segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Divina arte

pinceis atomizados
por maneco nascimento

A Casa da Cultura mantém até dia 19 de dezembro deste ano, Exposição que reúne três grandes artistas visuais da cepa teresinense. Fátima Campos, Tupy e Gabriel Archanjo dividem espaços da Galeria "Lucílio Albuquerque" e Sala Anexa (antiga Pinacoteca) à demonstração das + novas criações que levam sua assinatura. A Exposição faz parte do Catálogo de Artes Visuais de Teresina 2014.

Os trabalhos expostos estão dispostos à exploração pública, a ver: na Galeria "Lucílio Albuquerque", ponta do éle da Galeria (lado oeste, à direita) fica o trabalho da artista Fátima Campos. Do lado norte/sul da "Lucílio Albuquerque (cabeça do éle, seguindo da entrada da Galeria à frente) está plantado o sinal de ícones a Deus, no ponto de vista tupyniano e, no leste da "Lucílio" (esquerda) expõe Archanjo.

De Fátima Campos, cinco telas e cinco peças em cerâmica vitrificadas. Das tintas, tela 1: Corpos e sinuosidades femininos marcam cores e apreensões de mulheres em anatomias desenhadas - 2008; tela 2, Perfis de riscos e traços sobre tintas - 2012; tela 3, Rostos e corpos comunicam - 2002; tela 4, O beijo do casal em abraço caliente - s/d e tela 5, Um olhar à bunda que se afasta apressada - 2002.

 (telas e centopeias comunicantes: FátimaCampos/imagem www.portalpmt.teresina.pi.gov.br)

Das peças em cerâmica, um corpo (dorso) feminino em decúbito dorsal abre uma comunicação de membros e cabeça do tronco vazados, pelas bordas (coxas e semi ombros) abertas ao eco e canal de ar; um corpo (dorso) feminino em decúbito frontal, bunda, costas p'rao céu e, ao detalhe, peitos espremidos e expostos na "areia", topless na "praia" em descanso do corpo em decúbito frontal.

Da série centopeias comunicantes, em sons silenciosos à dodecafonia. Três peças, duas estão à forma de semi luas ou portais ao túnel de atração e a terceira de papo para o ar, recolhendo o vento que entra no centoduto.

(centopeias comunicantes: FátimaCampos/imagem: www.portalpmt.teresina.pi.gov.br)

De Tupy, a série "Cabeça de Deus". Na primeira peça, "A Muta", as caixas de surpresa aparentes às memórias em fundo da arte visual (cabeças de bonecas ouvem, falam, riem, cochicham umas às da outra ponta, se complementam em rostos, viradas de ponta cabeça). Completam a "cena", uma mesa e seus arranjos com toalha crochê. Sobre a mesa um jarro, dentro do jarro uma planta, aparentemente, seca. Ainda sobre a mesa, uma chave para Rebeca? Na parede, ao fundo, um relógio marca 5 horas. Reveste a pintura, a sua proteção, uma tela de filó. No filó, desenhado à renda gasta, suja pela poeira do tempo e costurada, um jarro de flores brancas em rendas já amareladas e carunchadas.

A copa das flores de renda, no jarro externo, sobrepõe a planta do jarro da caixa interna e forma a copa deste. Arte pintura de sobreposição de tecidos e rendas, em alto relevo, variando do preto ao ouro rococó. memórias esquecidas e gastos ao tempo.

A segunda obra, Superus/Inferus. Tela em negro, estandarte com corpo humano despencando de ponta cabeça do Superus ao Inferus. As bordas abaixo do estandarte, rasgadas em tiras e presas a pedras de fogo, dispostas no chão (prisão, grilhões inferiores) rochoso fragmentado. No estômago do corpo que (de)cai uma caixa preta sem tampa e seu interior espelhado. No centro da caixa, duas lâminas (facas, peixeiras) xipofagadas pelos cabos penetram as extremidades norte e sul da caixa, vazam-na ao ar exterior. O corpo alto relevado na tela é composto por bonecas (bebés) miniaturas.

(série Cabeça de Deus: Tupy/acervo: www.portalpmt.teresina.pi.gov.br/

As vidas infantis, corpos humanos refletidos em conjunção anatômica, ou denúncia de perdidos no corpo que (de)cai, a dialética de infâncias exteriores, mas presas à caixa de reflexos e atrações interiores da humanidade recriada à própria imagem.

O Filho Traduzido, terceira obra, estandarte em preto dominante e borda superior (norte) em branco. Ao branco, o número 1, grafado em preto, e um losango, vazado, perfilado em ouro. Rumo ao céu (norte), em ascensão, um anjo bebê, cor branca, nu. Sua ascensão está laureada por difusa figura em ouro (tinta fosforescente). Reproduz sugestão de anjo superior e protetor do anjo infante. Abaixo do anjo, uma circunferência reflete a Terra de carvão, amarrada por fios em ouro. O anjo (figura divina) evolui da Terra, estéril, carbonizada e negra. Abaixo da Terra, à direita, canto, uma fogueira em feixes de luz, labaredas, raios, aquecem o lado direito do mundo estéril, inerme, negro.

Ironias reflexivas do artista ao tema nossa Terra, nossa gente carvoeira e madeireira que vende o globo à sorte da própria morte.

À criação O Pano da Donzela, quarta tela, Tupy aplica ao estandarte branco, morim, impregnado da memória variável às cores do marrom ao negro. Sobreposta à imagem da mulher sugestionada, ou da memória perdida no tempo desta. Um feixe de amarelo ouro sobe do sul (pés) da mortalha. Do tronco à cabeça do sudário, um ramo de flores trepadeiras em rendas gastas. Onde seria o coração da ramagem (desejo da mulher) uma caixinha composta de madeirite amarelo e, no centro da caixinha (coração) a tintura em ouro. Nesse coração quadrado, ordenadas letras geram, de longe, a ilusão de ótica à palavra amor. Mais de perto, observado, lê-se as siglas A1 M1 D2 G4.

A primeira "pintura", finalizada em morim, é "protegida" pela segunda pele, em filó, com sobreposição do tempo envelhecido nas flores de renda gasta. O tempo do olhar do artista registra o tempo de esperas, do enxoval à mortalha, sugestão de amores desejados e ou perdidos no tempo sem tempo, as coisas que passam pelo tempo é que gastas.

Sua quinta tela, em negro total alto relevado por "corpos estranhos" circunferentes. Malha preta forçada por três corpos circulares (bolas grandes), esta protuberância na tela negra poderia definir um corpo grávido, em deslocamento, de matéria que estica o vácuo, espaço curvo da gênesis feito princípio da espécie? Título da obra: TSADKIELNITH - HAIAHMENADEL.

Uma invocação do princípio de Tudo? Só o artista diria que sim, ou não, para tema que reflete Criador e criaturas, em vieses do olhar mortal ao Divino especulado. Um corpo em sinuosidade de gravidezes das vidas, ou planetas ainda no vácuo, escuro, forçando matéria de si mesmos, no início da conjunção do Verbo.

De Gabriel Archanjo, três painéis homogeineizam a caixa de observação com um monolito ao centro e, no ponto de observação, um banco extenso, cor branca, para que visitantes sentem, observem e façam a própria leitura do mundo, do artista reproduzido.

Painel 1, as florestas e fugas da humanidade. Das passagens rompidas, ou de algum ponto de salvação e trânsito, um homem percorre a vida entre o (in)consciente, expressionismo e impressionismo onírico, ou do mundo dos sonhos. Tema de fragmentadas pinceladas homogeineizam do micro ao todo, das tintas do artista, que povoam a obra 1(na esquerda da Sala, ponto do observador). Sementes fechadas, semi abertas, eclodem vidas no mundo paralelo, um quase surreal que impõe-se à criatura, rompendo as próprias dificuldades em cunho de liberdade. 

Painel 2, entre a matéria conhecida, visualizada em signos arbitrados pelo homem, o mundo se desenha em surreais e expressivos dos traços em vermelho fragmentados. Mapas e geografias cartografadas e pontilhadas em branco, e em outros espaços, em branco e preto.  Entre limites geográficos e efígies humanas, um sinal de átomo e signo de radiação atômica se espalha, em pontos estratégicos do painel de "continentes" armados. Circulares da energia atômica marcam 4 mundos progressistas.

Painel 3, um talvez mar para baleias e medusas, algas e águas marinhas num revolto mundo dentro do mundo dos homens. Vidas que seguem seu curso, no real ou surreal de existir.

No centro da Sala, com monolitos plantados ao chão e, protegidos na raiz por pedra paralelepidadas, estão três canutos, que guardam, na parte externa, a reprodução dos três mapas (painéis) expostos, no espaço de expiação (caixa aberta de Pandora). A caixa convida a refletir a arte, a vida, a inquietude humana, através dos traços e pincéis do artista.

Sentado, num banco comprido e branco, o observador à caixa de Pandora reflete-se ou "sentado à beira" da caixa entreaberta "chora" ao se ver filho e pai do mundo que o criou e foi recriado pelo próprio homem ao futuro.

Gabriel sociologiza. Tupy filosofa e Fátima Campos ama e espia a própria natureza à expiação pública.

Um tempo de divinos se instala na Casa da Cultura de Teresina até dezenove de dezembro. quem quiser conferir beleza, arte e humanidade refletida corra lá e veja o que seus olhos puderem enxergar.

A arte ainda é tema de humanidade e espíritos livres criadores!

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