cena iniciática
por maneco nascimento
Uma leitura estudantil, à cena,
de “O Auto da Compadecida” aconteceu na noite do dia 6 de dezembro de 2014, às
20 horas, na Galeria do Clube dos Diários. Ariano Suassuna emprestou sua obra a
+ uma visitação de quem ama, gosta muuuito e deseja um dia transformar em
linguagem, de teatro, prática, uma de suas pérolas bem visitadas, seja no palco,
cinema ou televisão. A responsável por esse prodígio foi A Principal Companhia de Teatro, novo grupo que surge na cidade.
Espetáculo dirigido por Ewerton Moraes, O Auto da Compadecida, teresinense, tem um viço de juventude inquieta, desejosa e exasperada em fazer teatro porque necessidade forçosa de iniciar-se na cena e criar a própria identidade de ser palco, estar e confluir o palco às aptidões do fingimento.
Depois de Guel Arraes, qualquer
iniciativa acerca dessa Obra, de gracejos e oralidades populares, parece não trazer qualquer novidade. Ariano é um
dos grandes sinais e grandeza dramatúrgica do círculo do nordeste e ciclo de
autores voltados à sua terra, sua gente, causas, causos e coisas, crenças,
religiões, mitos e lendas do inventário popular nordestino, deste rincão
brasileiro de tantas histórias e memórias culturais transcontinentais.
De prospecção da cultura
imemorial e projeção armorial transitada, Suassuna legou à dramaturgia
brasileira textos e carpintarias crítico reflexivos que não encontra melhor
exemplo que sua produção.
Mas concorre em afinidade
dramático literária na Pena da Lei a assuntos dramáticos e cômicos à geração de
autores que guardam dramas de costumes e outros anais poéticos, proféticos e
cênicos.
A arte dramática que acentua pesquisa e mergulho no cordel e histórias orais e sociologias culturais está franqueada em João Cabral de Melo Neto (Recife - PE), Rachel de Queiroz (Fortaleza - CE), Patativa do Assaré (Assaré - CE), Chico Pereira da Silva (Campo Maior - PI), Gomes Campos (Regeneração - PI), Benjamin Santos (Parnaíba - PI), Zé Afonso de Araújo Lima (Teresina - PI), fonte do fantástico mundo de histórias e memórias sociais e,
por que não incluir o Lua, com suas canções de recuperação das vidas agrestinas
e espertezas contadas na voz sertaneja do Velho Lula (Luiz Gonzaga,
pernambucano de Exú).
Pois é desse paraibano porreta,
radicado em Recife, no Pernambuco, e viajor em palestras espetáculos por todo o
continente Brasil, deixando seu veio de alegria e humor econômico e cáustico
depurado, que artistas da cena conhecem temas como Uma Mulher Vestida de Sol, O Casamento Suspeitoso, A Pena e a Lei, Farsa da Boa Preguiça, Romance d'A Pedra do Reino; O Santo e
a Porca, Almanaque armorial, entre outros, e a muito + popular desde que virou série numa rede de
televisão brasileira e filme exibido nos quatro cantos de cinemas, residências
e fenomenalizada em reproduções, pirateadas, às bancas de pregoeiros das
feirinhas nacionais.
O Auto da Compadecida virou febre
terçã, como vive o país em ano de copa, quando cada pedaço de chão vira campo
de futebol e cada objeto que role pode ser a bola de um futuro campeão,
aspirante a reizinho de pernas de ouro. No cinema, da obra suassuana, a adaptação
reuniu O Auto da Compadecida e O Santo e a Porca e deu a pérola prima popular
festejada O Auto da Compadecida, série de tevê e depois fita de cinema.
“Só sei que era assim”, um dos
jargões + reproduzidos e que finalizava questões acerca de causos fantásticos
contatos pelo “mentiroso” Chicó (vivido por Selton Mello) e desconfiados pelo
amigo João Grilo (Matheus Nachtergaele), criador de confusões e soluções
mirabolantes.
“As aventuras de um sertanejo pobre e mentiroso, chamado João Grilo,
narradas na premiada peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna,
originalmente escrita em 1955 chega ao cinema na versão de Guel Arraes, Adriana
Falcão e João Falcão. O filme tem a direção de Guel Arraes, que filmou em
Cabaceiras, no sertão da Paraíba (a peça é situada em Taperoá, pertinho de
Cabaceiras), e ainda ganhou trilha sonora original, com produção de João
Falcão, e um tratamento visual que faz um paralelo entre o Nordeste dos anos 30
e a Idade Média.
Matheus Nachtergaele interpreta João Grilo, o nordestino sabido, que luta pelo pão de cada dia, e atravessa vários episódios enganando a todos, ao lado de Chicó (Selton Mello), seu companheiro de estrada. Descritos como personagens picarescos pelo diretor Guel Arraes, João Grilo e Chicó são os protagonistas desta história.” (fonte: https://br.answers.yahoo.com/acesso 09.11.2014, às 16h25)
Matheus Nachtergaele interpreta João Grilo, o nordestino sabido, que luta pelo pão de cada dia, e atravessa vários episódios enganando a todos, ao lado de Chicó (Selton Mello), seu companheiro de estrada. Descritos como personagens picarescos pelo diretor Guel Arraes, João Grilo e Chicó são os protagonistas desta história.” (fonte: https://br.answers.yahoo.com/acesso 09.11.2014, às 16h25)
Pois no teatro local escolando,
uma versão chegou até nós. Ela reuniu um elenco de + de cinco atores e atrizes.
Algumas personagens, como o Chicó, o Bispo e o Padeiro, sendo interpretadas por
meninas. Salvo a disposição e verve juvenil em pensar a práxis teatral,
através de obra de Suassuna, o grupo deu seu recado e disse que tem sangue no
olho de vidro, embaçado, e que, quando arejado, talvez traga versão + própria do
texto original e menos mímesis da tevê.
(elenco da peça, iniciado na Oficina de Teatro, ministrada por Moisés Chaves, na Casa da Cultura de Teresina)
A atriz (Magda Barbosa) que vive a mulher do padeiro, na montagem local, faz uma cópia, quase indistinta da personagem vivida por Denise Fraga (Dora), mulher do padeiro, na série/filme. O Chicó, de (Jefferson Moura) mede algum esforço para perder a tatuagem gestual e de deslocamento medido do covarde, composto por Selton Mello.
O esforço traz compensação, é um aspirante a ator de beleza carismática,
olhar direcional e de intenções que acompanham a psicologia da personagem e
trabalha uma economia que o mantém sem produção de gorduras saturadas. Reproduz bem uma composição.
A atriz que vive João Grilho (Aline Farias)
tem em seu corpo e compreensão da personagem as malandragens dos mitos
populares de Pedro Malasartes, João Trancoso e outros arquétipos que vêm na
esteira do anti herói brasileiro, de Macunaíma a Grilo, de Suassuna. Desempenha
bem na performance de corpo que fala, mas às vezes, talvez por empolgação na
arte de aparecer, atravessa a própria fala, numa pressa de ser + engraçada.
Ao
metralhar a própria comunicação, deixa ruídos que esfacelam a boa condução da
personagem que vem apresentando. + cuidado e menos afobação e seu João Grilo
seria tão bom quanto sugere o autor.
A atriz Raylania Vieira que representa o
Bispo, não conseguiu concentração eficaz. Riu na própria cena e perdeu o fio da
me’água por não conter a emoção particular. A colega de cena (Magda Barbosa) que
interpreta a mulher do padeiro (Dora), em espalhafatoso espetáculo de
forçação do gargarejo levou o padeiro(Sara França) ao riso fora do script da dramaturgia.
Separar o teatro de fora, do teatro de dentro, talvez contenha excessos e renda
+ teatro, em vez de amizade doméstica, confundida, das atrizes.
O major Antônio Morais, mandatário do local, e o cangaceiro Severino de Aracajú são vividos por (Luiz Carlos Jr.). O novo ator cumpriu
a meta de ranzinza e estereótipo de zangado e mandão do major e os trejeitos aplicados ao auxiliar de matador do sertão. Deixou um rastro de
oportuna intenção e atenção ao teatro do próprio desempenho conseguido.
O
mestre de cerimônias, o Palhaço, que é vivido por (André Souza) não comprometeu a
narrativa. O ator ainda cumpriu bem o rito da personagem do Padre João e, talvez, mantenha o melhor desempenho entre o grupo. Humor concentrado, economia de gestos
no Padre em contraposição dos ensaiados no Palhaço. Está na mira da construção
da personagem.
O diretor da montagem, Ewerton Moraes, atua também como o Cangaceiro(Cabra de Severino) e Emanuel (Jesus Cristo). Empertiga a personagem cristina e não desvia o foco da dramaturgia postural, já consolidada na criação originada para a telinha mágica. Seja na pele do Cabra de Severino, ou de Manuel, o texto claro, dito pelo ator, justifica o autor de pena tão rica e devota da memória popular e linguística atemporal.
A Compadecida, d'A Principal Cia. de Teatro, é encarnada por (Irlania Santos), que viveu uma experiência de timidez para exercer a força da + importante personagem da trama, a mãe do Senhor e advogada dos pobres e dos oprimidos.
Apresentou uma, talvez, desconcentrada ação dramática da personagem e pareceu dar um "branco" em cena e recorrer aos colegas "universitários". Enquanto dosou o texto ensaiado, mesmo titubeado e refreado pelo nervoso e intranquilidade de atuar, verteu timidamente o milagre da Santa popular nordestina em suas lições de solidariedade aos povos sofridos do sertão.
O Demônio é sugestionado por Nagle Tainá. A atriz se apresenta em maquiagem conceitual e criativa à temática demoníaca e infernal, mas a atuação titubeia entre ser identidade própria e repercutir as marcas textuais do diabo inflexionadas pelo exemplo da tevê.
O Auto da Compadecida, d'A Principal Companhia de Teatro, feito a partir da original de Ariano Suassuna, figura ainda na arte do (in)consciente imitador, princípio da arte de fingir ao reviver rituais pagãos, e quando der o salto do macaco, sem pelos e erecto, estará perto do círculo das veias do fingimento desconstruído e reativado à matéria escolástica e átomos do teatro vivo.
Serviço:
O Auto da Compadecida, de A. Suassuna
montagem d'A Principal Companhia de Teatro
Direção Geral e Produção - Ewerton Moraes
Sonoplastia - Adriano Moura
Sonoplastia - Adriano Moura
Cenários e Adereços - Ewerton Moraes
Assistente de Produção - Magda Barbosa
Iluminação - Antonio José
Elenco -
Irlania Santos (como A Compadecida)
Ewerton Moraes (O Cangaceiro/Cabra de Severino e Emanoel)
Aline Farias (João Grilo)
Jefferson Moura (Chicó)
André Souza (Palhaço e Padre João)
Nagle Tainá (Demônio)
Magda Barbosa (Mulher do Padeiro)
Sara França (Padeiro)
Luiz Carlos Jr (Major Antonio Morais e Severino de Aracajú)
Raylania Vieira (Bispo).
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