por maneco nascimento
Dia 09 de outubro de 2011, às 20 horas e 15 minutos, viu-se no Theatro 4 de Setembro a saga de teatro ligeiro “Corpúsculo”& “Eclampse”, criação de Franklin Pires em paródia a série americana de cinema direcional “vampire teen” “Crepúsculo” & “Eclipse”.
O ator, diretor e dramaturgo, Pires, apropriado de anseios experimentados de adolescentes e jovens realiza um contágio de identificação da linguagem midiática afim.
(Franklin Pires e Danilo França/foto: acervo teens 180 graus)
Para o riso e o entretenimento da platéia do cacarejo, a espetacularização da cena apreende a atenção cortejada e marca território em dias febris da intercomunicação de redes, relações e linguajar contumaz das gerações hibridizadas às indústrias culturais. Série para dois atos, com dez minutos de intervalo entre um e outro. Primeiro “Corpúsculo” e, depois, naturalmente, “Eclampse”.
O ritual de iniciação sempre se dá com “clips” e musicais dominadores desse mercado dinâmico de celebridades mass media. As paródias, de F. Pires, propriamente, não se diferenciam com resultado de investimento de uma para a outra.
Sem novidade dramatúrgica, nem acuidade de finalização de cenas e ou de desempenho de elenco. O risível fica por conta das referências à série original de cinema, ou das adequações de identificação textual com referências locais.
Quer para o primeiro ato, quer para o outro, destaque para Bid Lima que consegue diferenciar-se, rapidamente em atuação, do restante do grupo. Com um tempo de atriz histriônica já abalizado pelas experimentações da linguagem do humor e algum escracho, Bid desliza naturalmente pelas cenas e sempre com uma tirada inflexional de causar um divertimento e bom riso.
(Eduardo Cualém: F. Pires/Bela Suina: Bid Lima/foto: divulgação)
Luciano Brandão, um bom ator dos quadros da cidade, aplica uma despretensiosa performance, variável entre um brinquedo “fácil” e os desdobramentos de improvisação para roteiro aberto e do cotidiano das conversas e afinidades de escola da Mirica*.
Franklin Pires convencido de talento auto-determinado, se escora no “fake” de máscara e corpo do vampiro adolescente e frígido em que vomita um texto tradicional da própria vaidade de celebrização.
Há ainda no elenco, os “good boys”, as jovens e senhoras com fantasia de margem adolescente, os com “arte” demonstrativa de empenho privado e deliberação de orientação sexual ilustradamente exagerada, os que só compõem para valer como volume, os sem corpo nem ato de cena e ainda os que compõem a tribo, nada que ver, fica claro, com as personagens “selvagens”/lobos do filme parodiado.
Há no Brasil uma nova tendência do teatro “stand up” e que também tem ganhado corpo por aqui. A série “Corpúsculo” & “Eclampse” parece se caracterizar entre um teatro de improvisação sem repertório e um injustificável desejo de alcançar a prática solo de improvisos e textos emergentes da temperatura coptada da platéia.
Para atores como Bid Lima, Franklin Pires e Luciano Brandão há alguma resposta vinda de memórias da improvisação e roteiros de oficinas cênicas.
(Vampiros de "Corpúsculos" & "Eclampse"/foto: divulgação)
Já o elenco de apoio, sem essa experiência nem compromisso em observar quem veio primeiro e sem humildade suficiente para ouvir +, erra sempre. Teatro é arte de pesquisa, escuta, observação e desejo irredutível de aprender a aprender. Falta essa vontade de encenar, de verdade, nos novos iniciados.
As novas tecnologias e recursos midiáticos utilizados durante o(s) espetáculo(s) não tiveram efeito eficiente. Imagens difusas e pouca definição da projeção apresentada foram + funcional como ruído que como interação comunicacional eficaz.
Há, nos espetáculos, tempos falhos, descosturas, ou linhas soltas no tecido da dramaturgia, mas o que há com maior descuido é uma falta de atenção, um deslumbramento de estar no palco e uma deliberada ação de estar em cena sem estar na cena como arte da composição ao ato do teatro.
É risível, exercita o gargarejo coletivo, mas como ato de teatro, propriamente, é um corpo sem corpus. Brinda o escatológico disfarçado de humor, o humor sem o tempo de piada inata e o inato ao enviesado fascínio de “aparecer” em cena.
É um corpo com plasma genérico e princípio ativo ainda sem constatação científica. A série “C...” & “E...” ainda não desvendou todo o alfabeto.
* Mirica, uma atriz de década de 80 que nunca ensaiava e dizia que "na hora eu dou tudo."
"Muito bom Maneco acho que você não só tem embasamento para uma critica refutavel como nos inspira a melhoras. Isso sim é estar a serviço do labor."
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