sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Teatro Ardente

Teatro quente!
por maneco nascimento


A Piauhy Estúdio das Artes prepara-se à estreia do espetáculo “Fogo”, nos dia 11 e 12 de outubro de 2013, às 20 horas, na Galeria do Clube dos Diários. Montagem composta a partir de adaptação livre do conto homônimo. “Fogo”, a peça, recebeu construção à carpintaria de cena por Adriano Abreu, também diretor geral.

O tema real, vivido no período de sinistros, na década de 40 do século 20, em Teresina, teve tratamento denunciador e abriu reflexão a partir de autores piauienses, inquietos com o ocorrido. Vítor Gonçalves Neto (Fogo), Fontes Ibiapina (Palha de Arroz) e, posteriormente, a tese de doutorado, em história do Brasil (A cidade sob o fogo: modernização e violência policial em Teresina [1937-1945]), de Francisco Alcides do Nascimento e (A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime impune), de José Afonso de Araújo Lima, mantiveram a chama viva da memória dos incêndios em Teresina.

O autor, Vitor Gonçalves Neto, trazido em rigor científico de adaptação para palcos piauienses, é representante do movimento modernista local a partir de 1940, Piauí da era Vargas, e aponta em seu conto social “Fogo” os incêndios criminosos das casas de palha em Teresina, abordagem de crônica de denúncia de tempos difíceis e trágicos. ´

(...) Ao ambientar as ações em Teresina da década de 40, Vítor Gonçalves Neto seleciona e organiza os elementos da narrativa em defesa das vítimas dos sinistros, a começar pelo núcleo central do texto. Lucinha, personagem protagonista, que, como os demais habitantes da periferia da cidade, vive sob a égide do medo, da insegurança, do desespero, tem o seu drama existencial dissecado com ternura e comoção. Uma comoção que não se mascara na hipocrisia da piedade católica, porém, na revolta do discurso do narrador e na fidelidade aos registros históricos que se tem conhecimento sobre os referidos episódios (...)” (Monteiro, Dílson Lages. O compromisso social em Vítor Gonçalves Neto [Resenhas]/ www.verdestrigos.org)

Outro que se detém no assunto é Fontes Ibiapina (João Nonon de Moura Fontes Ibiapina), no romance “Palha de Arroz”.

(...) Podemos destacá-lo como um dos autênticos herdeiros do Neorregionalismo de 1930. Na sua produção literária, o cenário predomina sobre o homem, seja o ambiente da zona rural, com seus problemas geográficos e sociais e aí despontam obras como Pedra Bruta, Tombador, Sambaíba, seja o meio urbano, ressaltando aspectos da classe média e do proletarismo como em Palha de Arroz, romance consagrado, e seu livro de contos, Quero, Posso e Mando (..)”.(Eulálio, Carlos Evandro Martins. Prosa Literária de Fontes Ibiapina [Entre Textos/Ensaio & Crítica]/ www.portalentretextos.com.br)

Segue o ensaísta sobre o autor e obra (...) Palha de Arroz é o romance mais divulgado de Fontes Ibiapina. O cenário é Teresina, na década de 1940, fins da ditadura de Vargas. Trata-se de um clássico documentário urbano-social realista. É um romance de época, pois nele o autor procura resgatar a situação da classe proletária que morava em casas de palha nos principais bairros pobres de Teresina: Palha de Arroz e Barrinha, principalmente, atingidos misteriosamente pela onda de incêndios, ainda hoje questionadas as suas causas e consequências, por historiadores e escritores. A narrativa tem como protagonista Francisco Clemente Porciúncula, familiarmente conhecido por ‘Chico da Benta’ e vulgarmente batizado por um policial com o apelido de ‘Pau de Fumo’ (...)” (Eulálio, Carlos Evandro Martins. Prosa Literária de Fontes Ibiapina [Entre Textos/Ensaio & Crítica]/ www.portalentretextos.com.br)

Ainda sobre tema tão quente, veio “A cidade sob o fogo: modernização e violência policial em Teresina (1937-1945)”, de Francisco Alcides do NascimentoTrabalho detido em pesquisas de jornais e documentos da época, mais o delicado e rigoroso recurso da história oral. Surgiram depoimentos preciosos.

“‘(...) Houve muita prisão [...] Eu fui encarregado pelo interventor de examinar as chefaturas de serviço de polícia, porque corria o boato de muitas prisões e que haviam maltratos. Foi quando eu fui em nome do interventor, juntamente com outro médico, o Doutor Antenor Neiva, fazer o serviço. De fato verificamos que havia muitas prisões, muita gente presa e muitos deles maltratados, surrados, um deles até morreu logo no dia seguinte, se não me engano, um senhor Feitosa. Esse apanhou muito, sabe?’ (BARBOSA, 1996). 

(...) ‘Policiais militares que prestavam serviço naquela oportunidade chegaram a listar locais onde prisioneiros eram torturados para acusar adversários do Governo. Mas todos negam qualquer relação do interventor com esses crimes. O doutor Leônidas era um homem de muita boa fé e confiou tudo a esse cidadão. E, apesar das advertências que ele recebeu muito antes, continuava. O que Evilásio estava tentando era desestabilizar, ele só foi se desvencilhar do Evilásio, pouco tempo antes de deixar o governo e ser deposto em 1945 [...] No meu entender quem provocou isso foi o Evilásio. Agora, por que continuaram os incêndios até 1946? Por que continuaram? Eu acho que os incêndios, como tinha sido uma arma política muito forte, foi através dos incêndios que Teresina toda se mobilizou em torno da oposição. Interessante, a UDN sempre foi um partido de elite em toda parte do mundo’ (NUNES, 1997) (...)” (Nascimento, Francisco Alcides do. Cidade e memória: “cidades invisíveis”/ http://www.outrostempos.uema.br)

O poeta, ator, dramaturgo e diretor de teatro, Zé Afonso, não poderia deixar passar impune seu olhar sobre a história da cidade e, como historiador, também, cunhou obra de grande envergadura lançada à dramaturgia poético trágica.

(...) Livro de poesia de Afonso Lima aborda onda de incêndios ocorrida na década de 40 do século passado em Teresina. O dramaturgo e o poeta se encontram num livro histórico: A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime impune (...) marca profundamente a história literária piauiense, pois resgata um tema por muitos desconhecido, inclusive de historiadores: a onda de incêndios registrada nos anos 40 do século passado (...) o historiador e o poeta entrecruzam-se numa obra de arte de mais de 200 páginas em que seres humanos, em sua mais profunda dimensão humana, sofrem e suam, sofrem e se queimam, sofrem e morrem trucidadas numa sociedade desviada cujos líderes maiores se debatem pela obtenção ou permanência no poder (...) A obra é dividida em dez movimentos, com personagens parece que nascidos de tragédias gregas, pondo a nu as artimanhas, os golpes, as vilanias, a ultraviolência e os desejos escusos escondidos em nome do poder, por homens ávidos de perpetuar seus domínios (...) (Jornalista292 – A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime impune/Cultura/ J292 11/10/2010/www.jornalista292.com.br)

(arte divulgação Fogo/acervo Piauhy Estúdio de Artes)

Agora, a + nova iniciativa vem da Piauhy Estúdio das Artes, no espetáculo "Fogo",
Projeto Aprovado pela Lei Cultural A. Tito Filho. O elenco é formado por
 Carlos Aguiar, David Santos, Érica Smith e Vítor Sampaio. Os serviços técnicos ficam por conta da Direção de Arte, de Vítor Sampaio; Iluminação, de Pablo Erickson; Sonoplastia, de Arnaldo Pacovan e o Of e Maquiagem, de Silmara Silva.


(arte divulgação Fogo/acervo Piauhy Estúdio de Artes)

Expediente:
 dias 11 e 12
 às 20h
 Galeria do Clube dos Diários.
 Ingressos: R$ 20,00 Inteira)/R$ 10,00 (meia). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário