terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O tempo da Mulher

em A República dos Desvalidos
por maneco nascimento

"Mulher prezada e descabida/Sem rumo e além do viver/Corre as torrentes perdidas/Sem ilusão desvalida/Na ânsia de te querer/Como quem passa no mundo/Arrastando o coração/Sofrendo sufoco profundo/Nos cabarés tão imundos/Nas dores das solidão//Me rói, me dói, consome/Me rasga, me queira, me come/Me vira ao avesso, me dá outro preço/Que eu não desmereço tua louca paixão/Me fere, me lambe, arrebenta/Me traga, me esfola, me aguenta/Arromba essa dor, me dá teu amor/Que eu sinto pavor no meu coração//Mulher calada e reprimida/Que se consome ao viver/Rola na cama, iludida/Na ilusão sucumbida/Na busca de não sofrer/Como quem vive no cio/Querendo alguma atenção/Sofrendo desprezo arredio/Vela tosca, sem pavio/Morrendo na solidão//Me mexe, remexe, destrói/Me deita, me fura, corrói/Me tira a razão, me faz de atração/Na pura ação desse teu prazer/Me puxa, me deixa demente/Me morde, me faz de contente/Que eu quero calor, me dá teu amor/Que eu sinto torpor que dá pra morrer " (Canto da Solidão: José Afonso de A. Lima e Aurélio Melo) 

Uma das músicas + emblemáticas contidas no espetáculo grutepeano chama-se Canto da Solidão. Perpassa o drama da mãe, mulher e dona dos cotidianos retratados em texto de José Afonso de Araújo Lima. Na voz de Vera Leite, a música ganha uma energia vocal afinada e técnica suavizada pelo teor dramático que a atriz sempre imprimiu no poema musicado  e narrativa que a dramaturgia uterina solicita. Vera Leite se dispõe em integridade e concentração refinadas, enquanto representa.
(Vera Leite e Fábio Costa em cena aberta/fotos: F. Pellé)

Com Lari Sales, Bid Lima, Edithe Rosa
, nessa nova leitura, e as personagens de atrizes que passaram pela cena do espetáculo, nas montagens anteriores, como Eleonora Paiva, Cândida Angélica, Eleonora Montenegro, Izinha Ferreira, Claudinha Amorim, somam esforços e muito sangue no olho para nunca deixar a peteca cair, quando o assunto é a arte de mergulhar no ato de convencer e persuadir na cena.

(Bid Lima e Lari Sales n'A República dos Desvalidos/fotos: F. Pellé)

Essas mulheres que a memória nunca relega, foram e são gols de placar e, para as que continuam incrementando o Projeto, ele, o espetáculo, está chegando e não deixará perda sobre expectativas assomadas a essa estreia que se aproxima
(arte divulgação/criação Paulo Moura/acervo Grutepe)

Será tempo do riso e do entretenimento e das Mulheres que povoam o universo zeafonsiano de compor dramas e comédias ao teatro piauiense. A República dos Desvalidos, dirigida por Arimatan Martins, para texto de Zé Afonso de Araújo Lima, conta os dias e horas de estrear no palco do Theatro 4 de Setembro, nesse ano que segue a dias de verão.

Nos dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro, os olhares estarão voltados à Comédia Musical que já arrebatou muitos aplausos e prêmios de crítica e recomendações teatrais Brasil afora e foi furacão devastador de plateias locais, domadas ao gargarejo, desde que fez seu rito de entrada nos anais do teatro piauiense, na década de 80, mas precisamente em 1986.

Essa peça pega pela emoção, pelo talento atomizado na verve do elenco reunido, direção e carpintaria textual histriônico dramática de fazer bolar de rir, enquanto garante também tempo de refletir e aproximar identidades da vida como ela é no nicho de um conjunto habitacional, recém inaugurado e entregue às pessoas, mutuárias de programa de habitação pública estadual.

Espetáculo musical com letras de Zé Afonso e músicas, arranjos e direção musical do maestro Aurélio Melo, a energia teatral está em veias de expansão por conta de repetir "o mito do eterno retorno" de sua dramaturgia nunca abandonada, ou esquecida. 

Já se fez palco pelo menos pelas mãos de quatro diretores, Zé Afonso, José da Providência, Zé Afonso, de novo, e, dessa vez, é a hora a vez do augusto e matraca das cenas distanciadas à assinatura da escola brechtniana, ele que se fez Arimatan Martins.

Responsável por inesquecíveis sucessos de público, prêmios e críticas conquistados aqui e alhures, Ari detém a pena e a lei de dramaturgias que apelam pela valorização do ator e seu método, conquista do intérprete a partir das emoções e rubricas dramáticas peculiares do texto original reinventado à carga do fazer teatro e arte de propósitos de lançar o homem brasileiro no centro da cena.

Pérolas como "Romeu e Julieta", de W. Shakespeare; "Os dois Amores de Lampião antes de Maria Bonita...", "Raimunda Pinto , Sim Senhor!" e o "Vaso Suspirado", de Chico Pereira da Silva; " O Auto do Lampião no Além", de Gomes Campos; "O Princês do Piauí", de Benjamin Santos;  "O assassinato do Anão do Caralho grande", de Plínio Marcos; "A Casa de Bernarda Alba", de Garcia Lorca, e duas das peças da Trilogia hareniana, "Macacos me mordam - a Comédia", "Abrigo São Loucas", com texto, dramaturgia de palco e direção geral do próprio Arimatan, estão contidas entre o vasto repertório do diretor, formado na CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro.

Agora, o grande desafio é unir forças a Zé Afonso e, no salto do guapo encenador, desconstruir teatro e reconstruir na cartografia arimataniana a práxis ao fingidor. Do original Itararé, a República dos Desvalidos, Arimatan prospectou novos liames e fios ariadnos para vencer mitos, minotauros, labirintos azeitados pelo tempo de viver e ser obra, já escarafunchada e lida, e lidar com a quebra do selo cristalizado e insuflar sopros hermesianos ao tradicional, com ruptura, na busca da comunicação na comunicação indispensável, de Zé Afonso, em aliança com o novo olhar rendido à encenação de A República dos Desvalidos.

E quanto à música Canto da Solidão, esta já foi tinir e ressoar de vozes que liberaram emoção ao entoar essa canção. Luiza Miranda, Ensaio Vocal e Maristela Gruber, sem se fazerem de rogado(a)s, já homenagearam o poeta e o músico emprestando suas vozes e tino femininos de bem cantar e representar esse canto dramático. 

" (...) cantei um poema do Afonso Lima, da peça de teatro "Itararé, República dos Desvalidos", ou seja, a " Mulher Prezada e Descabida", que, na realidade, se chama " Canto da Solidão". Um grande poema do Afonso, com uma música impressionante do Aurélio!! Uma "receita" maravilhosa! (...)" (Que bonitooo! Que bonito!! Que bonito!!!/carta de maristela mauler gruber a 
www.krudu.blogspot.com.br/quinta feira, 1 de outubro de 2009 [kenard caverna "entrem sem bater"]/acesso 19 de janeiro de 2015 às 10h09)

Essas Mulheres 
que cantam, interpretam, representam e sabem ser feminino da arte e da vida estão por ai por todas as cidades e vivas, fazendo em labor sua hora de ser estrela e artista da felicidade ativa . E para as que retornam em A República dos Desvalidos, só uma palavra merde! 


(esse elenco de A República dos Desvalidos vinga!/fotos: F. Pellé)

Ajuntadas a Eliomar Vaz Filho, Fábio Costa, Marcel Julian, no elenco, e a Zé Afonso, Aurélio Melo, Wilson Costa, Zé Dantas, et al, as Mulheres que já conspiraram antes e as que conspiram nesse momento que se aproxima, não há universo que resista ou não devote atenção ao ato de A República dos Desvalidos.

Dias 30 e 31 de janeiro e 1 de fevereiro não vai dar outra. É pra rir, se divertir e rever esse sucesso que se manteve na memória da cidade e recebeu montagens em 1986, 2006 e volta com toda a carga que lhe cabe apresentar nesse ano de 2015.

Serviço:
A República dos Desvalidos
- de Zé Afonso de A. Lima -
direção de Arimatan Martins
dias 30 e 31 de janeiro
       1 de fevereiro
no Theatro 4 de Setembro
às 20 horas
Ingressos no Teatro

Informações: 3222 7100

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