terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O tempo, o amor, as cartas

de amor, humanas, ridículas, de amor
por maneco nascimento

Quisera nunca ter sido ridículo, nem ser amado, não ter amado, dedicado afeição conturbada, apreensiva, inquieta, sôfrega, feita de amor versejado, dedilhado em orações de esperas, de desejos, de permanência de ser com o amor e estar com o amor revelado a quem almeja o amor do outro. 

O tempo, amor, as cartas de amor, bilhetes, telefonemas, emails, mensagens, signos e siglas, linguagem pragmática de efeitos de atenção e comunicação, ridículas, humanas, de amor as cartas de amor.
(Fernando Álvaro de Campos Pessoa/imagem reprodução)

"Todas as Cartas de Amor são Ridículas                

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
                         
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
                     
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"
(Álvaro de Campos, in “Poemas” [Heterônimo de Fernando Pessoa], Portugal. n. 15 Out 1890/ http://www.citador.pt/poemas/todas-as-cartas-de-amor-sao-ridiculas-alvaro-de-camposbrbheteronimo-de-fernando-pessoa.../acesso 27 de janeiro de 2015 às 10h03)

Só quem assume ser ridículo, não ter medo do ridículo, pode ser um bom ator, ou um bom amante de amor desejado. Todas palavras, os sentimentos esdrúxulos, como diz o poeta lusitano, são naturalmente ridículas. Mas são da verdade do amor, ame-as ou deixe-as livres para encontrar quem as pronuncie à forma do amor a que são ridículas.

"Escrevo cartas.

Escrevo cartas.
Cartas para Romeu.
Missivas que nunca chegarão a lugar nenhum.
Cartas que, como tantas outras, virarão fogueirinhas de papel.
Labaredas a queimar sonhos, desejos, visões: boca com boca, pernas enroscadas, mãos entrelaçadas, corpos compactados e uma só visão.
Meu regresso se aproxima.
No refúgio lamentarei, inevitavelmente, anos não vividos... dias não sentidos... horas não passadas...
Tento afogar este amor no mar de minhas lágrimas.
E como louca em desvario grito baixinho:
'Eu quero amar
Eu quero amar
Eu sei amar!'
Fale. Uma vez só. Fale.
Convença-me, eu peço, de que assim como está é melhor pra nós dois.
Diga. Diga que tudo não passou de uma mera ilusão.
Ou que, (como Julieta), só ficaremos juntos numa outra estação." (Escrevo Cartas. Cartas de amor para Romeu, escrita por uma poeta que prefere o anonimato. Tempo, em qualquer lugar de amar e do amor, 04 . 12 . 14)

Aceito ser dono de cartas de amor ridículas, de sentimentos e palavras esdrúxulas a cartas de amor, de amar, de saber amar e de escrever as falas de cartas e memórias de que todas as cartas de amor são ridículas.

De sentir, de pesar, de sonhar, de amar e renunciar e de ser amor despejado na esperança de sempre amar, de ser amado, porque "Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas."

Logo, escrevo essa carta por te amar, mesmo que sejam ridículas todas as cartas de amor.

[Escrevo-te
Estas mal traçadas linhas
Meu amor!
Porque veio a saudade
Visitar meu coração
Espero que desculpes
Os meus errinhos por favor
Nas frases desta carta
Que é uma prova de afeição...
Talvez tu não a leias
Mas quem sabe até darás
Resposta imediata
Me chamando de "Meu Bem"
Porém o que me importa
É confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida
Mais ninguém...
Tanto tempo faz
Que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa
Que eu sonhava
E guardo a impressão
De que já vi passar
Um ano sem te ver
Um ano sem te amar...
Ao me apaixonar
Por ti não reparei
Que tu tivestes
Só entusiasmo
E para terminar
Amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Tanto tempo faz
Que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa
Que eu sonhava
E guardo a impressão
De que já vi passar
Um ano sem te ver
Um ano sem te amar...
Ao me apaixonar
Por ti não reparei
Que tu tivestes
Só entusiasmo
E para terminar
Amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Escrevo-te           
Estas mal traçadas linhas
Porque veio saudade
Visitar meu coração
Escrevo-te
Estas mal traçadas linhas
Espero que desculpe
Os meu erros, por favor
Oh! Oh!
Meu amor, meu amor!
Oh! Oh! Oh! Oh!] (A Carta/Erasmo Carlos)

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