quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Palhaço, o que é?


O Palhaço, o que é?
por maneco nascimento

Reinaldo Facchini foi o ator do 2º. dia, 09 de agosto de 2011, do 18º. Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Prêmio Zezé Lopes. Com seu “Esperando na Rodô”, dirigido por Marco Pavani, Facchini está muito à vontade na pele do Jeca. O corpo fala numa oralidade jocosa, econômica e preenchida de emoções ricas de memórias do inventor da alegria, o bom e velho palhaço.
                                           (Reinaldo Facchini: "Esperando na Rodô"/acervo)

Um homem, em banco de estação rodoviária, espera o tempo passar enquanto passa lições de simplicidade emocional na complexa arte de fingir a mímesis do Outro presente no Um. Reinaldo colhe à cena gagues, ações clownescas exprimidas na arte do ator apaixonado pelo que faz. Não faz feio.

Detalhista na composição que traz para a cena, o intérprete divide com o público uma alegria premeditada, feita para encantar e envolver qualquer tipo de público aberto a receber uma boa piada. Os elementos de cena vão ganhando vida pelas mãos do palhaço e nada é gratuito, mesmo quando pareça desnecessário o uso.
                                                      (Facchini: "Esperando na Rodô"/acervo)

Um teatro de silêncio e respostas na expressão do silencioso gesto cria uma empatia imediata com a assistência. O diálogo de interior expressionista amplia-se à interlocução cúmplice praticada com o palhaço do espelho, a platéia enleada.

Cenas sóbrias na simplicidade da representação de realismo histriônico comedido surgem feito lição de amor disfarçada de palhaçada. O rito para o jantar ou o para a improvisação da latrina e consumação da necessidade de desafogar-se é de bom exemplo do exercício do ator para a cena viva.
                                             (Reinaldo Facchini: "Esperando na Rodô"/acervo)

O Palhaço, o que é? É livre, é transgressor e trapalhão. É vida de emoções calculadas para explosões encolhidas e em expansão tragicômicas da alegria do espírito clownesco. Reinaldo tem domínio da técnica e tem corpo com febre terçã disfarçado de calmaria. Varia da prosódia ao texto sem voz sempre finalizado para a lingüística corporal de circo e cercos dramáticos.

“Esperando na Rodô” recolhe a platéia para uma fantasia de quem espera e também de quem jamais achou que podia encontrar-se na espera. Quem aprendeu a esperar recolhe poesia e licenças lúdicas que sublimam corações endurecidos. Reinaldo Facchini brinca de felicidade e ganha as horas de espera na busca de seu pássaro azul.
                                                   (Facchini: "Esperando na Rodô"/acervo)

É homem e seu mote de interpretar, artista de um dos maiores espetáculos da terra, a arte de fingir. O faz bem.

2 comentários:

  1. Fico com o coração cheio de orgulho, quando leio o que escreves, escreves com alma, um artista, um observador, você ver além, e só pessoas de sensibildade aflorada tem esse dom. Ontem no debate do espetáculo "Esperando na Rodô". Você mais uma vez foi coerente, analisou com generosidade e respeito!!Parabéns querido Maneco

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  2. Toda vez quando me deparo com esse texto fico emocionado, com as palavras e é isso que me faz seguir em frente GRATIDÃO!!!

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