sábado, 20 de outubro de 2012

Íntimo e (in)casual



 Íntimo e (in)casual
por maneco nascimento

Para texto e direção de Aci Campelo, a A&C Promoções Culturais acenou com nova montagem, “Mamãe Não Vai Gostar”, apresentada dia 18 de outubro de 2012, às 19h30m, no palco do Teatro Municipal João Paulo II. Na cena, dois novos aspirantes a profissionais de teatro, Camila Carvalho e Igor Pinheiro, formados recentemente pela Escola Técnica de Teatro Professor Gomes Campos.

A dramaturgia literária de “Mamãe...” se apóia na construção da busca de uma relação moderna, a dois, implicada pelos confrontos de liberdade e apelos de convenção e tradição.Um apartamento, um casal, uma história para o que se vai estruturando em conflitos do casal e seu imbricamento com um modelo familiar questionável, busca da independência, paixão vigiada e o discurso de ceder para não morrer o amor.

O texto reflete conflitos e angústias comuns a quaisquer casais, quando o assunto seja cobrança de ciúme ou de correspondência amorosa fechada, embora nessa contemporaneidade de nossos dias possa o discurso parecer velho e careta. Já para épocas de 1960, ou ainda na setentona resistente, pudesse surtir maiores efeitos de comoção.

A dramaturgia de encenação tradicionalista e de marcas óbvias. Os intérpretes, Camila Carvalho e Igor Pinheiro, muito verdes para texto que exigiria certa maturidade interpretativa. Há uma estranheza nas falas que parece não condizer com as idades dos intérpretes das personagens, ou porque não houve dedicação de entendimento, ou por a direção se ter intimidado em exigir + dos atores, jogados na raia das relações perigosas do amor.

Camila Carvalho despeja o texto com certa naturalidade, mas falta-lhe degustar as intenções e o apressado come cru. Igor Pinheiro transforma o conflito relacional numa ação tensa, sem propósito detalhado à construção da personagem do macho alfa
. O que poderia ser uma (in)contida angústia por não deter poder sobre o ideal de controle sobre a parceira, torna-se uma incompreensível, por vezes, e vociferada raiva mal digerida à cena.

O intérprete tem uma veia de humor que parece ainda não entender bem como dominar. + humor e entendimento para transformar em ironia as próprias falas, talvez desse certa leveza a algo que se mantém mecânico e em desesperado gratuito. Nada que o exercício da repetição e pesquisa sobre teatro e método não clareiem a cena.

Cenário, de Wilson Costa, comum à proposta. Um Box, ao fundo, com cortinas transparentes que dão acesso do banheiro à sala de estar. Um banco (sofá) sobre um tapete de sala, acompanhado por almofadas dispostas no ambiente. Ao lado esquerdo da cena, um talvez perfil de uma janela (metalon), em desenho basculante com fugas de vista para a rua, ou a licença de um bar com desenhos geométricos. Do teto pende uma proteção de luminária (abajur) à base de abafador doméstico.

Os Figurinos, também construídos por W. Costa, são utilitários à linguagem da dramaturgia sugerida. Num especial momento, o quimono - anos sessenta - usado por Camila Carvalho, quebra a indumentária protocolar que envelhece as personagens + que o necessário ao discurso embutido em “Mamãe Não Vai Gostar”. As escolhas são feitas a partir do objeto premeditado. Mas os intérpretes parecem só desfilar roupas que não se tornaram uma segunda pele.

Embora o teatro seja a arte do ator, certos elementos precisam estar organicizados à composição da dramaturgia premeditada. Esses envolvem regurgitação do texto, conforto no que se estiver vestindo, domínio da espacialidade que deverá ser sempre bem aproveitada e tranqüilidade para fazer bem, sem medo de acertar porque riscos existem para erros também.

Mamãe Não Vai Gostar”, texto e encenação de Aci Campelo, ainda não encontrou a própria história na cena. Quando o corpo estiver em sintonia com o discurso proposto e com o mapa de dramaturgia pensado pelo encenador, talvez a montagem ganhe perspectivas de novidade, mesmo no tradicional ato encenado, que ora se estabelece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário