terça-feira, 22 de novembro de 2011

Porque há sempre um começo

Porque há sempre um começo
por maneco nascimento
O Armazém Companhia de Teatro, fazendo valer cursos e circuitos de arte e cena afinadas, passou por Teresina em circulação nacional premiada, via Ministério da Cultura/Petrobrás, nos dias 18, 19 e 20 de novembro de 2011, às 21 horas para a sexta feira e o sábado e 20 horas para o domingo, com a peça “Antes da Coisa Toda Começar” para Direção de Paulo de Moraes e Dramaturgia de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes.
Segundo o diretor de cena, Paulo de Moraes, “Antes da Coisa Toda Começar surge como resposta à angústia da criação. A arte de gerar arte quando tudo parece estranho e cruel (...) entre os escombros de nossa angústia criativa cantamos a potência das primeiras sensações, o júbilo de sentir-se imortal, a capacidade de enxergar o real no irreal (...) que antes da coisa toda começar sempre há a excitação de ser despudoradamente humano (...)”

(fotografia.folha.uol.com.br/mauro kury/divulgação: "antes da coisa toda...")

O que parece ser um lugar comum à primeira impressão, na abertura de cena do espetáculo, vai ganhando forma e energia equilibrada até que lanças nucleares de luz e sons e vida em vagas entre o real e lúdico poético dominam todo o mapa da dramaturgia pensada. Os cenários funcionais, móbiles e de efeitos à magia de Arquimedes, compõem uma eficácia de significantes e significados para atos de cena. Os cenógrafos Paulo de Moraes e Carla Berri marcam bingo!
Maneco Quinderé, transforma a luz artificial em magia de matizes que ambientam os sentimentos, os silêncios e as horas de (in)desejáveis e necessários prazeres da vida experimentada na cena. Tudo se completa para dinâmicas e impressões que passam pela música ao vivo, com Direção Musical de Ricco Viana e pelos figurinos, de Rita Murtinho, complementares das sensações humanas à sinestesia conseguida.
O uso das novas tecnologias, em projeções mimetizadas sobre a cenografia, recheia de novidade o lugar, aparentemente, banal que ganha marca ilustrada por Vídeo de Rico Vilarouca e Renato Vilarouca. A Operação de Luz e Vídeo, de Marcos Martins, recorta com precisão delicada as nuances e contornos das personagens inquietas e vivas. Sem a Técnica de Palco, de Regivaldo Moraes, talvez as rápidas articulações de cenário não fossem tão precisas.
O texto despretensiosamente bem articulado vai enredando o público e, antes da coisa toda ter começado, já se está completamente dominado pelo ritmo célere e pulso sanguíneo do teatro que quebra todas as barreiras e avança sobre terras obscuras na expansão de supernova.

("antes da coisa toda começar"/foto: chico nogueira)

Celebrando a prática teatral, o Armazém Companhia de Teatro assina um tratado de segurança cênica e detém um gracioso exercício para a cena viva e à elegia da tradição reinventada. O elenco, uma sintonia luxuosa. Patrícia Selonik(Zoé) e Thales Coutinho(Téo), cada um a seu turno, detêm independência criativa e talento assegurado.
Marcelo Guerra(irmão de Zoé), em contracena com Patrícia Selonik(Zoé), elabora uma química dramático-econômica para que se imponham como milésimo elemento da tabela periódica ascendente. Rosana Stavis(Léa), é de um bom humor, carga dramática eficientizada e vozeirão de causar inveja, aponta um furacão em espiral de encanto e determinação depurada.
Verônica Rocha e Karla Tenório complementam a alquimia que transmuta terras fartas em ouro de Tales, forjado nas caldeiras de Shakespeare, poeta e mago da dramaturgia de ocidentes e sentimentos incidentais.
“Antes da Coisa Toda Começar”, mesmo antes de se impor com qualificável traquejo, já carrega consigo um barulho bom que vem assomando reverberações, contidas em começo das coisas, que pululam no universo  e contêm sinais de natureza puramente mortais e curiosos. Há sempre um começo a ser recriado e esta é a melhor cena.


("antes da coisa toda começar"/foto: chico nogueira)

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