domingo, 1 de setembro de 2013

Dobradinha Lusófona - Parte I

Dobradinha Lusófona - Parte I
por maneco nascimento

Na noite do encerramento do Festival de Teatro Lusófono, 31, no palco do Theatro 4 de Setembro, às 19h, para um público considerável e atuante a primeiro e segundo pisos, só risos, gargalhadas, histórias de memórias registradas, no livro de borderô do teatro piauiense brasis, a todas as línguas irmãs de lusofonias sem tradução.

O Grupo Harém de Teatro, realizador do FESTLUSO e anfitrião das nações lusófonas de África, Portugal e Brasil brindou a cena brasileira com o espetáculo “Abrigo São Loucas”, montagem no prelo do Harém.
(Maria Francisca, Maria Fernanda e Maria de Castro/acervo Harém)

Espetáculo de segunda entrada da Trilogia hareniana , Dramaturgia e Política, “Abrigo São Loucas” reúne os atores Francisco Pellé, Francisco de Castro, Fernando Freitas, Emanuel de Andrade, sob a direção e texto de Arimatan Martins e, na viabilidade de serviços técnicos, o encargo de Assai Campelo, Iluminação, e Mapa de Sonoplastia, de Márcio Britho.

Para uma prospecção nos cinquenta anos de política e manejos fisiologistas local, os intérpretes encaram três ex-primeiras damas que regurgitam os tempos áureos em que a Lei de Responsabilidade Fiscal, Ministério Público e Polícia Federal não interferiam em negócios de família e política nos rincões do Brasil esquecido pelo deus da justiça constitucional.
(Francisco de Castro, Francisco Pellé e Fernando Freitas/acervo Harém)

Maria Francisca Antônia Vieira, Maria Francisca das Chagas de Castro e Maria Fernanda Jorge de Freitas, com suas cargas de herança familiar hereditária, em descrição interminável de nomes comuns que sobrenomeiam o domínio de territórios a quase feitio imperial, sobrecarregam consigo a amargura melancólica de terem perdido toda sorte de benesses com a morte do marido comum de todas, o prefeito Dé, e o confisco dos bens, rigorosamente, reunidos em cinquenta anos de poder.

Peça de cunho ao entretenimento e crítica reflexiva ilustrada pela cena distanciada, no mote de linguagem da comédia política do absurdo, se instala no inventário popular político piauiense, em meio século de (des)mandos que o espectador identifica e intervê a identidade, imediatamente.

 No desenredo das três Marias, Maria Francisca, Maria de Castro e Maria Fernanda, a revisão 
acrítica das personagens à retenção crítica do público que absorve o rosário de prestação de contas públicas de mulheres, à sombra das administrações do(s) marido(s), chefe(s) do poder executivo local.
(Abrigo São Loucas/acervo harém)

O elenco, muito afinado, transforma picardia distanciada em recurso de rir, porque preciso, mas com estocada venal aos ditames de eixo familiar e dna político fincado nas contumazes e viseiras práticas do fisiológico, nepótico e corrupto meandro dos gabinetes domésticos da política secular brasis. Sem desnível de compreensão e integração da mensagem de dramaturgia, Francisco Pellé, Francisco de Castro, Fernando Freitas e Emanuel de Andrade deslizam com desmedido prazer e liberdade cênicos para deleite da plateia.

Veneno de ponta de língua e de articulação, que salta à frente da “cobrisse” premeditada. Deixa sabor de teatro concentrado na arte de fingir, sob a tutela do discurso político, sem "ofender" a tradição política local, nem nomes tradicionais familiares incluídos em esmera coincidência.

 O tempo das tiranias de humor ácido retém inteligência e ação de despejo do veneno, na hora e segundo dramático certos. Na veia, sem perder a comunicação do escalpo. É sangue bom em aquecimento das estratégias de pilhérias, picardias, histrionismo cáustico e direto que encontra, no corredor de passagem e chegada simultânea ao entendimento do público, o melhor eixo do riso através do quadrilátero de intenções e atenções de dramaturgia afiada dos atores em cena.
(Deslumbres de ex-primeiras damas/acervo Harém)

“Abrigo São Loucas”, de lucidez orgânica na cena construída e de loucuras permissíveis na dramaturgia hareniana para arte e ciência dramáticas eficientizadas. Cinquenta e cinco minutos a refresco, de fruta madura colhida do quintal latifundial e genético da política local, escarafunchada pela batuta da direção de geografia do humor hareniano.

Após a apresentação do Grupo Harém e seu “Abrigo São Loucas”, uma pequena pausa para arregimentar ato lusófono de segunda entrada. Às 21 horas, seria a hora do público da Semana da Lusofonia receber “Pão com Ovo”. Espetáculo facilitado, à cena por César Boaes, através do deus Ex-Machine a mitos contemporâneos revisitados, incorporado pelo Grupo de Teatro Santa Ignorância Cia. de Artes, de São Luís Maranhão Brasil.

 Em minutos se receberia Dobradinha Lusófona – Parte II.

Nenhum comentário:

Postar um comentário