por maneco nascimento
Pequena e notável, em desafio de desafino ao coro do contentes, Patrícia Mellodi chegou muito bem, obrigado, mora bicho? O seu show homenagem a Torquato Neto, estreado no Rio, e trazido a Teresina, foi o que é e está todo à prosa, poesia, música, harmonia musical arranjada a pops reinventados, à base de novidade variável ao mesmo tema, com gostinho de guabiraba, cajú, banana, goiaba, murici, tamarindo, manga e buriti.
(Mellodi: Pequena e notável nas vozes de Torquato e parceiros/imagem divulgação)
Mellodi se representou bem, enquanto cantora, intérprete, voz, suavidade desafobada e economia no palco para Torquatos, netos, primos, pai, amigos, admiradores, intelectuais e poetas e músicos e público versejoso de ver, cantado, o poema cunhado a machadadas à canção brasileira.
A noite era 15 de dezembro de 2014, o Theatro, o 4 de Setembro. A hora, a partir das 20, foi tempo de espera e expectativas, mas compensados ouvidos e curiosidade local ao que se propunha Patrícia Mellodi, dirigida por Márcio Trigo, acompanhada de uma Banda afinada e muito presente e, claro, blindada pelo seu "Anjo Torto", o show.
Mamãe Coragem dá a primeira e decisiva inflexão sonoro musical ao que tinha por vir e veio para misto de rock pop bossa tropicálias ao vento geleias gerais geradas a dias Ds e adeuses pra não + serem esquecidos poeta, poema, música, arranjos delicados e geracionais de ousados em tradição e, rupturas gauches às novas gerações que espreitam também escorpiões encravados na própria melodia, ferida nas cordas e batera que inferem elegia aos urubus no telhado.
Let's Play That, Let's play Pat! reiteram e fecham, em grande estalo melódico, premeditado, o divino maravilhoso suscitado em "Anjo Torto", o show.
Roteiro musical preciso, sem gordos sagrados virtuosos dantes. O poeta e sua canção para hoje, ontem e sempre torquatiados em sonoros renovados arranjos. A Luz, de espetacular presença leve, cenotécnica em tecnologias aproximadas, e de efeito pragmática, a esconder e mostrar a seu tempo de cena e fugas e voltas ao palco, no mapeamento de músicos, intérprete e ações de contrarregragem.
À Cenografia de memórias icônicas projetadas em telão, interação de linguagens e ilustração de um tempo de revisitar o homem lobo do próprio homem, segundo Hobbes, em imagético de podres poderes e canais de sobrevivência no mundo cão nosso de cada dia. Os discursos de imagens e poesia e licenças se aliam, confluem dramaturgia de experiência e vidas traduzidas em obra a signos, símbolos e canções.
O Som, operado por Zé Dantas, sem ruídos na comunicação. Ninguém poderia apontar qualquer variação que não fosse de confluir a todo o resultado de que tratou a ótima performance da cantora Mellodi e sua trupe de + artistas e cronner assistentes, que vilões a la fábula infantil mariaclaramachadiana. Afinados e contentes, presentes desferrolhados feitos pedaços de si, do poeta, da melodia e harmonia de saberem tocar um bom instrumento e de cantar, também, em terceto, quando a dramaturgia pediu.
O Figurino apresentou Patrícia em seu macacão branco, meio seda pantalon e aberto dos lados. No dorso frontal, peitos em divinos escondidos por plataforma, escudo, na estranheza do modismo e assinatura de alta costura conceitual. Sem aparente ligação com a dramaturgia poética e musical, os peitos protegidos por "cosseler estilo pit bul", ou "orelha de gato", reto e, ao perfil dos ombros, pareceu desnecessário, mas à artista e sua ação parcerizada na gesta criativa, desafio e desafino dos contentes.
A plataforma, salto alto, ao tempo de crescer a artista e ser memória afetiva de Carmem, a notável Miranda, em seu estilo de bem equilibrar façanha e arte conquistadas. A intérprete se mantém com classe e estilo e artístico vazado aos poros e canta, dança, interpreta, recita e interpõe-se ao poeta e à poesia pronome pessoal intransferíveis.
Na mudança de figurinos, contrarregra estético dramático, Mellodi investe em uma saia psicodélica que, ao movimentar-se, cria efeitos caleidoscópicos e ou calçadas niemeyanas a copacabanas lembradas. Atrai, nesse momento sinais de tropicalismo. Um dos melhores "insigths" do figurino. O outro, é o da capa nosfertorquatiana com que Patrícia fecha o cerco do grande show para Let's Play That.
A bandeira, ao vento e ombros da artista, introduzida, em determinado da hora encenada, com os dizeres a discurso emblemático e falas particulares a escapismos e defesa de ser cogito de quem viveu tranquilamente todas as horas do fim, também traz margem entre o panfletário limpo, coletivismos das massas lembradas e templo de descanso e túmulo do poeta, em dramática ação profética da dramaturgia da direção de "Anjo Torto", o show.
Patrícia muito à vontade, desliza fagueira e desfolha alegria resplendente, cadente, a calor girassol, doce em canção de branca em mulata malvada e é a mesma dança a meu boi, na sala de estar bem, para cantar bem e madura, seja marcha rancho ou outras pérolas prospectadas ao show e, plurialva contente brejeira salva, em lindos pendões de seus olhos musicais que irradiam tropicália bananas ao vento e saúda olhar que irradia força e energia para cantar em versos e prosas e anarquias e rebeldias às relíquias do Brasil apregoadas por Torquato.
(Torquato Anjo Torto Neto/imagem reprodução)
O show detém uma quebra, rito de passagem, quando interpreta "Adeus", do Poeta e Edu Lobo. Dona de si e de sua voz, não deixa margem para comparações. Faz parte do seu show e canta com total tranquilidade e acerto das notas diferentes aos graves e agudos transversados da canção despedida e icônica.
Dantes e dali, então, fruta madura em toda a copa da planta adubada, Mellodi é escala de ascensão, irrepreensível, do início ao começo do fim do show. Finaliza roteiro com toda e total segurança de cantar e estar em cena.
Das falhas trágicas, duas não passam despercebidas a quem não foi só enlevar-se com o canto da nereida. Concentrada, sem nunca perder ritmo, ou distanciamento atento e forte, a intérprete conseguiu, no positivo, colher em sutileza do olho da gata o brinco de pressão que caiu da orelha direita e, num recurso improvisado, retirou o da esquerda, atirando-os ao chão de trânsito da cena.
O que pareceria despretensioso e anarquista surtiu sujeira a quase ponto negativo. Noutro momento, ao retornar das coxias, num impeto de improviso, arrancou a bela saia e "rebolou-a" na zona de fuga. Pareceu + descuido e afobamento do calor da emoção que marca dramática ensaiada. Ação desimportante ao todo, tão bem. E, no linguajar cênico, sujeira do campo profano dos deuses dramáticos.
Afora essas pequenas falhas trágicas, Patrícia Mellodi está cantando + que + e, vinho, de safra maturada, deixou no gostinho sorvido sabor de quero bis. Ousadia compensada, talento confirmado e respostas efusivas da plateia que não perdeu a única e oportuna noite de dialogar com o poeta, a cantora, os músicos afiados na canção e instrumentos falantes, e a canção brasileira construída a qualquer estação.
Mellodi é show! E, "Anjo Torto", na sua emoção à prova dos nove, é geleia geral brasileira, pindorama, é país, Carolina, carne seca, janela, futuro às vozes de Torquato.
Desafina o coro do contentes.
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