segunda-feira, 21 de abril de 2014

Paixão:10! Paixão

Só em Bom Jesus
por maneco nascimento

26 atores de Teresina, 2 de Bom Jesus, um vindo de fora (RJ) e outro também carioca, radicado em Teresina, formaram o grupo que seguiu para a cidade de Bom Jesus do Gurgueia, ao sul do Piauí, à realização da 10ª. Edição da “Paixão de Cristo de Bom Jesus”, com texto e dramaturgia de cena de Franklin Pires e coordenação de trabalhos e figurinos, Bid Lima; produção executiva, Carlos Anchieta; maquiagem e assistência de figurinos, Danilo França.
(elenco da Paixão/foto linha do tempo de Franklin Pires)

O grupo de 30 pessoas partiu de Teresina dia 15 de abril, com tempo para ensaiar e afinar a grande apresentação do dia 18 de abril, sexta feira da Paixão, no lugar contumaz, Salão da Serra de Bom Jesus. Na cidade, foram incorporados os atores mirins do Núcleo Dramático de Bom Jesus.
(atores de Teresina, Rio e Bom Jesus/foto linha do tempo de Silva Jr.)

O reconhecimento do espaço ocorreu na quarta feira, 16, à tarde. Os ensaios, a partir da manhã do dia 17, quinta feira. De Teresina foi uma equipe de atores afinados que encontrou os de Bom Jesus afiando resultados. Do sudeste do país, o ator convidado Sérgio Abreu, que vinha de um passado por participação em uma novela de tevê.

Havia um outro convidado, também carioca, Bruno Gradim, que atualmente apresenta programa em tevê local, de nome Cajuína Carioca. Esses dois atores, de sotaques para "ésses" e gingados linguísticos peculiares, vieram, viram, mas só um venceu. É preciso que se dê a César o que for de César.

Bruno Gradim, chegou na quinta feira, à tarde, participou de dois ensaios e eficientizou, com perspicácia, o proposto da dramaturgia franklinpireana. Foi um Pilatos empertigado, concentrado e conhecedor da arte de representar. Meus colegas atores foram categóricos, Gradim tem escola de teatro.

Sérgio Abreu não teve a mesma malícia do pulo do guapo. Participou de três longos ensaios, com paradas para correção que definiram todo o andar do elenco, mas não conseguiu acompanhar o raciocínio brechtiniano e a cartografia sugerida por Franklin Pires. Com passagem por uma novela da Globo e nenhuma outra lembrança que se tenha que reviver, o ator não conseguiu implementar sua experiência para compor o Messias, na Paixão de Cristo de Bom Jesus. 

O artista esteve em Teresina, para o lançamento do espetáculo. Pela manhã, no Salão Nobre "Deputada Francisca Trindade" (ALEPI) e, à noite, na Galeria do Clube dos Diários, à abertura da Exposição 10 Anos da Paixão de Cristo de Bom Jesus e lançamento de cinco DVDs, com versões do espetáculo aos anos de 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013. 

"O ator convidado, Sérgio Abreu, também se pronunciou e disse estar muito feliz pelo convite e agradeceu ter sido lembrado para compor o elenco da "Paixão de Cristo de Bom Jesus". (blog leia-se letras e letteras/ 2 de abril de 2014)

Dos artistas nacionais convidados, os atores e atrizes locais já tiveram o privilégio de contracenar com Fernando Pavão e suas pavonices, delegadas à boa composição da personagem que construiu ao Cristo; Thiago Mendonça, numa excelente atuação para Pilatos; Alexandre Barillari construiu um Judas introspecto, convulsionado ao choro de culpa e numa atuação econômica e sincera para um traidor do Filho de Deus. Convincente.

Depois veio Guilherme Trajano, participativo, envolvido, simples e engajado na pele de Jesus. Compôs um bom tipo a Cristo e, ao final de ensaios e resultado cênico, tinha a própria pele marcada por lacerações adquiridas na crença de fazer bem a personagem.

Em 2013 foi a vez do ator Daniel Erthal que também vinha da esteira de personagens em novelas e séries de tevê globais. Cumpriu seu papel e deu vida e luz ao Cristo crucificado. Já nesse 2014, a produção executiva optou por Sérgio Abreu.

Abreu chegou contido e terminou a encenação ainda mantendo a mesma contenção que, se a princípio parecia estratégia de preparação à personagem, ao final da encenação descobriu-se que não era nada daquilo, mas só uma inexpressão, ou falta de traquejo para a arte do fingimento e desdobramentos que ganham forma na prática do teatro e seus congêneres.

Sérgio Abreu só abandonou texto, nos ensaios, quando foi provocado a fazê-lo, pelo diretor. Sem o script na mão, manteve uma atuação inócua e de um irregular amador. Na cena, mesmo ungido pela força do drama, perdeu qualquer oportunidade de marcar espaço na Paixão de Cristo de Bom Jesus. 

Era a representação do Cristo + longe do perfil de um messiânico que passou quarenta dias no deserto e jejuava. Lento e, numa quase despretensão, pareceu ser ator que na hora daria tudo,a "la Mirica", a atriz piauiense que não gostava de ensaiar, mas durante o espetáculo era esplêndida.

Alegou problemas de coluna, quando solicitado a carregar a cruz e, sem qualquer esforço, cumpriu sua tarefa para a qual foi convidado e bem pago. Fingiu ser um Cristo, mas talvez estivesse acostumado aos truques do video tape, o fake dos sets de gravação. Em nenhum ano anterior, qualquer ator reclamou da cruz. 

Distanciado, sem presença na arte de ator, Sérgio Abreu corrigiu a peruca durante a crucifixão e nunca sequer ajoelhou em exercício de representação da personagem. Sua coroa de espinhos, ele a recebeu de cócoras. Foi bem incomum e, numa linguagem atual, fake.

Enquanto artistas da cena, do fingimento, sabemos exatamente quando a arte deixa de ser uma real fantasia. Fingir faz parte da verdade de qualquer ator ou atriz. Mas é preciso estar dentro do jogo, protegido pela técnica e experiência de concorrência na práxis teatral. Sérgio Abreu + pareceu deslocado de qualquer iniciativa real de quem constrói uma personagem. Abusou, tirou partido, sem sujar as mãos, ou os pés na cena tupiniquim da Paixão: Dez! Paixão.

A Paixão de Cristo de Bom Jesus sobreviveria muito bem, obrigado, sem a presença do rosto bonitinho de Sérgio Abreu. Mas já que fora uma imposição da produção executiva do espetáculo, ficou a lição. Não precisa demonstrar real talento, basta ser escolhido por uma imagem e marketing pueril e viver o momento de assédio do povo ansioso por tirar uma foto com o galã da hora. 

De resto, perdeu-se uma boa oportunidade de manter o nível nos Cristos anteriormente interpretados. Ao final do espetáculo, realizado para uma multidão satisfeita, o deputado Fábio Novo disse que tinha sido a melhor apresentação dos dez anos.

Havia mesmo uma grande força e compromisso do elenco ido de Teresina e do grupo de Bom Jesus. Cada um definiu a própria experiência, em cena, e deu seu melhor convincente. O outro ator convidado Bruno Gradim foi uma grata surpresa.

Tinha ótimo "timming", dialogismo no olhar compartilhado com o colega de cena, o corpo falava por intenções trabalhadas e dentro da elaboração composicionada ao governador romano. Foi de uma mentira bastante eficaz.

O espetáculo poderia mesmo ter sido Dez! Mas ficará para uma nova edição, quando um novo abril chegar. A Paixão de Cristo de Bom Jesus foi nota 9,5. Os outros 5,0 pontos ficam de generosa lembrança ao ator Sérgio Abreu, para que ele não zere a própria desatuação.
(guarda romana, sinédrio e Sérgio Abreu/foto linha do tempo de Silva Jr.)

Seus cinco pontos não se acentuam ao computo geral conseguido pelo espetáculo, este é mérito dos 99% do elenco concentrado em ganhar, não só o pequeno cachê pela atuação, mas também o orgulho de manter a cena viva e o histórico daquela Paixão preservados.
(sinédrio e guarda romana/foto linha do tempo de Silva Jr.)

Vitória do teatro piauiense sobre a ausência consentida do ator carioca. Cristo não esteve entre nós dessa última vez. Sérgio Abreu até que esteve, mas parece não conhecer a arte do fingimento, nem a verdade do teatro.

Caso não volte para a tevê o + breve possível, estará sujeito ao esquecimento. Pois por aqui já deixou uma péssima impressão e nem chega a ser de natureza cênica. Deve voltar aos favores dos diretores e roteiristas de teledramaturgia, senão... do que é que eu falava mesmo?

Essa foi a Paixão que só enganou ao produtor executivo deslumbrado com um rosto e uma recomendação de amigos do artista. Mas qualquer ator sabe que Sérgio Abreu não vingou nem melancia e maxixes em leiras, num ano de boa safra. Entrou inexpressivo e saiu compensado pela ousadia de fingir-se de ator. Fingiu muito mal.

Foi um ano de despaixão, promovida por uma única atuação fora do eixo dramático de teatro da Paixão de Cristo. Quem é vivo sempre aprende e o teatro vivo corre por fora de Sérgio Abreu, mas nem o "morto" parece ser de conhecimento de sua iniciação. Então sorte ao nubente, há sempre uma esperança para quem ainda queira aprender.

Então sorte, Sérgio Abreu. Nem tudo está perdido, só não há realidade para quem não aprendeu a "mentir" na arte do fingimento. Esta é a única verdade que o ator precisa aprender de cor.

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