sábado, 12 de abril de 2014

Arte Furtada

Quem poderá nos socorrer?
por maneco nascimento

Teresina tem registrado um novo dado, dentro do estado de insegurança coletiva. Os furtos, de obras de arte, abrem um precedente que ainda não assentou a ficha que começa a cair à práxis de, talvez, abertura de mercado peculiar à sobrevivência a qualquer turno.

Se já não se pode + ter qualquer segurança em casa, no deslocamento ao trabalho, na rua, no estacionamento, no percurso à volta ao descanso diário e, se se convive com cotidianos enjaulados para lares, pequenos comércios e a qualquer momento se pode ter surrupiado os bens móveis, adquiridos com muito esforço, o que ainda poderá acontecer?

A cada momento se convive com o sobressalto de sofrer uma violência de assalto, roubos e furtos, seja no ponto de ônibus, ou outro democrático espaço, em que duplas armadas e motorizadas apontem uma arma de fogo e levem o brilho de novas tecnologias móveis, ou o suado retorno do trabalho do cidadão/cidadã que rala a cada dia.

E para violações de caráter artístico, o gatuno, de insuspeito gosto cultural, sorrateiramente, invade propriedades e detém para si objetos e obras valiosas de patrimônio público, ou particular. Tudo pesa à impotência dominante da sociedade, neste inseguro mundo que cerca a cada um, em qualquer lugar desse país de macunaimices e outras espertezas contumazes.

Por aqui, o tititi é sobre a prática de furto que começa a ganhar marca no noticiário. Obras de arte desaparecidas do acervo da Casa da Cultura de Teresina, e de residência de artista plástico, trazem uma referência comum, detêm assinatura do grande Nonato Oliveira.

Caso vire prática, que ainda não se sabe se para mercado negro, colecionador audacioso, ou bandidinho criando espécie, talvez novo futuro se instale na cidade, o do comércio de peças de arte surrupiadas.

Considerando que os aparelhos públicos (Casa da Cultura, Museu do Piauí, Museu de Arte Sacra, entre outros) que acervam obras de arte, estejam contidos em ambientes com pequena, ou sem qualquer segurança apropriada, o sumiço de objetos artísticos será peixe em água rasa. E, se mesmo em lugares + protegidos, outros roubos consideráveis foram praticados, que dirá por estas glebas deficientes.
(Nonato em ação/foto Catarina Costa - G1)

Três obras do artista plástico Nonato Oliveira foram levadas da sua residência na madrugada desta terça-feira (08). Nonato, que mora no bairro Marques, Zona Norte de Teresina, comentou que os assaltantes levaram as telas, roupas que estavam dentro de um automóvel, dois martelos e um serrote. Segundo o artista, caso foi registrato no 2º Distrito Policial (...)  O artista plástico descreveu que a tela de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro possui 60cm de altura por 40cm de largura. As demais são de 80cm de largura e 80cm de altura, e 80cm de largura por 1 metro de altura. Todas já estavam finalizadas, a primeira seria enviada para o Rio de Janeiro e as outras seriam colocadas a venda no atelier do artista, que fica em sua residência.” (g1.globo.com/pi/piaui/notícia//08/04/2014 18h40 - Atualizado em 08/04/2014 18h40 )

Em fevereiro de 2014, o primeiro furto, também ousado, parece ter sido feito em horário natural de visitação e, num descuido da segurança, a esperteza premeditada se apropriou de três pequenas telas de N. Oliveira. Era o primeiro movimento de usurpadores de patrimônio artístico.

A Casa de Cultura de Teresina recebeu visitantes indesejados nesse mês de fevereiro. Segundo a direção da casa, ladrões aproveitaram as falhas na segurança e levaram obras de arte expostas no prédio. O caso de furto foi registrado no 1º Distrito Policial de Teresina e de acordo com o delegado Riedel Batista, responsável pelo caso, as investigações estão em andamento e até o momento ninguém foi preso (...)  De acordo com a diretora, Josy Brito, o furto só foi percebido após uma vistoria no local (...)  Para a diretora, o furto de obras de arte é um fato novo no Piauí. ‘Em nosso estado não há mercado para este tipo de crime. É mais comum as obras serem expostas em galerias ou serem vendidas por empresas de arquitetura. Queremos saber qual o interesse do ladrão nessas peças do artista plástico Nonato Oliveira’, contou Josy Brito.” (g1.globo.com/pi/piaui/notícia /11/02/2014 08h15 - Atualizado em 11/02/2014 10h42)

Especulações sobre o que terá sido feito das obras de Nonato Oliveira, ou quem estaria por trás dessa consequente ousadia, giram nas rodas de conversa de amigos, admiradores e familiares. As investigações policiais, provocadas, parecem que ainda não haviam conseguido finalizar uma resposta positiva às primeiras diligências, em fevereiro, e quem sabe quando se poderá ter um sinal que aponte um norte para furto recorrente, nesse abril.

Nonato Oliveira, artista plástico que resolveu perpetuar seu traço para obras coletivas, de grandes painéis reafirmadores da cultura popular, também imprimiu recurso pictórico para telas em diverso dimensionadas ao apreciador e consumidor de sua arte. Seu nome e suas cores quentes habitam instalação cultural na cidade, interior do estado, em outros pontos do país e também no estrangeiro.

Para peças público-coletivas, espalhadas pela cidade de Teresina, há algumas que perderam, por força de decisão e insensibilidade administrativas, a qualidade que a arte representa por si só. Um painel que imprimia narrativa de mercados e futuros para escambos de sobrevivência, instalado no muro da fachada da antiga rodoviária rural, onde hoje abriga o Shopping da Cidade, foi destruído e deu lugar ao progresso.

Corre a informação, já a bocas crescidas, que outro painel do artista, pintado em área de um shopping, de nome americanizado, à margem do Poti, zona leste, deve também perder a memória intangível. Será substituído por novidades de quem fica de frente ao mar e de costas pro Brasil e sua aldeia produtiva.

E quem não se lembra de um belo painel que ilustrou, durante muito tempo, o antigo Centro de Convenções de Teresina? Pois aquela obra de arte também parece fadada a desaparecer. Depois que a patacada de um governo de esquerda e sua coligação indefinida resolveram reconstruir o prédio de eventos, isso há alguns vários anos que romperam três mandatos, nada se viu como resultado prático envolvendo recurso público. Onde existiu um Centro de Convenções, foi aberto um flanco aos canteiros de obras a despejo de um elefante cinza grená.

A construção articulada, com recursos públicos, se perdeu no assomo de licitações e orçamentos reinventados. Estes que não conseguiram erigir um novo espaço a abrigo das convenções da cidade. E agora a obra de Nonato Oliveira, imprimida na parede de fachada do prédio, poderá ser literalmente tombada, para dar lugar às novidades de futuros investimentos às novas excelências e pompas circunstanciadas, em outros pendores executores administrativos.

Nonato Oliveira começa a desaparecer de áreas públicas, em assinaturas coletivizadas, e também está sendo ameaçado, paulatinamente, através de furtos de obras de acervo público e particular. Em não havendo segurança da memória intangível, composta pelo artista e presente na cidade, quem poderá nos socorrer?

Nenhum comentário:

Postar um comentário