para gregos e Brook
por maneco nascimento
A quinta feira, 23, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro, recebeu uma montagem vinda de Floriano, Piauí. Com texto dramático (César Crispim), com forma de romantismo e recheios de época, "Fiéis", traduz na linguagem textual e, em mapa corroborado da dramaturgia de cena, uma encenação dramático tradição, para algumas reincidências de dramalhão.
Homens presos numa casa (fortaleza de acorrentados a uma sina), dois filhos e dois irmãos (o pai dos adolescentes e o tio dos novos machos da prisão familiar). As mulheres da trama acabam, "acidentalmente" mortas.
Na desenvoltura do enredo, os atores Alisson Rocha, Denis Silva, Everk Amorim e Kassyo Leal. Derramados de culpas, dúvidas, crimes e pecados, as personagens vão enredando-se na própria confirmação da "sina", uma maldição criada pela hierarquia masculina que os transforma em "deuses", ou "demônios" ao definirem os seus e os destinos dos pares ligados por uma "maldição".
A direção de Rosivaldo Olliveto optou por uma cartografia dramático-concêntrico, em tempo de tortura monocórdia a gerar uma atmosfera ralentada, nas inflexões das personagens, nas marcas cartesianas ao aristotélico de teatro que foi vencido pelo discurso renovado de Peter Brook.
No desenredo do cotidiano dos homens da casa, a narrativa vai criando verossimilhanças com as enclausuradas de "A Casa de Bernarda Alba" (Lorca); (in)sutilezas, alguma quase atmosfera homoafetiva, adultério entre "parentes", traição, os "desvios" nelsonrodrigueanos; ciúme e crime passional (feminicídio) em aproximação shakespeareana de Otelo invertido.
Há, ainda, uma talvez aura de Glória Magadan nos tempos, silêncios e retomadas abruptas dos turnos de falas das personagens, entradas e saídas de cena e uma formalidade nos caminhos e ações narrativos, a quase roteiro teledramatúrgico.
A iluminação (China Mix), de luz branca em grande parte da trama, parece optar em passivizar o tempo das emoções e conflitos geradores da tragédia que os envolve. A luz vermelha sobre a mesa como assinatura do final do espetáculo para a morte, em semi-black out, quebra um pouco da simetria do set dramático. Uma mesa de sangue, no momento da luz vermelha, quebra o comum de quase todo restante de vida da casa.
A cenografia (Everk Amorim e Rosivaldo Olliveto) acompanha o viés da forma de representação encenada. Marca cenário realista, de época, e de função representativa imagética do tempo real e preenchimento espacial dramático.
A sonoplastia (Jafah Barbosa) inteira a proposta e aciona o eixo das sucessividades trágicas do enredo. O figurino leva assinatura da dupla (Everk Amorim e Rosivaldo Olliveto) e sinaliza ao conjunto de estética que tradicionaliza a dramaturgia criada para "Fiéis".
Denso, tenso, atores demarcados na trama que os enreda ao dramão de infiéis à postura de leitura mais brechtiana. O sapato não aperta o pé, nem o corte da roupa elegante que os veste cria qualquer incômodo, ou alergia.
Tudo está a contento da cartografia desenhada a homens sujeitos a emparedarem-se na escuridão da casa de Bernardos, condenados à solidão a
que a carpintaria os aprisiona.
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