sexta-feira, 1 de maio de 2015

Abujamra, Abujamra!

Evoé, Bruxo provocador.
por maneco nascimento*

sorri, sorri até ficar com nós nas tripas. E me troquei no camarim, da vida, e me desprendi e me encontrei e me encontrei e me encontrei na arte de fingir, convencer, persuadir o outro a pensar e repensar a invenção da roda da fantasia, da alegria e do prazer de representar o eu no outro prospectado no fantástico universo conspirador...(*)

A paráfrase se aplica e, se não explica, não complica e é de livre licença poética. O Chico é +. Cauby idem, logo a homenagem. E, como tudo gira em torno da arte, seja para música, teatro, palcos, + palcos e seus magos de devoção e adoradores da mímesis, do deus pagão, e filhos de uma das + fascinantes práticas da felicidade compartilhada por gregos, romanos, latinos extendidos e herdeiros do velho teatro posterizado em qualquer praça de curiosidade pública. Abujamra, Abujamra!



(o nosso velho e provocador Abujamra/reprodução TV Cultura)

Um dos + carismáticos, respeitados e regentes do teatro político brasileiro, do desconforto, desconstrução e provocativo, Antônio Abujamra, subiu aos seus. Seus dias de novas expectativas, novos campos de atuação e gracejos e ironias crítico-anárquicas que aproximem a identidade do criador e criatura de seus palcos defendidos.

O ator e diretor de teatro, aos bem aproveitados 82 anos,  morreu na manhã da última terça-feira de abril (28), em São Paulo. Um infarto no miocárdio teria sido o vilão ou o mocinho? Quem poderá afirmar se herói ou anti-herói o carimbador do passaporte do artista, se o próprio Abujamra criaria essa boa dúvida para não perder a provocação.
 
(Antônio Abujamra, em 2013/foto colhida da wikipédia)

Segundo os noticiários, o ator e diretor foi encontrado, desacordado, na manhã da terça feira. Um dos filhos do artista, Alexandre, ao ser informado, foi à casa do pai que morava na Rua Maranhão, Higienópolis, Zona Oeste da capital. Ali também os médicos atestaram o óbito.

Como respeitado e grande artista, o local de última visita de amigos e fãs não poderia ser outro, senão uma Casa de artistas que leva o nome de outro grande Nome. O Teatro Sérgio Cardoso, no bairro Bela Vista, foi palco do velório de Abujamra. A morte do ator e diretor colheu a todos com muita surpresa.

Na árvore familiar, os filhos Alexandre e o músico e ator André; as sobrinhas e atrizes Clarisse Abujamra e Iara Jamra e o sobrinho cineasta Samir Abujamra. A TV Cultura, emissora paulista em que apresentava o programa Provocações, manifestou a perda.

"É com grande pesar que informamos que hoje, 28/042015, o apresentador de Provocações, Antônio Abujamra, faleceu. Agradecemos o carinho e apoio de todos que tem nos acompanhado ao longo desses 14 anos de programa", diz nota na página do programa no Facebook. (www.g1.globo.com/sao-paulo/noticia.../G1 São Paulo 28/04/2015 10h25 – Atualizado 28/04/2015 16h19/acesso 01.05.2015 às 10h08)

Acordou para o infinito ao desencarnar enquanto dormia, como um anjo quedado ao descanso. Um anjo rebeldemente dono das próprias escolhas e refinadas ironias partiu para as estrelas e foi figurar sua energia ímpar no seio do Criador. Fazer das suas e compor provocações e encontros com os comuns do mundo estelar.

[Abujamra morreu aos 82 anos, em consequência de um infarto, ocorrido enquanto ele dormia, no dia 28 de abril de 2015, na cidade de São Paulo. O corpo foi velado no Teatro Sérgio Cardoso e cremado no dia seguinte, 29 de abril, no Crematório de Vila Alpina, na zona leste de São Paulo(...) 
Por ironia do destino, no programa Provocações, Abujamra sempre perguntava ao entrevistado como gostaria de morrer, ante as repetidas respostas "em casa, dormindo", o apresentador costumava debochar do convidado.] (www. wikipédia.com.br/acesso 01 de maio de 2015 às 9h56)
Filho de Ourinhos, interior de São Paulo, rebentou para o mundo em 15 de setembro de 1932. Um dos pioneiros nos métodos teatrais de Bertolt Brecht e Roger Planchon,

[Antônio Abujamra estudou filosofia e jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), onde iniciou sua carreira como ator, na segunda metade dos anos 1950, na peça Assim é se lhe parece, de Pirandello, no Teatro Universitário de Porto Alegre.
Recebe uma bolsa de estudos em 1959 e viaja para a Europa, onde faz estágio em Villeurbanne, na França, com o diretor Roger Planchon, e acompanha as montagens “Henrique IV”, de William Shakespeare, e “Almas Mortas”, de Nikolai Gogol. Segue com o diretor francês Jean Villar, participando da montagem “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”, de Bertolt Brecht.
A estreia profissional foi em 1961, em São Paulo, ano em que dirigiu Raízes, de Arnold Wesker, com Cacilda Becker.
Ao querer fazer um teatro político e levá-lo para a periferia paulistana, tendo como base as técnicas de Bertolt Brecht, Abujamra funda em 1963, junto com Antonio Ghigonetto e Emílio Di Biasi, o "Grupo Decisão". Sua primeira montagem é “Sorocaba, Senhor”, adaptação de “Fuenteovejuna”, de Lope de Vega. Estreia no mesmo ano “Terror e Miséria no III Reich” e “Os Fuzis da Sra. Carrar”, ambos textos de Brecht. Alcança o primeiro sucesso profissional com a peça “O Inoportuno”, de Harold Pinter, em 1964.
Como diretor, foi um dos principais da antiga TV Tupi e, como ator, teve atuação destacada.
No início da década de 1980, engaja-se na recuperação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com destaque para as obras “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes, e “Hamletto”, de Giovanni Testori, sendo esta última dirigida por ele no TBC e em Nova York, para o Theatre for the New City.
Em 1998, esteve em Monte Carlo, principado de Mônaco, ao lado de celebridades como Claudia CardinaleAnnie Girardote, Yehudi Menuhin, no júri do Festival Mundial de Televisão, como único latino-americano convidado (...)
Antônio Abujamra foi quem levou o ator Othon Bastos para a televisão, depois do grande sucesso do ator ao interpretar Corisco no filme Deus e o diabo na terra do sol de Glauber Rocha.
Comandou o programa Provocações, da TV Cultura, no ar desde 6 de agosto de 2000, onde adotou um estilo audacioso de fazer entrevistas. O programa era exibido às terças-feiras à noite, com reapresentação na madrugada de quarta para quinta-feira. O último programa foi exibido no dia 21 de abril, tendo o humorista Eduardo Sterblitch como convidado.] (www. wikipédia.com.br/acesso 01 de maio de 2015 às 9h56)

+ do postfólio do artista tem-se:
Começa no mundo biz universitário como crítico teatral. Como ator e diretor no Teatro Universitário desliza entre os anos de 1955 e 1958. As montagens, [ “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa; “À Margem da Vida” e “O Caso das Petúnias”, de Tennessee Williams; “A Cantora Careca” e “A Lição”, de Eugène Ionesco; e “Woyzeck”, de Georg Büchner. 

Em 1965, Abujamra dirige, no Rio de Janeiro, a montagem de “O Berço do Herói”, de Dias Gomes. A peça foi interditada pela censura no dia do ensaio geral. Nos anos seguintes, dedica-se ao Teatro Livre, companhia de Nicette Bruno e Paulo Goulart realizando montagens ambiciosas, como “Os Últimos”, de Máximo Gorki.

Em 1975, dirige Antônio Fagundes no monólogo “Muro de Arrimo”, de Carlos Queiroz Telles, paradoxo entre as duras condições de vida de um operário da construção civil e suas ilusórias expectativas de um futuro brilhante, e recebe o Prêmio Molière, pela direção de “Roda Cor de Roda”, de Leilah Assumpção.

Na primeira metade dos anos 1980, Abujamra se engaja em recuperar o Teatro Brasileiro de Comédia. Entre seus espetáculos mais significativos no TBC estão “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes, 1981; “Hamletto”, de Giovanni Testori, 1981; “Morte Acidental de um Anarquista”, de Dario Fo, 1982; e “A Serpente”, de Nelson Rodrigues, 1984.

Em 1987, encerrado o projeto do TBC, Abujamra dirige, para a Companhia Estável de Repertório, de Antonio Fagundes, a superprodução “Nostradamus”, de Doc Comparato, grande êxito de bilheteria.

Aos 55 anos, Abujamra inicia sua carreira de ator. Em dois anos, atua em duas telenovelas e três peças e é premiado pelo desempenho no monólogo “O Contrabaixo”, de Patrick Suskind, 1987. 

Em 1991, recebe o Prêmio Molière pela direção de “Um Certo Hamlet”, espetáculo de estreia da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio.] ((www.g1.globo.com/sao-paulo/noticia.../G1 São Paulo 28/04/2015 10h25 – Atualizado 28/04/2015 16h19/acesso 01.05.2015 às 10h08))

Na televisão, ganhou popularidade ao compor a personagem do Bruxo Ravengar, na novela das 19 horas, “Que Rei Sou Eu” (1989), em que tirava boas risadas e marcava mistérios e suspense em meio ao histrionismo geral que continha a teledramaturgia de sucesso.

Essa continuidade "mass media" manteve com o programa Provocações, na TV Cultura, em que estava em casa, à vontade e dono do Abujamra que gerações de artistas da cena brasileira reverenciavam e amavam, mesmo que quisessem odiar.

Assim caminha a humanidade para o desconhecido, a seu tempo e marca de imposição de passagem. Saiba ou não da compreensão e percepções de vida e morte, brilho, fama e celebrização, ocaso. 

O progresso do artista, amador da própria profissão em que professou fé e carreira conquistada a palmos de tablados, está garantido pelo seu nome e identidade. 

Assim se inscreve no borderô da vida de artista. Abujamra fez das suas e as suas marcas pululam memórias nacionais e inesgotam seu histórico de criador ativo do teatro brasileiro.


Às luzes e novas ribaltas esse verso e reverso de anjo gauche das causas luminosas e tempo dos seus luminares. Abujamra, Abujamra!

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