Nacional de Monólogos "Ana Maria Rêgo". Essas meninas poderosas estão toda energia para a estreia que se aproxima.

Mas A República dos Desvalidos é também d'Eles. Fábio Costa, da geração de Lari Sales, inclusive com parcerias certeiras com a atriz. Do elenco original de Itararé, a República dos Desvalidos, Fábio está na zona de conforto quando o assunto é tema de Zé Afonso de Araújo Lima. Criador do Palhaço eletrônico Leleco, filho direto do animador Leleco que, em algum lugar do passado dividiu cena com Lilica, criada por Vera Leite. Há + de vinte anos Fábio Costa mantém, na memória infantil da cidade, o Palhaço Leleco, através do Programa de Tevê TeLeleco.

Eliomar Vaz Filho é outro original das primeiras montagens do texto zeafonsiano. Confirma 1986, 2006 e, agora, a de 2014. Conta com o vozeirão e construção da personagem, entre bonachão e melodramático que a dramaturgia do autor e diretores sempre provocaram. Com passagem pelo Tribo Teatro, em várias versões d'A Paixão de Cristo de Bom Jesus, o empertigado Eliomar é ator pra toda obra que lhe chegue como script. No Grutepe, faz parte do elenco fixo da Companhia.

Marcel Julian, ator desde os tempos de Amantes Delirantes, quando participou da montagem de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, dirigida por Arimatan Martins, foi confirmar profissão no Grupo Harém de Teatro onde permanece há + de vinte anos e amadureceu a própria veia de atuar no fenômeno Raimunda Pinto, Sim Senhor!, de Chico Pereira da Silva.

Fez incursões na Companhia Carioca de Teatro de Soninha de Paula e tem cadeira cativa no Tribo Teatro, de Franklin Pires, quando chega a paixão para A Paixão de Cristo de Bom Jesus. Sabe ser ator e carismático.

Não bastasse esse elencão de atores e atrizes estelares, se assomam a este o texto original de Zé Afonso (escritor, poeta, advogado, dramaturgo, diretor e ator de teatro e amantíssimo da arte e cultura transversadas), responsável pela produção executiva; a dramaturgia de cena de Arimatan Martins (dramaturgo, poeta, ator e diretor de teatro); iluminação de Assaí Campelo e Pablo Erickson (iluminadores piauienses de ponta).

cenografia de Emanuel de Andrade (ator e cenógrafo); preparação do corpo, Fernando Freitas (ator, bailarino, coreógrafo, diretor de teatro e arte educador); adereços, Wilson Costa (ator, diretor de teatro, aderecistas, maquiador e figurinista); som direto, Zé Dantas (sonoplasta de mancheia); assistente de som, Jocione Borges; programação visual Paulo Moura (poeta, artista visual e publicitário).

A direção musical de Aurélio Melo (maestro da Orquestra Sinfônica de Teresina e regente de Coral), arranjador e compositor musical dos poemas de Zé Afonso. Na participação especial, na cena, os músicos Aurélio Melo, Paulo Aquino, Gustavo Baião, Wilker Marques e Gilson Fernandes.

No time feminino, área técnica, ainda as presenças luxuosas de Bid Lima (atriz, coreógrafa dança nova, artista visual e arte educadora), criadora dos figurinos, e Gislene Danielle (atriz, cantora de canto popular e lírico, professora de canto e arte educadora) como preparadora vocal. Essa é uma peça de homens e mulheres de sucesso. É d'Elas e d'Eles.

"Maneco amado. Li É da República. Que olhar bonito voce tem sobre nos. Espero e faremos tudo para estar a altura.bj.boa noite.lari". A colega me envia + uma mensagem, às 18h08, do domingo, dia 18/01/2015. Refere-se ao artigo É da República - dos desvalidos, escrito e publicado em 7 de janeiro de 2015, postado por Leia-se/Letras e letteras, às 12:46.

(Lari, Vera, Marcel, Eliomar, Edithe, Bid e Fábio: álbum de família/acervo Grutepe)

A República dos Desvalidos, um time de meninos e meninas que jogam pra ganhar sempre. Espetáculo, que conta com o aporte financeiro do Sistema Estadual de Incentivo à Cultura - SIEC, marcará bordereau no palco do 4 de Setembro e segue carreira ao Rio de Janeiro para apresentações, em março, no Teatro Princesa Isabel.

 A dica está dada, agora só falta você. Reaja pra gente ver!

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
às 20 horas
no Theatro 4 de Setembro
Informações: 086 3222 7100

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Para anjos e mortais

o céu que nos protege
por maneco nascimento

"Engraçado Arnaldo, estive pensando/Ou estou baratinado ou nem sei se estou voando (...) se no Ceará o Orós estourou, as águas viraram manchete (...) o Piauí piorou melhorou, e você sabe meu irmão. Não precisa que eu revele, quando o progresso chegou e meu povo voou nas asas do Caravelle (...)" (trecho de música piauiense, gravada na voz suave rouxinol de Laurenice França/composição Geraldo Brito e Durvalino Couto/direto do túnel do tempo da áurea época de festivais da canção local e da geração movimento mpb-pop-cajuína da terra)

Esse anjo, poeta, louco, torto, contemporâneo, amigo do Torquato e filho do Barrocão, na terra do sol do equador tomou posse das asas do Caravelle e, feito anti super herói da vida real que nos é sina, partiu para as estrelas em nova cena,

No último dia 8 de janeiro de 2015, há doze dias avançados, o deus ex-Machine aliviou a catarse desse homem trágico e cômico de humor refinado, econômico e venal que, em sua geração, tão bem soube maturar e regurgitar para não fazer-se excessos, ou jogar inteligência fora.

Arnaldo Albuquerque, querido das novas gerações de quadrinistas, desenhistas, chargistas, cineastas amadores, estudantes, pesquisadores e curiosos apaixonados, sempre manteve-se na sua e "na boa". Quem pode se aproximar dele, privilégio registrado. Quem não teve essa chance, admirou-o de longe e guardou esse amor para si mesmo.

Da geração do cinema superoito, marginal, glauberiano e ruyguerreano, fez das suas e também interagiu cinema com o poeta e anjo torto das ruas do Barrocão, o amigo Torquato Neto. O filme "(...) Adão e Eva do Paraíso ao Consumo, onde o Torquato fazia o papel de Adão e a Claudete Dias, que é historiadora da UFPI, fazia a Eva. Esse filme é do Edmar Oliveira e do Carlos Galvão e foi filmado pelo Arnaldo; o doutor Noronha produziu e fez o still fotográfico (...)"  (entrevista com Durvalino Couto Filho, concedida a Jaislan Honório Monteiro In http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/15-ent-DurvalinoCouto.pdf/[revista dEsEnrEdoS - ano IV - número 15 - teresina - piauí - outubro novembro dezembro de 2012])

Dono de traços e tintas desenhadas a sangue e fogo da expressão genuinamente piaughuy, esse bom menino "perdeu-se um dia entre a cozinha e o corredor" das artes visuais e nunca + deixou essa verve de artista e boêmio de intensidade de viver a própria vida em seu escolho desejado.

No emblemático dia 8 de janeiro fechou as janelas da anima, desviou-se de continuar bebendo as águas doces do Poti e de percorrer as velhas memórias do barrento e velho Monge cobreado pela zona urbana da cidade verde e transmigrou à terra paralela e Casa da liberdade dessa matéria que nos obriga missionário de cumprir tempos de esperas. 

Foi ao clube dos amigos e encontro dos moleques que corriam A Rua e registraram memórias e histórias de um tempo que não acaba. Reunir-se aos seus pares, os chapas, e rir e relembrar e trocar umas fichinhas, uns leros com a rapaziada com quem dividiu brinquedos, brincadeiras e afeições inestimáveis aos que desconhecem esse privilégio arnaldalbuquerqueano de ser feliz. Salve amizade!

Cansou dessa chatice daqui e disse sim à nova felicidade a ser degustada, devagarinho, talvez sem qualquer pressa, ao sabor de cajuína, ou gole de uma "branquinha", quem sabe. Desse testemunho nada a registrar, só especular e versejar que seja muito bom, obrigado, esse encontro em novas Ruas, novos cursos, leitos de águas claras, de memórias, de histórias de um tempo que não acaba, como diz Torquato.

Lembrar da Santa Luzia, São João, Pacatuba, José dos Santos e Silva, ruas do Barrocão, e matar essa saudade contida dos meninos que corriam atrás de bandas, de bundas,  de meninas, e de estripulias e outras traquinagens trocadas ao tempo da felicidade infante e juvenil na velha Teresina.

Esse poeta dos desenhos impactantes e temas fortes e de ironias muito inteligentes que, se literárias, seriam magias do Bruxo do Cosme Velho, mas como plásticas só arte refinada do arteiro e engraçado concentrado Arnaldo.
(recostado na parede do céu, Arnaldo pensa: "voltei pra casa, meu!"/acervo: http://bernardohq.blogspot.com.br)

Um, entre os diversos admiradores de Albuquerque, compôs um texto resgate, homenagem e registro de memória e história desse gauche das tintas e riscos do desenho enquadrinhados. Bernardo Aurélio, historiador e quadrinista diz + sobre o artista em trabalho intitulado Arnaldo Albuquerque e sua Obra.


[No ano de 2002 eu tentava organizar a quarta edição de uma pequena, porém calorosa feira de quadrinhos no Piauí. Já tendo noção do que representava a obra de Arnaldo Albuquerque para a história da arte do Estado, decidi convidá-lo a ministrar algumas palavras no referido evento (...) 

Fomos eu, Pedro Victor (que me ajudava na organização) e Amaral, partimos ao encalço do Arnaldo. Em frente a uma casinha na rua José Santos e Silva, no centro de Teresina, nós três batíamos palmas firmemente. Com a naturalidade de quem estava habituado a isto, Amaral disse que ele não estava em casa, mas que seria facilmente encontrado, afinal, havia poucos botequins pela vizinhança. Na segunda parada, lá estava ele: alto, magro, cabelos grisalhos, barba por fazer, camisa quadriculada, sandália tipo franciscano e um enorme óculos, emoldurando seu rosto. Ali, sentado em um tamborete, com uma dose de branquinha ao lado, conversando com uns amigos no barzinho da dona Bebé, sua prima.

Falamos. Disse-lhe que queria uma palestra. Ele topou, não sei se ficou entusiasmado. Arnaldo e Amaral, dois artistas tão autorias, falariam para vários leitores de X-men e Dragon Ball Z. Tinha de ser um sucesso. No dia marcado, a meia hora de se iniciar a palestra, Amaral chega sozinho e perguntando por seu colega. “Se eu sei...”, respondo. Hora marcada e nada! Ele parte à caça de Arnaldo, mas nem sinal. Amaral faz a palestra sozinho, e hoje, quando pergunto a Arnaldo porque faltou ou aonde teria ido, ele responde: “Você já havia me procurado antes?”.Dois anos depois, voltei àquela mesma casa, bati palmas e decidi ir até a dona Bebé. E lá estava. Quando lhe disse que eu organizava um evento, que queria uma exposição sobre o que havia produzido nas artes plásticas, porque queria homenageá-lo e criar um troféu com seu nome para premiar os melhores quadrinhistas que aparecessem, e mais, preparar uma reedição comemorativa de 30 anos de Humor Sangrento, publicação de sua autoria, além de dizer que seu trabalho era objeto de estudo da minha monografia de conclusão de curso, ele sorria para si mesmo, coçando levemente a cabeça, acanhado e repetindo: “...Quanta homenagem!...”.] Arnaldo Albuquerque e sua obra/por Bernardo Aurélio In http://bernardohq.blogspot.com.br/2008_11_01_archive.html terça-feira, 18 de novembro de 2008 postado por Bernardo Aurélio às 18:50 /acesso 20.01.2015 às 11h 30)

O historiador quando rebusca o portfólio de Arnaldo traz novidades para aqueles que nunca souberam, ou não sabem quem é Arnaldo Albuquerque. Um currículo invejável detém esse nosso artista irreverente e único.

[Afinal de contas, o que este figurão tem de especial? Arnaldo, teresinense de 1952, é planejador gráfico, mas divide seu currículo em um considerável leque artístico que aponta o pluralismo de sua capacidade: faz pintura, publicidade, fotografia, cinema, jornalismo, quadrinhos e organizou importantes eventos musicais no Piauí. Nos mais completos catálogos de artistas plásticos regionais, seu nome está incluso, mostrando suas pinturas. As ilustrações estão presentes em inúmeras capas de livros e cartazes de eventos, são também responsáveis por lhe premiar no exterior, como na Argentina e México. Teve páginas inteiras, tiras e charges em jornais locais, como o O Dia, publicou no Pasquim, o mais importante periódico cultural do país e fez a diagramação do Grama (possivelmente o primeiro jornal mimeografado do Brasil, como teria dito Heloísa Buarque, segundo o próprio Arnaldo), além de participar em outros nanicos. Seu trabalho competente na fotografia lhe possibilitou filmar com super-8 uma quantidade considerável de curtas, um dirigido pelo próprio Torquato Neto (grande expoente do movimento tropicalista), que inclusive se tornou seu amigo e grande influência. Na década de 1970, organizou o Show Piau, evento de intenso caráter popular onde revelou grandes nomes da música piauiense, como Dovalino, Couto Filho, Geraldo Brito e Rosinha Lobo. Sua habilidade com desenho e câmera fizeram de Arnaldo um premiado em concursos no Maranhão, Sergipe, Acre e Espírito Santo, com a animação Carcará Pega Mata e Come. Além de tudo isto, no ano de 1977, nosso artista lança a revista Humor Sangrento, primeira publicação de quadrinhos do Piauí. Nas 36 páginas voltadas para o quadrinho na edição, foram produzidas 23 pequenas estórias. Fica claro que a grande maioria delas limitavam-se a apenas uma ou duas páginas, aliás, esta é uma das principais características do autor: ser breve, mas contundente. Para que se entenda melhor sua obra em quadrinhos é preciso conhecer mais um pouco sobre ele próprio (...)(Idem)

Criador de quadrinhos extraordinários, narrativas instigantes e temas adversos e identitários a anarquias estéticas e reflexões sócio políticas, aplicadas ao suporte linguístico plástico, mediador das vozes sociais na pena e tintas do poeta do desenho e falas do artista inquieto, insubordinado e autêntico.


[A infância em Teresina, seu contata com o forte regionalismo nordestino, seja na música, no artesanato ou mesmo no simples modo de viver, a presença constante da leitura de quadrinhos, as inúmeras seções no cine Rex e, conseqüentemente, a paixão pelo cinema, a convivência com o período da ditadura militar, sua partida para o Rio de Janeiro em 1969, aos 17 anos, o contato com o novo na política e o engajamento artístico tanto em películas mais ousadas, como as de Glauber Rocha e Ruy Guerra, como nos quadrinhos underground de Robert Crumb e Gilbert Shelton, da lendária revista norte-americana Zap Comix, tudo isso, entre outros detalhes importantes, fez com que, em 71, quando Arnaldo retorna a Teresina, sua bagagem, repleta de cultura popular vanguardista, o colocasse em destaque no cenário cultural piauiense.

Em se tratando do conteúdo de Humor Sangrento, pode-se destacar suas características conceituais regionalistas, da mesma forma que o forte sentimento antiimperialista e a contextualização com a política da ditadura brasileira. Em De Como Meu Herói Matou o Bandido, por exemplo, percebe-se uma estória traçada em dois focos de acontecimentos simultâneos, culminando no confronto entre dois mundo ligeiramente semelhantes: O do cangaceiro contra o do velho oeste norte-americano. É tratado da defesa, como também, da luta e da “revalorização do nordestino”, enfrentando e conquistando seu espaço, não apenas na vida, mas também no mercado editorial brasileiro. Carcará, uma outra estória, tem suas semelhanças com De Como Meu Herói Matou o Bandido mostrando a luta contra os quadrinhos estrangeiros, quando Capitão América é morto por uma pedrada de baladeira, mas é bem mais que isso: mostra a imposição imperialista norte-americana, simbolizada claramente pela águia, retirando a vida e as possibilidades de um nordestino recém-nascido, como também uma luta desigual, da mesma forma que Davi versus Golias. Cabeça de Cuia e Num Se Pode são releituras de lendas piauienses, atualizando nosso folclore. Em Censurado e Deduragem, temos um belo retrato de como Arnaldo poderia apresentar nosso país a quase trinta anos. Isso, sem ainda se aprofundar na quantidade de técnicas que utilizou para edificar sua obra: se fossem bem analisadas as estórias Hara-Kiri, De Como Meu Herói Matou o Bandido, A Cavalaria Passa. O Cão que Ladra Morre, Parir Sempre e mais uma ou duas sem título que se encontra na revista, poucos afirmariam, com plena certeza, que se trataria do mesmo autor. 

Humor sangrento é um único exemplo de onde já se é possível visualizar o pluralismo da concepção artística de Arnaldo, afinal, como ele próprio considera, a revista é um grande manual que apresenta ao leitor diferentes técnicas de construção do quadrinho.

Arnaldo Albuquerque, para nossa felicidade, ainda produz, alguns de seus super-8 estão sendo trabalhados para uma possível restauração. Os desenhos que originaram as animações, centenas de papezinhos manteiga, aguardam serem novamente animados. Suas telas estão espalhadas em casas de amigos e desconhecidos. Infelizmente, o que você tem em mãos contempla apenas uma parte de sua produção nas artes gráficas, ficando ainda desprestigiado, de forma merecida na história, grande parte de sua obra em outras áreas.Em 2007 a Humor Sangrento contempla 30 anos de lançamento e sua reedição reformulada e ampliada é um presente e uma introdução ao mundo do Arnaldo... Aproveite!] (Idem)

Esse Bernardo soube bem homenagear o artista Arnaldo, que era mesmo arredio a homenagens e, como diria este, "Quanta homenagem! E, cá, emimesmado com minhas abotoaduras em casa de algodão cru ou morim tingido com tintol, aquecido em fogão de lenha, devo reconhecer que esse menino historiador fez muito bem as vezes de aclarear, aos incautos, notícias desse outro menino, anjo descido ao tempo dos mortais para também ser torto e gracejar na simplicidade provinciana das terras mafrensinas.

Engraçado Arnaldo, estive pensando que, embora tenha ficado baratinado com sua fugaz ida, bem sei que está revoando campos do Senhor e, feito juriti, alçando voos ruidosos sobre a calmaria das terras de fontes de águas frias e fartura coroadas no inventário popular.

Habitante das geografias de São Saruê, tá de boa e, vai nessa bicho, porque o que é do homem e do artista safo o Papa não come.

O tempo da Mulher

em A República dos Desvalidos
por maneco nascimento

"Mulher prezada e descabida/Sem rumo e além do viver/Corre as torrentes perdidas/Sem ilusão desvalida/Na ânsia de te querer/Como quem passa no mundo/Arrastando o coração/Sofrendo sufoco profundo/Nos cabarés tão imundos/Nas dores das solidão//Me rói, me dói, consome/Me rasga, me queira, me come/Me vira ao avesso, me dá outro preço/Que eu não desmereço tua louca paixão/Me fere, me lambe, arrebenta/Me traga, me esfola, me aguenta/Arromba essa dor, me dá teu amor/Que eu sinto pavor no meu coração//Mulher calada e reprimida/Que se consome ao viver/Rola na cama, iludida/Na ilusão sucumbida/Na busca de não sofrer/Como quem vive no cio/Querendo alguma atenção/Sofrendo desprezo arredio/Vela tosca, sem pavio/Morrendo na solidão//Me mexe, remexe, destrói/Me deita, me fura, corrói/Me tira a razão, me faz de atração/Na pura ação desse teu prazer/Me puxa, me deixa demente/Me morde, me faz de contente/Que eu quero calor, me dá teu amor/Que eu sinto torpor que dá pra morrer " (Canto da Solidão: José Afonso de A. Lima e Aurélio Melo) 

Uma das músicas + emblemáticas contidas no espetáculo grutepeano chama-se Canto da Solidão. Perpassa o drama da mãe, mulher e dona dos cotidianos retratados em texto de José Afonso de Araújo Lima. Na voz de Vera Leite, a música ganha uma energia vocal afinada e técnica suavizada pelo teor dramático que a atriz sempre imprimiu no poema musicado  e narrativa que a dramaturgia uterina solicita. Vera Leite se dispõe em integridade e concentração refinadas, enquanto representa.
(Vera Leite e Fábio Costa em cena aberta/fotos: F. Pellé)

Com Lari Sales, Bid Lima, Edithe Rosa
, nessa nova leitura, e as personagens de atrizes que passaram pela cena do espetáculo, nas montagens anteriores, como Eleonora Paiva, Cândida Angélica, Eleonora Montenegro, Izinha Ferreira, Claudinha Amorim, somam esforços e muito sangue no olho para nunca deixar a peteca cair, quando o assunto é a arte de mergulhar no ato de convencer e persuadir na cena.

(Bid Lima e Lari Sales n'A República dos Desvalidos/fotos: F. Pellé)

Essas mulheres que a memória nunca relega, foram e são gols de placar e, para as que continuam incrementando o Projeto, ele, o espetáculo, está chegando e não deixará perda sobre expectativas assomadas a essa estreia que se aproxima
(arte divulgação/criação Paulo Moura/acervo Grutepe)

Será tempo do riso e do entretenimento e das Mulheres que povoam o universo zeafonsiano de compor dramas e comédias ao teatro piauiense. A República dos Desvalidos, dirigida por Arimatan Martins, para texto de Zé Afonso de Araújo Lima, conta os dias e horas de estrear no palco do Theatro 4 de Setembro, nesse ano que segue a dias de verão.

Nos dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro, os olhares estarão voltados à Comédia Musical que já arrebatou muitos aplausos e prêmios de crítica e recomendações teatrais Brasil afora e foi furacão devastador de plateias locais, domadas ao gargarejo, desde que fez seu rito de entrada nos anais do teatro piauiense, na década de 80, mas precisamente em 1986.

Essa peça pega pela emoção, pelo talento atomizado na verve do elenco reunido, direção e carpintaria textual histriônico dramática de fazer bolar de rir, enquanto garante também tempo de refletir e aproximar identidades da vida como ela é no nicho de um conjunto habitacional, recém inaugurado e entregue às pessoas, mutuárias de programa de habitação pública estadual.

Espetáculo musical com letras de Zé Afonso e músicas, arranjos e direção musical do maestro Aurélio Melo, a energia teatral está em veias de expansão por conta de repetir "o mito do eterno retorno" de sua dramaturgia nunca abandonada, ou esquecida. 

Já se fez palco pelo menos pelas mãos de quatro diretores, Zé Afonso, José da Providência, Zé Afonso, de novo, e, dessa vez, é a hora a vez do augusto e matraca das cenas distanciadas à assinatura da escola brechtniana, ele que se fez Arimatan Martins.

Responsável por inesquecíveis sucessos de público, prêmios e críticas conquistados aqui e alhures, Ari detém a pena e a lei de dramaturgias que apelam pela valorização do ator e seu método, conquista do intérprete a partir das emoções e rubricas dramáticas peculiares do texto original reinventado à carga do fazer teatro e arte de propósitos de lançar o homem brasileiro no centro da cena.

Pérolas como "Romeu e Julieta", de W. Shakespeare; "Os dois Amores de Lampião antes de Maria Bonita...", "Raimunda Pinto , Sim Senhor!" e o "Vaso Suspirado", de Chico Pereira da Silva; " O Auto do Lampião no Além", de Gomes Campos; "O Princês do Piauí", de Benjamin Santos;  "O assassinato do Anão do Caralho grande", de Plínio Marcos; "A Casa de Bernarda Alba", de Garcia Lorca, e duas das peças da Trilogia hareniana, "Macacos me mordam - a Comédia", "Abrigo São Loucas", com texto, dramaturgia de palco e direção geral do próprio Arimatan, estão contidas entre o vasto repertório do diretor, formado na CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro.

Agora, o grande desafio é unir forças a Zé Afonso e, no salto do guapo encenador, desconstruir teatro e reconstruir na cartografia arimataniana a práxis ao fingidor. Do original Itararé, a República dos Desvalidos, Arimatan prospectou novos liames e fios ariadnos para vencer mitos, minotauros, labirintos azeitados pelo tempo de viver e ser obra, já escarafunchada e lida, e lidar com a quebra do selo cristalizado e insuflar sopros hermesianos ao tradicional, com ruptura, na busca da comunicação na comunicação indispensável, de Zé Afonso, em aliança com o novo olhar rendido à encenação de A República dos Desvalidos.

E quanto à música Canto da Solidão, esta já foi tinir e ressoar de vozes que liberaram emoção ao entoar essa canção. Luiza Miranda, Ensaio Vocal e Maristela Gruber, sem se fazerem de rogado(a)s, já homenagearam o poeta e o músico emprestando suas vozes e tino femininos de bem cantar e representar esse canto dramático. 

" (...) cantei um poema do Afonso Lima, da peça de teatro "Itararé, República dos Desvalidos", ou seja, a " Mulher Prezada e Descabida", que, na realidade, se chama " Canto da Solidão". Um grande poema do Afonso, com uma música impressionante do Aurélio!! Uma "receita" maravilhosa! (...)" (Que bonitooo! Que bonito!! Que bonito!!!/carta de maristela mauler gruber a 
www.krudu.blogspot.com.br/quinta feira, 1 de outubro de 2009 [kenard caverna "entrem sem bater"]/acesso 19 de janeiro de 2015 às 10h09)

Essas Mulheres 
que cantam, interpretam, representam e sabem ser feminino da arte e da vida estão por ai por todas as cidades e vivas, fazendo em labor sua hora de ser estrela e artista da felicidade ativa . E para as que retornam em A República dos Desvalidos, só uma palavra merde! 


(esse elenco de A República dos Desvalidos vinga!/fotos: F. Pellé)

Ajuntadas a Eliomar Vaz Filho, Fábio Costa, Marcel Julian, no elenco, e a Zé Afonso, Aurélio Melo, Wilson Costa, Zé Dantas, et al, as Mulheres que já conspiraram antes e as que conspiram nesse momento que se aproxima, não há universo que resista ou não devote atenção ao ato de A República dos Desvalidos.

Dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro não vai dar outra. É pra rir, se divertir e rever esse sucesso que se manteve na memória da cidade e recebeu montagens em 1986, 2006 e volta com toda a carga que lhe cabe apresentar nesse ano de 2015.

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
no Theatro 4 de Setembro
às 20 horas
Ingressos no Teatro

Informações: 3222 7100