quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O que foi feito da vida...

O que foi feito da vida...
por maneco nascimento
“O que foi feito, amigo,/de tudo que a gente sonhou/O que feito da vida,/o que feito do amor...” (O Que Foi Feito Devera/Milton Nascimento)
As tardes adormecem. As noites descansam? E as manhãs não tardam a chegar. Há sempre um recomeço nas vidas de todas as vivências, sejam das existências ribeirinhas, sejam das de núcleos sociais melhor acomodados. Toda a vida viceja suas esperanças e idiossincrasias de natureza de homens e lobos.
As Rocinhas são invadidas, as populações apóiam as campanhas de ressocialização de suas vidas conturbadas, no alcance de liberdades fora das “benesses” do tráfico de influência e violência de civis criminosos e policial aproximados. Eu, “Nem” sei até onde vai o controle oficial das vilas e favelas dos grandes centros urbanos. Sabe-se, flagrantemente, que chefes de tráfico e traficantes descolados têm apoio compensado de determinados homens fardados e de quadro oficial.
(O "Nem", nem ai./foto do acervo: notícias.R7.com)
O certo é que operações policiais que prenderam Antonio Francisco Bonfim Lopes, o “Nem”, na última quinta feira, dia 10 de novembro deste, e a ocupação da Rocinha, zona sul do Rio, já mantinham ligação com a campanha de recuperação das favelas aos cidadãos comuns, reféns do crime organizado e bem pago. Dias antes, numa dessas empreitadas policiais, ocorreu o fatídico incidente em Antares, não o enredo de Érico Veríssimo, mas a crônica real das periferias brasileiras.*
(prisão sem reação. traficante 'Nem"/foto do acervo: notícias.R7.com)
Em Antares, não a estrela, mas a favela de Antares, em Santa Cruz, zona oeste do Rio, um cerco policial acompanhado pela imprensa acabou culminando com a morte de um repórter cinegrafista, Gelson Domingos, empregado da TV Bandeirantes. Um tiro de fuzil, no dia 06 de novembro de 2011, liquidou um pai de família e seus sonhos de manter o Brasil informado. **
(Gelson em ação, guarnecido por policial/foto reprodução TV Globo/G1.globo.com)
Uma assepsia parece merecer urgência às margens de uma olimpíada e uma copa do mundo no país maravilha, que contém também a cidade maravilhosa. As gentes simples comemoram a chegada oficial da polícia,  como uma vitória de guerra civil. Que não deixa de ser uma vitória social. Retirada a maçã podre que parece haver em qualquer força policial brasileira, sobra uma boa maioria integrada da militar, civil, federal e setores de inteligência dessa força de segurança em prática limpa.
Na vidinha comum da cidade de Teresina, corre a sorte sem muita pressa, pelo menos de má sorte das horas sobressaltadas das favelas do Rio de Janeiro, com suas corridas pela sobrevivência entre o agitado fogo cruzado da polícia, dos bandidos, da milícia, da desjustiça. “Por aqui, vive-se muito bem...” (T. Neto). Também temos nossas vilas e favelas, talvez sem a espetacularização dos morros encostados na burguesia.
Notícias que por aqui circulam, as de um motoqueiro fotógrafo que, após um mês desaparecido, é encontrado em estado de decomposição numa sarjeta de 15 metros de altura e o relato de uma testemunha que o transforma num selvagem sobre uma motocicleta que abalroou três e, na sequência, sem testemunha, desapareceu para reaparecer trinta dias depois, a uma distância de cento e cinqüenta metros do local do choque que envolveu outro(a) motoqueiro(a) e caronas.
(corpo de Delson C. Branco/foto Evelin Santos/cidadeverde.com)
A especulação popular acabou envolvendo-o no misterioso caso da moça que voou do prédio da Procuradoria da República, na avenida João XXIII, bairro São João, zona leste de Teresina. A premiada: Fernanda Lages, 19 anos, estudante de Direito que perdeu-se entre o destro e o esquerdo da vida sonhada.


(sentido horário: reconstituição da morte/sorriso1/sorriso2/sapato perdido da liberdade e o prédio da procuradoria da república, cena do crime/foto: canal13.com)

Agora que o corpo do motoqueiro apareceu, escondido no mato sem acesso aos urubus ou olfato humano, Delson Castelo Branco deverá sofrer a perícia oficial que o afaste, definitivamente, das possíveis aproximações com anjo decaído do mirante de prédio público em construção. Suas fotografias de trabalho, seu quase flerte com a mocinha e ligações de carnavais fora de época não devem ter nada a ver com o complicado fim de Fernanda.
Dorme a cidade tranquilamente... menos tranqüila, a cidade de pais e mães de filho(a)s vítimas de mortes abruptas e fora de causas naturais, esta tem pesadelos. A outra cidade continua sua sorte comum de rotinas comuns, abrindo especulações aqui, desconfianças por acolá e reinventando notícias enquanto a lei faz seu papel natural a seu tempo e sua ordem.
O que foi feito da vida e de tudo que a gente sonhou? La vida es sueno. Mas a realidade da vida é de outra natureza.
Pesquisa: matéria de Marcelo Bastos, do R7 | 14/11/2011 às 05h29 | Atualizado em: 14/11/2011 às 10h17*
                Do R7 | 08/11/2011 às 05h40(m0rte cinegrafista)**


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