quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

“Para ser feliz”

por maneco nascimento

 “(...) Eu me lembro com saudade
O tempo que passou
O tempo passa tão depressa
Mas em mim deixou
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias (...)”

“(...) Hoje os meus domingos
São doces recordações (...)”
(Jovens Tardes de Domingo/Roberto Carlos)

Maria Luiza Vitória Figueiredo poderia ser + um nome a povoar a demografia piauiense, se não se chamasse Sulica. Um mulherão que com simpatia e prazer desinteressado incrementou agitação cultural na cidade de Teresina e foi sertão adentro levando cultura a toda parte.

(foto do jornalista Francisco Magalhães)

A Fundação Estadual de Cultura do Piauí – FUNDAC prestou uma justa homenagem a nossa querida Sulica, vitoriosa a partir do nome de batismo. Digo nossa porque essa personalidade sem risco de celebridade, patrimônio da chapada do corisco, provou que quem nasce com o gene da cultura não morre acorrentado ao pé da mesa de gabinete do serviço público. Faz acontecer.

Nas velhas tardes de domingo ia-se encontrar Maria Luiza Vitória à frente da Feirinha na Praça, a Saraiva, a carregar uma tarefa saudável de tirar a cultura das discussões das salas oficiosas e fazê-la no pátio popular, local de arte diversa e coletivizada. Cantores, músicos, atores, diretores, fiéis do depois da missa e as famílias do domingo na praça marcavam ponto.

Neste último dia 23 de fevereiro de 2011, a partir das 9 horas da manhã, em festa preparada à convidada ilustre, viu-se uma mulher de fibra ser alçada pelas escadas da FUNDAC até o auditório daquela Casa que recebeu uma placa com seu Nome.

Recepcionada por um cordão de brincantes da cultura popular do bumba-meu-boi, estava onde melhor foi feliz. No convívio das cores, das fitas, tambores, caboclos, miçangas e penas, da arte de toda parte convergindo em rica luz de felicidade aos Folguedos, Projeto em que seu nome seria indispensável de lembrança.

A solenidade oficial, depois do descerramento da placa, trouxe a leitura de uma carta pública de Zé Dantas, sonoplasta e parceiro da Feirinha da Praça, em que repercutia a memória afetiva que os uniu.

A Presidente da FUNDAC, Marlenildes Bid Lima, emocionada agradeceu a presença de quem chamou de a Dama da Cultura Brasileira e, enquanto homenagem, lembrou Nelson Cavaquinho:
“(...) Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora (...)”

“(...) Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.”
(Quando eu me chamar saudade/Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)

Entre outras palavras sinceras e humildes, Maria Luiza Vitória Sulica expandiu a lição emblemática ao dizer: “Fui uma pessoa que deixou as coisas florirem.” Lembrou o nome dos velhos amigos, da mãe de 92 anos, pediu perdão a todos e, numa simplicidade de quem não tem + nada a perder, pediu que não tivesem pena dela.

Na reunião, muito prestigiada, a imprescindível persona do patrimonio cultural desta cidade agradeceu a todos e sem medo de ser feliz, predicado feito oração sempre elevada a Deus, desconstruiu o mito do desaparecimento com tranquilidade invejável.

Pareceu entender que deixar essa casca gasta que encobre nossa mortalidade não é o fim. Maria Luiza Vitória Figueiredo, entre as doces recordações de Roberto e as homenagens em vida de Nelson Cavaquinho, é doce canção familiar para ser solfejada com carinho e repetida aos dias de memória da saudade com o respeito, sem demagogia, à artista que nos é cara.


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