terça-feira, 18 de novembro de 2014

Parto Normal. Natural?

Como se dá e quem sai às perdas e danos
por maneco nascimento


Planejar, sonhar, ter filhos, constituir família, esta uma prerrogativa de qualquer cidadão, cidadã em qualquer rincão brasileiro. 

O estado tem sua parcela de contribuição e obrigação de retorno do contributo do constituidor de impostos brasileiro que abre expectativas na hora de precisar do serviço publico de saúde.

Então, para a mulher, ser mãe implica ter acompanhamento do serviço público de saúde, quando só este for a opção de sobrevivência, ou o da rede privada quando puder dispor desse serviço particular. Para muitas brasileiras sobra o caminho do serviço de saúde pública e seus desdobramentos de atendimento e perspectivas de proeficiência.

Quanto a ter o(a) filho(a) em parto normal, ou sofrer uma incisão de recuperação do bebê, via cesariana, antes que este venha a ter comprometido seus primeiros contatos, com o ar exterior, em vistas de “as falhas”, descuidos, descasos e, por vezes, omissão de atenção ágil com as parturientes que recorrem à rede pública de saúde.

O estado, através de seus órgãos de planejamento, assistência e atenção básica às futuras mamães, mostra sinais e direciona perspectivas de bem estar e melhor caminho não só para ampliar saúde plena, como modificar estatísticas de custos e ameaças à saúde da mulher. O Ministério da Saúde e ANS ditam novas perspectivas.

[Nesta terça-feira (14), o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciaram uma série de medidas que visam evitar a realização de cesarianas desnecessárias no Brasil e ampliar a realização do parto normal. Essas propostas serão colocadas em consulta pública a partir desta quarta (15).

A primeira resolução é que, independentemente de estarem grávidas ou não, as mulheres poderão solicitar as taxas de cesáreas e de partos normais de cada médico e de cada estabelecimento de saúde. “Respeitar a mulher é acima de tudo disponibilizar a ela todas as informações sobre o parto normal e fazer com que o parto cirúrgico seja adotado apenas quando indicado”, ressaltou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Além disso, as mulheres também terão acesso a um partograma: um documento que trará em detalhe informações sobre a mãe, o bebê e o desenvolvimento do trabalho de parto, como dados sobre a dilatação e as contrações. “Com o partograma, será possível identificar a realização das cesáreas sem indicação médica. No entanto, mais do que adotar medidas coercivas, a ANS acredita que é necessária uma mudança de cultura”, explicou o diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), André Longo (...)

Os números no Brasil              
De acordo com um estudo divulgado em maio, o índice de cesarianas no Brasil alcança os 52%, chegando a 84% quando se fala na rede privada de saúde. Temos a segunda maior taxa de cesáreas do mundo (ficando atrás apenas do Chipre). A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, é que a taxa de parto cesárea fique em torno dos 15%. A pesquisa, batizada de Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, foi feita pela OMS em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e acompanhou 23.894 gestantes em maternidades públicas, privadas e mistas em todos os estados durante o pré-natal e o parto.

O estudo mostrou também que, apesar de 70% das mães desejarem ter um parto normal no começo da gravidez, apenas 15% tiveram o pedido atendido pelos médicos na rede privada. No Brasil, muitos fatores pesam a favor da ampla realização de cesáreas. Um deles é que os partos acabam sendo apenas mais um compromisso para os médicos, que muitas vezes não conseguem esperar a quantidade de horas que o parto normal geralmente demanda. Por outro lado, há mães que, por medo de sentir dor, de haver alguma complicação no parto ou por pura falta de orientação, acabam optando pela cesárea.”] (revistacrescer.globo.com: Ministério da Saúde e ANS anunciam medidas para incentivar o parto normal no Brasil//Por Naíma Saleh - 14/10/2014 18h17 - atualizada em 14/10/2014 18h17/acesso 04.11.2014, às 13h01)

Para o Ministério da Saúde, em seu discurso de tecnificiência, segundo matéria da revista crescer, “a intenção das propostas é ampliar o acesso das mulheres à informação e investigar os casos em que a cesárea é realizada sem necessidade”.  

Na teoria as intenções são as melhores e nada condenáveis. Na prática, no dia a dia, o mundo das futuras mamães às vezes ganha complicações e possíveis riscos de comprometimento das vidas destas e de seus bebês, quando as regras e interesses seguem à risca determinações do estado. 

No Piauí, Teresina, o cotidiano do Hospital Maternidade "Dona Evangelina Rosa", do estado, e das maternidades-bairros, as municipais, apresenta números e descuidos que vão desde deixar a mãe sofrendo, passam uma semana esperando, esperando, por vezes em forçosa práxis hospitalar de imposição de um parto natural, que por vezes não acontece e cria uma desnecessária ação ao cumprimento da regra que mata muitos bebês, deixa sequelas graves na criança e na mãe. Quando, na emergência de concluir, em parto cesariano, o que jamais ocorreria de forma normal, algum comprometimento já ocorreu ao bebê, isso em casos em que não se acrescentou a taxa de mortalidade materno-infantil.

Médicos despreparados e ou ausentes do local do trabalho, hospitais entregues a acadêmicos, enfermeiros-obstetras, ou enfermeiros não especialistas e técnicos, e uma regra que o parto deve ser natural doa a quem doer e não puder recorrer a uma via alternativa, ou outro serviço fora dos corredores do cotidiano da saúde pública do país.

Em Teresina, a parturiente Denylle Roberta Nascimento, mãe de primeira viagem, pobre e moradora de um bairro das franjas sociais da cidade verde, fez o pré-natal em seu bairro, através do PSF. Há quem credite que só acompanhada, de verdade, pela enfermeira do projeto. Mas acompanhada e, agendado o período de ter seu bebê para o dia 04 de novembro de 2014. Os prazos foram sendo vencidos e a mãe e a família recorreram ao Hospital Maternidade Dona Evangelina Rosa. Embora ela estivesse sofrendo contrações e em seu prazo de ter o bebê, foi atendida por um acadêmico que fez os primeiros atendimentos. 
(imagem divulgação Hospital Maternidade "Dona Evangelina Rosa") 

O médico de plantão não estava na Casa. Chegou  às 8h30, já com muito atraso de seu horário de trabalho que deveria ser de entrada às 7 horas. Examinou a paciente e recomendou que ela voltasse pra casa. 

Embora todas as contestações dos familiares e os sinais de que a mãe estaria em sua hora de parir, o médico obstetra plantonista mandou-a de volta pra casa, assegurando que ela deveria aguardar a dilatação para o parto normal. 

Liberada pelo médico obstetra, Roberta e seus familiares recorreram a uma clínica da rede privada da capital. Na clínica foi atendida pelo doutor Nascimento, médico aposentado da Evangelina Rosa e um dos mais respeitáveis obstetras piauienses. 

Responsável pelo nascimento de muitas crianças em Teresina, o médico ao atender a mãe recomendou a imediata cirurgia, atestou que a parturiente não teria o bebê, em circunstâncias nenhuma, de forma normal. 

Realizado o parto cesariano, a criança nasceu bem, a mãe ficou bem e mais uma vez a experiência e a prática humanizada, para perceber quando é hora de tomar a decisão certa e romper a rigidez da regra exigida pelo negócio e serviço público de saúde, salvou uma situação. 

Na clínica da rede privada, a cirurgia custou a soma de R$ 3.000,00 (três mil reais). Sorte da família que pode reunir, na emergência, essa quantia em dinheiro e possibilitar a resolução de uma situação criada para manter partos normais, mesmo quando estes não sejam possíveis.

Não que os partos normais não sejam os melhor recomendados, são. Mas quando não possíveis, as mães e familiares têm o direito cidadão de entrarem na escala de exigir e serem atendidos ao parto cesariano.

As estatísticas mostram que mães e bebês também estão nas escalas de morte, por ficarem à mercê de serviços públicos de saúde ineficientes, descasos de profissionais da área médica que forçam a manutenção de partos normais, mesmo quando estes não se concretizarão, por falta de condições naturais da mãe. 

As que só dependem do serviço público da saúde terão que ter muita sorte para encontrar o médico de plantão, no local de trabalho, e este ser sensível o suficiente para perceber que, às vezes, a ciência e a medicina podem tomar a decisão certa e valorizar qualquer mulher e futura mãe, independentemente dela ser pobre, da periferia, ter tido um acompanhamento pouco eficaz no pré-natal e não ter dinheiro para buscar uma alternativa, na rede privada de saúde, quando a dor aperta e a saúde de seu bebê comece a ficar comprometida.

A mãe Denylle Roberta Nascimento pode, emergentemente, ter a decisão da família e recorrer a outra opinião médica. Essa família teve essa boa sorte, mas nem sempre pode ser assim para muitas outras. 

E os desdobramentos, os mais diferentes possíveis, assomam testemunhos e experiências diversas nos corredores e plantões do Hospital Maternidade Dona Evangelina Rosa e hospitais-maternidades de Teresina.

Então o parto normal pode ser prerrogativa do Ministério da Saúde e ANS, mas não pode ser a regra inquebrantável para mães pobres e dependentes exclusivamente do serviço da rede pública de saúde.  

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