Leitores distanciados
por maneco nascimento
“(...) A tragédia e a comédia mostram de forma objetiva o conflito
entre os homens e o destino e, assim, a luta entre poesia e história (...) Nos
heróis do mito grego e, em outro sentido, nos do teatro espanhol e elisabetano,
é possível perceber as relações entre a palavra poética e a social, a história
e o homem. Em todos eles o tema central é a liberdade humana (...) Quaisquer
que sejam as relações entre poesia épica, dramática e lírica, é evidente que as
primeiras se distinguem da última por seu caráter objetivo. A épica conta; a
dramática apresenta. E apresenta em bloco. Ambas, ademais não têm por objeto o
homem individual e sim a coletividade ou o herói que a encarna (...) Em geral,
toda épica representa uma sociedade aristocrática e fechada; o teatro – pelo
menos em suas formas mais altas: a comédia política e a tragédia – exige como
atmosfera a democracia, isto é, o diálogo: no teatro a sociedade dialoga
consigo mesma (...)” (Paz, Octavio. O Arco e a lira. trad. de
Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 270p. [Coleção Logos]/pags. 237,
238 e 239)
Da teoria à prática, dos exemplos
de tradição às releituras de apreensão e redimensionamento da arte dramática.
Assim culmina a humanidade em seu exercício do exercício em dialogismo com a
sociedade que a compõe. Comédia política em modernos exemplos de que a arte se
revigora sempre, mesmo que tenha sido “encaixada” numa cronologia temporal histórica.
A história se repete e a arte imita a vida, diz o clichê.
O Piauhy Estúdio das Artes
realizou + um Ciclo de Leituras Dramáticas. Em sua 11ª. Edição a homenagem
abraçou a dramaturga piauiense Ísis Baião. O texto escolhido, do repertório
criativo da autora, foi “Clube do Leque”. A leitura dinâmica e de estética
aplicada ocorreu na Casa da Cultura de Teresina, dia 8 de novembro de 2014, a
partir das 18h30, na Sala Estúdio do Balé da Cidade de Teresina.
(arte divulgação/acervo Piauhy Estúdio das Artes)
Com a presença luxuosa da autora,
a Leitura tomou ares de bom teatro, leitura compreendida e decifrada mesmo no
mergulho da barriga da esfinge e um empertigamento do elenco que não deixa a
desejar qualquer prática dessa natureza, em qualquer parte do Brasil, salvo que
os resultados e respostas orgulhosas vêm do teatro brasileiro de cepa
piauiense.
O diretor e coordenador do
Coletivo, Adriano Abreu, têm conseguido manter uma linha divisória entre o
teatro o que se deseja ter como práxis teatral e o que melhor se aproxima,
técnico e plasticamente, da + segura edição de Leituras Dramáticas. Em onze
edições já descobriu, há muito, o caminho das perdas que o conflito cênico
exige e o da estrada de pedras amarelas reluzentes.
Para quem teve o privilégio de
acompanhar as Leituras do Piauhy Estúdio das Artes, sabe bem do que se fala. Na
Leitura de “Clube do Leque”, uma acuidade de textos lidos, falas claras e
intenções inflexionadas para nunca desmerecer as personagens (in)sutis de Ísis
Baião.
Texto político reflexivo e venal
traz, de forma cômica, uma guerrinha de costumes datados em período de exceção,
mas que com atualizações simultâneas do público antenado, sempre se se aplica
em costumes de um Brasil que ainda mantém velhos vícios e discurso de separação
social e status quo aos bem nascidos.
Riso livre, tipos exóticos,
esdrúxulos e aplicáveis ao “único animal que ri de si mesmo” (Aristóteles), a
carpintaria construída por Ísis Baião para “Clube do Leque” sempre encontrará
uma plateia indistintamente atenta para ouvir e rir do discurso impresso às
vezes de crítica dos costumes.
Por seu lado, o elenco leitor de
“Clube do Leque” que reuniu Lari Sales, Deborah Radassi, Silmara Silva, Erica
Smith, Ana Carvalho, Adriano Abreu, David Santos, Carlos Aguiar, Luã Jansen, Eristóteles
Pegado e o jornalista Cristian Sousa foi show de bate rebate.
Todo o elenco
esteve em todo o tempo da leitura, em tempo de leitura e dramaticidade
concentradas, com um foco direcional no mergulho humorado e à prospecção de
teatro vivo em diálogo objetivo, conflitos, dramas e liberdade humana de que
fala o teórico Octavio Paz.
Uma noite agradável, muito bem
frequentada pelos convidados do Clube de Leituras Dramáticas do Piauhy Estúdio
das Artes. A concorrência não se arrependeu. Não deve ter havido quem não tenha
se envolvido, devorado e, em seguida, vomitado ao mundo real, não sem antes
navegar pela fantasia, fingimento e persuasão dramáticas (im)postas pelo
exercício de Leitura. A esfinge decifrada e os filhos de sua barriga retornaram
à vida contumaz + felizes com o espetáculo montado ao “Clube do Leque”.
A composição de figurinos
naftalina deu ao mapa cênico esse revival de tratar do ontem recuperado ao
presente. O passado feito futuro do presente reflexional e atemporal quando o
assunto é arte dramática e sua licença poética de compor a história se
reinventando e refletindo a própria imagem de cursos e percursos de memórias
sociais.
Elenco, texto, geografia
dramática espacializada e direção de atores e leitura convergiram ao mesmo
“timing” e determinaram um doce deleite ao “Clube do Leque”, de Ísis Baião. A
homenagem a uma das personagens do Clube dos melhores dramaturgos nacionais, de
letras piauienses, não poderia ter tido melhor efeito.
Ísis Baião e sua dramaturgia;
Piauhy Estúdio das Artes e o teatro brasileiro, de cepa piauiense, estão de parabéns.
Sabem por onde andam a arte e a cultura dramáticas que geram identidade e
mantêm “as relações entre a palavra poética e a social, a história e o homem”
em dinâmica de reinvenção da própria memória cultural.
Teresina não pode + prescindir do
Ciclo de Leituras Dramáticas insistidas pelo Piauhy Estúdio das Artes. Evoé,
teatro piauiense!
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