sábado, 27 de agosto de 2011

Por quem o "Sinos" dobra


Por quem o “Sinos” dobra
por maneco nascimento

Acompanhei, em dois momentos recentes, apresentações do Grupo Sinos de Teatro, coordenado por Jean Pessoa. Com o novo espetáculo do repertórioDona Flor e seu único futuro Marido”, uma ótima proposta de teatro de rua, o Grupo tem construído a própria história com uma liberdade criativa e muito equilíbrio.

Durante a realização da 18ª. Edição do Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo”- Prêmio Zezé Lopes, de 8 a 14 de agosto de 2011, o Grupo apresentou sua obra, na abertura do evento, às portas do Theatro 4 de Setembro. 

Também, no mesmo período, “Dona Flor e seu único futuro Maridofoi visto pelo público do bairro Dirceu Arcoverde, na Praça Aberta do Teatro Municipal João Paulo II, dia 10 e agosto deste, dentro da programação do V Festival de Teatro da Cidade de Teresina.

De última vista, pode-se conferir o Grupo Sinos de Teatro à Praça Aberta do Teatro Municipal João Paulo II, dia 26 de agosto de 2011, às 17h30m, na programação descentralizada do Festival de Teatro Lusófono – FESTLUSO, compondo a Mostra de Teatro de Rua apresentada na cidade. 
 (Aline Moura: dona Flor/foto: acervo)

Espetáculo divertido, próximo das pessoas e detido em tiradas populares e recheadas de histrionismo para a diversão, entretenimento saudável e boas risadas, “Dona Flor e seu único futuro Marido” está a cada dia mais longe do vinagre, haja vista a boa uva colhida estar-se transformando em vinho apurado.

O Grupo Sinos de Teatro sabe por quem deve dobrar-se e já tem uma boa medida da sonoridade que repercute para passar pelo público e deixar reverberados valores artísticos e estéticos. 

Da maquiagem representativa aos figurinos bufões alinhados à cultura de herança ibérica, plantada em terras do nordeste de lentes ampliadas, a peça não deixa a dever linguagem a outras plagas.

Músicos-personagens, Cleverson Rodrigues e Jeff Brito, que interferem e palpitam na cena e compõem os dois Maridos de dona Cansansão (Rafaela Fontenelle), a espaçosa e peituda vizinha de Dona Flor, são graças coadjuvantes indispensáveis ao desenrolar do enredo. Para efeitos de “comèdie-del’arte” e pesquisas atualizadas, nada se perde para atos de gracejos e tipos.

Jean Pessoa, na composição do pretendente a marido, consegue uma passagem franca desde a maquiagem e figurinos até o mais sutil gesto, ou máscara forjada para farsa burlesca que se nos apresenta.

Tem uma intimidade com o espaço físico em que se monta a roda da fortuna à cena. E, tranqüilo, varia entre o exagero e o econômico propício à comédia. Um tipo nada desprezível, concentrado na verdade construída para mentira do prazer de encenar.

Aline Moura, na pecha de solteirona desejosa, é de resultado equilibrado ao confronto com o homem desejado. Seu tipo físico cai-lhe bem para a personagem forjada. 

Transpira uma sintonia muito boa com público, colegas de cena e consigo mesma à manutenção da cena viva. Por vezes, alguns finais de frases se esvaem, talvez por descuido de ouvir-se melhor. Mas há uma energia inteira do começo ao fim da narrativa feliz apresentada. 

Tiradas de diálogos com o santo casamenteiro em que ela o busca pelo vento e o esconder-se atrás de uma moita cenográfica que nada esconde, é de uma lingüística simples e previsível da farsa, para tudo revelar-se sem que o público se libere da cumplicidade proposta.

Eis o teatro do convencimento sem acadêmicos efeitos de convenção. Cena limpa e detida no ator e sua expressão premeditada.

Dobra-se, o Sinos de Teatro, por uma apropriação de teatro de rua e o faz bem. Envolve, encanta, impõe uma natural participação do público e, muito especialmente, detém a atenção da assistência em energia integral enquanto se desenrola a trama.
 O Grupo Sinos de Teatro tem um caminho de tijolos multicor e pisa com segurança na cena pensada. Teatro de emoção e razão equilibrados.


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