(Da Redação/ redacao@novohamburgo.org)
“Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria (...)”
(Retalhos de Cetim – Samba da Rainha/Benito di Paula)
O contexto da intenção poética até poderia ser outro, mas quanto ao sentimento de perda, este passa pelo mesmo ralo estreito da dor possibilitada pela tragédia nunca esperada, embora possível.
As chamas iniciadas na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, por volta das 7 horas da manhã, da segunda feira, dia 07 de Fevereiro de 2011, jogaram um balde de calda ardente sobre o carnaval carioca de 2011.
No local onde funcionavam barracões de 14 escolas de samba, a fome voraz do fogo precipitado devorou os barracões da Liesa – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, da Grande Rio, Portela e União da Ilha. (www.novohamburgo.org/ a cidade está aqui/ano V/da Redação/08.02.2011)
O fogo, sob controle por volta de quase 11 horas da nefasta manhã, teve o combate indispensável em perícia e agilidade do corpo de socorro da brigada carioca contra incêndios. Na ocasião o serviço contou com 39 carros dos bombeiros de sete quartéis e 80 homens. (Idem) Audazes e vigilantes às vidas em risco centraram esforço compensado.
Os quatro barracões engolidos pelo fogo deixaram a marca de estarrecimento aos passistas e comunidades afetadas.
A composição “Madureira Chorou”, de Carvalhinho e Júlio Monteiro, nunca esteve tão presente e visceral nas gentes simples da comunidade de Madureira, berço da Portela: “Madureira chorou, Madureira chorou de dor/Quando a voz do destino/obedecendo ao Divino (...) Gente modesta/aquela gente que mora na zona norte (...) Até hoje chora a morte da estrela do lugar.”
Embora o contexto da criação do samba tenha sido para outro viés, a dor da perda de alguém muito querido, é também para desaparecimento de algo importante para a mesma comunidade, noutro momento, dilacerada por tragédia que envolve algo muito especial e necessário à alegria e conforto coletivo.
(Foto: Felipe Dana/AP)
Carros alegóricos, alegorias, oficinas de construção das fantasias e um sonho de um ano inteiro suplantado pelo fogo traiçoeiro.
Todo um clima de euforia e expectativa que antecede o maior espetáculo da terra do carnaval cedeu lugar a uma tristeza contagiosa entre os brincantes, dirigentes e mundo do samba estarrecido, grosso modo, um mês antes do carnaval.
As notícias da imprensa nacional dão conta de perda de 8.400 fantasias, destruídas, das escolas Grande Rio, União da Ilha e Portela, com vida de samba devassada pelas chamas traiçoeiras.
Em entrevista em canal de rede nacional, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, abriu o precedente de sugerir que nenhuma escola de samba seja rebaixada para o Grupo de Acesso, no carnaval deste ano.
Com um prejuizo de 8 milhões de reais e abrindo margem à solidariedade e necessidade de não deixar o samba morrer na praia, com certeza haverá um levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima da onda ardente.
Em Teresina, após uma arenga entre o Ministério Público e a Prefeitura de Teresina ficou acertado que não haverá nenhum investimento municipal ao desfile de escola de samba do carnaval da cidade. Pelo entendimento da promotoria de justiça do estado há maiores necessidades na educação e saúde do que com desfiles de escolas de samba.
Num acordo de conduta pública, em atendimento à recomendação das chamas da justiça, a Prefeitura de Teresina teve que derramar um balde de água fria nos sonhos da comunidade do samba da Cidade Verde.
No Rio de Janeiro, as forças da política, da economia, do turismo de negócios, da idéia quente de que o espetáculo não pode parar e do samba de raiz dos pés descalços das comunidades suburbanas cariocas devem encontrar o caminho de recuperação da maior ópera de liberdade em céu aberto.
A Cidade maravilhosa sapateará sobre e apesar das cinzas dos barracões incendiados e devolverá ao público um carnaval ardente.
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