terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Torquato, "Geleia Geral"

na CulturaThe
por maneco nascimento

A segunda feira, 15 de setembro, da Mostra CulturaThe, foi a muita energia de Torquato aos novos artistas e dos novos artistas para o público que acorreu, ao Espaço Cultural "Osório Jr."/Bar do Clube dos Diários, e conferiu o espetáculo musical "Geleia Geral", com texto e dramaturgia, de Vitorino Rodrigues, em foco transversal com a obra poética de Torquato Neto. 

Rodrigues, ainda, com tudo e não está prosa, reverbera a personagem do apresentador do programa de auditório "Se Toque Show", como Armando Boaventura, às vezes de homenagens ao Velho Guerreiro Abelardo Barbosa O Chacrinha

Na noite, também, o lançamento do livro "A Biografia de Torquato Neto", escrita de rigorosa pesquisa realizada pelo jornalista e escritor curitibano, Toninho Vaz.
(obra lançada em Teresina/divulgação)

Dois momentos ímpares, na noite torquatiana, a performance energética e concentrada em estéticas cênico musicais do "Geleia Geral", o musical, e a conversa franca e bastante instrutiva de Toninho Vaz sobre seu processo de construção da biografia de Torquato Neto.

"Geleia Geral", teve sua apresentação a partir das 20 horas e deu um gostinho de orgulho pelo que se está fazendo nessa arte revigorada e geração empertigada do fazer teatral na cidade que não tem + fim.

("Geleia Geral", o musical/acervo VR Produções)

Espetáculo dinâmico, quente, expressivo, com emblemas que recuperam as memórias tropicalistas, para viés de contemporaneidade de agora, e que dá o "ponto no doce" de banana nascida na cabeça do poeta e (re)cortada na cena por olhar dramático de Vitorino Rodrigues e seus parceiros de palco, os artistas criadores da Cia de Dança Conexão Street.

Na partitura explorada, corpos que falam com a alegria e vigor de amantes da cena e os desdobramentos do texto à fala, da fala à música e ao musical, das vozes do poeta à voz do teatro novo de cada dia.

No palco do "Osório Jr.", um elenco expressivo, da média de 8.99, numa voraz atitude de cena aplicada que é + 10, já que só fúria em sons conscientes e reverbero de corpos e coreografias que dançam e dizem que são poetas e licenças na poesia do artista escritor para os artistas arte criadores, em verves antropofágicas que devoram a atenção do público.

Antoniel Novais (Pitoco) consegue deter força e inflexão vocal eficazes toda vez que se implica à cena. Seu corpo é natureza distinta e amplificada na economia de gestos premeditados e textos que falam +, enquanto se auto reafirmam no ouvido.

([Torquato]Márcio Felipe e [Pitoco]Antoniel Novais/acervo VR Produções)

Márcio Felipe Gomes (Torquato) reúne carisma, talento, beleza e projeção angustiada do poeta e percepção emergida de sua posição de construtor da personagem homônima do poeta e anjo torto. Se estabelece e persuade qualquer assistência, sem deixar margem de que o poeta fala em sua fala. Encrava um escorpião na ferida da plateia.

(Márcio Felipe, na personagem homônima de Torquato/acervo VR Produções)

FranciWilliam Lima (Santiago/assistente de palco de Boaventura), discreto e humorado, não passa despercebido, ganha pelas beiradas da farta mesa em que poderia escolher qualquer fruto maduro posto. Não foge da raia dramática, se garante.

Raira Monteiro (Teresa) é toda prosa, proesia, teatro e poesia em cena de fingir e convencer. Faz a lição de cor, com a expansão atômica de sentimento e razão sensível ao dramático facilitado pelo diretor. É linda de ver e de sentir energia concentrada no alvo.

(Raira Monteiro, como Teresa, em "Geleia Geral"/acervo VR Produções)

Kelly Magna, que encara as Mães da juventude transversada [a de Teresa e a de Torquato] e Lyvia Moura, que encorpa Baby, determinam que os urubus no telhado não escapam de serem mantidos, porque tangidos são os medos de não sobreviverem pela arte, quando o teatro se instala. Olho, corpo, vozes e inflexões poéticas, em profecia da profissão, detêm a força das novas atrizes que ganham o mercado da cena local. Estão na média + e ninguém salga essa salada mista de feijão, ternura, amor e paz que o poeta vocifera.

"Geleia Geral" realizou um dos primeiros pontapés, de homenagens aos 70 anos de nascimento do poeta e anjo torto, o Torquato Neto das geleias gerais e fugas poéticas em dias que marcaram sua obra e arte.

Na sequência da apresentação do espetáculo musical, o jornalista e escritor Toninho Vaz abriu seu coração, de escritor e de prospector da biografia de Torquato, para garantir que não escreveu uma obra comercial, mas fundada na paixão, afinidade com a estética do poeta e, especialmente, porque Torquato e Leminski, seu conterrâneo, estão para a voz maldita da poesia brasileira, como dois grandes autores de seu tempo.

(Toninho Vaz, com obras a poetas malditos brasileiros/divulgação)

O escritor falou da experiência de escrever sobre um poeta piauiense, quando ele próprio é curitibano. E confessou ser da geração do Anjo Torto e que, o único contato mantido, com o poeta piauiense, teria sido na década de 1970, quando alguém apontou Torquato na plateia de um espetáculo carioca.

Mas, jornalista e colunista de diário curitibano, com a coluna "Pamonha", manteve afinidades com a poesia e a estética torquatiana e sempre acompanhou a coluna diária "Geleia Geral", no jornal carioca Última Hora, de expressão nacional, assinada por Torquato.

Toninho Vaz ainda falou das entrevistas colhidas, no Piauí, de amigos e do pai do poeta e deu informações preciosas e inéditas sobre o Torquato. Confessou ainda que não se ganha dinheiro com o tipo de livro editado e que cunhou dinheiro do próprio bolso, para confirmar a obra escrita. Satisfeito com a resposta do público leitor e que a obra, lançada em julho último, já está em sua segunda edição.

Numa conversa franca, disse estar muito feliz em ter vindo ao Piauí e que o livro, não é dele, mas de Torquato Neto. Apenas facilitou-a como obra impressa. O livro foi adotado como obra de estudo em uma universidade pública do Rio Grande do Sul. Torquato também é material de curiosidade e interesse fora dos limites piauienses e Vaz confirmou não ter qualquer influência sobre esse mérito. A vantagem é totalmente de Torquato Neto.

"Biografia de Torquato Neto", escrita por Toninho Vaz, entra no currículo obrigatório de leitura a qualquer piauiense sensível e leitor. Toninho Vaz, em seu discurso discreto, sem qualquer arrogância e com muita simplicidade de se apresentar, assegura que Torquato é também paixão dele e não poderia se furtar de registrar o poeta em biografia apresentada, com a qual tem percorrido o país para divulgar o livro.

Finalizou agradecendo o convite para vir ao estado e ainda registrou que voltará à cidade, em novembro, quando haverá uma grande homenagem a Torquato Neto, que envolve a Nave Louca Produções, leia-se Soraya Guimarães; Fundac; Kenard Kruel e a Fundação Nacional do Humor.

Ponto para o Mostra CulturaThe, que abriu possibilidades para "Geleia Geral", o musical, e à ótima presença de Toninho Vaz. A noite foi ganha pela arte, cultura, literatura e paixões declaradas.

(Mostra CulturaThe, a programação segue)

Parabéns a João Vasconcelos (Mostra CulturaThe), Kenard Kruel (Fundação Nacional do Humor), Toninho Vaz (Biografia de Torquato Neto et all) e Vitorino Rodrigues ("Geleia Geral", o musical).

A noite de 15 de setembro foi totalmente torquatina de expressão, memórias e histórias afetivas e artísticas revisitadas.

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