sábado, 13 de agosto de 2011

Balanço, mas não caio


Balanço, mas não caio
por maneco nascimento

Balanço”, de Goiás, foi o 5º. Concorrente ao 18º. Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Prêmio Zezé Lopes, na última sexta-feira, dia 12 de agosto de 2011. O palco do Theatro 4 de Setembro recebeu, às 20 horas, o esforço concentrado de Bruno Peixoto, em 55 minutos de espetáculo, dirigido por Edson de Oliveira.
                             (Bruno Peixoto: "Balanço"/foto:Layza Vasconcelos)

Cenografia muito legal, abre margem às fugas da personagem inquieta, no desempenho da histérico-esquizofrenia do menino com pés crescidos que reconta sua história de apelos e apegos às memórias afetivo-familiar, às amorosas e às do “front” das guerras internas e guerrilhas do salto do camaleão.

De um eixo central, abrigo de proteção e ponto de partida às janelas das memórias, a personagem discorre suas relações humanas com carga dramática, por vezes redundante, por outras fragmentada aos ambientes construídos, sempre mapeados por uma luz exata.

O rito iniciático deBalanço” apresenta um ator, na boca de cena, recepcionando o público. Até que os burburinhos e novidades dos convidados ao drama se acomodem, é um espetáculo da platéia para o ator.
                             (Bruno Peixoto: "Balanço"/foto de Layza Vasconcelos)

Após essa apresentação (in)formal, o ator/personagem evolui em manifestações religiosas de matrizes africanas e personaliza os ritos de preparação do terreiro em que será imbuída a marca do teatro do cavalo que recebe o santo.

Luz marcante, feito lua, segue um homem em despejo de seu rosário de orações lírico-profanas. Figurino de eficácia às ilustrações composicionais das personagens da personagem apresentada.
Os núcleos cenográficos, que alimentam-se de adereços emblemáticos, vão pincelando a forma da dramaturgia e formulando idéias fisicalizadas à interface dos contadores do enredo.
Ator, de desempenho energético, desdobra-se em gestos, movimentos, máscaras e maneirismos corporais com uma desenvoltura conquistada à força da paixão e compreensão da linha cênica escolhida. Por vezes se envaidece na técnica do teatro didático-ilustrativo e quase gera uma monocordia, mas sempre superada com uma nova ação.
                                          ("Balanço"/foto: Layza Vasconcelos)

É uma peça densa, de muitas informações que se exasperam em serem pronunciadas. A neurose da personagem, às vezes, atropela as inflexões do ator. Metralhadas emoções se dispersam no silêncio da platéia atenta, o final das frases se perde no ar. O ruidoso do emocional “descontrolado” engole o discurso da personagem e enfraquece a finalização da oralidade.

O texto vomitado não chega com o mau cheiro necessário das palavras em digestão, pois parece ter muita pressa em ser jogado fora, daí não conseguir todo o efeito do azedo e calor vindo das entranhas. Segurança de encenar, nada desprezível, encanta a assistência conduzida ao devoto de uma loa chamada Balanço”.

Bruno Peixoto canta, dança, representa e, na forma de ex-voto, se imola à expiação da recepção aberta às novidades em turbilhão. Conspiram em seu favor a música, a cenografia estilística e uma delicadeza em profusão dos focos de luz, para maiores ou econômicos atos de cena.

O céu de estrelas pendulares, nas vezes de manto de proteção ao filho de santo em seu oratório de bem-dizeres, chega ao espectador como nascimento da noite do menor ponto de luz e grada-se, cuidadosamente, ao + do mapa iluminado, é um momento comovente.

Balanço, mas não caio. “Balançoqueda-se na escolha de dramaturgia e ênfase apaixonada e revela um teatro de magias, de encantos, de euforias e de cena pulsante. Dobra-se aos próprios joelhos e desloca-se como arte de se representar. Bruno Peixoto exercita o ator e segue sua guia.


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