por maneco nascimento
Existe lugar + democrático que o campo da arte, das artes e culturas criadas, recriadas, reinventadas, forjadas nas oficinas de Baco, meio irmão de Hephestus, o ourives das grandes criações adornadas a fogo e magia?
Mas o fogo do Teatro está em Dionysus e, dele, aos herdeiros da cultura universal onde entram nosotros, cá do lado de cá da linha do equador.
Pois a grata surpresa da Semana Nacional do Teatro de Teresina está, muito bem representada, na praça que é terra de Todos! Na Praça Pedro II, onde às tardinhas, a partir das 17 horas, a agenda é para o Teatro de Rua, as vezes e o ato de Teatro está na graça e na felicidade dos espetáculos que ali já se têm apresentado.
Na abertura da SenThe, dia 21, o Grupo de Teatro Jovens em Cena - CotJoc nos presenteou com uma deliciosa comédia bufona ao texto de Jean Pessoa e direção de Alinie Moura e assistência de direção de Arimateia Bispo. "A Verdadeira História de Romeu e Julieta" ganhou calçada a passeio e passeou com a recepção super envolvida com a trama que ali premeditou roubar risos e gargalhadas de todos os presentes.
foto: (Margareth Margô Leite)
Mas já há um consenso, a programação SenThe - Teatro de Rua está demais! A quarta feira, 22, foi a vez de outra companhia de Teatro que cunhou uma pérola para a linguagem de Rua. "As Aventuras de Nego Chico e Catirina", com texto e direção de Chico Borges não deixou pra ninguém.
foto: (Tarciso Carvalho)
Ganhou risadas, curtiu a interação direta da plateia e fechou a cena, em final de ato, com uma alegria contagiante que cirandou teatro e quebra de paradigmas, barreiras, paredes, alegrou a tarde. Uma boa tarde ao riso e a felicidade compartilhada.
Tudo conspirou para respostas certificadas à arte do ator da cena popular. A tendinha colorida que guarda e revela as fugas das personagens. A cenografia e os figurinos (Chico Borges) convergem à linguagem da trama enredada. Cor, alegria e despojamento ganham a segunda pele das personagens e asseguram a identidade que se amplia ao histrionismo da arte do ator aplicada à zona que leva o deus a Ex-machinar picardias e levezas da arte popular de Rua.
O texto, numa transversalização da lenda natural do Piauí, o Bumba Meu Boi, com as vozes, falas, costumes e registros da cultura oral de feira, mercados, terreiros e sítios rurais das melhores memórias afetivas, trama a narrativa feliz que Borges afia na carpintaria teatral construída.
O elenco impagável. A sorte está lançada e eles testemunham que vencem e, tudo acaba bem quando começa bem, para não esquecer Shakespeare. Chico Borges (numa espécime de Coronel-Pregoeiro, Padre); Mayra Sousa (Catirina da pá virada e das liberdades consentidas); Állex Cruz (mãe de Catirina, um arrojo de graça e humor radicados ao histrionismo quente e impactante de revelar o ator. show!); Geirlys Silva (o retrato fidelizado do malandro das fábulas orais nordestinas e gracejos trancosos e malasartianos. Compõe um Nego Chico muito empático e de destreza apaixonante)
Tem, ainda, Tércio Pedrosa que reitera o conjunto, na formação de elenco afinado na trama e no dramalhão comédia popular, na força da cultura de tradição descentralizada das mídias do ócio do consumo e dos congelados e conservantes vendidos por celebridades.
A música que infiltra as narrativas é de temática nordestina, naturalmente, e passeia também pelos dramas de quintal e repercute os meandros de memórias afetivas das festas de terreiros. "As Aventuras de Nego Chico e Catirina" é um gracejo feliz na cena na Rua que chegou para Teresina.
Através da SenThe, as cenas de Rua realizam a prerrogativa da Semana do Teatro que é democratizar espetáculos e visibilizar montagens que correm por fora das mídias e das oportunidades que só medalhões abocanhem.
Depois da agenda SenThe-Teatro de Rua, era hora de concorrer às peças de Câmara. Às 18h30, no Teatro "Torquato Neto", o Grupo de Teatro Nazaré apresentou "O Diário de uma Feirante", espetáculo solo aliviado pelo ator Wilson Gomes. Uma dignidade de cena e em cena.
O intérprete consegue aproximar recepção e manter os vasos comunicantes aplicados à arte do ator e seu método para persuadir a plateia. A direção de Claudenice Santos quebra as barreiras dos ruídos da comunicação e consegue, na dobradinha, com W. Gomes, realizar uma interlocução limpa e um jogo de cena em que plateia e persona se enfrentam e dão-se as mãos para a visível invisibilidade da arte do fingimento e gerador de atenção da recepção. Parabéns Wilson Gomes.
A segunda pílula dourada, da noite, ocorreu no Theatro 4 de Setembro. O medalhão que estreou em 16 de março, durante o Lançamento da Semana Nacional do Teatro de Teresina - SenThe, voltou à cena na noite de 22 de março.
"As MalDitas", com Carlos Anchieta e Franklin Pires, para dramaturgia de cena facilitada por Arimatan Martins e texto de Saulo Queiroz, vem arder a plateia do gargarejo, mas é de prender público e vigorar um delicado jogo de render riso e minunciar as cores do teatro do humor e da economia, aplicada à arte do ator e método de gerar dramaticidade que chegue in loco ao público.
E, na SenThe - Programação Musical da noite, quarta feira foi do Projeto "Quanto Vale O Show?" - março rock'n roll - as Bandas Elétron e In Nature pancada pop sons e matizes musicais aos consumidores de cultura que ficaram no "Osório Jr."/Espaço de Convivência "Rubens Lima".
Creia. É SenThe. É vida e cena brasileiras que transitam no Corredor Cultural da cidade da cena brasis.
SenThe é terra de teatro, é campo de arte e cultura da cena brasis. É cena da cidade que inspira, aspira e conspira pelo universo em favor da cena nacional.
fotos/imagem: (divulgação)
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