segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Escritas arquitetônicas


Escritas arquitetônicas
por maneco nascimento

Teresina, cidade ainda muito jovem – 160 anos - e construída nos anos oitocentos, do século XIX, nos primórdios da década de 1850, mais precisamente, a partir da instalação de transferência da capital da província, de Oeiras à Vila Velha do Poti, em 1852. Ali onde hoje é o bairro Poti Velho, começaram a ser ensaiados os primeiros dias da nova capital do Piauí.

Os escritórios do governo e residências oficiais e de assessores governamentais ali foram assentados, improvisados e feitos à base da palha de babaçu, matéria natural de áreas de matas ciliares. 

É também desse mesmo material as construções de casas de famílias pobres, erguidas no centro da cidade. Moradias de palha que foram, paulatinamente, extintas a custa de “Fogo!”, durante o higienismo realizado na década de quarenta (século XX), na Teresina consumida por incêndios com atribuições de crimes encomendados.

Mas voltemos à palha do início da cidade. Os primeiros “prédios” oficiais construídos às margens do Poti, tinham base de madeira e palha. Mas com o decorrer da experiência de instalação da nova capital, percebeu-se que a área era muito sujeita a epidemias advindas do período chuvoso. Então houve nova mudança.

A capital foi transferida para local + alto e menos sujeito a inundações. Com o espaço escolhido, foram repetidas as transferências dos baús oficiais a custa de lombo de jumentos.Dessa vez a sede do governo deslocou-se para mais perto, percurso menor que o feito de Oeiras, instalando-se definitivamente na Chapada do Corisco, área muito propícia a raios e trovões, logo, alcunha calhada.

Na chapada do corisco, Teresina passa a escrever seu mapa de patrimônio arquitetônico edificado. Das proximidades do rio Parnaíba, que divide o Piauí do Maranhão, veio subindo a cidade para se instalar, no quadrante, onde hoje estão plantados o Mercado Central; Museu do Piauí; Praça da Bandeira (Constituição – Marechal Deodoro – Marco da cidade); Comepi; Fundac; Palácio da Cidade; Fundação Wall Ferraz; antigo prédio da Justiça Federal (cor-de-rosa); BNB, Ministério da Fazenda; Igreja do Amparo e Luxor Hotel.

As cidades, em seu início, vão sendo construídas à coragem, força, determinação e muito esforço de braço de homens. 

Monsenhor Chaves, um dos principais historiadores do Piauí, notável por destacar o papel do cidadão comum nos grandes eventos da história do Estado, escreveu que ‘Teresina nasceu nos braços da Igreja Católica’. A planta da cidade foi traçada a partir de uma cruz de madeira fincada em 1850 pelo Padre Mamede Lima, da antiga Vila do Poty, atual bairro Poty Velho, na zona norte.” (Uma cidade de fé. Teresina: Halley, 2012 [Revista Teresina])

Aos poucos o desenho urbano de Teresina foi se instituindo. A igreja, o cemitério e o mercado três obras indispensáveis no triângulo constitucional de qualquer cidade. A igreja de Nossa Senhora do Amparo foi erguida de frente à Praça da Constituição, o Parque da Bandeira que guarda o Marco da cidade. Depois vieram os outros suntuosos templos católicos, como a Igreja de São Benedito (Praça da Liberdade/São Benedito) e a de Nossa Senhora das Dores (Praça Saraiva).

A igreja de São Benedito (...) erguida na artéria central da cidade, é referência para a vida da Teresina. Foi construída pelo Frei Serafim de Catânia, um missionário capuchinho italiano (...) Chegou a Teresina em 1874, construindo na pequena e pobre Capital, com esmolas da comunidade e doações do Tesouro Público, a imponente Igreja de São Benedito, concluída em 1886.” (Idem)

Outros tesouros edificados na cidade e tombados pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Piauí – DPHAN/Fundac mantêm-se de pé para registro da história e memória de surgimento de Teresina, carinhosamente apelidada de cidade verde, alcunha dada pelo poeta maranhense Coelho Neto.

Bens tombados, em Teresina: Biblioteca Estadual “Des. Cromwell de Carvalho” (UFPI), arquitetura do início da década de 20; Casa da Antiga Intendência de Teresina (PMT - Fundação Wall Ferraz, SEMAB, DMER), construção de fins do século XIX e início do XX; Casa de dona Carlotinha, abrigou a sede da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, arquitetura da 2ª. metade do século XIX.

Casa do Barão de Gurgueia (Arquidiocese de Teresina), consta de construção da última metade do século XIX – década de 70, por João do Rego Monteiro. Atual Casa da Cultura de Teresina; Companhia Editora do Piauí – COMEPI (Estado), construída por volta de 1860; Cine REX (de David Cortelazzi), inaugurado em 29 de novembro de 1939.

Clube dos Diários (Estado), terreno do estado, ao fundo do 4 de Setembro, doado pelo governador Mathias Olympio à sede do Clube, no ano de 1925; Edifício Chagas Rodrigues – DNER, da década de 1960, projeto de Maurício Sued, primeira edificação de característica moderna na capital; Escola Normal “Antonino Freire” (Estado), construída em 1922. Em 1984 passou a sediar o Palácio da Cidade.

(circuitos culturais da cidade - Clube dos Diários/foto: divulgação)

Estação Ferroviária de Teresina (RFSSA), construída de 1922 a 1929; Floresta Fóssil (PMT), formação Pedra de Fogo, datado do Permiano, aproximadamente 200 milhões de anos; Grupo Escolar “Gabriel Ferreira” (Estado – SEDUC), fundado em 1928; Grupo Escolar “Mathias Olympio” (Governo – SEDUC), construído na década de 20; Museu do Piauí (Estado – Fundac), construção iniciada em 1859, pelo Comendador Jacob Manoel Almendra.

Palácio de Karnak (Governo), sem registro à data de construção, é remanescente do século XIX, funcionou como escola de instrução secundária – regime de internato – fundada por Gabriel Ferreira em 1890. Em 1926, o governador Mathias Olympio comprou o imóvel e transformou em sede do governo; Theatro 4 de Setembro (Governo – Fundac), da decisão da construção em 1889, foi entregue à sociedade em 21 de abril de 1894, projeto de Alfredo Modrack.

(circuitos culturais da cidade - Theatro 4 de Setembro/foto: divulgação)


De tombamento federal, em Teresina, só as portas da Igreja de São Benedito. Obra de Sebastião Mendes, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, as portas são à base de jacarandá e cedro, trabalhadas com motivos florais.

De resto, algumas páginas da escrita arquitetônica edificada da cidade têm sido rigorosamente tombadas, literalmente, para dar lugar a estacionamentos, a novos e virtuosos empreendimentos imobiliários, de hipermercados a hotéis, clínicas de saúde, et all. São as letras do mercado arquitetônico dos novos negócios da cidade do futuro.

Fonte: Bens tombados no Piauí (Fundação Cultural do Piauí/Coordenação de Registro e Conservação)

Nenhum comentário:

Postar um comentário