por maneco nascimento
O texto de reabertura do "Projeto Eu, Você e o Teatro da Minha Vida" que anfitrionou o espetáculo "Apenas um Saxofone", na terça feira, 14 de janeiro de 2014, no Bar do Clube dos Diários, tinha estilo e bom humor.
(Claudinha é Luisiana em Apenas um Saxofone/divulgação)
Cláudia, de férias em Teresina, no período do final do ano de 2013, resolveu antes de voltar a sua vida, no DF, em janeiro este, nos brindar com um espetáculo montado na década de 1990, com direção de Wilson Costa. À época já havia uma virtuose interpretativa da atriz em dramaturgia construída a "Apenas um Saxofone", adaptação a partir de conto homônimo de Lygia Fagundes Telles. Com este espetáculo recebeu um Prêmio de Melhor Atriz, no FestMonólogos "Ana Maria Rêgo". Os dias ganharam seu tempo e, nesta reinvestida a sua terra e palcos locais, trouxe um espetáculo mais encorpado qual vinho amadurecido, trinta anos.
(reveses de solidão e histeria em Apenas um Saxofone/divulgação)
A Claudinha, de sempre, com uma energia de boa atriz que sempre foi, é um furacão em cena. Sua construção para Luisiana é fatalmente dramática e concentrada na verve da personagem que vagueia pelo regurgitamento de memórias do passado, amores, encontros e desencontros, paixões aforadas e perdas e danos no quarto, sala e solidão, adquiridos com a falha trágica. Uma mulher rica, em crise de identidade e vivência de desencontro amoroso, submergindo em caos existencial e reverberando, aos próprios ouvidos, a perda de referenciais. Encontra na atriz inflexões entre o econômico e a distenção de impacto ardente na explosão do sentimento.
"Anoiteceu e faz frio. ”Merde! voilá l’hiver”, é o verso que, segundo Xenofonte,
cabe dizer agora. Aprendi com ele que palavrão em boca de mulher é como lesma em
corola de rosa. Sou mulher. Logo, só posso dizer palavrão em língua estrangeira, se
possível, fazendo parte de um poema. Então as pessoas em redor poderão ver como sou
autêntica e ao mesmo tempo erudita. Uma puta erudita, tão erudita que se quisesse podia
dizer as piores bandalheiras em grego antigo, o Xenofonte sabe grego antigo. E a lesma
ficaria irreconhecível como convém a uma lesma numa corola de quarenta e quatro anos
e cinco meses, meu Jesus. Foi rápido não? Rápido. Mais seis anos e terei meio século,
tenho pensado muito nisso e sinto o próprio frio secular que vem do assoalho e se
infiltra no tapete. Meu tapete é persa, todos meus tapetes são persas, mas não sei o que
fazem esses bastardos que não impedem que o frio se instale na sala (...) Li ontem que já estão comendo ratos em Saigon e li ainda que já não há mais
borboletas por lá, nunca mais haverá a menor borboleta... Desatei antão a chorar feito
louca, não sei se por causa das borboletas ou dos ratos. Acho que nunca bebi tanto como
ultimamente e quando bebo assim fico sentimental, choro à toa (...)" (Apenas um Saxofone/LFT)
Cláudinha Amorim, a nossa pequena notável Bibi, teve seu tempo de convivência aqui em Teresina, nos palcos da vida em busca do bom teatro amador e, em seguida, já mais treinada, resolveu bater retirada rumo a Brasília. Precisava estudar teatro, formar-se e continuar na carreira que escolheu para si.
Conseguiu intento e devora as palavras em cena. E, nessa construção da personagem, indica fôlego de ótimo alcance de convencimento e retorno do investido na arte do fingimento. Sua Luisiana tem charme, estilo, detém a atenção do público. Reinveste, a atriz, as palavras da personagem, às vezes da autora, e encorpa ensimesmada interpretação de vida versejada do invisível ao visível irresistível.
"(...) Tenho um iate, tenho um casaco de vison prateado, tenho uma coroa de
diamantes, tenho um rubi que já esteve incrustado no umbigo de um xá famosíssimo, até
há pouco eu sabia o nome desse xá. Tenho um velho que me dá dinheiro, tenho um
jovem que me dá gozo e ainda por cima tenho um sábio que me dá aulas sobre doutrinas
filosóficas com um interesse tão platônico que logo na segunda aula já se deitou
comigo, vinha tão humilde, tão miserável com seu terno de luto empoeirado e suas
botinas de viúvo que fechei os olhos e me deitei, vem Xenofonte, vem (...)" (Idem)
Cláudia Amorim é formada pela Faculdade "Dulcina de Moraes", com Licenciatura Plena em Artes Dramáticas, no ano de 2010, em Brasília. Especializou-se na área de Orientação Educacional, na Faculdade Darwin, no Distrito Federal e leciona na rede pública de Goiás. A atriz aponta que para um mestrado "vou focar na área de teatro e concorrer à UNB, quando chegar março", afirma Claudinha.
Nos palcos de Brasília, encenou espetáculos na companhia do Grupo Alvará para Loucura. Entre as montagens, "Espetat La Mute", adaptação de texto a partir de obra de Caio Fernando Abreu, e "Mulheres", que construiu-se dramaturgia a partir de músicas, textos teatrais e poesias, de autoras (poetas brasileiras). Na área de oficinas de formação de elenco, desenvolveu três experiências. Uma de Teatro de Sombras; Fragmentos - resultado com produção envolvendo músicos e Exercícios Cênicos, dentro de Escolas com o público de professores para abrir perspectivas de dialogismo com os educandos.
Em 2014, Claudinha planeja a montagem de "A Carne seca é servida", em que dividirá cena com Raquel Ely. Torquato Neto e sua obra deverão ser revisitados e ganhar dramaturgia de teatro vivo, bem ao estilo de nossa querida Bibi. Cláudia Amorim, é natural de Teresina, terra do soul do equador, de sonoridades a corpo e memorial cênico. Para poetas, escritores, dramaturgos e autores dramáticos sorri, como quem despe o santo e veste o manto para divindades miméticas reinventadas. Sabe ser atriz.
(Claudinha e as amigas Marcela, Eliete e Soraya no BCD/divulgação)
Em "Apenas um Saxofone", que passou por aqui em dias de verão, confirma presença na cena e palcos para história e memórias do teatro brasileiro. Enquanto passam bondes e chamam desejos e vontades, o "Eu, Você e o Teatro da Minha Vida", das terças feiras, do Bar do Clube dos Diários, continua de vento em popa.
O Projeto não poupa nenhum(a) artista, acolhe a todo(a)s que queiram ocupar espaço de encenação alternativa. Depois de Claudinha, já passou também a Cia. Dança Beth Bátalli , dia 21, e a vida segue.
O gostinho bom das cênicas, feito polpa de fruto maduro em serviços de bom degustar, está lá no BCD. A vida cultural prossegue e o Projeto rompe o mês, sem esperar a queda do dia, gera teatro. Evoé, Baco!
O gostinho bom das cênicas, feito polpa de fruto maduro em serviços de bom degustar, está lá no BCD. A vida cultural prossegue e o Projeto rompe o mês, sem esperar a queda do dia, gera teatro. Evoé, Baco!
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