sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Amor Confesso é gira

Réus, confessam.
por maneco nascimento

A Cia. Falácia, do Rio de Janeiro, trouxe seu bom riso e entretenimento refinado para os tablados do Piauí. Através do Palco Giratório fez passagem por Floriano, dia 8, e desembarcou em Teresina para + uma das três apresentações planejadas.

“Amor Confesso” continuou temporada no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 10 de outubro de 2013, às 20h e segue ainda para uma demonstração do teatro carioca, em Parnaíba, litoral piauiense, dia 13.

A Cenografia de “Amor Confesso”, um vestido suspenso, no céu do palco, com uma imensa calda que faz as vezes de uma cortina plinsada, para recorte de espaços no esquerdo do mapa de cena. Cortinas negras aproximam a dramaturgia no restante do palco. Duas cadeiras, dois atores e um pianista com francas intervenções premeditadas que, embora façam parecer, por vezes, despretensiosas, dão o tom do musical entre enredos de contos de amor e traição revisitados.

Caso Arthur Azevedo não fosse grande autor, dramaturgo e jornalista, ainda assim seria um sensível mago das letras arriscadas. A montagem ajunta uma dupla de bons atores, oito contos arthurazevedianos degustados, uma cartografia dramática equilibrada e inteligente e uma energia indispensável para a arte do fingimento. O que começa com um neutro, sem neutro, enquanto a plateia vai se acostumando com o que está por vir, na surpresa da cumplicidade teatral, ganha fôlego natural no metalinguismo apresentado.
(contos de Arthur Azevedo por Alexandre e Cláudia/fotos: Cia. Falácia)

As personagens, construídas por Cláudia Ventura e Alexandre Dantas, um casal que se prepara para casar. Na dúvida de casar, ou não casar, o casal realiza um metateatro do doméstico ao lúdico de viver as personagens dos contos de Arthur. Com agilidade, dinâmica histriônica em economia e técnica interpretativas, sem (in)gerir apelo ao riso fácil, Cláudia e Alexandre desempenham a felicidade do teatro, reproduzem metalinguagens da (in)felicidade de casamentos e dramas de Azevedo.

Com facilitação de cena, traquejada por Ines Viana, “Amor Confesso” mantém direcionamento para clareza do texto e soluções cênicas ágeis e eficientes nas trocas das personagens e ambientações (in)visíveis que compõem a cenografia extra.

Humor e comunicação, sem ruídos, reinventam o lúdico para teatro valorado na arte do ator e na compreensão sincera da encenação contemporânea. O piano, de Roberto Bahal, tal qual o instrumentista das teclas bicolores, do neutro da matiz à ineutralidade sonora direcionada, é inevitável à teia e sua mora dramática. Coadjuvante, Bahal contribui para a manutenção do teatro no nível da comunicação desejada.

A encenação que começa, com os atores à meia roupa (Figurinos sóbrios), a peça íntima para a noiva e meio fraque e cueca ao noivo, já abre a ideia do construtivismo da emoção do casal que se vai retroalimentando das vivências das personagens em que se desdobram os intérpretes. A montagem do quebra cabeça, em contos enredados, define o desanuviar das dúvidas e finaliza com o “felizes para sempre” no ícone do casamento desejado, mas resistido de início.

A interação com o público, na quebra da quarta parede, intui melhor integração entre assistência e elenco. Teatro distanciado, sem perder as virtudes do mezodrama, ao intermediar o cômico, suprime gorduras saturadas.

Há uma química de dígitos que atomizam Cláudia Ventura e Alexandre Dantas, em tabela que quantifica ciência e sensibilidade e qualifica ação cênica nada desprezível. Teatro articulado, de inflexões que variam do simples ao complexo da composição de dramaturgia pensada.
(Cláudia e Alexandre são Amor Confesso/fotos: Cia. Falácia)

Montam, direção e elenco, a peça que chave ao riso e ao entretenimento, sem deixar de ser, ou não ser, teatro à toda aprova. Eis a questão com resposta dada ao prazer do público. “Amor Confesso” professa fé de olhos livres e faz de Cláudia e Alexandre réus que confessam teatro e método à cena brasileira.

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