sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Gravidade!

BCT atomizado
por maneco nascimento

O Balé da Cidade de Teresina - BCT - estreou seu + novo movimento de corpos em corpo coletivo de dança para nova acepção e contemporâneo de manifestações de anatomias que falam. "Grave-Grog", com direção coreográfica e dramaturgia de cena de Samuel Alvis, o espetáculo compôs uma das atrações da noite de aniversário da Casa da Cultura de Teresina que completou 20 anos no último dia 12 de agosto.

Em aproximação de identidade com o pensador mexicano, Octávio Paz, quando reflexiona poesia, lírica revisionada, ritmo, analogias e fugas dos conceitos, negação e nostalgia, renascimento estético aliado à miséria e na aridez da urbe moderna, "Grave-Grog" também emblematiza "ritmos quebrados, mundo de asfalto e de ratos atravessado por relâmpagos de beleza caída. Nesse reino de homens ocos, ao ritmo sucede a repetição (...) associação de ideias, destruidora da unidade da consciência (...) " ( O Arco e a Lira, pgs. 94/95).

Estranhamento e não reconhecimento, ou reconhecer-se pelas analogias, ou ver-se na "(...) exceção que desmente todas as analogias e correspondências (...)", o espetáculo desfaz-se da servidão da razão e cai nas malhas de confidências com a sensibilidade e, no discurso de linguística das anatomias expandidas, à "inserção de um corpo estranho (...) uma cesura mental" (idem, 95, 102), provocadora de uma (ir)regularidade que impacta e atrai. É claro que a dialética octaviopaciana é para os modelos e reformas do romantismo e lírica moderna experimentados pelos cesuradores da tradição poética.

(cena de "Grave-Grog"/acervo BCT)

Em que "Grave-Grog" se aproxima das mudanças de poesia e prosa e poéticas europeias? Talvez na busca de expandir os próprios átomos e traduzir tradição e moderno/contemporaneidades. E como diz Paz, para seu assunto de estudo "A ideia não é um objeto da razão, mas uma realidade que o poema revela numa série de formas fugazes (...) A ideia, sempre igual a si mesma (...) o homem é tempo, movimento perpétuo: (...)" (idem, 103) e assim o espetáculo dá-se em uma explosão atômica de luz e energia e corpos que se chocam e brigam e brincam de gravitacionismos e provocam Newton e sua formulação de lei e física de ciência experimentada.

(ensaio de gravitações e energias provocadas/acervo BCT)

"Grave-Grog", instalou-se na Galeria "Lucílio Albuquerque", Casa da Cultura de Teresina, para uma curta temporada de três dias, 12, às 20h, 13 e 14 de agosto, às 19h. 

O espetáculo se apresentou a uma cenografia aplicada em pontos de luz (leds bateria minimal), dispostos como sinalização de campo de pouso. Os figurinos, de plástico transparente encerado, definem ousadia criativa e estilo de vestir, ao tempo que desnudam sem apelo de fácil olhar aos intérpretes criadores, nem ofenderem a recepção às linguagens experimentadas.

Os corpos falantes introduzem-se, na cena, com neutralidade, para em seguida desfiarem imagens e informações na narrativa de impactos e enredos que justificam a espécime, em mito do eterno retorno, ou esfinge edipiana que esclarece, sem deixar de infringir dificuldades aos jogos de percepção para maiores e menores acertos de quem seja introduzido no destino dos corpos que colidem, feito matéria astronômica despencando ao peso da gravidade.

"Tudo que é sólido desmancha no ar", defende Berman Marshall. Na linguística "Grave-Grog", modernismo, modernização e insigths contemporâneos da nova dança fragmentam pilares do dado contumaz, embora não estático, e revigoram a inércia, o deslocamento da matéria e fisicalizam a dialética do quântico, tempo e espaço entrelaçam-se, enquanto a encenação poderia refletir nossa época (o agora), atitudes diante do outro e do meio nosso de cada dia-ambiente em que nos enfrentamos e marcamos territórios de ocupação, em delimite de proximidades e afastamentos na lei física, ação e reação na atmosfera atômica. 

("Grave-Grog", ensaio na Lucilio de Albuquerque/acervo BCT)

Força, gravidade, (des)equilíbrio, energia em contenção, implosão expandida e exaustão e relaxamento matéria/corpo, fragmentação e magnetismos moleculares dos corpos que confluem à integração de um sólido só, em divididos, no campo de atração de polos corporais. Variáveis de tempos e espacializações de confronto e distanciamentos, gravitações do corpus em corpos rotacionais no eixo de proximidade e distâncias na gravidade em dança.

Fazia tempo que o Balé da Cidade de Teresina não superava essa barreira da atmosfera de Grupo mantido pelo contributo público oficial e, salteador das Tróias confortáveis, não reintroduzia-se na própria rota de produção significativa. Ato fato e forma e fórmula criativas de superar-se e apresentar novidade integrada na cepa do próprio genoma criador.

"Grave-Grog", sinergia aplicada, efeito ativo e retroativo do esforço concentrado na tarefa estética de polos positivos e negativos em compleição física de arte e cultura reverberadas. Parabéns ao elenco do espetáculo, intérpretes criadores, coreógrafo, ensaiadores, diretores e respostas do núcleo às (in)visíveis periferias moleculares gravitadas no novo trabalho, corpo de subdivisões do inteiro.

"Grave-Grog": Gravidade!!!

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