sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Girou?

se não girou, que girasse. 
por maneco nascimento

O Palco Giratório fechou + dois ciclos do Projeto de passagem pelo Piauí, nesta reta final de intercâmbios e circular difusão das artes cênicas. Em Teresina, outubro e novembro, duas ações de teatro. Uma de Curitiba (PR) e outra de Porto Velho (RO), respectivamente.

Dia 28 de novembro, no palco do Theatro 4 de Setembro, às 19 horas, o espetáculo visto veio do Curitiba. "Vigor Mortis Juke Box Vol. 1", espetáculo da Cia. paranaense Vigor Mortis.

Com apelo dramático inspirado na música do roqueiro australiano Nik Cave, artista que plantou morada no Brasil, entre 1990 e 1993, a peça reintroduz na dramaturgia de diálogo indireto com o público, na plateia, e direto com um espectador escolhido, previamente, para observador frente a frente da caixa juke box, em que interaja com a personagem da máquina de jogos eletrônicos.

Os espectadores escolhidos e chamados, um a um, passam pela experiência de olheiro pelo portal de contato com o ator na máquina. Após as orientações, de entrar no jogo, escolha do ícone dramático no menu, o espectador  senta-se no tamborete, disposto em frente a ponte de passagem entre a personagem escolhida no menu e o exterior (a realidade). Dali se dá o diálogo de confessionário, em que quem se confessa é o narrador híbrido da máquina.

No uso de mais tecnologias, entre elas digitais, o confessionário de onde são arrotadas as narrativas dos enredos para textos, a partir do universo artístico poético do músico australiano e letras que marcam histórias de violência, amor e drama. 

O adaptador à carpintaria de dramaturgia, Paulo Biscaia Filho, concorre às práticas de estética, da Cia. paranaense, aplicada à essência de experimentação da violência e do horror. Biscaia Filho também assina direção e vídeos do espetáculo.


O ator/intérprete Kenni Rogers, uma espécie de "Proteu", se a recepção se aplicasse às previsões do homem virtual, no cinema da revolução das máquinas, ou para acepção + analógica de um "padre" invertido na função e sendo o confessado, tem um desempenho híbrido, se proposta de esterilidade da personagem fria da máquina, ou analógica quente, caso se aplique a uma ligação + direta entre personagens de carne e osso virtualizadas na linguagem cênica escolhida ao real/surreal.

 "Vigor Mortis Jukebox Vol 1" despeja ao espectador direto, de cada vez do jogo escolhido, e vai trocando de jogador a cada nova escolha de ícone às histórias e às personagens das narrativas dramáticas.

O restante da plateia, voyeur indireto, acompanha a trama por um telão disposto sobre a máquina. A peça instaura ousadia de virtualizar a quarta parede e impõe provocar afetividade com o jogo e as identidades retratadas e vomitadas de dentro da jukebox.

Toda a técnica se fecha para produto de inspiração de novidade e aplicação ao universo das virtualidades e das comunicações "neutras" e indiretas das tecnologias, em apologia às novas tecnologias e contato intra-humanos com máquinas.

As atrizes em vídeo, Guenia Lemos, Uyara Torrente e Viviane Ganotto completam o círculo de horrores, em drama do dialogismo intertextual, entre a personagem/ator narrador, de Kenni Rogers, e o jogador olheiro na "Janela Indiscreta", da máquina.



A Trilha Sonora  original, de Demian Garcia; a Cenografia (aparato estrutural estético da máquina de jogos)  de Guenia Lemos; Iluminação de Victor Sabbag e Wagner Corrêa

+ os Figurinos, de Dayane Bernardi; a Maquiagem de Marcelino de Miranda e a Cenotecnia, de Jimmy Paes arrematam o universo fechado da dramaturgia hermética  interativa da caixinha de surpresas e estímulo aos jogos de antropofagia dramáticos.


"Vigor Mortis Jukebox Vol. 1" cumpre a tecnologia cênica proposta e mapeia dramas e tramas fibrilizados a temas de violência, pedofilia, amor torturado, "inocência" de infante, religião, entre outros acertos de cotas de histórias e contos de terror da Cia. paranaense, de linguagem hibridizada a teatro, arte e audiovisual de intercursos das multimídias e indústrias culturais apropriadas à dramaturgia de estilo.

Já em novembro, dia 12, o palco do 4 de Setembro recebeu, às 15 horas, o espetáculo "Boi de Piranha", da Cia. Boi de Piranha, de Porto Velho, Rondônia.

Três intérpretes, duas atrizes (Ana Paula Venâncio e Gisele Stering) e um ator (Eules Lycaon) dividem a cena para o discurso de estética dramática a uma analogia, segundo justifica a Cia. de teatro, que perpassa pela história e afetos relacionados à construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré ("Ferrovia do Diabo").

A direção e texto de Francis Madson se afunilam à analogia que referencia o boi/homem/boi que coisificam as pessoas envoltas na trama. Homem, boi, piranha, boi de piranha, sacrifício do doente pela redenção do coletivo estão na defesa da dramaturgia em discurso.

Da prática em cena, há um corpo em busca de expressionismo do animal, enquanto falas corporificadas e chocalhadas no primeiro momento da peça. Um anúncio em prólogo do que virá. Depois o drama vai sendo apresentado para uma ingenuidade de virtuose estudantil e encenação escolástica de iniciação.

Nem mais de dança, nem muito de teatro concentrado nas atenções e intenções de exigência peculiares da práxis de encenar. Um redondo do ensaiado, mas com poucas variações de inflexões e nuances das falas, intenções e oralidades cênicas.

A Cenografia, de Francis Madson, um móbile, para cabeça de boi, emaranhada em luzinhas de natal e envolta em laços vermelhos, nos chifres, suspenso sobre a cena. Um estandarte de santo particular apresentado em certo momento; uma valise de viagem, cor  vermelha e a espacialidade de cena recortada a três quadrados de interior cinza, margeados por fita prata.



A Iluminação, também assinada por Madson, recorta os quadrados e ambienta os limites de "currais", ou o quadrado de cada uma das personagens.

Francis Madson ainda responde pelos Figurinos, de mulheres, uma em vestido e sapatos vermelhos e outra em sapatos pretos e vestido vermelho. O tecido vermelho em seda também veste o homem da narrativa. A cor vermelha, muito presente no drama, poderia sugerir o sangue, paixão, tragédias ou outras recepções, mas se apresenta mais figurativa e ilustrativa de vestir os atores.

A Trilha sonora, de sonoridades tiradas de instrumentos peculiares do ciclo do boi (chocalhos), ou canções de afetividades e memórias populares a aboios e outras recolhas memoriais se aplicam bem ao enredado. Juntamente com Maquiagem, leva a assinatura da Cia. Boi de Piranha.

Entre o ingênuo e uma predisposição que se aplicaria à leitura de recepção, como ao "nosso primeiro projeto para cena de dança e teatro", "Boi de Piranha", a peça, ainda não coseu todas as pontas da malha do boi/homem/boi da dramaturgia proposta. 

A linha de pesquisa que defendem de atuação do corpo, dramaturgia e etnografia, ainda se espelha, com resultado para o ilustrativo e mergulho de margem.

Em mergulho + fundo, na arte de fingir e persuasão da plateia, deverá trazer, com maturidade do exercício do exercício, maior atração ao público que não queira só visagismos de corpo e cor em fuga do fundo do lago profundo e escuro em que se prospecta a colheita da construção da personagem.

O Palco Giratório se fez presente, em Teresina e seguiu a duas cidades do interior, Floriano (sul) e Parnaíba (norte), com duas linhas de montagem da produção cênica, linguagem teatro. "Vigor Mortis Jukebox Vol. 1" e "Boi de Piranha", do Paraná e Rondônia, respectivamente.

Quem girou, girou. Quem não girou, que girasse.


fotos/imagem: 
"Vigor Mortis Jukebox Vol. 1 (acervo Cia. Vigor Mortis)
"Boi de Piranha" (acervo Cia. Boi de Piranha)

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