domingo, 16 de outubro de 2011

Teatro sem fábula

Teatro sem fábula
por maneco nascimento

Há um texto maravilhoso construído pelo autor brasileiro, Pedro Bandeira, para a reinvenção do mundo fabular. O mote para recontagem, ou recuperação das memórias e oralidades, solidifica-se em inteligência criativa e enredo fora do lugar comum emO Fantástico Mistério de Feiurinha”.
O livro infanto-juvenil aborda o desaparecimento de uma suposta princesa, chamada Feiurinha, e enreda o reencontro entre as principais princesas dos contos de fadas. Reúne Cinderela, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Rapunzel e Bela, a do contoA Bela e a Fera”.*
À exceção de Chapeuzinho Vermelho, todas as outras mocinhas encontram-se grávidas e prestes a completar 25 anos de casamento com seus respectivos príncipes encantados. No encontro das princesas há espaço para rivalidades, visto estarem, em determinados momentos, mais preocupadas com as próprias histórias.
Com a notícia do desparecimento da Princesa Feiurinha, que poderá comprometer o futuro de todas elas, as princesas vencem as diferenças. E juntam-se no propósito de resgatar a desaparecida.
O Grupo Humanitas de Teatro, da cidade de Timon, no Maranhão, empreitou uma adaptação da nova fábula para o exercício das cenas locais. O resultado do adaptador Júnior Marks pode ser visto durante a Semana da Criança no Teatro Municipal João Paulo II, nos dias 15 e 16 de outubro de 2011, às 18 horas
(arte cartaz O Fantástico Mistério de Feiurinha/acervo: Humanitas de Teatro)
Para a dramaturgia de Júnior Marks, o cenário simples (Eristóteles Pegado) de tecido arranjado do teto ao chão, como divisão de ambientes do castelo de Branca de Neve, se completa com o espelho da madrasta ao fundo e, no primeiro plano, dois sofás vermelhos. Nessa sala de visitas se dão as cenas da nobreza.
Para cenário também, em outro momento da peça há o castelo das bruxas Malvada, Ruim e da sobrinha-bruxa Belezinha. Estão dispostas ali uma teia de aranha e uma luminária que pendem do teto. Nesse ambiente lúgubre a nascida bela e raptada criança é criada pelas “horrorosas” como Feiurinha.
O terceiro ambiente, o da floresta, dois painéis em ferro e tecido preto com flores coloridas sobrepostas. Na floresta, um casal brejeiro, os pais da criança bela são encantados pelas velhas bruxas que levam o bebê para ser a borralheira e companhia da bruxinha feia, nascida no mesmo dia da Feiurinha.
(Pais de Feiurinha - casal brejeiro/acervo: Humanitas de Teatro)
Um bode, único parceiro e companhia de Feiurinha, é desencantado pelo amor dela e sai em busca de seu título de nobreza para, em seguida, resgatar a Princesa. As Bruxas descobrem a felicidade de Feiurinha e a partir de uma pele de urso enfeitiçada transformam Feiurinha em bruxa e horrorosa. Até então, no ambiente do castelo, as “bonitas” eram as bruxas.
Com retorno do Príncipe encantado ao castelo das Bruxas há uma disputa por ele. E, nas vezes do Círculo de Giz” (Brecht), a escolha de Feiurinha é de preservar a vida das Bruxas que deveriam ser mortas pela espada de prata.
Para a adaptação livre, o Grupo Humanitas de Teatro se finca na apresentação de Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Rapunzel, apenas citada como não podendo comparecer à reunião. Há ainda o Caio, lacaio de Branca de Neve, os pais de Feiurinha, as três Bruxas, o Escritor e sua empregada, a velha contadora de histórias.
(Princesas em reunião: O Fantástico Mistério da Feurinha/acervo: Humanitas de Teatro)
O desempenho de atores para tão agradável texto original é todo pífio. Júnior Marks, dividido entre o Escritor e a bruxa Malvada, consegue ser muito incipiente nas duas tentativas de construção da personagem. No escritor, o texto é histérico, intranqüilo nas inflexões e vomitado com pressa de, talvez, querer ganhar tempo. O corpo não dialoga, tem braços e mãos vazias.
Na sua bruxa Malvada, o ator não consegue desvincular-se de si mesmo. Estão lá todos os trejeitos contumazes do ator e suas + particulares idiossincrasias. A iniciativa de vocalizar maldade é de um forçado no timbre que desabona os ouvidos da assistência. Sua Bruxa perde-se no estereótipo da inacabada intenção de construção da malvadeza.
A bruxa Ruim, forjada por Adriana Campelo, tem uma proximidade da caricatura de feiticeiras eternizadas no cinema e tevê que ganha alguma organicidade na corporalidade naturalista e vontade de acertar.  Quando representa a Chapeuzinho Vermelho o descontraído teatro ligeiro é mais visível. Os textos continuam, por vezes, distribuídos gratuitamente e exasperados. Mas, ao representar a empregada do escritor, tem uma velha + tranqüila e é até agradável o esforço de prestar a atenção em suas falas.
(Chapeuzinho Vermelho, de Adriana Campelo/acervo: Humanitas de Teatro) 
A terceira bruxa, a adolescente Belezinha, é de Iarla Ribeiro que constrói um misto de fanfarrão e espalhatoso. Mas ninguém entende nada do que a atriz fala e o corpo à personagem nega qualquer incentivo de direção de cena. A atriz também leva às costas Cinderela e a Mãe da Feiurinha. Há pouco empenho para distanciar as construções das personagens e, talvez, a direção devesse apontar algum caminho de ciência à fábula.
Eristóteles Pegado reparte-se entre um lacaio Caio desesperado em ser engraçado, um Pai de Feiurinha com prosódias e caricaturas simplistas, um Príncipe “desencantado” com texto fraco e um nobre Encantado que segue a mesma linguagem corporal e de humor, de repertório evasivo, para todas as personagens suas permitidas.
Flávia Sousa, na pele de Feiurinha e Branca de Neve, traz uma voz de arranho rachada e as inflexões vêm em tagarelice descontrolada. Talvez, fosse necessário adquirir uma orientação vocal para que a platéia perceba as falas da personagem de forma + sutis e agradáveis. O corpo é inerte e parece não estar convencida de que precisa convencer.
Os figurinos de Adriana Campelo seguem perfil da estética do espetáculo, assim com a pesquisa musical construída pelo Grupo. Todo o coletivo da história recontada, de alguma forma, está desconcentrado para a cena apresentada.
A direção de dramaturgia e de ator tem toda uma responsabilidade sobre o produto apresentado ao público. Cabe ao Júnior Marks deter-se + em ensaios e criação de intimidade com o proposto.assim o Humanitas de Teatro confirmará um teatro com fábula. O visto no palco ainda não teve finalização.


*(fonte/pesquisa: Wikipédia, a enciclopédia livre)

















Nenhum comentário:

Postar um comentário