sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Itararé, quero te amar...

esse furacão da cena
por maneco nascimento

Está decretada: a estreia da terceira versão do espetáculo Itararé, a República dos Desvalidos, com texto de José Afonso de Araújo Lima (atuou na primeira montagem, dirigiu na segunda e, nesta de 2014, coordena geral e produz executivamente). A direção é de Arimatan Martins.

Para essa nova montagem que, segundo Zé Afonso, mescla erudito e popular à pena de dramaturgia de cena, praticada por Ari, o espetáculo faz uma justa homenagem a José da Providência.

(Zé Afonso/reprodução)

Provi, como sempre o amávamos na intimidade cênica, o Grande diretor, articulista de ideias culturais do palco e carpintaria dramáticas, fotógrafo de mancheia e meu querido professor do laboratório de fotografia da ufpi (comunicação social), dirigiu à minha lembrança, grandes pérolas da dramaturgia encenada a palcos locais. Entre as peças, "Guerra dos Cupins" (Zé Afonso); Itararé, a República dos Desvalidos (Zé Afonso); "Raimunda Jovita na Roleta da Vida... (Chico Pereira da Silva).

Em 1986 foi responsável pela direção do sucesso de público, crítica e prêmios conquistado por Itararé, a República dos Desvalidos. Espetáculo de energia revigorante, de novidades e preenchimento do vácuo profissional em terra que ainda se mantinha montagens amadoras e improvisadas. A peça fez o diferencial e ganhou a boca do povo e amantes do teatro.

Comédia política de perfil aristofânico, revisitado, Itararé, a República dos Desvalidos teve, na direção de Provi, a aliança de talento, compromisso no plano estético lúdico e afinação de geografia dramática e geometria textual e reuniu, no elenco, os artistas Zé Afonso, Lari Sales, Vera Leite, Eleonora Paiva, Eliomar Vaz e Fábio Costa.

Com letras de músicas de Zé Afonso, musicadas em arranjos pop por Aurélio Melo (sua excelẽncia,o diretor musical), o espetáculo estreou com Banda, ao vivo e em cena, e ganhou o público para nunca + largá-lo. E foi um assomo fenomenal de assistência e recepção arejada pelo riso e entretenimento crítico reflexivo à comédia de costumes.

Um conjunto habitacional popular, seus moradores, vizinhos, amigos, familiares e sua vidinha simples e comum a qualquer um que divida vida em sociedade. O pai, a mãe, os filhos, o amigo do filha, a vizinha, o fuxico, a beata e o histrionismo de temas populares, dimensionados ao exercício do fingimento bem aplicado, assim fala(va) Itararé, a República dos Desvalidos.

(um Itararé da vida/imagem reprodução)

Ganhou as fronteiras nacionais e trouxe prêmios e vida degustada qual vinho de primeira safra. Ficou em seu tempo de atuação e luzes da ribalta.
 
 (em cena Lari, Vera e Bid Lima, 2006/divulgação)

Em 2006, ao completar 20 anos da primeira investida, se reinstalou a peça. Zé Afonso deixa o palco e passa a dirigir essa segunda montagem. O elenco se formalizou com Lari Sales; Vera Leite, que na primeira montagem fazia a filha da trama familiar, agora assumia o papel da mãe da casa; Eliomar Vaz; Fábio Costa e os convidados Bid Lima e Marcel Julian.

Outra versão, outro olhar de diretor, estéticas de origem preservadas e plástica revivificada, A música revitalizada por Aurélio Melo ganhou acompanhamento de uma Orquestra Sinfônica e, + pop impossível. Seguiu carreira curta, mas circulou por Brasília, Goiânia e Palmas e fechou o segundo capítulo da história.

Para a atriz Vera Leite, piauiense de nascimento e maranhense de coração, fazer este espetáculo é um desafio. "Será sempre. Em 86, embora com formação musical, faltava a intimidade com o palco. Difícil. O texto, muito rico, oferece os vários estilos de interpretação. As músicas, uma lindeza, microfones de lapela, músicos ao vivo, elenco experiente. E eu ali, iniciante, no meio de tudo", lembra.

Também indispensável, na montagem de 2006, Leite diz que foi uma nova audácia. "Troquei de personagem. Novo texto, novas emoções e Aurélio, já maestro, se esmerando nos arranjos. Mais difícil. Hoje, sob nova direção, o esforço não para. O preciosismo de espetáculo exige. Embora trazendo na bagagem teatral várias montagens, muitos palcos e vários diretores, estou sempre a me cobrar. Quero mais! Preciso ser mais, para dar mais. O texto merece. O público merece. O teatro merece", reverbera a atriz com + de trinta anos de profissão incondicional à cena.

E é dessa experiência e suas idas e vindas a novas empresas mergulhadas, na memória e história do teatro amador do Piauí, que a estreia de Itararé, a República dos Desvalidos está sendo aguardada com muita e boa expectativa. A direção de Arimatan Martins vem com novo fôlego e sons e fúria prospectados. É nesse dezembro que esse fenômeno se repete.

Em aniversário de trinta anos de criação, a estrela volta a subir. A peça volta a orbitar na cena e palcos locais e nacionais. Quem não viu, não perde por esperar.

É fogo na agulha, átomo dinamizado. Veja essa emoção. 

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