terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cena tocantinense

Cena tocantinense
por maneco nascimento

O Projeto SescAmazôniadasArtes invade + uma vez os palcos e salas de Teresina com ações de teatro, dança, música e exposições de obras de arte que pertencem à produção cultural interna da Amazônia Legal.

Em incentivo à produção e fomento da criação artística, os Departamentos Regionais dos SESC nos estados que fazem parte da Amazônia Legal se integram na promoção do SESC Amazônia das Artes de circulação e intercâmbio de espetáculos de arte e cultura. E, desde o dia 17 até 27 de agosto, nos próximos dez dias, só não consome cultura quem perder o sinal de chamamento.

Nesse dia 20, às 15h, no palco do Theatro 4 de Setembro, o Projeto possibilitou a apresentação do espetáculo “Do Repente”, montagem da Lamira Cia. de Dança, vindo de Palmas, no Tocantins. A Cia. que instrumentaliza pesquisa e propagação artística de expressão de dança integrativa de coreógrafos, pesquisadores e a transversalização das diversas áreas artísticas, fez-se viva.
(Cena de "Do Repente"/divulgação)

Do Repente é um espetáculo que mescla Teatro e Dança, destinado à rua, cuja poética é elaborada em torno do universo do Romanceiro Popular do Nordeste brasileiro, nas figuras do poeta cantador, do coquista, do aboiador, do glosador; do cordelista, do calimgueiro e da influência e presença dessa cultura na formação das ‘diversas culturas’ brasileiras, inclusive a tocantinense. É um espetáculo especialmente pensado para apresentar-se em ruas, praças, locais públicos/privados. (material de divulgação)

Em 35 minutos de cena alegre e vigorosa, “Do Repente” reflete um viés particular de apreensão da cultura popular e um leque de heranças ibéricas apropriadas ao memorial nordestino do romance de cordel, repentes, causos, mitos e lendas urbanas, reproduzidos através do cancioneiro natural dos cantores e artistas populares da feira que, por sua vez, repercutem herança dos artistas andarilhos e cronistas de seu tempo ibérico.

A cenografia apresentada à cena, no palco do 4 de Setembro, cinco expositores (vitrines) a descanso das máscaras sociais, correspondentes aos cinco atores do enredo. Cinco caixotes vazados, a perfil de carrons, que se transformam em muro, escadas, púlpito, entre outras licenças poéticas, a partir da necessidade de preenchimento da fantasia e lúdico mapeados. Na ribalta, luminárias de barro vazadas se entrepõem com vasos de flores artificiais. Uma semilua de poesia recorta a boca de cena.

História conduzida por cantorias e repentes naturais de artistas populares, os contadores encontram nas máscaras e nas maquiagens, de personagens típicas do teatro da comédia medieval de rua, a ascensão da alegria festejada numa cartografia de dança e teatro, com variações à partitura de intérpretes criadores e virtuose de felicidade clownesca. Encontram, nas personagens da rua, feira, circo e dramas de quintal, uma energia concentrada em que a coreografia pensada ganha naturalidade e humor rico do desenho da “comédie du rue”.

Os atores mantêm um tônus e falas do corpo que agigantam o nordeste festeiro e prazenteiro da composição que se integra na musicalidade popular, que podem aproximar-se das marujadas, memórias de aboios ilustradas na dança de terreiro e o rico ritmo linguístico das prosódias musicais do sertão de rurais acenos culturais.

O figurino amplia “lay out” de reinvenção de vestuário do cangaço, ou do vaqueiro e tipos populares que estão contidos nas cantorias emboladas, de repentes e outras variantes da riqueza musical nordestina, de verve do memorial brasileiro diverso.

Há em todo o espetáculo um cuidado com a pesquisa de apreensão cultural a novo viés criativo, sem perder a essência original do objeto dissecado. Cenografia, figurinos, coreografia entre tradição e quebra do paradigma. Suavidade e empenho corporal dotados de alegria contagiante e criatividade transversal do velho ao novo na conformidade da raiz.
(Lamira Cia. de Dança e seu "Do Repente/divulgação)

A Cenografia, Direção e Coreografia, de João Vicente, enxutas. A Cenotécnica, de Renata Oliveira, eficaz e integrada. A Iluminação, de Lúcio de Miranda, confirma o matiz da estética planejada. O Figurino, de Patrícia Fregonesi, característico e apropriado do desenho estético.A Preparação Teatral e Maquiagem, de Jhon Weiner, expressiva e determinante do ato perseguido.

Os intérpretes Carolina Galgane, Tales Monteiro, Josely Rocha, João Vicente e Renata Oliveira despejam um caudal de alegria e felicidade dividido com o público e sabem pisar na cena, feito caminhar em céu de magia e lúdico de dramas e comédias apaixonantes.

A música original de Lindalva e Terezinha; Os Nonatos; Mossinha de Passira e Valdir Teles Galego Aboiador; Bem-Te-Vi e Estrela da Poesia; Dona Militana; Dedé Laurentino e Fenelor; Antônio Nóbrega e Causo adaptação de “Matuto Incrementado” de Amazan, preenche de qualificável licença poética e rigor plástico todo o enredo dançado.

Tocantins, contido na Amazônia Legal e peça de repertório do Sesc Amazônia das Artes, consegue não só reunir um elenco de naturalidades diferentes, mas de estéticas aproximadas ao cerco do teatro inteligente.

Confirma na diferença criativa da Lamira Cia. de Dança, empenhada no “Do Repente”, uma ótima prática cênica no diverso brasis do teatro e dança vivos. 

(Cena de "Do Repente"/divulgação)

5 comentários:

  1. Querido Maneko muito obrigada pelas lindas, fortes e verdadeiras palavras. Nós da Lamira, estamos radiantes de felicidades. Nada melhor do que ler e saber que conseguimos atingir um pouco do nosso ideal!
    Obrigada!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Nossa prezado Maneco... agradeço por suas palavras e fico feliz de termos causado uma experiência estética tão oportuna. Para nós do Tocantins termos comentários tão nobres sobre nosso trabalho, a partir de um irmão da Amazônia Legal e do Teatro é facinante. Um grande abraço e obrigado por suas palavras.

    João Vicente

    ResponderExcluir
  3. Belo texto, muito fiel ao resultado do trabalho delicioso do Lamira.

    ResponderExcluir
  4. o teatro se representa por si mesmo. parabéns pelo trabalho. é comovente e fiel à cultura de raiz e dramática.

    ResponderExcluir
  5. Essencialmente o texto reflete o que a Lamira e sua equipe mergulha em arte de qualidade, que interage com o publico que faz a emoção vibrar em cada movimento e expressão da cena poética e da coreografia tecnicamente profissional. Taí merece reverencia.

    ResponderExcluir